Ideli e seus peixinhos
Eu acredito na Ideli (e em gnomos):
Contratada na Pesca, empresa doou R$ 150 mil para o comitê do PT catarinense de Ideli Salvatti
Fracassamos (comentando em alemão)
Brasiliens Demokratie - der renommierte Historiker Marco Antonio Villa(Bundesuniversität Sao Carlos) zur Lage. “alt, korrumpiert und wurmstichig.” Vielgelobte “Gestaltungsmacht”,Demokratie und Sondergerichte.
Fracassamos
Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:
O ASSUNTO É
NOTA: Ao invés de 17 anos leia-se 27 anos.
É rotina
Bancos oficiais pagam coquetel para juízes em São Paulo
Seguradoras bancam evento para cúpula da Justiça em resort no Guarujá
Empresas bancam evento do TRF em praia no Rio de Janeiro
A incompetência virou elogio
Publiquei hoje n'O Globo.
A incompetência virou elogio - MARCO ANTONIO VILLA
O Globo - 27/03/12
O governo Dilma Rousseff lembra o petroleiro João Cândido. Foi inaugurado com festa, mas não pôde navegar. De longe, até que tem um bom aspecto. Mas não resiste ao teste. Se for lançado ao mar, afunda. Não há discurso, por mais empolgante que seja, que consiga impedir o naufrágio. A presidente apresenta um ar de uma política bem-intencionada, de uma tia severa e até parece acreditar no que diz. Imagina que seu governo vai bem, que as metas estão cumpridas, que formou uma boa equipe de auxiliares e que sua relação com a base de sustentação política é estritamente republicana. Contudo, os seus primeiros 15 meses de governo foram marcados por escândalos de corrupção, pela subserviência aos tradicionais oligarcas que controlam o Legislativo em Brasília e por uma irritante paralisia administrativa.
Inicialmente, a presidente vendeu a ideia que o Ministério não era dela, mas de Lula. E que era o preço que teria pagado por ser uma neófita na política nacional. Alguns chegaram até a acreditar que ela estaria se afastando do seu tutor político, o que demonstra como é amplo o campo do engodo no Brasil. Foi passando o tempo e nada mudou. Se ocorreram algumas mudanças no Ministério, nenhuma foi por sua iniciativa. Além do que, foi mantida a mesma lógica na designação dos novos ministros.
Confundindo cara feia com energia, a presidente continuou representando o papel de hábil executiva e que via a política com certo desprezo, como se os seus ideais de juventude não estivessem superados. Como sua base não é flor que se cheire, acabou até ganhando a simpatia popular. Contudo, não se afastou deste jardim, numa curiosa relação de amor e ódio. Manteve o método herdado do seu padrinho político, de transformar a ocupação do Estado em instrumento permanente de negociação política. E ainda diz, sem ficar ruborizada, que não é partidária do toma lá dá cá. Dá para acreditar?
O Ministério é notabilizado pela inoperância administrativa. Bom ministro é aquele que não aparece nos jornais com alguma acusação de corrupção. Para este governo, isto basta. Sem ser enfadonho, basta destacar dois casos. Aloizio Mercadante teve passagem pífia pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Se fosse demitido na reforma ministerial - aquela que a presidente anunciou no último trimestre do ano passado e até hoje não realizou -, poucos reclamariam, pois nada fez durante mais de um ano na função. Porém, como um bom exemplo do tempo em que vivemos, acabou promovido para o Ministério da Educação. Ou seja, a incapacidade foi premiada. O mesmo, parece, ocorrerá com Edison Lobão, que deve sair do Ministério de Minas e Energia para a presidência do Senado, com o beneplácito da presidente. O que fez de positivo no seu ministério?
Numa caricata representação de participação política, Dilma patrocinou uma reunião com o empresariado nacional para ouvir o já sabido. Todas as reclamações ou concordâncias já eram conhecidas antes do encontro. Então, para que a reunião? Para manter a aura da Presidência-espetáculo? Para garantir uma fugaz manchete no dia seguinte? Será que ela não sabe que não tem o poder de comunicação do seu tutor político e que tudo será esquecido rapidamente?
Uma das maiores obras da atualidade serve como referência para analisar como o governo trata a coisa pública. Desde quando foi anunciada a transposição de parte das águas do Rio São Francisco, inúmeras vozes sensatas se levantaram para demonstrar o absurdo da proposta. Nada demoveu o governo. Além do que estava próxima a eleição presidencial de 2010. Dilma ganhou de goleada na região por onde a obra passaria - em algumas cidades teve 92% dos votos. Passaria porque, apesar dos bilhões gastos, os canteiros estão abandonados e o pouco que foi realizado está sendo destruído pela falta de conservação. Enquanto isso, estados como a Bahia estão sofrendo com a maior seca dos últimos 30 anos. E, em vez de incentivar a agricultura seca, a formação de cooperativas, a construção de estradas vicinais e os projetos de conservação da água desenvolvidos por diversas entidades, a presidente optou por derramar bilhões de reais nos cofres das grandes empreiteiras.
A falta de uma boa equipe ministerial, a ausência de projetos e o descompromisso com o futuro do país são evidentes. O pouco - muito pouco - que funciona na máquina estatal é produto de mudanças que tiveram início no final do século XX. A ausência de novas iniciativas é patente. Sem condições de pensar o novo, resta ao governo maldizer os países que estão dando certo em vez de aprender as razões do êxito, reforçando um certo amargor nacional com o sucesso alheio. No passado a culpa era imputada aos Estados Unidos; hoje este papel está reservado à China.
Como em um conto de fadas, a presidente acredita que tudo terá um final feliz. Mas, até agora, o lobo mau está reinando absoluto na floresta. Basta observar os péssimos resultados econômicos do ano passado quando o Brasil foi o país que menos cresceu na América do Sul. E a comparação é com o Paraguai e o Equador e não com a Índia e a China.
Não é descabido imaginar que a presidente foi contaminada pelo "virus brasilienses". Esta "espécie", que prolifera com muita facilidade em Brasília, tem uma variante mais perigosa, o "petismus". A vacina é a democracia combinada com outra forma de governar, buscando a competência, os melhores quadros e alianças programáticas. Mas em um país marcado pela subserviência, a incompetência governamental se transformou em elogio.
A seca, novamente
A Folha de S. Paulo deu hoje uma importante (e triste) notícia. Mais uma vez a seca assola o sertão baiano (e não só). Enquanto isso, o governo federal desperdiça bilhões de reais na transposição das águas do rio São Francisco.
Segue a matéria da Folha:
DE SÃO PAULO
Ameaça (2)
É extremamente preocupante a matéria da Folha de S. Paulo. É muito preocupante quando um juiz ameaça um jornal. Não só o senhor Sartori não usa linguagem apropriada, como (e pior) ameaça à liberdade de imprensa (um direito constitucional). Segue a matéria da Folha de S. Paulo:
Desembargador não gostou da palavra 'investigação' em manchete, mas depois usou o termo ele mesmo
ARARIPE CASTILHO
DE RIBEIRÃO PRETO
FLÁVIO FERREIRA
DE SÃO PAULO
A transposição do São Francisco
Tudo o que já foi revelado sobre os custos abusivos da transposição das águas do rio São Francisco é ainda pouco. A obra - parte dela já abandonada - tem claro objetivo eleitoral. Basta consultar dados de cidades no sertão por onde a obra deveria passar e os resultados eleitorais da eleição presidencial de 2010. Fiz em vários artigos, quando a obra ainda não passava de uma ideia, críticas sobre o objetivo, custo e a manipulação política. No meu livro "Vida e morte no sertão. História das secas no Nordeste nos séculos XIX e XX" comento como esta ideia surgiu ainda no século XIX. Segue a matéria publicada hoje do Estadão:
Custo da transposição do São Francisco aumenta 71% e vai superar R$ 8 bilhões
Obras começaram de forma açodada, o que explicaria revisões constantes no orçamento
Transposição do Rio São Francisco esbarra em preço da tarifa de água
Ministra pró-transposição auditará obra do Rio São Francisco no TCU
Dilma e a crise.
Falando sobre a crise política entre a presidente e a sua base na Jovem Pan: http://jovempan.uol.com.br/videos/dilma-continua-enfrentando-problemas-com-sua-base-aliada-64684,1,0
Regime militar
Com muito atraso, respondo a uma solicitação. Os quatro livros de Elio Gaspari ("A ditadura envergonhada", "A ditadura escancarada", "A ditadura encurralada" e "A ditadura derrotada") continuam sendo a melhor referência para começar a conhecer melhor o período. Cada volume apresenta uma ampla bibliografia para que o leitor interessado possa ampliar seu conhecimento sobre o momento estudado..
Ameaça
As declarações atribuídas ao desembargador Ivan Sartori são preocupantes. Em post anterior, já tinha escrito que tudo seria imputado á imprensa, a "culpada" pelas mazelas denunciadas. Segue a matéria publicada hoje na Folha de S. Paulo.
DE SÃO PAULO
Na terra dos democratas
No dia 4 de abril estarei em São Luís, Maranhão. Fui convidado e aceitei com prazer (e orgulho) participar do lançamento do Instituto Jackson Lago. O Maranhão é um estado onde a luta democrática é travada todo santo dia. O Brasil fecha os olhos para o que acontece lá.
Segue abaixo um artigo escrito por Jhonatan Alamada que trata do Instituto Jackson Lago:
Vejo que um primeiro desafio é desenvolver a democracia entre nós. Indispensável que os avanços democráticos cheguem concretamente ao Maranhão. Que de fato nossa cultura política se afaste cada vez mais dos elementos patrimonialistas e fisiológicos tão fortes. O respeito às decisões tomadas nas consultas populares e nos Conselhos de Políticas Públicas é elemento crucial.
Corrupção e Impunidade
Globo News Painel: Dilma e a Crise Política.
Seguem links do programa.
Parte 1: http://g1.globo.com/globo-news/globo-news-painel/videos/t/todos-os-videos/v/forma-de-politica-de-dilma-rousseff-e-alvo-de-criticas/1862476/
Parte 2: http://g1.globo.com/globo-news/globo-news-painel/videos/t/todos-os-videos/v/especialistas-avaliam-o-desempenho-de-dilma-rousseff-na-presidencia-do-pais/1862520/
Globo News Painel
Participo da edição deste final de semana do Globo News Painel que trata do governo Dilma e sua complexa relação com o Congresso Nacional. O programa será exibido nos seguintes dias e horários: hoje às 23 horas e amanhã às 11 e às 19 horas.
AMB: só dá o presidente.
Vale a pena acessar o site da AMB: http://www.amb.com.br/
Observem que só parece o presidente. Só falta ser chamado de estimado líder, guia genial dos povos ou pai dos povos.
Conflito de interesse.
Todo este episódio serve para entender (não aceitar) como funcionam as instituições no Brasil. Ronaldo (nem a imprensa) não fala em conflito de interesse. Como se ele, com a empresa que tem, não tivesse qualquer interesse comercial na Copa. E pior: ele lamentou a saída de Teixeira da CBF:
Segue a matéria:
Ronaldo lamenta saída de Teixeira, revela papo com Marin e fala em 'transição tranquila'
"Lamento a saída do Ricardo Teixeira, mas temos que respeitar a decisão dele de cuidar da saúde e da família. Como já conversei com o novo presidente, nós vamos discutir todos os assuntos juntos e tomar as decisões, como num colegiado. Tenho certeza de que essa transição será tranquila para todo o corpo técnico do COL e da FIFA aqui no Brasil", disse Ronaldo.
Ronaldo ainda fez questão de elogiar o trabalho atual do COL e pediu apenas que o comitê mantenha o foco com todo o trabalho que terá pela frente. As declarações foram publicadas no site oficial da Fifa.
"O trabalho do COL está avançando muito bem e todas as nossas tarefas estão sendo cumpridas com sucesso. É preciso manter o foco porque temos pela frente o trabalho de monitoramento dos estádios, a seleção de Centros de Treinamento de Seleções e Campos Oficiais de Treinamento, além de marcos importantes como a divulgação do slogan e da mascote da Copa do Mundo da FIFA", completou o craque.
Outro ex-jogador que também é membro do COL, Bebeto também voltou a se pronunciar. Ao site da Fifa, ele se disse feliz por continuar tendo um papel importante no comitê mesmo com a mudança no poder. “Fiquei satisfeito ao ouvir o experiente José Maria Marin dizer que vai nos ouvir (eu e Ronaldo) para tomar as decisões. Não podemos parar ou diminuir o ritmo. O Brasil está torcendo para que tudo dê certo. Vamos seguir em frente no trabalho e manter a união dentro do COL”, disse.
Adriano, a Geni da vez.
A rescisão do contrato do jogador Adriano possibilita refletir um pouco sobre o Brasil. Evidentemente que é um fato restrito, do mundo do futebol, mas pode servir exemplarmente para definir uma forma de comportamento rotineira no Brasil. Como é sabido, o jogador (como tantos outros) tem uma origem pobre. Nasceu e cresceu na Vila Cruzeiro, região, até recentemente, dominada pelo tráfico de drogas (foi lá que foi assassinado o jornalista Tim Lopes). Nas inúmeras crises que envolveram Adriano e seus clubes (Inter de Milão, Roma, Flamengo ou Corinthians - jogou também no Parma e São Paulo), ele sempre voltou para lá, como se fosse uma espécie de refúgio frente ao mundo que o rejeita. De um lado é saudável que ele não renegue suas origens (como tantos outros fizeram), por outro, o retorno representa uma enorme dificuldade de relacionar com o mundo do "andar de cima".
Adriano não é pop, muito pelo contrário. Representa o outro lado do futebol, o fracasso. Caso não tenha um tratamento adequado (é evidente que tem graves problemas emocionais), vai acabar na marginalidade, perdendo tudo o que adquiriu com os milhões recebidos nos clubes pelos quais passou. E ele caminha celeremente para o ocaso. A cada fracasso - e nada indica que isto não vá ocorrer - , a sua doença vai se agravar.
Na sociedade do êxito e do sucesso, não há lugar para "fracassados". E Adriano é um deles. Vai ser atacado e ridicularizado. É o "momento Geni". E o mais triste é que ele não passa de um meninão, de um adolescente, sem regras e achando que não há limites, que pode fazer de tudo. Alguém já viu ele cometer algum ato de violência? Não há. Nem na vida pessoal, nem nas chamadas quatro linhas. Envolveu-se em confusões com mulheres, é verdade. Mas algumas delas o acusaram de violência? Nenhuma. Na última confusão, uma delas tentou tirar uma casquinha, ganhar algum dinheiro a mais, dizendo que ele tinha atirado acidentalmente na sua mão, o que não era verdade, como ficou provado (e a própria acusadora teve de negar).
Mas a crueldade das pessoas aumenta quando encontra um indefeso. Quem não quer chutar cachorro morto? Agora, alguém criticou o ex-presidente do Corinthians pela contratação de Adriano? Ele não sabia do histórico do jogador? E Ronaldo, que intermediou - através da sua empresa - a vinda do jogador, não merece crítica? Fez todo o trabalho gratuitamente? .
Logo Adriano vai estar sozinho, com pouco dinheiro e sem ninguém. Melhor dizendo, vai restar seus amigos de infância, lá da Vila Cruzeiro.
Governo? Que governo?
Publiquei este artigo hoje n'O Estado de S. Paulo:
Governo? Que governo?
12 de março de 2012
MARCO ANTONIO VILLA - O Estado de S.Paulo
O rei está nu. Na verdade, é a rainha que está nua. Ninguém, em sã consciência, pode dizer que o governo Dilma Rousseff vai bem. A divulgação da taxa de crescimento do País no ano passado - 2,7% - foi uma espécie de pá de cal. O resultado foi péssimo, basta comparar com os países da América Latina. Nem se fala se confrontarmos com a China ou a Índia. Mas a política de comunicação do governo é tão eficaz (além da abulia oposicionista) que a taxa foi recebida com absoluta naturalidade, como se fosse um excelente resultado, algo digno de fazer parte dos manuais de desenvolvimento econômico. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sempre esforçado, desta vez passou ao largo de tentar dar alguma explicação. Preferiu ignorar o fracasso, mesmo tendo, durante todo o ano de 2011, dito e redito que o Brasil cresceria 4%.
A presidente esgotou a troca de figurinos. Como uma atriz que tem de representar vários papéis, não tem mais o que vestir de novo. Agora optou pelo monólogo. Fala, fala e nada acontece. Padece do vício petista de que a palavra substitui a ação. Imputa sua incompetência aos outros, desde ministros até as empresas contratadas para as obras do governo. Como uma atriz iniciante após um breve curso no Actors Studio, busca vivenciar o sofrimento de um governo inepto, marcado pelo fisiologismo.
Seu Ministério lembra, em alguns bons momentos, uma trupe de comediantes. O sempre presente Celso Amorim - que ignorou as péssimas condições de trabalho dos cientistas na Antártida, numa estação científica sucateada - declarou enfaticamente que a perda de anos de trabalho científico deve ser relativizada. De acordo com o atual titular da Defesa, os cientistas mantêm na memória as pesquisas que foram destruídas no incêndio (o que diria o Barão se ouvisse isso?).
Como numa olimpíada do nonsense, Aloizio Mercadante, do Ministério da Educação (MEC), dias atrás reclamou que o Brasil é muito grande. Será que não sabe - quem foi seu professor de Geografia? - que o nosso país tem alguns milhões de quilômetros quadrados? Como o governo petista tem a mania de criar ministérios, na hora pensei que estava propondo criar um MEC para cada região do País. Será? Ao menos poderia ampliar ainda mais a base no Congresso Nacional.
Mas o triste espetáculo, infelizmente, não parou.
A ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, resolveu dissertar sobre política externa. Disse como o Brasil deveria agir no Oriente Médio, comentou a ação da ONU, esquecendo-se de que não é a responsável pela pasta das Relações Exteriores.
O repertório ministerial é muito variado. Até parece que cada ministro deseja ardentemente superar seus colegas. A última (daquela mesma semana, é claro) foi a substituição do ministro da Pesca. A existência do ministério já é uma piada. Todos se devem lembrar do momento da transmissão do cargo, em junho do ano passado, quando a então ministra Ideli Salvatti pediu ao seu sucessor na Pesca, Luiz Sérgio, que "cuidasse muito bem" dos seus "peixinhos", como se fosse uma questão de aquário. Pobre Luiz Sérgio. Mas, como tudo tem seu lado positivo, ele já faz parte da história política do Brasil, o que não é pouco. Conseguiu um feito raro, na verdade, único em mais de 120 anos de República: foi demitido de dois cargos ministeriais, do mesmo governo, e em apenas oito meses. Já Marcelo Crivella, o novo titular, declarou que não entende nada de pesca. Foi sincero. Mas Edison Lobão entende alguma coisa de minas e energia? E Míriam Belchior tem alguma leve ideia do que seja planejamento?
Como numa chanchada da Atlântida, seguem as obras da Copa do Mundo de 2014. Todas estão atrasadas. As referentes à infraestrutura nem sequer foram licitadas. Dá até a impressão de que o evento só vai ser realizado em 2018. A tranquilidade governamental inquieta. É só incompetência? Ou é também uma estratégia para, na última hora, facilitar os sobrepreços, numa espécie de corrupção patriótica? Recordando que em 2014 teremos eleições e as "doações" são sempre bem-vindas...
Não há setor do governo que seja possível dizer, com honestidade, que vai bem. A gestão é marcada pelo improviso, pela falta de planejamento. Inexiste um fio condutor, um projeto econômico. Tudo é feito meio a esmo, como o orçamento nacional, que foi revisto um mês após ter sido posto em vigência. Inacreditável! É muito difícil encontrar um país com um produto interno bruto (PIB) como o do Brasil e que tenha um orçamento de fantasia, que só vale em janeiro.
Como sempre, o privilégio é dado à política - e política no pior sentido do termo. Basta citar a substituição do ministro da Pesca. Foi feita alguma avaliação da administração do ministro que foi defenestrado? Evidente que não. A troca teve motivo comezinho: a necessidade que o candidato do PT tem de ampliar apoio para a eleição paulistana, tendo em vista a alteração do panorama político com a entrada de José Serra (PSDB) na disputa municipal. E, registre-se, não deve ser a única mudança com esse mesmo objetivo. Ou seja, o governo nada mais é do que a correia de transmissão do partido, seguindo a velha cartilha leninista. Pouco importam bons resultados administrativos, uma equipe ministerial entrosada. Bobagem. Tudo está sempre dependente das necessidades políticas do PT.
A anarquia administrativa chegou aos bancos e às empresas estatais. É como se o patrimônio público fosse apenas instrumento para o PT saquear o Estado e se perpetuar no poder. O que vem acontecendo no Banco do Brasil seria, num país sério, caso de comissão parlamentar de inquérito (CPI). Aqui é visto como uma disputa de espaço no governo, considerado natural.
Mas até os partidos da base estão insatisfeitos. No horizonte a crise se avizinha. A economia não está mais sustentando o presidencialismo de transação. Dá sinais de esgotamento. E a rainha foi, desesperada, em busca dos conselhos do rei. Será que o encanto terminou?
*HISTORIADOR, É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR)
Haddad é o José Américo de Almeida do século XXI
Do blog de Josias de Souza:
Por enquanto, tudo deu errado para o Haddad’
De uma alma petista impressionada com a urucubaca que se abateu sobre o candidato do PT à prefeitura de São Paulo: “Por enquanto, nada deu certo para o Fernando Haddad. Para ser exato, tudo deu 100% errado. O Lula adoeceu, a Marta sumiu, o Kassab deu o chapéu, os velhos aliados trocam de calçada e o partido perdeu o tempo de tevê a que teria direito no primeiro semestre. Já vi gente sem sorte. Nunca vi ninguém com tanto azar. Se o nosso candidato for chupar um sorvete na rua, periga ser atropelado pela carrocinha do sorveteiro.”
A situação da Europa na segunda década do século XXI
O "El Pais", juntamente com outros jornais europeus, fez um caderno especial sobre a crise da (e na) Europa. Vale a pena ler: http://www.elpais.com/especial/europa/
STF: Supremo de que?
Esta análise foi publicada hoje na Folha de S. Paulo. No meu livro "A história das constituições brasileiras", no último capítulo, que trata do STF, apresentei vários exemplos de ações semelhantes da nossa Suprema Corte. Portanto, infelizmente, não é a primeira vez que o Suprema descumpre a Constituição.
Mudança de decisões do Supremo pode causar instabilidade social
JOAQUIM FALCÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Supremo Tribunal Federal levou quatro anos para decidir se o Instituto Chico Mendes era constitucional. Decidiu que não. Menos de um dia depois, mudou. Decidiu que é constitucional. Isso é bom ou ruim para o país?
Uns acham que foi bom. A decisão provocaria efeito dominó. Anularia cerca de 400 leis aprovadas, inclusive a que fixa o salário mínimo. Todos teriam as vidas afetadas.
Outros acham que não. Argumentam que o STF aumentou a insegurança jurídica da sociedade. Imaginem se tribunais mudassem de ideia a cada dez horas, reavaliando, com argumentos fora dos autos, as consequências da decisão? O STF errou e tentou corrigir o erro.
Quais as consequências quando o Supremo erra? Primeiro, deixa claro para todos que, ao contrário do que dizem alguns de seus ministros, é sensível sim a pressões políticas, sociais e econômicas. Sobretudo, como no caso, quando estão certas.
Segundo, o STF com o mesmo artigo e com o mesmo fato pode decidir que sim e que não. Sua interpretação varia. A corte faz política também.
Corrigir erros e atualizar as decisões é bom. O ministro Carlos Alberto Direito (1942-2009) dizia que jurisprudência existe para ser mudada. O problema é como se muda. Não é a primeira vez que a corte tenta reabrir uma decisão. Na famosa discussão entre Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes, o problema foi este.
O risco é o STF, a longo prazo, em vez de ser um fator de estabilidade, ser de instabilidade. A volatilidade decisória traz instabilidade social.
Duas perguntas: como o Congresso aprova 400 leis sem obedecer as regras que a lei manda? A origem desse acidente foi a reiterada desobediência do Congresso às próprias leis. Como, depois de levar quatro anos para julgar, o STF não avalia as consequências de sua decisão? Ninguém alertou os ministros do efeito dominó?
Tudo indica que algo precisa ser mudado. Mais coordenação e debate prévio, respeitoso e construtivo entre os ministros parece necessário. Sobretudo no STF dividido, onde ministros divergem em público, por meio da mídia, opinando sobre quase tudo.
Esse foi um acidente. Não deverá se repetir. Mas traz em si alguns alertas. Não basta Judiciário e Legislativo deterem o poder de fazer e interpretar leis. É preciso exercê-lo com prudência e dentro dos limites da lei.
JOAQUIM FALCÃO é professor de direito constitucional da FGV Direito-Rio.
STF: constitucionalidade e oportunismo
Vale a pena ler esta matéria publicada hoje na Folha de S. Paulo. Parece coisa de república bananeira. O STF decide de acordo com conveniências políticas. Ninguém sequer lê a Constituição.
A desindustrialização
Já escrevi e falei que o governo estruturou um modelo econômico neo-colonial com base nas exportações de produtos primários (e que tem diversos agravantes). Esta matéria da Folha de S. Paulo reforça a minha tese:
Ministério aponta "desintegração de elos da cadeia industrial" e diz que câmbio mina medidas de apoioAGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO