Aliança ou saque do Estado?
Uma boa questão da campanha é saber como cada presidenciável (dos 3 concorrentes) pretende governar (e depois, claro, cobrar quando iniciar o governo). Algumas explicações da política brasileira foram construídas e transformadas em verdade absoluta. Uma delas é que temos um presidencialismo de coalização que permite governar com estabilidade. Nada mais falso. O presidencialismo que temos é de transação, de negócios pouco republicanos. Permite saquear o Estado organizadamente, entre os grupos que controlam o poder em Brasília (e que se espalham pelos 3 poderes).
Enquanto não rompermos com esta prática (e esta análise legitimadora) continuaremos emperrados, sem a possibilidade de desenvolver mais rapidamente a economia, enfrentar os grandes problemas nacionais e efetivamente consolidar as instituições democráticas.
O primeiro passo começa com as alianças eleitorais. Elas sinalizam a forma do futuro governo. É possível governar sem aceitar os ditames dos oligarcas, assaltantes do Tesouro público. Considerar que os oligarcas controlam o Congresso e podem inviabilizar um governo é uma mentira (que também é reforçada pelos "analistas"). Os oligarcas sequestram a vontade popular expressa nas urnas no momento da eleição do Presidente. É como se a eleição fosse uma farsa, pois "eles" sempre estarão no governo. Michel Temer é uma espécie deste tipo de político que parece nunca dar adeus ao poder (e suas benesses, claro). Outro dia afirmou que o PMDB estará no governo, em 2011, independemente de quem vencer a eleição de outubro. Isto não passa de um blefe. É sim possível governar sem a escória que temos (e que será reeleita) no Congresso Nacional.
Voltarei ao tema.
# por Cristiano Rodrigues - 9 de maio de 2010 às 12:57
Esse é um tema deveras interessante e fundamental para o entendimento do Brasil. Tendo a concordar em partes com essa análise, mas para que mudemos radicalmente a promiscuidade entre executivo e legislativo há que se mudar primeiro a legislação eleitoral. O voto distrital misto, a cláusula de barreira partidária, financiamento de campanha e a ficha limpa são sem dúvida pontos que vão, se não acabar,tornar essa relação mais republicana. Sem essas medidas, é acreditar muito na capacidade das pessoas e não do sistema em resolver o problema. Países democráticos como EUA, Alemanha, Inglaterra, entre outros têm um sistema constitucional eleitoral que idepende do chefe do executivo em qualquer instante do tempo. Em um país como o nosso, de fragmentação eleitoral, e de altas demandas sociais, o casamento do eleito com o eleitor é efêmero. A raposas estão sempre alertas para iniciar um processo de pressão no executivo para manter o assalto aos cofres públicos, distribuindo as migalhas para a massa e o grosso para seus financiadores de campanha. Dada a distância entre o eleitor e o legislador, o executivo é o canalizador das demandas e de pressão. Se não mudarmos essa relação, acreditar que apenas uma idéia na cabeça e um projeto na mão irão sensibilizar a massa é um pouco de idealismo.
# por Ed Carlos Ferreira da Costa - 9 de maio de 2010 às 17:52
Villa, você sabe que o admiro mas isso nunca impediu de raras vezes discordarmos e essa é uma dela, não creio que isso seja possível.
Vejam os roubos nos fundos de pensão e nas estatais tanto federais quanto estaduais, o Eduardo Cunha (quem?) do PMDB-RJ quase parou o congresso para que o Fundo de Pensão Real Grandeza dos funcionários de Furnas tivesse sua direção trocada.
Por que? Para que ele inicia-se um roubo de bilhões que esta ocorrendo nesse momento.
Se o Eduardo Cunha faz isso, imagine o PMDB todo?
# por Ana Lúcia K. - 11 de maio de 2010 às 14:43
Villa, concordo com vc quando faz referência ao presidencialismo de transação e esta já começou com as alianças eleitorais. Nestas eleições, quantos "prováveis" candidatos tiveram que mudar ou abandonar suas pretensões políticas em razão de acordos partidários? É o preço que o "ex-futuro" candidato têm que pagar para ganhar uma diretoria em órgão estatal, um ministério, um cargo de vice-presidente/governador, uma su-
plência no Congresso Nacional,enfim, alguma compensação pelo "sacrifício".
Entretanto, não creio que estas transações sinalizam a forma do futuro governo. Quem garante, em 1º lugar,é o próprio presidente eleito através de suas propostas de governo, respaldado pelo voto popular.
É a partir deste momento,pós-eleição, que o eleito têm que fazer valer sua autoridade.Tem que governar para todos, para a Nação e não para si ou seu partido político visando apenas o poder, sua manutenção e as benesses do cargo. Ele têm, por dever, que exigir o cumprimento das leis e a punição para qualquer tipo de "transação", cobrar o funcionamento das instituições nos três níveis de poder visando efetivamente a consolidação da governança, requesito fundamental para um desenvolvimento sustentado - crescimento econômico com equidade social e direitos humanos. Em suma, basta cumprir a Constituição.