É golpe!

A ameaça, pois é uma ameaça, de Lula de que pretende percorrer o país para se despedir do povo é algo gravíssimo. Lula está brincando com a democracia e zombando da Constituição, do TSE, dos partidos políticos e mais ainda dos cidadãos.

Lula flertou com a possibilidade do terceiro mandato. Acabou abandonando a idéia pois sentiu que não seria aprovada pelo Congresso Nacional, especialmente pelo Senado (tinha na mente a derrota da CPMF).

Dilma passou a ser a possibilidade do terceiro mandato. Mas no decorrer do mês de abril, devido a péssima performance de Dilma, acabou levando Lula a ter de fazer a campanha em nome da candidata. Só dessa forma é que é possível entender a proposta da caravana da despedida ( o PT gosta de caravanas).

Não é preciso muita imaginação para prever o que deve ocorrer: Lula exaltado no palanque, populares emocionados (muitos chorando), faixas espalhadas pedindo que ele fique e, sem exagero, deve sair do ato carregado pelo povo.

Esta encenação está sendo planejada para desviar a atenção popular do desastre (anunciado, vale lembrar) da candidatura Dilma. Isto tem nome: é golpe!

Lula candidato

São preocupantes as últimas movimentações eleitorais de Lula. Vamos aos fatos:

1. a rede de rádio e tv de ontem. Ele pode querer aproveitar qualquer feriado ou inventar um pretexto, para discursar e entrar indevidamente na campanha;

2. jornais noticiaram que ele está preocupado com o desempenho da Dilma (e tem, certamente, muitos motivos) e que no segundo semestre, após a Copa, vai percorrer o país para se despedir da presidência. E, claro, vai dizer que a continuidade do seu governo é Dilma. Ou seja, vai fazer explícitamente (e ilegalmente) a campanha no lugar da candidata;

3. autorizar gastos públicos (como promessa de obras e liberações de emendas parlamentares) simplesmente para favorecer a candidata oficial.

A oposição vai ter muita dificuldade para barrar as investidas de Lula. Vamos ver como vai agir (quando acionado) o TSE.

Breve balanço do mês

Tentando fazer um balanço deste mês de abril, algumas constatações são possíveis:

1. A maior derrotada foi Dilma Rousseff. Cometeu muito erros, mostrou fragilidades, não agregou novos apoios. Reforçou a tese de que necessita de Lula sempre ao seu lado. É um mês para esquecer;

2. José Serra foi o oposto: ganhou espaço na mídia, evitou o confronto com Lula (é que é tão desejado pelo presidente), lançou pontes para rachar a base governista visando ampliar o tempo de TV, foi cuidadoso nas declarações evitando assuntos polêmicos e, em algumas ocasiões, falou o que o eleitor queria ouvir. Usando uma metáfora futebolísitca: como está vencendo o jogo, valorizou a posse da bola, sem recuar para seu campo, e começou a jogar no erro do adversário;

3. Marina Silva fez uma campanha mais silenciosa, evitou confrontos desnecessários e está ganhando espaço. Pode surpreender. Não será uma espécie de Cristovam Buarque de 2006. Tende a crescer nas pesquisas estabelecendo uma relação inversa com Dilma: Marina sobe, quando Dilma cai. Muitos eleitores do PT vão votar na Marina. E este número deve crescer quanto mais erros cometer a candidata oficial.

Propaganda eleitoral.

Lula convocou uma rede nacional de rádio e televisão. Motivo: falar do aumento do salário mínimo. Mero pretexto. Fez propaganda da sua candidata de forma subliminar. Não creio ter sido acidental. Precedente perigoso. Cabe à oposição acionar o TSE.

Plínio e a candidatura do PSOL

Plínio de Arruda Sampaio deve ser o candidato do PSOL à presidência. O partido está dividido. Uma parcela - tendo à frente Heloisa Helena - defende a aliança com a candidatura Marina Silva, do PV. Outra - que parece majoritária - apoia uma candidatura própria e lançou Plínio. O mais importante é saber qual a plataforma do partido. Pelo que disse Plínio, na reunião do PSOL, ele é contra tudo o que está aí. Lembra um pouco o PT de antigamente.

O PSOL deve fazer uma campanha defendendo um programa socialista para o Brasil. Nada mais distante da realidade. Vai disputar com o PSTU, PCO e PCB - que devem lançar candidatos - o espaço à esquerda. Não causará estranheza se os 4 partidos somados atingirem 1% dos votos.

Grande parte da esquerda brasileira até hoje não assimilou a queda do muro de Berlim. É como se nada tivesse acontecido, desde 1989. Mantém as mesmas propostas, defende o mesmo programa, age da mesma forma. E a cada eleição fica mais isolada. O primeiro passo para sair do isolamento é rever seus postulados, romper com velhíssimos dogmas, não temer o novo.

Temas da campanha.

Em meio as fofocas, boatos e piadas, alguns temas da campanha começam a aparecer. Segurança Pública é um deles. Serra propôs criar um ministério exclusivamente para esta função. Dilma discordou e disse que é tarefa do Ministério da Justiça. Esta discussão deve seguir até outubro. Segurança é uma das maiores preocupações da população. Quem conseguir apresentar as melhores propostas (e neste ponto Serra, tomou a iniciativa), vai ganhar a preferência popular.

Diversamente do que afirmaram diversos analistas, a política externa vai ser tema de campanha pela primeira vez. Já tinha apontado na Folha de S. Paulo de 4 de outubro de 2009 que "um dos grandes desafios para o século XXI brasileiro é a construção de uma política externa global que enfrente os desafios da nova ordem internacional. Um bom caminho para dar início a essa discussão é aproveitar a próxima eleição e, pela primeira vez, transformar a política externa em tema eleitoral."

Primeiro turno?

Em março Lula dizia, via imprensa, que Dilma poderia ganhar no primeiro turno. Era secundado por analistas simpáticos ao governo. Desta forma, achava que poderia criar uma "onda Dilma" que arrasaria a oposição. Ledo engano. Da mesma forma, discordo daqueles que, nesta semana, estão dizendo que Serra pode vencer no primeiro turno.

Esta eleição - volto a dizer - será a mais disputada da história recente do Brasil. E terá segundo turno.

Boatos

Toda campanha é recheada de boatos. A de 2010 não foge à regra. O último boato é de que Lula seria o vice da Dilma. Impossível. Outro é que o presidente sairia candidato ao Senado por São Paulo. Também impossível. Os boatos acabam, por outro lado, sinalizando o momento de uma campanha. Mostram que a candidatura Dilma está fazendo água por todos os lados. Tudo indica que tenha chegado ao teto - e as últimas pesquisas reforçam esta leitura. Isto não significa que não possa crescer, mas que, neste momento, a mera referência de que Dilma é a candidata do Lula deu o que podia dar.

Campanha morna

Até este momento da campanha, Dilma é a grande derrotada. Um mês após a saída do ministério, a candidata cometeu mais erros do que seria de se esperar. Os deslocamentos pelo país foram desastrosos, o uso da internet (sinal de modernidade, segundo alguns) foi péssimo, a divulgação de mais um caso de falsificação da sua biografia (a foto que insinuava que ela teria ido à Passeata dos Cem Mil, em 68, no Rio de Janeiro) foi até ridículo. Não foi bem nas entrevistas e só produziu manchetes negativas. E a campanha está apenas começando.

Serra está passeando. Viaja pelo país, é entrevistado em programas populares, usa uma linguagem direta e consegue obter manchetes favoráveis. Age na campanha como um profissional, como se fosse algo absolutamente rotineiro. Para Dilma, a campanha é algo pesado. Para fazer qualquer movimento, ela pensa duas vezes, desde uma resposta banal numa entrevista, até um simples gesto para garantir uma boa fotografia.

O confronto entre os dois candidatos está apenas começando. Ainda não chegou o momento de "comparar" biografias. Uma entrevista da Dilma é mais eficaz do que um ataque do candidato oposicionista. Ela produz fatos contra si própria. É caso raro na política, território da esperteza, da habilidade. Se falta experiência - e isto fica evidenciado a cada minuto -, falta também o "savoir faire", o gosto pela política. Tudo nela parece forçado, falso.

Triste fim de Ciro Gomes

O PSB dispensou formalmente Ciro Gomes da candidatura que não houve. Bem América Latina.
Algumas possíveis conclusões:

1. Ciro foi usado por Lula até o momento que não representou mais perigo para o seu governo;

2. Ciro poderia ter ido para a oposição, em 2003, formando uma bancada (que seria pequena) e usando o cacife dos votos que recebeu no primeiro turno (10 milhões) e negociando com o governo quando fosse interessante para o seu projeto político. Acabou aceitando um ministério de importância reduzida e com orçamento desprezível (o da Integração Nacional);

3. Nos quatro anos, ao invés de construir um base de apoio nacional para uma possível candidatura em 2006 (ou, até, para poder negociar em posição de força com Lula), optou por ser candidato a deputado federal e jogar todo seu peso político na eleição do irmão para o governo do CE. Ou seja, um possível projeto de vôo nacional foi substituido pela defesa dos interesses da família no CE;

4. Perdeu importância nacional (foi um péssimo deputado federal) e permaneceu nas bordas do debate político. Sem poder de articulação, acabou refém da direção do PSB e de seus interesses (os cargos no governo federal - especialmente a "vocação" marítima" - e a reeleição de Eduardo Campos, em PE);

5. O PSB usou o "fantasma Ciro" para ganhar espaço no governo e garantir um PT domado nos estados onde suas lideranças tinham maior interesse (como PE);

6. Já escrevi, vale repetir, que a decisão neste momento esvazia os petardos de Ciro contra o PSB, os aliados do PT (especialmente o PMDB) e a candidata Dilma;

7. Ficar restrito ao CE, como disse à imprensa, mostra que Ciro caiu na armadilha de Lula. Quando mais provinciano, melhor para o projeto nacional do PT;

8. Se quiser ter ainda algum papel nacional, é bom se desfiliar do PSB. Lá não terá espaço próprio e nem a liderança do partido. O PSB é propriedade da família Arraes.

9. Caso queira fazer política a partir de 2011 (não terá mandato parlamentar ou a presidência do PSB) terá de viajar pelo país e ter um plataforma do que pretende para o Brasil. Ficar só dando entrevista não só vai cansar (daqui a pouco vai ter de falar para jornais de bairro ou de pequenas localidades), como a carapuça de "louco", dada pelos seus atuais opositores (e que eram aliados a uma semana), cairá como uma luva. Já passou a época do "candidato doido". Este tipo (encarnado por tantos políticos, o último foi Collor) hoje faz parte da galeria dos horrores da política brasileira.

10. Repetindo e concluindo: Lula prefere perder com Dilma do que ganhar com Ciro.

A cada dia pior

Dilma é uma candidata-problema. Desculpem o uso da primeira pessoa do singular, mas eu disse em entrevistas, bem antes da desincompatibilização da ex-ministra, que no momento que ela começasse a falar - sem ter Lula ao lado - seria um desastre. Não deu outra. Claro que é uma espécie de tragédia anunciada, mas é algo tão evidente que somente os "analistas" mais fervorosos fizeram questão de não ver.

De acordo com os jornais de hoje, o marqueteiro João Santana (que deve ser um gênio, como é comum na profissão) vai retirá-la alguns dias de cena para treiná-la. Falam em contratação de uma fonoaudióloga. Não vai dar certo. O problema não são os assessores, a fonoaudióloga, o cabelereiro, o fotógrafo (quiseram transformá-la numa Norma Bengell!!), o problema é ela.

Do jeito que a coisa está indo, não vai demorar para Lula sentir saudades do Ciro candidato. Claro que é piada. Lula prefere perder com a Dilma do que ganhar com Ciro.

Onde está a direita?

A última eleição presidencial que teve um candidato de direita foi em 1989 (Fernando Collor). Desde então (evidentemente estou me referindo aos principais, não a um Eneas da vida), só concorrentes de centro ou de centro-esquerda. Ou seja, não tivemos mais candidatos nem de direita, nem de esquerda (em 1989 a candidatura Lula, através da Frente Brasil Popular - basta ler o programa - era de esquerda). Mas neste post a conversa é sobre a direita.

Em 94 e 98 tivemos FHC e Lula (as duas eleições foram resolvidas no primeiro turno), em 2002 Lula, Serra, Ciro e Garotinho, nenhum podendo ser considerado de direita. Idem em 2006. O pesquisador vive de perguntas. Uma delas é: por que a direita, desde 1989, não consegue emplacar um candidato com viabilidade eleitoral?

Se perguntamos, também devemos especular respostas (faz parte da profissão):

1. O impeachment do Collor foi tão traumático, que, desde então, as lideranças mais à direita não conseguiram construir um capital político para poder chegar em condições de disputar a presidência; ou

2. As presidências FHC e Lula fecharam o espaço para a direita com a política de alianças que sustentaram seus governos; ou

3. A direita optou por pegar carona em chapas de centro-esquerda, escolhendo ser sócia menor do governo ao invés de amargar 4 (ou 8) anos na oposição; ou ainda

4. A direita não tem mais um discurso próprio. É identificada com o passado, especialmente com o regime militar.

Em busca da governabilidade.

É uma preocupação geral buscar a governabilidade. Não há um analista político que deixe o tema de lado. Só que no Brasil, governabilidade virou sinônimo de saque do Estado. Alterar o tempo do mandato presidencial ou até dos deputados e senadores, não só deixa o problema sem solução, como dificilmente obteria quorum constitucional (3/5). O Congresso Nacional, na atual legislatura, deu um passo importante quando aprovou a clausula de barreira (que, na prática, deixaria o Congresso com mais ou menos 8 partidos). Foi uma revolução, aprovada com alguns protestos (dos pequenos partidos). Porém, o STF derrubou a lei e exigiu que a Constituição fosse emendada. o que, à curto prazo, inviabiliza a aprovação (maioria absoluta).

Uma boa medida seria o novo presidente incluir este projeto no seu programa de governo e buscar a aprovação ainda no primeiro semestre de 2011. Dá para aprovar e até obter o quorum constitucional. É preciso o presidente "comprar" a emenda constitucional, obter o apoio da opinião pública e dos grandes partidos. Desta forma, os pequenos partidos (a maioria funciona para alugar a legenda a cada dois anos, quando das eleições, e receber os recursos do Fundo Partidário). tenderão ao desaparecimento. Desta forma, abre-se a possibilidade de melhorar a qualidade do debate político e as alianças tenderão a ficar mais transparentes.

Este é um tema importante. Espero que seja contemplado na campanha deste ano.

Breve comentário

Vários questões foram destacadas nos comentários. Depouco em pouco pretendo escrever sobre elas. Apesar do blog criar uma série de obrigações, é gratificante esta troca de idéias.
Em tempo: na edição impressa de "O Globo" de domingo, na coluna do Ancelmo Gois, ele comentou o post que trata do papel pouco expressivo (politicamnte falando) da Dilma antes de 2003 (mais tarde indico o link).

Reeleição ou mandato de cinco anos?

Quando foi aprovada a emenda da reeleição, confesso, fui contra. Estava errado. Um mandato de 4 anos, com direito a mais 4, caso o eleitor assim deseje, é bom, tanto politicamente, como administrativamente.

Discordo da proposta de um mandato de 5 anos e sem reeleição. Na República Velha (1889-1930), o mandato era de 4 anos e sem reeleição. A Constituição de 1946 é que instituiu o mandato de 5 anos, uma das razões da instabilidade política do período, pois acabou com a coincidência das eleições do Executivo Federal com as do Congresso Nacional (pois os mandatos dos deputados foram estabelecidos em 4 anos e dos senadores em 8). Os militares ampliaram o mandato para 6 anos. A Constituição de 1988 estabeleceu 5 anos mas a Emenda Constitucional número 5, de 7 de junho de 1994, restabeleceu o mandato de 4 anos.

Eleição solteira de presidente é ruim e perigosa para a democracia. Acaba abrindo campo para aventureirismo, como em 1989. Eleição a cada 5 anos somente permite coincidência com as do Congresso Nacional a cada 20 anos. Um presidente governando com um Congresso eleito em outro momento político é crise na certa.

Os novos pelegos e a eleição

O peleguismo sindical tem longa história nas eleições. Entre os anos 1945-1964 estiveram ligados aos candidatos do PTB, criado por Getúlio Vargas (em SP, que foi uma exceção nestes anos, houve forte associação entre os sindicalistas e o janismo). Entre 1965-1979 dividiram-se entre ARENA (a maioria) e MDB. Com a reforma partidária foram para o PDT, PTB e PMDB. O PT propalava que seus dirigentes sindicais eram "autênticos" e que não trocavam seu apoio por votos (parte destes dirigentes, inclusive, tinham desprezo pela política).

CUT e Força Sindical se engalfinharam durante 20 anos. Em 2003 começou a aproximação, que foi tão rápida, que hoje não se distinguem mais. É como se as duas centrais fossem uma só.
Das 6 centrais, todas receberam (CUT e Força muito mais) generosos recursos do FAT e do imposto sindical. A burocracia sindical está consolidada. Tem poder financeiro mas enorme dificuldade de mobilização (em Brasília uma das centrais aluga manifestantes a preços módicos). Na verdade, ocorreu uma relação inversa: quanto mais fortes financeiramente, menor a capacidade de mobilização. O Ministério do Trabalho foi entregue ao PDT (que tem fortes relações com a Força) e a CUT recebeu dezenas de cargos (como as presidências do SEBRAE - Paulo Okamoto - e Sesi - Jair Meneghelli). Às outras centrais foram concedidos cargos de menor importância. Todas estão satisfeitíssimas pois os recursos federais não tem qualquer forma de controle. Quando foi dito que o TCU teria de auditar os gastos, Lula foi o primeiro a ser contrário, argumentando que as entidades são "independentes" do Estado.

Além dos sindicatos, o governo cooptou os "movimentos sociais". Alguns, como o MST (que será analisado em um post exclusivo), funcionam como se fossem partidos políticos. Deve ser agregado as ONGs (centenas e com recursos concedidos pelo Estado e sem qualquer controle).

Estes "novos pelegos" vão agir como tropa de choque na eleição. Não vão querer perder a "boquinha". Vão fazer ameaças. É o sindicalismo de ladrões. Usarão a estutura das centrais e dos sindicatos para fazerem a propaganda da candidata oficial. Com o aumento da tensão na campanha agirão como tropa de choque. O MR-8 (que teve Franklin Martins como seu dirigente) é especialista nisso. Em SP, durante anos e anos, foram aliados de Joaquinzão, célebre presidente do Sindicato dos Metalúrgicos. Agrediam a oposição, ameaçavam com correntes, contratavam halterofilistas (da Academia Roldan, na esquina da Ipiranga com a São João). Era a forma que usavam para ganhar as eleições e as votações nas assembléias. Não é exagero especular que poderemos ter algo parecido quando a campanha esquentar, após a Copa do Mundo.

Serra, Dilma e seus vices.

Se Dilma já fechou o seu parceiro de chapa (Michel Temer), Serra ainda não definiu (tem ainda tempo). Que o PMDB ocuparia a vice, isto já estava definido faz um bom tempo. Que Temer não era o candidato dos sonhos de Lula, todo mundo sabia. Preferia Henrique Meirelles ou qualquer outro, menos Temer. Deve ter lá suas razões.

Temer tem pouca expressão política em SP. Em 2006 o PMDB elegeu somente 4 deputados federais em SP. Temer foi o último colocado. Mas foi o candidato oferecido pela cúpula do PMDB. Era Temer ou nada. E nada significa perder minutos preciosos na TV. Todo mundo sabe que o PMDB vai rachar na eleição. Os caciques regionais não estão nem aí com a aliança nacional. Estarão com ela se estiver liderando as pesquisas. Caso contrário, abandonarão o barco sem nenhum constrangimento.

Já Serra está em um dilema. Chapa puro-sangue parece estar descartada. O balão de ensaio lançado pelo PPS de colocar Itamar Franco como vice, ninguém levou à sério. Nos últimos dias tem se falado em Francisco Dornelles que, supostamente, agradaria o eleitorado mineiro. Claro que é uma bobagem. Dornelles sempre fez política no Rio. Uma aliança cedendo a vice para o PP pode pegar muito mal junto ao eleitorado mais politizado. PP, em SP, é Maluf. Logo vão espalhar cartazes e vídeos com Serra ao lado de Maluf. O argumento é o tempo na TV (que se aplica também para um acordo com o PTB, que tem como presidente nacional Roberto Jefferson, pivô do escândalo do mensalão). Pode ser que o eleitorado serrista engula (sempre por causa do tempo na TV) uma aliança com o PP e PTB, contudo ceder a vice, aí já é demais.

Serra poderia inovar. Indicar alguém que não fosse "figurinha carimbada." Alguma pessoa de reconhecido talento, conhecido e respeitado pelos seus pares. Vice não tem função. No Brasil temos esta coisa ridícula do vice substituir o presidente nas viagens internacionais. Com um mundo tão interligado como o nosso, isto é anacronismo puro. Mas um vice "de novo tipo" poderia sinalizar que um governo Serra seria de mudança, afastado da velha política, que cheira mofo. Mas, como a lei brasileira exige filiação a partido político, o vice teria de ter este vínculo.

A questão do vice.

O antropólogo Julio Palmieri tocou na questão do candidato a vice. De 1989 para cá, o vice teve pouca importância política e eleitoral, diversamente do que hoje se diz. Fernando Collor escolheu Itamar Franco, à época um senador em fim de mandato e que tinha perdido a eleição para o governo de MG, em 1986, para Newton Cardoso. Dizer que Itamar era importante para a vitória de Collor é um tremendo exagero. Itamar foi um candidato que pouco apareceu na campanha. Ficou tão escondido, que quase virou uma espécie de anti-candidato à vice na chapa de Collor.

Marco Maciel foi o vice de FHC em 94 (e 98). Considerar que ele foi importante para a vitória do PSDB também é um exagero. A vitória no NE (Maciel é de PE) deve ser tributada ao Plano Real (assim como em todo o país) e a eficaz estratégia de campanha.

Em 2002, Lula, que já tinha tido como vice Bisol (89), Mercadante (94) e Brizola (98), encontrou no senador José Alencar (eleito em 98), o seu parceiro de chapa. Muitos falaram (e falam até hoje) que a entrada de Alencar sinalizava para o empresariado a mudança do PT. Não dá para aceitar esta explicação. Alencar tinha expressão empresarial em MG. Em SP era quase que um desconhecido. No Senado não se destacou como um defensor do empresariado. Eleitoralmente pouco somou. Foi tão pouco importante que em 2006 Lula fez de tudo - hoje poucos lembram disso - para arranjar outro vice. Como procurou, procurou e nada encontrou, acabou aceitando novamente Alencar na sua chapa.

Digo tudo isso porque acho que o quadro é o mesmo em 2010. Tem razão aqueles que dizem que ninguém vota em vice. Achar que Serra ou Dilma vão ser mais votados por causa do vice é uma bobagem. Vice só é importante devido ao tempo de televisão (é uma espécie de dote) que pode trazer para o candidato presidencial.

Ciro: o homem do dia

Por volta do meio-dia, o assunto era Ciro Gomes e a entrevista que saiu no portal IG (que ele, à noite, no Jornal do SBT, disse que não deu, mas repetiu quase que literalmente as mesmas idéias com as mesmas palavras. Coisas de Ciro.......)

As duas entrevistas foram de adeus. O PSB fez o jogo exigido por Lula. O partido foi colocado contra a parede. Perderia o apoio do PT nos estados onde imagina que tenha chances reais de vencer as eleições para governador. Além das dezenas de cargos que ocupa no governo. Ultimamente o partido tem uma sedução especial pelos portos, como o de Santos.

Ciro perdeu feio. Tomou um passa-moleque histórico de Lula.
Vamos aos fatos:
1. transferiu o título para São Paulo simplesmente para cumprir uma determinação de Lula (no Jornal do SBT disse que em momento algum pensou em sair candidato ao governo de SP) esperando receber alguma compensação quando saísse candidato à Presidência. Doce ilusão. Lula o tratou como uma laranja: usou e depois jogou fora;

2. transferindo o título para SP acabou caindo numa sinuca de bico, ficou sem plano B. Se ainda tivesse domicílio eleitoral no CE poderia sair candidato a deputado federal ou até ao Senado. Vindo para SP só tinha uma carta: ou a Presidência ou nada. Não tinha alternativa, não pode nem blefar.

3. resolvendo o "problema Ciro" neste momento, Lula evita que o desgaste, que vai ocorrer, se reflita mais lá na frente, quando a campanha "pegar no breu". Mais alguns dias e ninguém mais falará de Ciro, a não ser a imprensa cearense, pois ele vai defender os interesses da família Ferreira Gomes apoiando a releição de Cid, de outro irmão para deputado estadual (Ivo) e da ex-mulher (Patricia Saboya) para deputado federal.

4. Ciro diz que é "novo", tem 52 anos e em 2014 terá 56. Bem, isto é óbvio. No Brasil virou moda dizer que o político "é novo". O problema não é ser novo ou velho. A questão é que ninguém sabe como estará desenhada a conjuntura política em 2014 e se ele ainda terá presença expressiva na cena nacional. É o velho ditado já citado aqui: política é momento.

5. nas duas entrevistas não sabemos o que ele pensa do Brasil. Sabemos, falou no SBT, que "ama o Brasil", o que Dilma já disse. Estranho o candidato a presidente que dissesse o contrário.

6. sem Ciro Gomes a eleição perderá parte da graça. Hoje, quando para os seus padrões, estava calmo, mandou Zé Dirceu "pastar" e por aí foi indo. Teremos muito menos emoção, com a mais absoluta certeza. Uma entrevista com Ciro sempre é interessante, não é aquela coisa modorrenta, como foi a Dilma, ontem, no programa do Datena.

7. deixando Ciro de lado (e Lula jogou pesado ameaçando o PSB e o próprio Cid), ficou claro que para o governo a eleição será plebiscitária. Lula tem certeza que vai transferir seus votos para Dilma. Deve considerar que é só uma de questão de tempo. Ciro discorda: considera Dilma uma candidata fadada à derrota.

A oposição e a economia

A notícia política mais importante vem da economia. Desde 1947 não teve um mês de março com resultados tão ruins. O déficit externo em transações correntes foi de US$ 12 bilhões. Não passa de lenga-lenga a conversa do Lula de que agora o Brasil é credor do FMI. A dívida externa é de pouco mais de US$ 200 bilhões e as contas externas só fecham graças aos capitais estrangeiros investidos no Brasil, tanto produtivos, como especulativos (devido a taxa de huros, uma das mais altas do mundo). A pauta das exportações lembra o Brasil do começo do século XX (só dá o setor primário). A desindustrialização é evidente. O governo surfou durante 6 anos numa conjuntura econômica internacional extremamente favorável e não sou aproveitar o momento. Hoje o país está dependente do capital especulativo e do papel da economia chinesa na recuperação mundial.

A oposição tem de explorar eleitoralmente esta herança maldita do governo Lula. Para os eleitores, Lula fez o milgre dos peixes. A oposição, nos últimos 7 anos, foi muito mal no debate econômico (e não só, diga-se de passagem). É um desafio mostrar os pilares de barro desta política econômica. O eleitor/consumidor que está comprando um carro para pagar a entrada em 2012 (!), como propala uma propaganda na televisão, acha que tudo está às mil maravilhas. E não está.

Uma candidatura pesada

As primeiras semanas de Dilma sem a sombra de Lula devem ter deixado de cabelo em pé o comando central da campanha. As viagens para o Ceará e Minas Gerais acabaram gerando mal estar. A candidata não tem jogo de cintura e desconhece os meandros da política. Fala sem conseguir estabelecer a mínima empatia com os ouvintes. As frases são mal construídas e não causam o efeito que ela imagina.

O sinal amarelo já está aceso. A campanha é longa. A Copa, para o Brasil, só começa no dia 15 de junho. Mas para sorte dos petistas, na primeira quinzena de maio sai a convocação dos 30 jogadores (depois a lista cairá para 23). Até 11 de julho, data da final da Copa, caso a seleção chegue até lá, a candidata despertará pouco interesse e o comando da campanha deve retirá-la dos holofotes. Dilma será a torcedora número 1 da seleção. Não pode ser descartada uma reciclagem da candidata, pois substituí-la, nesta altura do campeonato, é pouco provável.

Usando uma expressão atual, Dilma vai ser repaginada, fará várias "plásticas": verbal, de linguagem gestual e um pouco de "laboratório" para facilitar o contato com os jornalistas e populares. Não causará estranheza se o presidente Lula assumir o leme da campanha. Poderá ser o candidato oficioso. Aí veremos como vai agir o TSE e principalmente os eleitores. Também vai ser interessante ver como o PMDB nacional vai se posicionar se Dilma estacionar nas pesquisas. Neste caso - e com Serra mantendo uma distância de 8 a 10 pontos - teremos defecções nos estados. As lideranças estaduais pensam primeiro nos seus projetos locais e depois - muito depois - no projeto nacional.

Resta esperar para ver. A violência da campanha terá, creio, uma relação inversa com a candidatura Dilma nas pesquisas: quanto mais cair, mais violenta a campanha; quanto mais subir na preferência dos eleitores, menor a violência.

Pobre América Latina

A política externa brasileira já cometeu nos últimos anos diversos equívocos. Na América Latina teve os casos de Honduras, Equador, Venezuela, Paraguai e Argentina (além das Farc e a posição dúbia do Itamaraty). Voltaremos diversas vezes ao tema. Hoje fico com a Bolívia, do incrível Evo Morales, e a Nicarágua, do não menos incrível Daniel Ortega. Na Bolívia está sendo realizada uma conferência internacional em Tiquipaya. Morales discursou. E como um bom caudilho latino-americano falou, falou e falou até à exaustão. A platéia internacional assistiu estupefada o discurso. Segundo Morales:


1. "Os direitos da Mãe-Terra são mais importantes que os direitos humanos."
2. "O frango tem hormônios femininos, por isso, os homens quando comem esse frango, têm um desvio em seu ser, como homens."
3. "A calvície que parece normal, é uma doença."
4. Atacou a Coca-Cola e os medicamentos ocidentais.
5. Criticou utensílios de plástico e afirmou que os utensílios feitos de barro, "quando quebram voltam a ser areia da Mãe-Terra."

Segundo "El Pais", na Nicaragua, partidários de Daniel Ortega atacaram a sede da Assembléia Nacional com granadas e pedras. Impedidos de continuar a sessão, os deputados transferiram a reunião para o hotel Holiday Inn. Voltaram a ser atacados pelos manifestantes sandinistas. Mesmo assim, conseguiram aprovar a revogação da medida de Ortega que mantinha na Suprema Corte e no Conselho Eleitoral, juízes que estavam com mandato expirado (evidentemente que estes juízes sempre votam com o governo). A Assembléia denunciou a OEA o grave incidente e permanecia cercada por manifestantes. O governo brasileiro manteve silêncio. Já em Honduras, no ano passado.......

A política de alianças (I)

Uma explicação rotineira no debate político brasileiro é de que para governar é necessário construir uma base política ampla, se possível com quorum constitucional. É o chamado presidencialismo de coalizão. Eu discordo radicalmente desta tese. Quanto mais ampla é a aliança, mais o governo tem de atender as demandas da sua base, descaracterizando o programa aprovado por milhões de eleitores, desmoralizando a administração pública e abrindo caminho para a corrupção.

Isto pode mudar se o presidente eleito em outubro propuser uma coalização com base programática. Não é uma ilusão. É necessário dar um basta ao saque organizado do Estado. O presidente pode inovar: apresentar aos brasileiros e aos partidos com representação no Congresso a sua proposta de programa de governo. Desta forma, a aliança que deve sustentar o governo vai ser negociada às claras. Poderemos romper com o "é dando que se recebe". Sabemos que os congressistas fisiológicos não "tem peito" para publicamente enfrentar o presidente eleito por (é um mero chute numérico) 50 milhões de votos.

Isto não é bonapartismo ou algo do gênero. Nada disso. É romper com o passado (que, por sinal, não tem nada de "ibérico", como é recorrente em outro tipo de análise e que também não explicada nada). Nas grandes democracias ocidentais as alianças são programáticas. É óbvio que aos partidos que apoiam o governo sejam destinados ministérios. Isto é absolutamente democrático pois é realizado às claras e com base numa proposta de governo.

Datena & Dilma

Não é dupla sertaneja mas a tragédia é parecida. Ontem, na Band, Dilma foi entrevistada por Datena. Vejam no YouTube. Foi um desastre. Já tinha dito (no Globo News Painel, vejam no site da Globo) que no momento que a Dilma começasse a caminhar com as próprias pernas ela meteria os pés pelas mãos. Não deu outra. Diversamente do que ocorre na TV, o tempo não foi um problema. Pelo contrário. O apresentador tinha quase 2 minutos (o que para a TV é um latifúndio) para continuar conversando com a ex-ministra, mas não havia mais o que falar. Ah, que falta faz Lula..............

A escolha de Dilma (II)

A minha estranheza com a escolha de Dilma ainda não foi resolvida. Ela era absolutamente inexpressiva no panorama nacional (daí menção que fiz ao DHBB da FGV/CPDOC) e mesmo no espaço estadual, do Rio Grande do Sul, era uma figura de segunda linha. Ficou conhecida na esfera nacional somente em 2003, quando foi nomeada para dirigir o Ministério das Minas e Energia. Mesmo assim, este primeiro ministério Lula não foi nenhuma Brastemp (muitos ministros saíram do ministério sem deixar saudades, como Benedita da Silva e Emília Fernandes). Na crise do mensalão, Dilma acabou sendo favorecida com a queda do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Assumiu, mas continuou meio nas sombras. Foi após a reeleição de Lula que em certo momento (é ainda preciso definir bem quando e as razões), Dilma acabou sendo sacramentada por Lula como sua sucessora.

Não concordo com os que dizem que as principais lideranças do PT foram abatidas pela crise do mensalão e aí acabou sobrando a Dilma. Ela nunca foi liderança no PT nacional e nem na seção gaúcha. Lula poderia ter esacolhido outro candidato. Mesmo no RS tinha Tarso Genro, que chegou a sonhar com a investidura do chefe. Em certo momento imaginei que Patrus Ananias poderia ser "o cara". Ministro do Desenvolvimento Social, viabilizou os programas assistenciais (especialmente o Bolsa Família), foi prefeito (bem avaliado) de Belo Horizonte e tinha história no partido. Mas os dois (especialmente Patrus) poderiam, caso eleitos, fugirem do controle de Lula. Dilma, não. Eleita, deverá seguir os ditames do "mestre", que espera voltar em 2014, como uma espécie de Getúlio Vargas, em 1950, e ser reeleito em 2018. Ou seja, Dilma é um instrumento para o retorno de Lula à presidência. Patrus ou outro qualquer, não se sujeitará a simplesmente esquentar a cadeira presidencial.

Contudo, vale a lembrança: temos diversos casos na política brasileira da criatura se rebelar contra o criador, como, em São Paulo, quando Fleury, eleito governador, se afastou do seu padrinho político, Orestes Quércia.

A estratégia de Serra

Até este instante da campanha (é inevitável a lembrança da frase típica dos boleiros: "futebol é momento"), a estratégia de Serra tem demonstrado eficácia e uma leitura correta da conjuntura.

Vamos aos fatos:

1. Evitou lançar a candidatura no ano passado, o que impediria dedicação mais intensas às atividades administrativas. É muito diferente ser governador do estado de São Paulo (cujo PIB é maior do que o da Argentina), do que ministro, como no caso de Dilma Rousseff. Dilma pode repartir o dia-a-dia do governo com o presidente, o vice e mais 35 ministros (um recorde do governo Lula, que poderia dizer: "Nunca na história deste país tivemos 36 ministérios......");

2. No Brasil ninguém gosta de campanha longa. Campanha de um ano não dá, o eleitor não suporta, diferentemente dos EUA, onde as primárias começam quase que um ano antes das eleições. Aqui, se tal ocorresse, o eleitor diria: "Ih, lá vem aquele chato falando sempre daquelas coisas."

3. Tem buscado ampliar as alianças nacionais para garantir maior tempo na televisão;

4. Transformou a campanha de 2008 numa espécie de ensaio geral de 2010. Ou seja, o apoio a chapa Kassab/Alda garantiu apoio do DEM nacional e do PMDB de SP;

5. Só saiu candidato quando teve a garantia da unidade do PSDB (evitando o que ocorreu em 2002);

6. Importantes lideranças do PSDB (algumas que foram adversárias à sua candidatura em 2002) hoje dependem do êxito nacional da candidatura Serra para manter influência política nos seus estados. Ou, é o plano B, caso percam, tenham no governo federal instrumentos para preparar o retorno no plano estadual.

Outro dia comento as dificuldades da candidatura Serra (é inevitável, mais uma vez, a piada - muito antiga, da época do disco de vinil - do "Planeta Diário": "tudo tem seu lado ruim e seu lado bom, excetuando os discos do Oswaldo Montenegro").

Pesquisas: Datafolha e Ibope

Hoje, a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, informa que a pesquisa Ibope realizada entre 13 a 18 de abril indicou que Serra tem 36% das preferências e Dilma 29%. A ex-ministra da Casa Civil caiu um ponto e Serra cresceu 2. A diferença entre os dois candidatos cresceu de 5 para 7 pontos. No sábado anterior, o Datafolha apresentou uma pesquisa realizada entre os dias 15 e 16 de abril. Deu 38% para Serra e 28% para Dilma. Serra subiu dois pontos e Dilma apenas um. A diferença entre os candidatos cresceu um ponto: era de 9 e passou para 10.

Portanto, analisando as duas pesquisas é possível concluir:

1. tem aumentado a diferença entre os dois principais candidatos;
2. a desincompatibilização de Serra facilitou seus movimentos e permitiu maior visibilidade;
3. Dilma pode ter chegado (ao menos neste estágio da campanha) ao topo;
4. mesmo tendo o melhor cabo eleitoral da história recente do Brasil, Dilma em nenhuma pesquisa (mesmo após a desincompatibilização) conseguiu obter o primeiro lugar;
5. pior: ela começou a cair nas intenções de voto.

A escolha de Dilma (I)

Na primeira edição do "Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (Editora FGV/CPDOC), fonte indispensável para o pesquisador de política brasileira pós-1930, não há o verbete Dilma Rousseff. A publicação é de 1984. Dezessete anos depois foi publicada a segunda edição, revista e ampliada. Também não foi destinado nenhum verbete à ex-Chefe da Casa Civil. Estranho?

As razões do blog

Este blog tem data de início e término. Começa hoje, feriado nacional criado pelo decreto 155B de 14 de janeiro de 1890 (decreto curioso: aboliu todos os feriados religiosos, excetuando o dia de Finados; mas em outro momento comento melhor) e termina no dia 7 de novembro, uma semana após a realização do segundo turno (31 de outubro).

Pretendo acompanhar o processo eleitoral, o dia-a-dia das principais candidaturas, tanto quanto possível (até por falta de tempo, pois estou envolvido em vários projetos e terminando um livro). O centro será a discussão programática, mesmo sabendo que teremos a eleição mais violenta da história recente da república.

As minhas posições políticas ao longo destes últimos oito anos, creio, são conhecidas. Basta acessar o Google. Pretendo recordar os artigos que escrevi e as dezenas de entrevistas que concedi nestes anos para demonstrar que há uma linha interpretativa da presidência Lula. Ou seja, não é - o que é muito comum entre os analistas políticos tupiniquins - fazer a profecia do assado. É arriscar, tentando entender o presente, ainda que em meio ao calor dos acontecimentos.