Sinais de mudança

A oposição mudou. Bom. Quer ser oposição. Tem atacado no horário gratuito (em tempo: horário gratuito que custa ao Tesouro 800 milhões) o governo. Tem de continuar a mostrar locais públicos para denunciar, como fez com a parte hospitalar. Não faltam exemplos de descaso. E dar um ar jornalístico ao programa, menos artificial, mais combativo. E deixar o eleitor falar.

Por outro lado, em Minas, Anastasia está passando Hélio Costa. Ainda é cedo para saber se isto, naquele estado, vai ter alguma repercussão na eleição presidencial.

Amanhã tem artigo na Folha de S. Paulo.

1989

Com todos os defeitos (e foram muitos), a campanha de 1989 foi a melhor das eleições presidenciais plenamente democráticas. O conjunto de candidatos era muito (mas muito mesmo) superior (em termos de história e formação política) às eleições posteriores (1994, 1998, 2002, 2006 e 2010). E mesmo em termos programáticos, apesar das propostas exóticas, fruto ainda da Guerra Fria (o muro de Berlim caiu naquele ano). A eleição de 2010 está se desenvolvendo em ritmo lento, desinteressante, sem o principal: política. Acaba fortalecendo ainda mais a despolitização popular, isto em um país em que a política nunca foi relevante, assunto das pessoas, das famílias.

Governos estaduais e eleição presidencial

Vamos ver qual a influência das eleições estaduais (somente nestes dias, o eleitor está prestando mais atenção nos canidatos aos governos dos estados) para a eleição presidencial. Serra precisa ganhar uns 6 pontos para ter o segundo turno. Dilma deve sumir dos debates e das aparições externas (evitando entrevistas). Mas para a oposição tentar, ao menos, jogar a eleição para o segundo turno, precisa fazer o óbvio: um discurso de oposição.

Congresso

Tudo indica que o próximo Congresso será pior que o atual. Em parte, como escrevi na quarta, devido à despolitização da eleição para o Executivo federal. Mas a legislação eleitoral acaba favorecendo os cacarecos. A cláusula de barreira, se adotada, seria uma revolução. Deixaria cerca de 8 partidos com representação no Congresso. Levaria a uma enorme mudança nos hábitos políticos. Por estranho que pareça, o atual Congresso aprovou a cláusula de barreira mas o STF derrubou (argumentando que seria necessário uma emenda à Constituição). E o assunto caiu no esquecimento. Já o voto distrital, que seria importantíssimo, e acabaria com o voto cacareco, este dificilmente será adotado, nem mantendo a distribuição atual dos estados na Câmara (mexer nisso é impossível, nenhum estado quer perder, mesmo que seja somente uma cadeira).

Desta forma, o Executivo fica livre para fazer o que bem desejar. O papel histórico de vigilância do Legislativo, triste Brasil, será exercido Tiririca, Marcelinho Carioca ou pelo Romário.

Mais um Datafolha

A pesquisa publicada reforça tudo o que já escrevi. O programa de TV é péssimo. Basta andar pelo Brasil e conversar com as pessoas. Tradicionais eleitores de Serra vão votar na Dilma. As pessoas estão estarrecidas com a estratégia de campanha. Ninguém entende o medo do enfrentamento.

O grande desafio é refazer a estratégia rapidamente. Mas acho difícil. Parece que o candidato ruma satisfeito para o suicídio político.

Algumas questões são óbvias. Escrevi (basta ver os posts anteriores e os artigos que publiquei especialmente desde 2005) e falei que oposição é um processo. É construída ao longo do tempo. Isto não foi feito. E pior: quando chegou o momento da eleição, a oposição sumiu. Imputar ao outro (a situação) um poder tão avassalador que não seja possível enfrentá-lo, é uma enorme bobagem.

Eleição sem política

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:


GANHAR ELEIÇÃO é uma possibilidade, fazer política é um imperativo. O Brasil poderá com esta campanha inaugurar uma nova forma de pleito presidencial: sem debate, sem polêmica, sem divergência e sem oposição.

Nas últimas cinco eleições tivemos disputa em três delas. Mas disputa mesmo, só em 1989. Em 1994 e 1998, FHC venceu Lula facilmente, as duas no primeiro turno.

Em 2002 e 2006, Lula foi como franco favorito para o segundo turno. Eu esperava que teríamos uma eleição diferente em 2010: sem Lula e com oposição que transformasse o pleito em um momento de amplo debate nacional.

Rotundo equívoco. Lula é candidatíssimo, aparece mais que Dilma. E pior: a oposição não apareceu ao encontro marcado. Como um aluno relapso, faltou justamente no momento da avaliação, a eleição.

Na República Velha, a oposição concorria sabendo que o resultado seria fraudado. Era o momento de, ao menos, marcar posição e acumular forças para um novo embate. Agora -e de forma surpreendente- nem isso está ocorrendo. Confesso que a cada dia que assisto ao horário eleitoral fico mais estarrecido.
Este triste panorama terá efeito direto sobre o Legislativo. Tudo indica que o futuro Congresso será muito mais governista que o atual. E também com um número expressivo de "deputados cacarecos", o maior da história recente, produto direto da inexistência do debate político.
A despolitização abre campo para que ex-jogadores de futebol, comediantes, cantores e celebridades instantâneas sejam considerados puxadores de votos para partidos de todos os matizes.

Outro efeito nefasto da despolitização é a permanência (e até ampliação) dos representantes dos oligarcas. Quase todos os sobrenomes que simbolizam o que há de pior na política brasileira estão apoiando a candidata oficial. São espertos. Tratam Lula como se fosse um dos seus. E, por incrível que pareça, ele acabou se transformando em uma espécie de "capo" dessas famílias.

Parodiando Sílvio Romero, no célebre discurso de recepção a Euclides da Cunha na ABL, Lula chegou "à suprema degradação de retrogradar, dando, de novo, um sentido histórico às oligarquias locais e outorgando-lhes nova função política e social".

A apatia política tem preço. E muito alto para o país. A fuga da oposição do debate, o medo do enfrentamento, a recusa de se opor, pode abrir caminho para um longo domínio do Estado por parte de um bloco conservador, sem espírito republicano, com tinturas caudilhistas e desejos de impor sua vontade à força.

Marasmo

Mais um dia e nada aconteceu de relevante. É a campanha mais apática desde 1989. Pode ser que se compare com a de 1998, quando Lula saiu candidato meio que obrigado. Fez uma campanha sem entusiasmo. No final deu uma entrevista dizendo que queria abandonar a política, que seu sonho era ter nascido rico e por aí afora (basta consultar a imprensa da época).

No campo racional é difícil entender o que está acontecendo com a oposição. Não é falta de material para o seu discurso. Não faltam temas. Mas não estão disputados. É de uma passividade irritante.

Pode ser, depois de outubro, quando muita coisa vier à tona, poderemos ter informações para poder construir uma história desta eleição presidencial.

Como na eleição presidencial nada ocorre, a atenção passou para os candidatos cacarecos. Melhor para eles, terão mais votos.

Em tempo: amanhã tem artigo na Folha.

Cacarecos

Tão ruim como a apatia na eleição presidencial é a proliferação de cacarecos. Tudo indica que teremos o maior número "destes" deputados no Congresso em toda a história. Para alguns será imperdível assistir todo santo dia a TV Câmara. Já para a democracia............

Apatia

Espera-se que nesta semana a eleição fique animada. Está mais para velório. Não tem um fato relevante, um debate, uma polêmica, nada. Nem parece que estamos a 40 dias de uma eleição presidencial. O desinteresse popular é evidente. Culpa do eleitor? Não. É a campanha que não empolgou. É a melhor estratégia para o governo. Cozinhar em banho-maria. A oposição é tem de elevar a temperatura política. O ar de "já ganhou" tomou conta da candidatura oficial. E Serra não consegue dar sinal de, ao menos, desejar mudar a estratégia de campanha. Serra está com um ar de Lula na campanha de 1998, que considerou que perderia fácil (como perdeu) no primeiro turno. Com a diferença que imaginava, no início, que venceria. Foi mudando o comportamento (estranhamente) quando começou a campanha.

Datafolha

É inexplicável a apatia da oposição. Sem panfletarismo barato, este resultado (47% e vitória no primeiro turno) não é devido única e exclusivamente à estratégia do governo. É que do outro lado não há nenhum oponente. Consequentemente, Dilma faz (e muito mais, Lula) sozinha a campanha, como se fosse meramente o cumprimento do calendário eleitoral. Não precisa sequer elevar o tom dos discursos. Eleitoralmente, a campanha de Dilma é perfeita. Politicamente, pensando no futuro do país, bem, aí é outra história.

Numa situação eleitoral péssima para a oposição, qualquer um imaginaria que seus líderes marcariam alguma reunião urgente para analisar e repensar a estratégia. Nada disso. Da lado da oposição temos o silêncio dos omissos e daqueles que imaginam que podem obter algum ganho com a derrocada da candidatura Serra.

Os apoiadores de Dilma já estão com as facas e o garfos prontos para a partilha. É gente que tem experiência, anos de especialização, no saque organizado do Estado.

Que fazer?

Dilma tem uma ampla aliança de sustentação. Conseguiu arrecadar um volume fabuloso de recursos. Lula é o seu maior cabo eleitoral. E tem a máquina do governo para ajudá-la. Serra está isolado. O partido está na base do salve-se quem puder. Enquanto Dutra (presidente do PT) está no centro da campanha (e optou por não ser candidato), Guerra está perdido no meio do sertão pernambucano fazendo a "sua" camapnha para deputado federal. As outras lideranças partidárias estão cuidadando também das "suas" candidaturas. Qualquer crítica de Serra tem logo a resposta de uma dezena de lideranças governamentais (o contrário não existe).

Neste momento, só resta um caminho para Serra: politizar (como escrevi na Folha da última quarta) a campanha. Ou seja, não adianta ficar falando e falando do programa. Tem de centrar fogo na Dilma, explorar suas contradições, alianças, etc. É um equívoco apresentar o Lula na sua propaganda. É um erro primário. Ainda é tempo de mudar.

Dilma vai manter intocada sua campanha. Ela é um produto. Desta forma, João Santana a vê. Está muito bem embrulhada.

Marina hoje é a salvação de Serra. É ela que impede a vitória de Dilma no primeiro turno. Plínio já é coisa do passado. Alguns, após o debate da Band, imaginaram que ele poderia começar a crescer (na verdade, começar a pontuar). Doce ilusão.

Qual o rumo?

Basta assistir as propagandas dos 3 principais candidatos para constatar o óbvio: Dilma ganha disparado. Claro que é mais fácil "vender" a sua candidatura: basta dizer que é a escolhida de Lula e contar um pouco da sua vida. Mas é inegável a qualidade técnica, de edição, de escolha de temas, cenários, etc.
Ainda é tempo de Serra mudar a forma da sua propaganda. Contudo, o problema é mais complexo: não basta mudar alguns aspectos da propaganda, é necessário corrigir o rumo da candidatura.
Toda campanha política tem sua dinâmica, fatos imprevistos, adesões, traições e, principalmente, deve seguir o rumo determinado pelo eleitorado. Não adianta brigar com os fatos. Ainda é tempo de Serra mudar alguns pontos da campanha e a propaganda. Dilma vai continuar nesta toada. Está dando muito certo.

Adeus à política

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:


PELA SEXTA vez consecutiva, fato único na nossa história, teremos a escolha do presidente da República através de eleições plenamente democráticas. Não é pouco, principalmente em um país com a nossa tradição autoritária.

Se na eleição de 1989, os candidatos politizavam qualquer proposição, por mais simples que fosse, agora a despolitização é uma marca da campanha. Depois de cinco eleições, o processo eleitoral ficou mais pobre em debates e ideias.

É possível que, em parte, este panorama justifique-se pela predominância do marketing político e da americanização das eleições. As pesquisas qualitativas são mais importantes, para os candidatos, do que a política stricto sensu.

O enfrentamento ideológico foi substituído pelas propostas de gerir uma casa, como se o espaço doméstico fosse a reprodução em miniatura do país. O linguajado familiar invadiu a política. Pai, mãe e filhos substituíram os temas clássicos, o que é um claro sinal de pauperização do debate político.

O PT é um bom exemplo. Desapareceu -e tudo indica para nunca mais voltar- o discurso classista ou ao menos de embate com os poderosos. Foi substituído por elementos pré-varguistas.

O vocabulário da casa grande, autoritário e coercitivo, tomou conta dos seus dirigentes. E, claro, Lula foi o iniciador e maior defensor da despolitização. Como nunca suportou participar de uma discussão de princípios políticos, encontrou na fala despolitizada um campo fértil. Exemplificou dilemas do país com exemplos domésticos, comezinhos.

Quanto mais complexa uma questão, maior a banalização. Daí foi só um passo para fortalecer a ideia de que o povo precisa de um pai, de uma mãe: "Deixo em tuas mãos o meu povo", como diz o jingle.

A despolitização tem o papel de eliminar as fronteiras ideológicas. Dilui as divergências, homogeneíza e transforma o processo eleitoral em uma espécie de geleia geral. Tudo parece igual. Por isso, Roseana Sarney pode vestir a camiseta do PT e o irmão uma do PV, sem que nenhum dos dois deixe de defender o interesse familiar, que apresa o Estado mais pobre do Brasil.

A oposição não conseguiu -e teve várias oportunidades- para construir um discurso político, alçando o debate a outro patamar. Contudo, optou pelo conformismo. No fundo, admirou a despolitização. Tudo parecia tão simples. Neste trágico percurso, Lula, entusiasmado, quis levar o "método" para o mundo. Foi um desastre, como no Oriente Médio. O lulismo, como forma de fazer política, só dá no Brasil, como a jabuticaba.

Bienal do Livro (SP)

Na quinta-feira às 15 horas, na Bienal do Livro (Parque Anhembi), faço uma palestra sobre o meu livro (que será lançado neste evento às 16 horas) "A revolução de 1932: Constituição e cidadania."

Debate Folha/Uol

Para José Serra o debate de amanhã é fundamental. Tem de vencer de goleada. É o momento mais crítico da campanha. Dilma vai evitar qualquer confronto e baixar a temperatura do debate. Para ela o fundamental é manter a distância acusada pelas últimas pesquisas. E, claro, deixar sempre Lula na frente da sua campanha. Hoje, inclusive, o presidente violou mais uma vez a legislação eleitoral.

Amanhã publico mais um artigo na Folha comentando a eleição presidencial.

Boatos e interpretações

Boatos fazem parte de qualquer campanha política. A atual (e falando somente da campanha presidencial) está recheada de acusações de traições, alianças clandestinas, etc, etc.
Mas o curioso é quando o boato alcança o status de interpretação de algum fato (buscando o estatuto de verdade). Também o noticiário está cheio de interpretações para qualquer gosto. Como as pesquisam indicam uma liderança confortável de Dilma, os "intérpretes" já decidiram o pós-eleição, o que vai acontecer com os partidos, lideranças, etc. É cedo. Amanhã começa o horário gratuito. A partir do dia 17, a campanha começa efetivamente (pensando em termos da maioria do eleitorado que ainda não tomou conhecimento plenamnete da realização da eleição). É óbvio que a oposição tem de procurar os tais "fatos novos" e a candidata oficial não vai mexer na sua estratégia.

Ainda sobre a eleição de 1960.

Não há relação entre a eleição e a presidência (breve) de JQ. Ninguém imaginaria que ele abandonaria o cargo sete meses depois da posse (basta consultar os jornais ou políticos que foram contemporâneos dos fatos). Ficou uma versão caricata do governo, que teve algumas realizações importantes, como a política externa independente. A renúncia não teve qualquer relação com o Congresso (aprovou tudo o que enviou - excetuando uma nomeação de embaixador) ou com uma eventual falta de base política de sustentação para governar. O exemplo que dei da eleição de 60 foi de que a vitória foi fruto de um longo processo de oposição.

A eleição de 1960

Escrevi no artigo da Folha (11/08, ver post) que oposição se constroi ao longo do tempo. Não pode aparecer na véspera da eleição. É aquela velha história: é um processo. JK realizou inúmeras grandes obras públicas (a construção de Brasília foi a mais importante). Durante o seu quinquênio o país cresceu, em média, a taxas sensivelmente superiores às atuais (quase o dobro). Mesmo assim, perdeu a eleição de 1960.

A explicação (banal) da derrota é que Lott (o candidato de JK) enfrentou um fenômeno eleitoral (Jânio Quadros). O quadro é mais complexo. Jânio fez oposição ao governo federal desde 1954, quando foi eleito governador (oposição a Getúlio Vargas). Na eleição de 1955 apoiou o general Juarez Távora, segundo colocado na esfera nacional, e que, em São Paulo, dividiu os votos com Ademar de Barros (vencedor no estado). Passou os 3 anos (entre 55-58) fazendo oposição a JK. Em 1958 elegeu o sucessor: Carvalho Pinto. E obteve uma cadeira de deputado federal pelo Paraná (a legislação permitia - não havia exigência de domicílio eleitoral, como hoje). Continuou na oposição. Em 1959 já tinha se lançado (informalmente) candidato à presidência, quase dois anos antes do 3 de outubro de 1960. Construiu suas bandeiras políticas em oposição aberta à presidência JK. Venceu. Mais do que a linguagem gestual, os maneirismos verbais, a vestimenta ou alguma frase de efeito, o produto da vitória foram os 5 anos de oposição a JK, oposição aberta, e a articulação para a formação de uma frente eleitoral.

Pesquisa presidencial de hoje

Foi divulgado - ainda sem maiores detalhes - a pesquisa Datafolha: Dilma vence por 41 a 33. É uma distãncia considerável. Até agora é possível especular que:
1. a estratégia de Lula está correta. Começou a campanha em 2008, quando a oposição brigava e não tinha ainda um candidato. Parte desta briga foi estimulada por ele. que obteve uma ajuda considerável por parte de alguns líderes da oposição;
2. as oligarquias estaduais (que não fazem parte do PT) devem surfar ainda mais na onda Lula e eleger seus candidatos nos estados;
3. a máquina petista (nas empresas estatais, nos fundos de pensão, nos sindicatos e nas funções comissionadas - sem esquecer os jornalistas de aluguel) vai aumentar a pressão contra a oposição. Sabe que esta tática dá certo.
4. Serra terá de fazer muito esforço para manter unida a frente oposicionista. Parte dela, que apoiou timidamente sua candidatura, pode a qualquer momento abandoná-lo;
5. Em alguns estados (Minas é o caso exemplar), os apoiadores da candidatura Serra terão de entrar em campo. Será necessário convencê-los de que duas derrotas (nos planos regional e nacional) acabará trazendo sérios prejuízos aos seus projetos políticos (é o único jeito de tentar, ao menos, convencê-los, isto é, apontar o risco para os seus projetos pessoais);
6. como em outras eleições, alguns dirão que a queda de Serra deve ser atribuída às suas críticas ao governo. Bobagem. Oposição é crítica em qualquer lugar do mundo. O problema central é outro (vide post com o artigo de quarta na Folha).
7. a eleição não está decidida mas exigirá muito esforço de Serra para manter o ânimo dos seus aliados, parte deles são uzeiros e vezeiros em fugir do combate político.
8. politizar a campanha é um bom caminho para a oposição. Já Dilma deve manter o discurso despolitizado, de mãe do Brasil. Dá certo especialmente no eleitorado desinteressado em política. O desafio para a oposição é o de trazer Dilma para o debate político. Os próximos debates serão fundamentais (o da Folha é na próxima quarta).

Nova pesquisa Datafolha

Acaba de ser divulgada a pesquisa Datafolha para os governos estaduais. Alckmin e Cabral vencem fácil (e no primeiro turno). Resultados esperados. No caso de Minas, a cada pesquisa a situação de Aécio piora. Seu candidato continua patinando. Evidentemente que estes resultados terão repercussão direta na pesquisa presidencial, que será divulgada amanhã. Também, após a consolidação do quadro eleitoral estadual, nos maiores colégios será fundamental a participação dos governadores virtualmente eleitos na campanha presidencial (diferentemente de 2002 e 2006).

Os 3 no JN

Dilma foi a pior. Bastou ser perguntada sobre temas mais controversos e ela mostrou que não sabe conviver com a polêmica, o debate. marina foi bem dentro do figurino estipulada pela sua candidatura. Serra acabou sendo, dos três, o melhor. Desta forma, Dilma evitará o debate de todas as formas possíveis.

Plínio pode prestar um bom serviço à dmeocracia se discutir temas clássicos da esquerda brasileira. É uma pessoa respeitável. Mas a discussão eleitoral é outra história. Um desafio é relacionar os temas clássicos com medidas concretas, saindo do discurso panfletário.

Onde está a oposição?

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:


A OPOSIÇÃO perdeu a batalha ideológica. E não é de hoje. Quando Lula assumiu o governo, rapidamente construiu um discurso negador do passado -sua especialidade. Com uma diferença: agora estava na Presidência e com muito mais poder para impor a sua versão da história.
Lançando a pecha de que teria encontrado uma herança maldita, não recebeu uma resposta eficaz e convincente dos oposicionistas. Estes estavam assustados e desestimulados. Ser oposição é tudo o que não queriam ser.

Como disse Nícia, na comédia "A Mandrágora", de Maquiavel: "Para os que não têm poder, não existe nem mesmo um cachorro que lhes ladre na cara".

Sem combatividade, estavam prontos para aderir ao governo. Só não o fizeram porque surgiram escândalos envolvendo altas autoridades governamentais, devido às divergências regionais e por uma razão simples: não foram cooptados para fazer parte do governo.

Se os militares golpistas latino-americanos não resistiam a um "cañonazo" de milhares de dólares, os políticos brasileiros não resistem ao "Diário Oficial" e suas nomeações. Apesar da derrota de 2006, a oposição manteve o comportamento light. Nada de críticas. Era necessário pensar na governabilidade. O tempo foi passando e a eleição foi se aproximando.

A cada omissão, mais o discurso oficial se transformava em verdade absoluta, sobre o passado e o presente. Excetuando a batalha contra a prorrogação da CPMF, quando a oposição foi oposição e venceu, nos últimos quatro anos a eficiência governista foi exemplar.

A oposição poderia ter criticado o rumo da economia, a segurança pública, os milhões de analfabetos ou a péssima situação da saúde.

Mas silenciou. Abdicou do combate. Acreditou que o relativo crescimento da economia blindava o governo de críticas. Ledo engano.

No quinquênio juscelinista, o país cresceu a taxas superiores às atuais, realizou grandes obras (o que não ocorre agora) e JK não elegeu o sucessor. Por quê? Porque a oposição fez o seu papel, como em qualquer democracia que se preze. Com a proximidade das eleições, a oposição ficou sem saber o que fazer. Esqueceu uma lição básica (e óbvia): é preciso fazer política. Ao menos enquanto há tempo. A recusa ao debate pode abrir caminho para o autoritarismo.

Afinal, o filho de um oligarca calou o "Estadão", proibindo noticiar suas negociatas; enquanto um partido ocupou ao seu bel prazer as páginas de "Veja". E tudo com a chancela da "justiça". Deste jeito logo começaremos a achar que o México, sob domínio do PRI, era uma democracia.

Onde está a direita?

Publiquei hoje em O Globo este artigo: 
O panorama da eleição presidencial chama a atenção.
Não há nenhum candidato identificado com a direita, da mais conservadora até a liberal. E não é de hoje. Desde a eleição de 1994, a direita abandonou o campo de jogo. Uma das explicações pode ter sido o trauma representado pelo governo Collor. Em vez de apostar em um aventureiro, optou, desde então, por apoiar o candidato que tivesse mais chances de vencer. Puro utilitarismo eleitoral. Mas que acaba prejudicando o processo democrático, pois obriga os partidos mais fortes nas eleições presidenciais (PSDB e PT) a darem uma guinada à direita.

E por uma razão óbvia: há um eleitorado conservador, que pode decidir uma eleição.

Uma candidatura no campo da direita teria de buscar apoio político.

Mas onde? O capital financeiro está muito satisfeito com o governo Lula.

A nefasta combinação de altas taxas de juros com um câmbio supervalorizado transformou o capital financeiro em uma espécie de quarto poder da República. Compõe com qualquer governo, desde que mantenha seus privilégios, assim como a burguesia lulista, aquela do capital alheio, que cresce graças aos generosos créditos do BNDES. Apoiando Lula obtiveram a tão almejada paz social.

Nunca na história deste país, desde o restabelecimento da democracia, houve um período presidencial com tão poucas greves. O custo foi baixo. E pago pelo Tesouro Nacional.

Então, para que fazer política ideológica, discutir princípios? Este utilitarismo macunaímico, também é extensivo à política. Paulo Maluf é um bom exemplo. Filhote da ditadura, de acordo com Leonel Brizola, foi candidato na eleição de 1989 ainda com base no prestígio adquirido no início da década e que o levou a disputar a Presidência contra Tancredo Neves no colégio eleitoral, em janeiro de 1985. Desde então ficou restrito à política paulista. Após o fracasso de Celso Pitta, seu afilhado político, abdicou de voos mais altos, inclusive na política regional, e transformou-se em caudatário do PT, apoiando, inicialmente, Marta Suplicy, para a prefeitura, os candidatos petistas quando do segundo turno das eleições para o governo estadual, e Lula para a Presidência. Em cerimônias oficiais chegou a ser citado elogiosamente pelo presidente da República.

O mesmo quadro se repete em diversas regiões. No Nordeste, a velha oligarquia que usufruiu das benesses do regime militar, que aderiu à Nova República e depois de 1990 foi se adaptando aos novos tempos, virou lulista de carteirinha. Eventualmente, manteve suas divergências com o petismo nos seus estados, mas no plano federal que é o que importa para os oligarcas, pois é a fonte dos recursos que permitem manter seus privilégios locais formou uma verdadeira tropa de choque no Congresso Nacional em defesa do governo.

José Sarney foi o precursor. Já em 2002 apoiou Lula. Pressentiu para que direção estava soprando o vento.

Se aboletou no governo, manteve o controle de áreas sensíveis aos seus interesses familiares, como o Ministério das Minas e Energia, e o governo local e, quando perdeu, em 2006, a eleição no Maranhão, recebeu apoio discreto, mas eficaz, de Lula para retomá-lo em um golpe judicial.

O mais novo adepto e não é acidental que também venha de um estado pobre desta corrente é Fernando Collor. Defendeu enfaticamente o governo. Virou lulista.

A direita prefere ser sócia, mesmo que minoritária, do governo, do que disputar a Presidência. Seus interesses se resumem a extrair benefícios nada republicanos. Em uma linguagem mais direta: querem participar do saque organizado do Estado, controlando ministérios e secretarias como uma espécie de extensão da antiga casa-grande. Não há nenhuma ideologia. Quando muito, como fez Renan Calheiros, cita Ruy Barbosa para justificar notas frias emitidas por um açougue o Stop Carnes no interior miserável de Alagoas.

Contudo, no Congresso, a direita está muito bem representada, numericamente falando, claro. Raros são os parlamentares ideológicos, que professam sinceramente sua ideologia, defendem seus princípios. São vistos como ingênuos. A direita propriamente dita sabe que, sem apoio parlamentar, nenhum presidente governa.

A opção por escolher o campo parlamentar em vez de lutar pelo Executivo tem se mostrado muito eficiente.

Evita o desgaste da derrota, valoriza o apoio eleitoral e aumenta o cacife no momento da divisão do bolo do poder. E mais: não se identifica como direita. Direita virou palavrão. Eles são de centro.

Navegando entre princípios e negócios

Publiquei hoje n'O Estado de S. Paulo:


A política externa do governo Lula tem se caracterizado pelo absoluto desprezo aos direitos humanos. Segundo o ministro Celso Amorim, o que importa são os negócios. Foi assim que justificou a visita à Guiné Equatorial, governada por um tirano há mais de três décadas. Da mesma forma que fechou os olhos aos ataques às liberdades democráticas que ocorre de forma sistemática na Venezuela.

Para o Itamaraty, eleições livres, defesa das liberdades democráticas, alternância do poder, respeito às minorias nacionais, tudo isso é absolutamente irrelevante, "coisa de poeta". De acordo com Amorim, uma potência mundial não tem princípios, só interesses. Esta diplomacia sonha transformar o Brasil em um país com presença mundial e agindo conforme as regras do jogo estabelecidas nos últimos dois séculos. Daí que não seria exagero imaginar até a retomada do programa de construção da bomba atômica, adotando velhos argumentos, como o de que não é "democrático", como disse o presidente Lula, que somente alguns países tenham acesso ao domínio completo da tecnologia nuclear.

Isto pode explicar a leniência da diplomacia quando teve de enfrentar nos fóruns internacionais as questões relacionadas aos direitos humanos. O Brasil não apoiou as pressões contra o governo do Sudão que pratica há anos, na região de Darfur, um verdadeiro genocídio. Silenciou. Em outros momentos, apoiou entusiasticamente ditaduras e racistas, como as ironias de péssimo gosto em relação aos presos políticos cubanos ou a sustentação de um candidato à direção da Unesco, o egípcio Faruk Hosni, que é um conhecido defensor do antissemitismo. E, nos últimos dias, quando Lula considerou "uma avacalhação" interceder junto ao governo iraniano para salvar da morte por lapidação a iraniana Sakineh Ashtiani - para, posteriormente, fazer um pedido envergonhado de concessão de asilo, algo absolutamente descabido.

Nada mais antibrasileiro do que a defesa do racismo e do ódio entre as raças. Uma das conquistas históricas do Brasil são a mestiçagem e o enfrentamento do racismo. Depois de tantos percalços, a democracia se consolidou. E um país com a nossa história não pode desprezar estes triunfos. Mas a política externa lulista não dá a mínima importância. Não considera a democracia um valor universal. Assumiu, como se fosse um prato recém-preparado, o requentado discurso terceiro-mundista. E pior: em um mundo multi-polarizado.

O Brasil deve deixar de contemporizar com governos que violam as leis internacionais, ignoram os contratos e desprezam a democracia. Não pode achar que valores históricos devam ser trocados por mercadorias. Princípios não são commodities. O nosso compromisso é com os povos e não com ditadores. Não é ingenuidade estabelecer uma política de princípios. Pelo contrário. Temos de romper com a hipocrisia de que o mundo sempre foi assim, que as potências têm interesses e não amigos.

O Brasil tem neste momento uma oportunidade histórica. Pode aliar o dinamismo econômico, a experiência da convivência de diferenças raças e religiões, a uma política externa que tenha princípios democráticos. Seria bom que o Itamaraty voltasse a ler o Barão do Rio Branco. A 1º de dezembro de 1902, depois de um quarto de século longe do País, pouco antes de assumir o ministério, a convite do presidente Rodrigues Alves, Rio Branco lembrou que prestou inúmeros serviços ao País mas o fez "porque defendia causas que não eram de uma parcialidade política, mas sim da nação inteira."

E concluiu: "Não venho servir a um partido político, venho servir ao Brasil."

Semana de emoções

Hoje e na quarta tem entrevista importante no JN. Hoje é Dilma, na quarta será a vez de Serra. No sábado sairá mais um Datafolha. Teremos, como de hábito, muito boato.

O resultado do Datafolha deve determinar a tática de Serra. Caso Dilma mantenha uma dianteira de até 5 pontos, não haverá mudança considerável. Caso a distância seja maior, tudo indica que a tática terá de ser mudada.

A cada dia tem um marqueteiro dando a sua receita - geralmente infalível - de como vencer a eleição. Não acredito. É como conversa de técnico de futebol.

O óbvio ululante é que vai chegar o momento da campanha que Serra terá de contrapor a sua biografia com a de Dilma. Terá também de mostrar que tem mais competência que ela para governar. Ou seja, a fase de apresentação de propostas perderá o protagonismo. O embate direto será fundamental para a sua candidatura. E quem deve decidir o momento é o candidato.

Mudando de assunto: hoje, na Folha, tem uma notícia humorística no noticiário de política. Li estarrecido que estamos iniciando um New Deal, um período de prosperidade. Bobagem 1: cadê a crise de 29? Bobagem 2: New Deal não abriu nenhuma etapa de prosperidade (basta ver os indicadores econômicos - foi a Segunda Guerra que deu o impulso para efetivamente os EUA sair da crise); Bobagem 3: onde está o Roosevelt?

O pós-debate

Como já tinha escrito, mais importante que o debate é a repercussão. Nos últimos dias todos comentam o debate, apesar da audiência ter sido muito baixa (se o PT tivesse na oposição diria que a Globo mudou o jogo do São Paulo com o objetivo de esconder o debate....). Plínio virou uma certa unanimidade. Escrevi, minutos após o final do debate, que ele poderia ter explorado um sem-número de teses clássicas da esquerda brasileira, mas não o fez. Dilma, dentro dos seus limites, foi o que poderia ser, mas poderia ter sido pior (o treinamento ajudou). Marina acabou sendo a maior decepção do debate e Serra poderia ter tido um melhor desempenho (mesmo assim, foi o melhor).

Evidente que o nervosismo atrapalhou os debatores. O formato do programa até que permitiu um debate mais direto entre os candidatos. Claro que no segundo turno, a qualidade do confronto será melhor, pois cara a cara, o debate acaba ficando mais franco e produtivo.

Para a oposição, o problema maior é o tom e o volume da crítica. É um antigo problema. Desde 2005, após a crise do mensalão, a oposição não sabe bem a altura e a forma das críticas. Deveria já ter resolvido este dilema. Agora, em cima da hora, fica difícil. Mas ainda é hora.

Ibope

Como é sabido, a última pesquisa Ibope deu 39 a 34 para Dilma. Não é um resultado ruim para Serra. Ele enfrenta a máquina do governo federal, os adversários estaduais, alguns aliados que fazem corpo mole e Lula (que continua com a popularidade muito alta).

Dilma mantém a dianteira e não disparou, como foi propalado. Para ela o resultado poderia ter sido melhor. Afinal, conta com uma aliança que vai da direita mais conservadora até a extrema-esquerda. E, principalmente, é apoiada por Lula.

O problema central de Serra é o Sudeste (que já apontei diversas vezes). É nesta região que a eleição pode ser decidida a seu favor. Precisa ampliar a vantagem em São Paulo (e tem espaço para isso). Mas (deixando o Rio de lado, onde a situação também não é boa) é em Minas o principal problema. Aécio joga nesta eleição o seu destino político nos próximos anos. Se Serra perder e Anastasia vencer, ele estará em uma situação desconfortável mas poderá ainda tentar se cacifar para 2014. Será mimoseado, como foi por Lula durante 8 anos, mas terá uma forte oposição do governo federal que sabotará a gestão Anastasia. Caso Anastasia perca (como indicam as pesquisas), Aécio poderá ficar no ostracismo por um bom tempo (independentemente de ter sido eleito senador, como será). O governo estadual (com o auxílio de Brasília) vai tomar todas as suas bases.

Dilma deve manter este ritmo de campanha. Conta com amplo apoio. Deve evitar qualquer forma de confronto. Não causará estranheza se não comparecer a algum próximo debate. Ela não foi bem no debate da Band, como era esperado. Não foi um desastre pois o formato do programa impediu um confronto mais direto.

A eleição continua indefinida. E a temperatura vai aumentar na próxima semana.

Transferência de votos

Lula é considerado uma espécie de rei Midas no quesito transferência de votos. Nada mais falso. Se fosse verdade o PT teria vencido as eleições para o governo de São Paulo em 2002 e 2006 e a eleição para a prefeitura da capital em 2004 e 2008. Esteve aqui, fez um barulho e perdeu. Portanto, é necessário entender o mecanismo da transferência e quais as circunstãncias que o cerca.

Ainda sobre o debate

Se observarmos os vários debates desde 1989, veremos que os "melhores momentos" não foram quando os candidatos citaram uma montanha de dados (quanto fazem isso ninguém entende nada). Nada disso. O "momento inesquecível" é o confronto, uma frase feliz, um gesto. Ontem, mais uma vez, os candidatos acabaram se esquecendo desta verdade tão óbvia.

A montanha de dados serve para esconder o candidato. Para dar um ar de confiabilidade, de conhecimento. É utilizado pelo candidato que não tem intimidade com o debate, com a polêmica, enfim, com a dificuldade que é ser presidente do Brasil. É a velha ideia do gerente. O eleitor não quer saber disso. O eleitor quer emoção. Pode ser que na Finlândia seja diferente mas no Brasil...............

O debate

A primeira impressão é de que o debate decepcionou. Porém, por ser o primeiro e pelo formato foi razoável. Um dos problemas é que nenhum assunto é aprofundado. Tudo é dito rapidamente e a concordância se estabelece. Serra tentou se distinguir de Dilma, buscou confrontar mas quando a temperatura iria aumentar, acabava o tempo e a pergunta ia para outro candidato.

O enfrentamento Serra e Dilma deve ser tentado em outros debates, mas sempre será prejudicado. Somente no segundo turno isto poderá ficar mais claro (evidentemente se tiver segundo turno). Era notório o desejo de Serra de debater. Sabe que os debates são fundamentais para a sua eleição, diferentemente de Dilma que, em momento algum, esteve confortável.

Dilma estava muito nervosa e foi melhorado (dentro das suas possibilidades) no decorrer do debate. O formato do programa ajudou. Continua sem objetividade nas respostas e usando expressões de difícil entendimento para o eleitor médio.

Plínio fez o esperado (mas poderia ter explorado muito mais o discurso socialista - a literatura sobre o Brasil é imensa deste ponto de vista). Marina a todo momento lia as suas falas (inclusive a intervenção final), o que dava um ar artificial ao seu discurso.

Mais uma observação: Plínio e Marina são dissidentes do PT. Portanto, eram 3 candidatos que em 2002 estavam do mesmo lado. Isto mostra a pobreza ideológica do primeiro turno das nossas eleições presidenciais. Mas este é um tema para outro dia.

É o dia.

Finalmente chegou o dia do debate. É o primeiro de uma série de cinco. A expectativa é sobre o desempenho de Dilma. Está sendo treinada (como os outros candidatos). Dos quatro debatedores, é a mais inexperiente. Se não comprometer, já será uma vitória.

Marina e, principalmente, Plínio vão cumprir tabela. São figurantes.

Para Serra, o debate é mais importante do que para Dilma. Tem de ganhar e ficar claro para o telespectador que ganhou. Isto vai fortalecer a sua candidatura neste momento importante da campanha. Os apoios estaduais ainda estão frágeis. O seu eleitor é mais fiel do que os apoios que recebe dos políticos.

A influência incial do debate é sobre o eleitorado mais politizado. Depois, como uma onda, a repercussão vai se espalhando. Muitas vezes, a repercussão é mais importante que o debate propriamente dito.

A maior audiência e a influência pós-debate deve chegar primeiro no Sul e Sudeste. Especialmente no Sudeste, Serra tem de voltar a crescer. Daí, como disse, para ele o debate é muito mais importante do que para a candidata oficial.

O nosso 18 Brumário

Este artigo foi publicado hoje na Folha de S. Paulo:

O MAIOR PERSONAGEM da eleição não é candidato: Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje é o grande cabo eleitoral não só da sua candidata mas de toda base governamental. Chegou a esta condição contando com o auxílio inestimável da oposição.

No primeiro mandato teve sérios problemas, como na crise do mensalão. A oposição avaliou -erroneamente- que seria menos traumático e mais fácil deixá-lo nas cordas, para nocauteá-lo em 2006.

As saídas de José Dirceu, Antonio Palocci e Luiz Gushiken deram a Lula o protagonismo exclusivo. Só então teve condições de governar como sempre desejou.

A troika limitava sua ação e dividia as atenções políticas. Dava a impressão de que o chefe de Estado não era o chefe do governo.

A crise foi providencial para Lula: libertou-se do aparelho partidário, estabeleceu alianças como desejava e passou a ser a âncora exclusiva de sustentação do governo.

O segundo mandato, na prática, começou no início de 2006. A oposição mais uma vez evitou o confronto direto. Avaliou -erroneamente, novamente- que seria melhor manter os governos estaduais de São Paulo e Minas, transferindo o enfrentamento direto com Lula para 2010.

Em um terreno livre, Lula teve condições únicas para um presidente nos últimos 40 anos: estabilidade política, crescimento econômico e controle do Congresso.

As CPIs, que criaram problemas no primeiro mandato, perderam importância. Os frutos da estabilidade e uma conjuntura internacional favorável possibilitaram um rápido crescimento da economia e a expansão do consumo.

Paulatinamente, Lula foi afrouxando a política fiscal, abandonou as rígidas metas do primeiro mandato, manteve um câmbio artificial, incentivou o capital especulativo e foi empurrando para o próximo presidente uma bomba de efeito retardado.

Abrindo um imenso saco de bondades, ampliou o crédito para as classes C e D, favoreceu as viagens internacionais para a classe média e criou uma nova burguesia -a burguesia lulista- que ampliou o seu poder graças às benesses dos bancos oficiais. Expandiu numa escala nunca vista os programas assistenciais, como o Bolsa Família, e manietou os velhos movimentos sociais comprando suas lideranças.

Tal qual Luís Bonaparte, Lula "gostaria de aparecer como o benfeitor patriarcal de todas as classes". Foi ajudado pela oposição, sempre temerosa de enfrentar o governo. Usando uma imagem euclidiana, Lula "subiu, sem se elevar -porque se lhe operara em torno uma depressão profunda". Ele almeja transformar o 3 de outubro no seu 18 Brumário.

Band Eleições

Estarei sendo entrevistado amanhã, quarta, no Band Eleições 2010, à meia-noite (após o jogo do Santos - claro esperando comemorar mais um título neste ano).

O debate de quinta.

Já escrevi tratando do debate de quinta. Hoje só se fala nisso. Dilma está sendo preparada para fazer o papel inverso do que se imagina. Pretende ter na ponta da língua o programa de governo e responder com clareza e brevidade as questões. Serra é que terá um grande desafio. Sair bem no debate já é esperado. E tem de cumprir o que se espera dele. Mas não só: tem de deixar claro para os telespectadores que Dilma não consegue sozinha sequer responder as questões formuladas no debate (quanto mais governar o Brasil). Marina e Plínio serão coadjuvantes e podem surpreender. Não tem nada a perder.

Debate é importante não só pela audiência mas principalmente pela repercussão (na própria TV, no rádio, nos jornais e nas ruas). Será especialmente para Dilma o grande teste. os ataques deverão ser mais destacados do que os pontos programáticos, como de hábito (aqui e no resto do mundo).

Faro político

É inegável o faro político de Lula. Externamente, o governo passou mais de 7 anos priorizando negócios e ignorando denúncias de violações dos direitos humanos. Paparicou ditadores como nenhum outro presidente na história do Brasil. Pressionado para falar sobre a condenação à morte por lapidação da iraniana Sakine Ashtiani, primeiro disse que era uma "avacalhação" interceder junto ao governo iraniano. Depois, alertado certamente pelos dirigentes da campanha de Dilma, viu que era uma excelente oportunidade para obter algum dividendo eleitoral. Propôs dar asilo à iraniana. Com isso imagina apagar a imagem de uma uma política externa que se omitiu sistematicamente frente as graves violação dos direitos humanos no mundo. E mais: espera ganhar votos do eleitorado feminino, onde Dilma vai mal. Resumindo: mantém como princípio uma política externa sem princípios.

Atentados e eleição.

Muito estranhos os episódios envolvendo um atentado ao comandante da Tropa de Choque e outro contra o quartel da Rota. Podem ter ligação. Fica no ar se não estão preparando um clima semelhante ao de 2006, durante o breve governo Lembo, e que teve repercussão eleitoral.