Saudades do Barão: o Itamaraty virou correia de transmissão dos caudilhos.

Depois das últimas trapalhadas do Itamaraty (especialmente apoiando a suspensão do Paraguai e a entrada pela janela da Venezuela no Mercosul), creio que vale republicar o artigo "Saudades do Barão" que saiu na "Folha de S. Paulo" de 4 de outubro de 2009.

São Paulo, domingo, 04 de outubro de 2009

TENDÊNCIAS/DEBATES
Saudades do barão MARCO ANTONIO VILLA

Seria bom aproveitar as próximas eleições e, pela primeira vez, transformar a política externa em tema eleitoral

AS TRAPALHADAS na condução da crise de Honduras sintetizam de forma cristalina a ação do Itamaraty nos últimos sete anos. É um misto de voluntarismo com irresponsabilidade. Algumas vezes, Celso Amorim mais parece um líder estudantil do que ministro das Relações Exteriores.

O Brasil não tem nenhuma vinculação histórica com a América Central.

Contudo, o governo brasileiro insistiu em ter participação direta na crise hondurenha. Queria demonstrar liderança regional numa área historicamente de influência norte-americana.

Como uma espécie de recado do "cara" para Barack Obama, comunicando que o Brasil era a nova potência da região. Potência sem "marines", mas com muita retórica e bazófia.

Claro que tinha tudo para dar errado, como se, em um filme de faroeste, John Wayne fosse substituído por Oscarito.

A aventura alcançou o ápice quando Zelaya chegou à embaixada brasileira. Minutos depois, recebeu a adesão de centenas de seguidores. Logo o local virou um acampamento. A tradição latino-americana se impôs. Muitos discursos, acusações, traições e atos de valentia sem nenhuma consequência prática. E tudo isso na embaixada brasileira, território nacional.

Quando o governo hondurenho cercou o prédio, o ato foi considerado autoritário. Imagine o que faria Fidel Castro se um líder anticastrista entrasse na embaixada brasileira em Havana e de lá insuflasse a população cubana à rebelião...

Celso Amorim declarou diversas vezes que lá em Honduras estava sendo jogada a sorte da democracia na América. Não era possível transigir com princípios democráticos e legais.

Era necessário não retroceder.

Estranhamente, essa determinação não é aplicada na América do Sul.

Mais ainda quando nossos vizinhos agem deliberadamente contra os interesses brasileiros, violando tratados, leis e contratos.

Tivemos o caso das refinarias da Petrobras na Bolívia, que foram tomadas abusivamente pelo governo local. Tivemos a insistência paraguaia impondo a revisão do tratado de Itaipu 15 anos antes do seu término. Tivemos as sucessivas violações do tratado do Mercosul realizadas pela Argentina e as abusivas medidas adotadas pelo governo equatoriano contra empresa brasileira.

A tudo isso o governo Lula assistiu passivamente. Não moveu um dedo.

Pelo contrário, concordou com as arbitrariedades, desmoralizou as gestões anteriores do Itamaraty e, assim, abriu caminho para que amanhã um governo resolva, de moto próprio, descumprir um tratado ou acordo.

A simpatia política com os governos chamados bolivarianos e subserviência a eles chegou ao ponto da absoluta irresponsabilidade.

A Colômbia, que tem tentado estabelecer uma política de cooperação com o governo Lula para melhorar a fiscalização da fronteira, é sistematicamente tratada com hostilidade, inclusive nos fóruns regionais.

Já a Venezuela, que disputa claramente espaço político com o Brasil e que não perde uma oportunidade para debilitar os interesses brasileiros na região (como durante a encampação das refinarias da Petrobras na Bolívia), é tratada como aliada, mesmo tendo uma política externa agressiva, sustentada por fabulosas compras de modernos armamentos. E, como o que está ruim pode piorar, a Venezuela vai entrar no Mercosul.

A diplomacia brasileira tentou por todos os meios ter presença diretiva em vários organismos internacionais e no Conselho de Segurança da ONU.

Como necessitava de votos, considerou natural ignorar graves violações dos direitos humanos em vários países (como o genocídio de Darfur), apoiou ditadores (como Muammar Gaddafi) e até fez campanha para um aspirante a diretor-geral da Unesco notabilizado por declarações de cunho antissemita. Mesmo assim, os candidatos brasileiros foram derrotados, e a estratégia fracassou.

O presidente Lula transformou o Itamaraty em uma espécie de Íbis, clube de futebol pernambucano celebrizado pelo número de derrotas.

O Brasil precisa ter papel relevante nos organismos e nas negociações internacionais. Disso ninguém discorda. Mas a maturidade econômica do país não condiz com uma política externa inconsequente. Não é com base em aventureirismo que o país vai ser respeitado. E muito menos servindo de cavalo de troia de bufões latino-americanos.

Um dos grandes desafios para o século 21 brasileiro é a construção de uma política externa global, que enfrente os desafios da nova ordem internacional. Um bom caminho para dar início a essa discussão é aproveitar a próxima eleição e, pela primeira vez, transformar a política externa em tema eleitoral.

Observem a sequência de perdas da Bovespa

Deu no Valor:

Sequência de perdas da Bovespa é a mais longa em uma década

Autor(es): Téo Takar
Valor Econômico - 29/06/2012


A Bovespa concluirá hoje o terceiro semestre consecutivo de baixa, com perdas acumuladas de 24%, na mais longa sequência negativa desde o início da década passada, quando a bolsa caiu de janeiro de 2000 a junho de 2002. Este também será o pior trimestre desde o fim de 2008, logo após o estouro da crise financeira mundial. E a segunda pior semana do ano, atrás apenas do período de 14 a 18 de maio. Após o recuo de 0,86% de ontem, para os 52.852 pontos, o Ibovespa acumula baixas de 5% na semana, 3,4% em junho, 18,4% no trimestre e 7,2% no semestre.

Diante de um mercado tão negativo, e também de perspectivas domésticas e internacionais nada animadoras, qualquer previsão para o segundo semestre não passa de um chute. A projeção de 70 mil pontos para o Ibovespa no fim do ano, como muitas corretoras previam no início de 2012, parece cada vez mais distante.

"O jeito é continuar na defensiva até que algum fato novo aconteça, para o bem ou para o mal", sugere a estrategista da Fator Corretora, Lika Takahashi. Empresas que tenham desempenho previsível, como elétricas e telefonia, e boas pagadoras de dividendos são as apostas da maioria dos investidores nesse momento. "Mais do que ser defensivo, é importante que o papel tenha liquidez, para conseguir sair dele se bater o desespero nos mercados", observa Lika.

A Europa, mais uma vez, continuará no centro das atenções no próximo semestre. "Qualquer boa notícia da zona do euro pode ajudar o mercado a dar um "rally" para tentar apagar esse péssimo resultado do primeiro semestre", acredita a especialista da Fator. O cenário ainda é de desaceleração da economia mundial e pressão por austeridade fiscal nas nações endividadas. Olhando para o Brasil, a mão pesada do governo sobre os mercados deve seguir desagradando investidores, cada vez mais céticos sobre o ritmo de expansão do país em 2012.

No pregão de ontem, a cautela continuou prevalecendo entre os investidores, com as ações defensivas entre as principais altas. A bolsa brasileira acompanhou de perto o mau humor das bolsas americanas, mas aliviou a baixa nos últimos minutos de pregão, em linha com Wall Street. Os mercados reagiram no fechamento à notícia de que a premiê alemã, Angela Merkel, teria cancelado a entrevista coletiva que daria hoje à noite em Bruxelas. Com isso, ressurgiu a expectativa de que algo concreto contra a crise saia do encontro de líderes europeus, que continua hoje.

Fora isso, a Bovespa foi pressionada novamente pelas ações da OGX, e também por Vale e bancos. Aliás, a porteira das empresas "X" continuou escancarada, com fuga em massa de investidores estrangeiros. A forte queda dos papéis fez disparar as ordens de "stop loss" (venda a qualquer preço para limitar perdas).

"Foi a segunda vez seguida que a OGX frustrou um "guidance" [meta]", lembrou o chefe de análise da Ágora, José Francisco Cataldo, referindo-se à recente revisão para baixo dos planos de produção da empresa a longo prazo.

OGX ON caiu 19,20%, para R$ 5,05. Em dois dias, o papel já afundou 39,7%. A crise de confiança voltou a contaminar outros papéis do grupo: MMX ON (-17,08%), LLX ON (-8,07%), CCX ON (-8,79%) e OSX ON (-11,04%).

A notícia econômica mais importante do dia

Saiu no Estadão. Não pode ser esquecidas as entrevistas de Mantega falando que não haveria um "pibinho" e os protestos quando a imprensa estrangeira noticiou que o PIB poderia ficar abaixo de 2%.


Pessimista, BC reduz previsão de crescimento da economia para 2,5%

 Em relatório anterior, a projeção para o PIB de 2012 era de 3,5%. Dados ruins de agricultura e taxa de investimento foram os principais motivos para a queda

28 de junho de 2012 | 8h 40

Eduardo Cucolo e Fernando Nakagawa, da Agência Estado
BRASÍLIA - O Banco Central revisou a sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2012 de 3,5% para 2,5%. A nova projeção consta do Relatório Trimestral de Inflação, divulgado pela instituição na manhã dessa quinta-feira, dia 28.

O BC explica no documento que a revisão refletiu, em especial, o resultado negativo do primeiro trimestre do ano, quando o segmento registrou queda de 8,5% em relação ao período equivalente de 2011. A autoridade monetária deu destaque para as perdas na produção de soja.
Um dos principais motivos para o pessimismo do BC é a perspectiva para a atividade agrícola. O documento aponta uma estimativa de queda de 1,5% para o PIB do setor em 2012, uma diferença de 4 pontos porcentuais na comparação com a previsão anterior.
Para a indústria, a estimativa de crescimento do BC é de 1,9% - uma queda de 1,8 ponto porcentual sobre a projeção anterior. Já o crescimento para o setor de serviços foi revisto de 3,3% para 2,8% pelo BC.
Além de reduzir estimativas de expansão dos três ramos de atividade que compõem o PIB, o Banco Central informou ainda que revisou também sua estimativa para o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma taxa que sinaliza os investimentos do País, de 5% para 1%.
O BC diminuiu também a projeção de crescimento do consumo das famílias, que deve ser de 3,5%, e não mais de 4%, conforme constava no documento divulgado três meses atrás. A previsão do consumo do governo, porém, foi mantida em 3,2%.
Com isso, a contribuição da demanda interna para a expansão anual do PIB está estimada em 2,7 pontos porcentual, a menor desde 2005, com exceção de 2009. Já a do setor externo deverá exercer impacto negativo de 0,2 ponto porcentual para a evolução do agregado em 2012.
Segundo o BC, todas as estimativas incorporam os resultados do primeiro trimestre de 2012; dados preliminares referentes ao segundo trimestre, período em que a retomada da atividade vem ocorrendo de forma bastante gradual; e a atualização do cenário macroeconômico para a segunda metade do ano.

O governo Dilma parece velho.

Publiquei hoje n'O Globo:

O governo Dilma parece velho - MARCO ANTONIO VILLA

O GLOBO - 26/06/2012


O governo Dilma Rousseff completa 18 meses. Acumulou fracassos e mais fracassos. O papel de gerente eficiente foi um blefe. Maior, só o de faxineira, imagem usada para combater o que chamou de malfeitos. Na história da República, não houve governo que, em um ano e meio, tenha sido obrigado a demitir tantos ministros por graves acusações de corrupção.

Como era esperado, a presidente não consegue ser a dirigente política do seu próprio governo. Quando tenta, acaba sempre se dando mal. É dependente visceralmente do seu criador. Está satisfeita com este papel. E resignada. Sabe dos seus limites. O presidente oculto vai apontando o rumo e ela segue obediente. Quando não sabe o que fazer, corre para São Bernardo do Campo. A antiga Detroit brasileira virou a Meca do petismo. Nunca tivemos um ex-presidente que tenha de forma tão cristalina interferido no governo do seu sucessor. Lembra o que no México foi chamado de Maximato (1928-1934), quando Plutarco Elias Calles foi o homem forte durante anos, sem que tenha exercido diretamente a presidência. Lá acabou numa ruptura. Em 1935 Lázaro Cárdenas se afastou do "Chefe Máximo" da Revolução. Aqui, nada indica que isso possa ocorrer. Pelo contrário, pode ser que em 2014 o criador queira retomar diretamente as rédeas do poder e mande para casa a criatura.

O PAC - pura invenção de marketing para dar aparência de planejamento estatal - tem como principal marca o atraso no cronograma das obras, além de graves denúncias de irregularidades. O maior feito do "programa" foi ter alçado uma desconhecida construtora para figurar entre as maiores empreiteiras brasileiras. De resto, o PAC é o símbolo da incompetência gerencial: os conhecidos gargalos na infraestrutura continuam intocados, as obras da Copa do Mundo estão atrasadas, o programa "Minha Casa, Minha Vida" não conseguiu sequer atingir 1/3 das metas.

O Nordeste é o exemplo mais cristalino de como age o governo Dilma. A região passa pela seca mais severa dos últimos 30 anos. A falta de chuva já era sabida. Mas as autoridades federais não estavam preocupadas com isso. Pelo contrário. O que interessava era resolver a partilha da máquina estatal na região entre os partidos da base. Duas agências foram entregues salomonicamente: uma para o PMDB (o DNOCS) e outra para o PT (o Banco do Nordeste). E a imprensa noticiou graves desvios nos dois órgãos, que perfazem quase 300 milhões de reais. A "punição" foi a demissão dos gestores. Enquanto isso, desejando mostrar alguma preocupação com os sertanejos, o governo instituiu a bolsa-seca, 80 reais para cada família cadastrada durante 5 meses, perfazendo 400 reais (o benefício será extinto em novembro, pois, de acordo com a presidente, vai chover na região e tudo, magicamente, vai voltar ao normal). Isto mesmo, leitor. Esta é a equidade petista: para os mangões, tudo; para os sertanejos, uma esmola.

Greves pipocam pelo serviço público. As promessas de novos planos de carreiras nunca foram cumpridas. A educação é o setor mais caótico. Não é para menos. Tem à frente o ministro Aloizio Mercadante. Quando passou pelo Ministério da Ciência e Tecnologia nada fez. Só discursou e fez promessas. E as realizações? Nenhuma. Mercadante lembra Venceslau Braz. Durante o quadriênio Hermes da Fonseca, Venceslau foi um vice-presidente sempre ausente da Capital Federal. Vivia pescando em Itajubá. Quando foi alçado à presidência da República, o poeta Emílio de Menezes comentou sarcasticamente: "É o único caso que conheço de promoção por abandono de emprego." Mercadante é um versão século XXI de Venceslau. O sistema federal de ensino superior está parado e vive uma grave crise. O que ele faz? Finge que nada está acontecendo. Quando resolve se manifestar, numa recaída castrense, diz que só negocia quando os grevistas voltarem ao trabalho.

A crise econômica mundial também não mereceu a atenção devida. Como o governo só administra o varejo e não tem um projeto para o país, enfrenta as turbulências com medidas paliativas. Acha que mexendo numa alíquota resolve o problema de um setor. Sempre a política adotada é aquela mais simples. Tudo é feito de improviso. É mais que evidente que o modelo construído ao longo das últimas duas décadas está fazendo água (e não é de hoje). É necessário mudar. Mas o governo não tem a mínima ideia de como fazer isso. Prefere correr desesperadamente atrás do que considera uma taxa de crescimento aceitável eleitoralmente. É a síndrome de 2014. O que importa não é o futuro do país, mas a permanência no poder.

Na política externa, se é verdade que Patriota não tem os arroubos juvenis de Amorim, o que é muito positivo, os dez anos de consulado petista transformaram a Casa de Rio Branco em uma espécie de UNE da terceira idade. A política externa está em descompasso com as necessidades de um país que pretende ter papel relevante na cena internacional. O Itamaraty transformou-se em um ministério marcado por derrotas. A última foi na Rio+20, quando, até por ser a sede do evento, deveria exercer não só um papel de protagonista, como também de articulador. A nossa diplomacia perdeu a capacidade de construir consensos. Assimilou o "estilo bolivariano", da retórica panfletária e vazia, e, algumas vezes, se tornou até caudatária dos caudilhos, como agora na crise paraguaia.

O governo Dilma parece velho, sem iniciativa. Parodiando o poeta: todo dia ele faz tudo sempre igual. E saber que nem completou metade do mandato. Pobre Brasil.

Como eu já tinha adiantado

A notícia na Folha de S. Paulo de hoje só reforça o que eu já tinha falado e escrito:


Ministro rejeita pressões, e ação do mensalão vai atrasar
Início do julgamento no Supremo deve ser adiado de 1º de agosto para dia 6
Lewandowski se diz 'estupefato' e fala que precipitar julgamento traria risco de 'odioso processo de exceção'
VERA MAGALHÃES
EDITORA DO PAINEL
FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA
O ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, se disse "estupefato" com pressões que recebeu para devolver logo o processo e afirmou ontem que tem até sexta-feira para concluir seu trabalho.
A decisão de usar todo o prazo deverá provocar um atraso de cinco dias no julgamento, adiando seu início do dia 1º de agosto para o dia 6.
"Estou trabalhando noite e dia para cumprir o prazo de entregar o voto revisor no fim do mês", afirmou Lewandowski à Folha, por telefone.
Na semana passada, o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, enviou ofício ao colega advertindo que o processo deveria ser devolvido ontem para que o julgamento comece em 1º de agosto.
Lewandowski afirmou que ficou "estupefato" ao saber do envio do ofício. "Tive de me ausentar de Brasília na quinta-feira para o casamento do meu filho", disse. Segundo ele, o ofício de Britto era "genérico".
Lewandowski lembrou que o prazo para a devolução do processo foi aprovado pela maioria dos ministros. "O presidente está mudando o prazo? Estou surpreso."
No início da noite, Lewandowski divulgou nota em que expôs o incômodo.
"Sempre tive como princípio fundamental, em meus 22 anos de magistratura, não retardar nem precipitar o julgamento de nenhum processo, sob pena de instaurar odioso procedimento de exceção."
Ele acrescenta que o STF tem condições de cumprir o prazo e, citando reportagem de ontem da Folha, manifestou incômodo também com o fato de a cobrança ter ido parar na imprensa. Procurado, Britto não quis comentar.
TRÂMITE
A pressão para que Lewandowski concluísse até ontem a revisão do trabalho do relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, foi revelada no domingo pelo Painel.
Se Lewandowski tivesse concluído seu trabalho ontem, a liberação do processo seria publicada hoje. Haveria então dois dias para a notificação do Ministério Público e dos 38 réus, mais 48 horas para o início do julgamento.
Como Lewandowski não devolveu o processo ontem, não há mais tempo para cumprir essas formalidades nesta semana, antes do recesso. É por isso que será necessário esperar mais alguns dias para dar início ao julgamento em agosto, quando os ministros voltarem ao trabalho.
Ao ministro revisor cabe identificar omissões do relator, "confirmar, completar ou retificar" o relatório.
À Folha Lewandowski disse que sua missão não se resume à revisão. "Tenho de fazer um voto paralelo ao do ministro Joaquim, que seja um contraponto ao voto dele. Tenho de descer ao mérito, rever provas, todos os volumes dos autos. Não é simples julgar 38 pessoas, 38 seres humanos, 38 famílias."
Lewandowski disse ainda que precisa "trabalhar em paz" e negou que esteja sofrendo pressões externas, da opinião pública ou de advogados, mas não respondeu quando questionado se sofre pressões dos colegas.
"Eu não recebi nenhuma pressão de fora, nem para adiantar nem para atrasar nada. O dia em que um ministro do Supremo não tiver isenção para julgar, a própria democracia estará em risco."



Petrobrás, um exemplo de boa administração....

Vale a pena ler só este trecho de uma reportagem do Estadão de hoje sobre a Petrobrás e observar como uma refinaria deveria custar US$ 2,3 bilhões aumentou 9 vezes (!!!) o preço, indo para US$ 20,1 bilhões. Ah, se o Brasil fosse um país sério.........




A presidente da petroleira, Graça Foster, citou o exemplo da Refinaria Abreu e Lima (Pernambuco) ao falar de equívocos cometidos nas fases de planejamento e construção. A refinaria já era para estar funcionando desde novembro do ano passado, mas só está 55% pronta. O novo prazo, agora, é novembro de 2014. Até anteontem, era junho de 2013.
Os dados expostos por Graça na apresentação do Plano de Negócios 2012-2016 abordam o sobrepreço da Abreu e Lima, que deveria estar sendo construída em parceria com a petroleira PDVSA, estatal da Venezuela. Até hoje a companhia não incorporou-se à obra, mas o projeto conjunto continua mantido, segundo Graça.
Ao ser idealizada em 2005 pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, a refinaria pernambucana custaria US$ 2,3 bilhões. Se inaugurada mesmo em novembro de 2014, terá custado US$ 20,1 bilhões, conforme os números apresentados pela presidente.
"A Rnest (Refinaria do Nordeste, como foi chamada inicialmente a Abreu e Lima) é uma história a ser aprendida, escrita, lida pela companhia, de tal forma a que não seja repetida. Existe claramente um aumento significativo do investimento inicial da refinaria, do seu marco zero, em setembro de 2005. O óleo a ser refinado conta hoje com atraso de três anos. É claro, absolutamente claro, o não cumprimento integral da sistemática de aprovação de projetos neste caso específico. Uma história a ser aprendida e não repetida", disse.

Bem Brasil

Falou-se tanto em Rio + 20 e ninguém lembrou da seca no Nordeste, a mais severa dos últimos 30 anos.

Cadê o relatório?

Observe o link: http://www.stf.jus.br/portal/agendaMinistro/listarAgendaMinistro.asp

O ministro Lewandowski não disponibiliza sua agenda de trabalho. Terminou a semana. E continuamos aguardando o relatório.

E o relatório do Lewandovski?

Faltam 7 dias úteis para ele entregar o relatório como revisor do processo do Mensalão. Isto de acordo com o prazo que ele mesmo inventou, o de que entregaria no primeiro semestre. Vale recordar que ele recebeu o processo do relator (Joaquim Barbosa) em dezembro do ano passado.

Examinando a folha de pagamento de março de 2012 (disponibilizada no site do STF) é possível contar entre os assessores diretos do ministro cerca de 50 funcionários, entre efetivos, cedidos ao STF e terceirizados. São:

1. recepcionista: 5;
2. seguranças: 3;
3. analista judiciário: 17;
4. técnico em secretariado: 3;
5. técnico judiciário: 4;
6. assistente administrativo:1;
7. procurador federal: 1;
8. assistente administrativo:1;
9. chefe de gabinete: 1

A lista não está completa. É possível deduzir que não é por falta de funcionário que o relatório não foi entregue até hoje.

Comentários dos leitores do Estadão

Segue abaixo os comentários dos leitores do Estadão sobre o meu artigo "Dom Sebastião voltou":


O Estado de S.Paulo
LULA
'Dom Sebastião voltou'
No artigo Dom Sebastião voltou (16/6, A2), o historiador Marco Antonio Villa, dotado de honestidade intelectual, fez a correta síntese da "vida heroica" construída por Lula e seus "criadores", intelectuais não dotados da mesma honestidade intelectual. Sem se deixar intimidar pela ditadura do politicamente correto, o historiador narra às claras como alguém, sem a menor qualificação, vai enganando multidões, repetindo as mesmas mentiras e quase as transformando em verdades. Fizeram de um pelego um "líder", na esperança de arrastar as massas para as pretensões da dita "intelectualidade"de esquerda. Só que Lula, que de bobo não tem nada, passou uma rasteira em todos e tratou de alcançar o poder para si. Para isso contou inclusive com o apoio da "zelite", agraciada com fartos recursos do BNDES, como bem notou Villa, a custo baixíssimo. E, com as "bolsas-miséria", mantém milhões de pobres almas reféns de seu salvacionismo. Já a parte da sociedade que não compactua com tudo isso está a pagar a alta conta, sem uma oposição que verbalize seu inconformismo.
ANA LÚCIA AMARAL
anamaral@uol.com.br
São Paulo
Princípios
Cumprimento o professor Marco Antonio Villa pelo magnífico artigo Dom Sebastião voltou, em que, entre tantas afirmativas corretas, diz com precisão que o único princípio de Lula é não ter princípio, tanto moral quanto ético ou político.
LUIZ DE GONZAGA SANTOS
lg.santos@terra.com.br
Paraibuna
Museu do Trabalhador
A propósito do brilhante artigo de Marco Antonio Villa, é de indagar o propósito do futuro Museu do Trabalhador, a ser construído em área pública do antigo Mercado Municipal de São Bernardo do Campo (SP). Será ele apenas mais uma das tantas mentiras históricas de Lula e do Partido dos Trabalhadores, em que se omitirá a verdadeira história da luta sindical no ABC - que teve início muito antes da formação do partido -, ou um verdadeiro espaço de resgate da luta dos trabalhadores desde a Primeira República, passando pela muito bem lembrada eleição vencida por um comunista em Santo André, Armando Mazzo, em 1947, até a fundação do PT e a eleição de Lula? A conferir e fiscalizar.
DENISE A. GORAB LEME
gorableme@uol.com.br
São Bernardo do Campo
Narciso
Parafraseando apoteótica frase do apedeuta-mor, nunca antes na história deste país alguém discorreu sobre Lula com tanta precisão e conhecimento de seu enganoso perfil, como o fez magistralmente o professor Villa. Tudo o que o "cara" faz é se endeusar. Vivesse Narciso, muito teria a aprender com ele.
JOSÉ ROBERTO DA ROCHA
robertorocha.adv@gmail.com
Cubatão
2014
Discordo de Marco Antonio Villa, quando sugere que Lula não teria chance na eleição de 2014. O ex-presidente, para voltar à Presidência da República, precisa apenas de um câmera man e de alguém que edite os seus textos.
EMILIO ARAÚJO COSTA
emilioaraujocosta@hotmail.com
Curitiba
Coragem
Cumprimento o professor Villa pela aula de História, pela lucidez e coragem.
JOSÉ THOMAZ FILHO
thomaz.filho@terra.com.br
São Paulo
Dons
Os fatos confirmam as conclusões de Marco Antônio Villa no seu Dom Sebastião voltou. Apesar dos anúncios de "procura-se" da Interpol, o partido que agora tem Erundina como aliada não teve nenhum escrúpulo em se aliar a Paulo Maluf e se submeter à vontade de dom Sebastião. Para que "Ele" não continue "avançando e pisando na Constituição", como disse o historiador da UFSCAR, só nos resta esperar e torcer para que, em agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) também não se curve aos interesses do Don Corleone brasileiro.
NILSON OTÁVIO DE OLIVEIRA
noo@uol.com.br


STF, supremos problemas.

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:


São Paulo, domingo, 17 de junho de 2012Opinião
Opinião


MARCO ANTONIO VILLA
Supremo Tribunal, supremos problemas
Antes da posse, o ministro vai ao Senado. Só elogios. Une-se aí ao empreguista STF, com 235 recepcionistas, vira celebridade. E "lê" milhares de casos ao ano
Ao longo da história republicana, a atuação do Supremo Tribunal Federal esteve, quase sempre, em desacordo com valores democráticos.
Em um país como o nosso, de uma enraizada cultura autoritária, a omissão do STF foi perversa. Basta recordar o silêncio cúmplice com relação às graves violações dos direitos humanos durante o Estado Novo e durante a ditadura militar.
Em vez de o STF ser uma espécie de tribunal da cidadania, ele foi, neste mais de um século de vida, um instrumento de desprezo da ordem democrática. Fui também um elemento de reforço da impunidade, doença maligna que permeia o cotidiano brasileiro.
A Constituição de 1988 atribuiu ao STF um conjunto de competências. Ele foi transformado, na prática, em um tribunal de última instância, quando a sua função deveria ser estritamente interpretar o texto constitucional.
Assim, só em 2011 a Corte teve 102 mil decisões, das quais 89 mil foram monocráticas, ou seja, tomadas por apenas um ministro. Dentre essas, 36.754 foram exclusivamente do presidente do STF.
Mesmo com a existência da súmula vinculante, causa estranheza que um só ministro tenha proferido tantas decisões.
Imagine o leitor que se um processo tenha, em média, cem folhas -algo que, para os nossos padrões, caracterizado pela prolixidade, é considerado curto- e que o presidente tenha julgado originalmente somente um terço dos processos, cerca de dez mil, para facilitar as contas. Ele teria de ler 1 milhão de folhas. Será que leu?
O STF tem muitos outros problemas. Um deles é a escolha dos ministros, uma prerrogativa constitucional do presidente da República.
Cabe ao Senado aprová-la. As sabatinas exemplificam muito bem o descaso com a nomeação. Todos são aprovados sem que se conheça o que pensam. São elogiados de tal forma pelos senadores que fica a impressão que estão, com antecedência, desejando obter a simpatia dos futuros ministros frente a um eventual processo. Em síntese: as sabatinas são uma farsa e desmoralizam tanto o Senado como o STF.
No Brasil, estranhamente, os ministros acabaram virando celebridades. Dão entrevistas a toda hora e sobre qualquer assunto.
Um deles chegou a "abrir sua casa" para uma reportagem e tirou uma foto deitado na cama ao lado da sua esposa! Tem ministro poeta, outro é empresário de ensino, tem ministro que foi reprovado em concurso para juiz -duas vezes, e mesmo assim foi alçado ao posto maior da carreira, mas sem concurso, claro-, tem ministro que chegou lá devido à sorte de quem era vizinho da sua mãe. Pior ainda são aqueles que ficam alguns anos como ministros e retornam à advocacia, usando como grife a passagem pelo Supremo.
O STF padece também de um velha doença nacional: o empreguismo. São quase 3.000 funcionários, entre efetivos e terceirizados. Não é improvável que, se todos comparecerem no mesmo dia ao trabalho, as instalações da Corte não sejam suficientes para abrigá-los.
Como são 11 ministros, a média é de 272 funcionários para cada um. E o mais estranho são funcionários que não estão diretamente vinculados à função precípua de julgar, como as 235 recepcionistas e os 403 seguranças -deve ser a Corte mais segura do mundo.
Essa estrutura custa para a União uma bagatela da ordem de R$ 500 milhões ao ano.
Um bom momento para o STF reencontrar a cidadania é o julgamento do mensalão. Poderemos assistir como cada um dos 11 ministros vai agir. Pode ser que, finalmente, a Corte rompa com seu triste passado de conluio com o Executivo e seja um instrumento de defesa dos valores democráticos.

MARCO ANTONIO VILLA, 57, é historiador, professor da Universidade Federal de São Carlos, e autor, entre outros, de "A História das Constituições Brasileiras: 200 Anos de Luta Contra o Arbítrio" (LeYa)

Dom Sebastião voltou (um retrato de Lula).

Publiquei hoje n'O Estadão:


Dom Sebastião voltou

16 de junho de 2012 | 3h 05

Marco Antonio Villa - O Estado de S.Paulo
Luiz Inácio Lula da Silva tem como princípio não ter princípio, tanto moral, ético ou político. O importante, para ele, é obter algum tipo de vantagem. Construiu a sua carreira sindical e política dessa forma. E, pior, deu certo. Claro que isso só foi possível porque o Brasil não teve - e não tem - uma cultura política democrática. Somente quem não conhece a carreira do ex-presidente pode ter ficado surpreso com suas últimas ações. Ele é, ao longo dos últimos 40 anos, useiro e vezeiro destas formas, vamos dizer, pouco republicanas de fazer política.
Quando apareceu para a vida sindical, em 1975, ao assumir a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, desprezou todo o passado de lutas operárias do ABC. Nos discursos e nas entrevistas, reforçou a falácia de que tudo tinha começado com ele. Antes dele, nada havia. E, se algo existiu, não teve importância. Ignorou (e humilhou) a memória dos operários que corajosamente enfrentaram - só para ficar na Primeira República - os patrões e a violência arbitrária do Estado em 1905, 1906, 1917 e 1919, entre tantas greves, e que tiveram muitos dos seus líderes deportados do País.
No campo propriamente da política, a eleição, em 1947, de Armando Mazzo, comunista, prefeito de Santo André, foi irrelevante. Isso porque teria sido Lula o primeiro dirigente autêntico dos trabalhadores e o seu partido também seria o que genuinamente representava os trabalhadores, sem nenhum predecessor. Transformou a si próprio - com o precioso auxílio de intelectuais que reforçaram a construção e divulgação das bazófias - em elemento divisor da História do Brasil. A nossa história passaria a ser datada tendo como ponto inicial sua posse no sindicato. 1975 seria o ano 1.
Durante décadas isso foi propagado nas universidades, nos debates políticos, na imprensa, e a repetição acabou dando graus de verossimilhança às falácias. Tudo nele era perfeito. Lula via o que nós não víamos, pensava muito à frente do que qualquer cidadão e tinha a solução para os problemas nacionais - graças não à reflexão, ao estudo exaustivo e ao exercício de cargos administrativos, mas à sua história de vida.
Num país marcado pelo sebastianismo, sempre à espera de um salvador, Lula foi a sua mais perfeita criação. Um dos seus "apóstolos", Frei Betto, chegou a escrever, em 2002, uma pequena biografia de Lula. No prólogo, fez uma homenagem à mãe do futuro presidente. Concluiu dizendo que - vejam a semelhança com a Ave Maria - "o Brasil merece este fruto de seu ventre: Luiz Inácio Lula da Silva". Era um bendito fruto, era o Messias! E ele adorou desempenhar durante décadas esse papel.
Como um sebastianista, sempre desprezou a política. Se ele era o salvador, para que política? Seus áulicos - quase todos egressos de pequenos e politicamente inexpressivos grupos de esquerda -, diversamente dele, eram politizados e aproveitaram a carona histórica para chegar ao poder, pois quem detinha os votos populares era Lula. Tiveram de cortejá-lo, adulá-lo, elogiar suas falas desconexas, suas alianças e escolhas políticas. Os mais altivos, para o padrão dos seus seguidores, no máximo ruminaram baixinho suas críticas. E a vida foi seguindo.
Ele cresceu de importância não pelas suas qualidades. Não, absolutamente não. Mas pela decadência da política e do debate. Se aplica a ele o que Euclides da Cunha escreveu sobre Floriano Peixoto: "Subiu, sem se elevar - porque se lhe operara em torno uma depressão profunda. Destacou-se à frente de um país sem avançar - porque era o Brasil quem recuava, abandonando o traçado superior das suas tradições...".
Levou para o seu governo os mesmos - e eficazes - instrumentos de propaganda usados durante um quarto de século. Assim como no sindicalismo e na política partidária, também o seu governo seria o marco inicial de um novo momento da nossa história. E, por incrível que possa parecer, deu certo. Claro que desta vez contando com a preciosa ajuda da oposição, que, medrosa, sem ideias e sem disposição de luta, deixou o campo aberto para o fanfarrão.
Sabedor do seu poder, desqualificou todo o passado recente, considerado pelo salvador, claro, como impuro. Pouco ou nada fez de original. Retrabalhou o passado, negando-o somente no discurso.
Sonhou em permanecer no poder. Namorou o terceiro mandato. Mas o custo político seria alto e ele nunca foi de enfrentar uma disputa acirrada. Buscou um caminho mais fácil. Um terceiro mandato oculto, típica criação macunaímica. Dessa forma teria as mãos livres e longe, muito longe, da odiosa - para ele - rotina administrativa, que estaria atribuída a sua disciplinada discípula. É um tipo de presidência dual, um "milagre" do salvador. Assim, ele poderia dispor de todo o seu tempo para fazer política do seu jeito, sempre usando a primeira pessoa do singular, como manda a tradição sebastianista.
Coagir ministros da Suprema Corte, atacar de forma vil seus adversários, desprezar a legislação eleitoral, tudo isso, como seria dito num botequim de São Bernardo, é "troco de pinga".
Ele continua achando que tudo pode. E vai seguir avançando e pisando na Constituição - que ele e seus companheiros do PT, é bom lembrar, votaram contra. E o delírio sebastianista segue crescendo, alimentado pelos salamaleques do grande capital (de olho sempre nos generosos empréstimos do BNDES), pelos títulos de doutor honoris causa (?) e, agora, até por um museu a ser construído na cracolândia paulistana louvando seus feitos.
E Ele (logo teremos de nos referir a Lula dessa forma) já disse que não admite que a oposição chegue ao poder em 2014. Falou que não vai deixar. Como se o Brasil fosse um brinquedo nas suas mãos. Mas não será?  
 MARCO ANTONIO VILLA, HISTORIADOR,  É PROFESSOR DA , UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR)


A história das constituições brasileiras (XVI)

Ontem, o DCI publicou o artigo (abaixo) do ministro Almir Pazzianotto comentando o meu último livro "A história das constituições brasileiras. 200 anos de luta contra o arbítrio" (editora LeYa):


DCI – 12 de junho de 2012

Sete Constituições




Almir Pazzianotto Pinto


Desde a promulgação, em 5 de outubro de 1988, não houve momento no qual a Constituição cidadã, como a denominou Ulysses Guimarães, deixasse de ser discutida, elogiada, criticada, ou se encontrasse protegida contra retaliações. Passados 24 anos, contabilizam-se 70 emendas, todas de forte impacto no texto original.
Durante os cinco primeiros anos, a Lei que os presidentes da República, do STF, e do Congresso nacional, assumiram o compromisso de manter, defender e cumprir, permaneceu intocada, pois assim determinava o Art. 3º do Ato das Disposições Transitórias. Cumprida a fase de resguardo, a sensação que se teve foi de abertura da porteira à boiada inquieta, que sobre ela arremeteu. A Emenda nº 1 foi aprovada rapidamente em 2 de março de 1994. Desde então, a Nação viu-se constrangida a acompanhar processo ininterrupto de alterações, que hoje atingem o espantoso número de 70.
A rigor, não deveríamos nos impressionar, pois esta de 88 é a sétima, ou oitava, da série iniciada com a Carta Imperial, de 1824. Vieram, depois, a Constituição de 1891, com apenas 91 artigos e 8 disposições transitórias. A Revolução de 1930 derrubou Washington Luiz e abateu a Lei Superior. Desde então, o País viu malograrem as constituições de 34, 37, 46, 67 (Emenda 1/69), até chegarmos à atual, cuja insegurança confirma-se diariamente.
Comentários às constituições, sob viés político, conheço dois: o primeiro, intitulado “Constituições do Brasil”, editado pelo Centro de Ensino à Distância, de Brasília. São seis tomos, com estudos relativos ao período 1824/1967, redigidos por notáveis juristas: Aliomar Baleeiro, Ronaldo Poletti, Walter Costa Porto, Octaciano Nogueira, Barbosa Lima Sobrinho, Themístocles Brandão Cavalcanti, Luiz Navarro de Brito.
Surge, agora, “A história das Constituições Brasileiras - 200 anos de luta contra o arbítrio”, de Marco Antonio Vila. O autor é mestre em sociologia, doutor em história pela USP, e leciona na Universidade de São Carlos. Escreveu, também, “Jango Um Perfil” e “Canudos o Povo da Terra”. O livro traz, à guisa de conclusão, capítulo cujo instigante título é “O STF e as liberdades; um desencontro permanente”.
Não é, como diz o autor, obra de direito constitucional. Nessa linha temo-las em quantidade. O prolífico Pontes de Miranda, por exemplo, produziu várias, todas em meia dúzia de tomos. Longe disso – afirma Marco Antonio Villa – o que se procura demonstrar é que “na maioria das vezes, os textos constitucionais estavam distantes da realidade brasileira.”
A fragilidade das sete constituições basta como demonstração do divórcio entre utopia e realidade. Das sete, as mais resistentes às intempéries foram obras de um homem só; a do Império, outorgada por D. Pedro I, vigorou 65 anos, com uma única emenda e, a de 1891, redigida por Ruy Barbosa, 40, sendo modificada apenas uma vez.
A mais vulnerável é a de 1988, elaborada por Assembleia Nacional Constituinte, composta por centenas de deputados e senadores, em clima de total liberdade. Deu no que deu. Permanece em pé, enfraquecida, porém, e desfigurada. Do ponto de vista das garantias sociais é ambiciosa, entretanto utópica, para não dizer falsa. Leiam-se os capítulos relativos à saúde, educação, família, segurança. Platão não teria feito melhor.
Detenho-me no art. 196, um dos que maior interesse tem para o povo. Afirma-se, ali: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
Conversa fiada, como diz o homem simples. Direito à saúde tem quem pode pagar por excelente plano, contratar seguro hospitalar, exerce ou tenha exercido, alto cargo na administração pública, o que lhe abre as portas, de imediato e sem custos, aos melhores hospitais do País. O pobre dependente de assistência médica pública, hospital filantrópico, santa casa de misericórdia, ou instituição de caridade, está perdido. Nos municípios menores, mesmo dos estados ricos, inexistem clínicas, ambulatórios e médicos, e quando encontrados, sobrecarregados de dívidas não dispõem de equipamentos e remédios.
É necessário lermos a obra do prof. Marco Antonio Villa, sobretudo os estudantes de cursos superiores. O texto, direto e simples, ensina a distinguir o concreto da fantasia.
...................
Almir Pazzianotto Pinto é advogado; foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho.



O custo econômico da seca

De acordo com reportagem publicada hoje no "Valor" , a seca deve custar 26 bilhões de reais. O mais absurdo é que o país ignora a tragédia mais do que econômica, a tragédia humana. São  mil municípios em estado de emergência! A economia da região, depois de uma seca como essa, só consegue se recuperar depois de dois-três anos. A "grande" ação da União na região foi a "bolsa seca". Durante 5 meses as famílias cadastradas vão receber 80 reais mensais. O "benefício" termina em novembro. Enquanto isso, temos escândalos no DNOCS, Banco do Nordeste, etc, etc.



Seca prossegue e previsão de perdas passa de R$


26 bi


e
Depois de afetar seriamente o Produto Interno Bruto (PIB) do país no primeiro trimestre, a seca continua devastando o Nordeste e comprometendo a agricultura no Sul ao longo do segundo trimestre. No Nordeste, o número de municípios em situação de emergência só cresce e alcançou 996 cidades - em abril, 458 estavam nessa condição. No Rio Grande do Sul, a situação para a população já está mais amena (o número de municípios em situação de emergência caiu de 340 em fevereiro para 108 em junho), mas a indústria projeta que a estiagem trará prejuízos diretos e indiretos acima de R$ 16 bilhões para a economia gaúcha. Nos Estados afetados, os prejuízos previstos já ultrapassam R$ 26 bilhões.
No Rio Grande do Norte, que tem 139 municípios em situação de emergência, a projeção é de um rombo de cerca de R$ 5,5 bilhões no PIB do Estado em 2012, informa o secretário estadual de Agricultura, Betinho Rosado. "A produção in natura, que foi seriamente prejudicada, representa 6% do nosso PIB, que é de R$ 25 bilhões. Agora, se considerado o beneficiamento desses produtos, como no caso do queijo, do iogurte e do álcool, a fatia passa para 35%", explicou.

Sem ração e água para as vacas, em Sergipe a queda foi de 40%, estima o secretário estadual de Agricultura, José Sobral. No Estado, somente com a cadeia do leite, dos grãos e da cana-de-açúcar, ele prevê perdas de R$ 200 milhões até agora.
A quebra na produção de leite e derivados é um dos principais estragos provocados pela estiagem na economia nordestina. Maior produtor da região, com 1,2 bilhão de litros em 2011, a Bahia deve registrar queda de 50% neste ano, mesmo percentual esperado para Pernambuco. Até maio, o prejuízo acumulado na economia pernambucana devido à seca somava R$ 1 bilhão, sendo 85% na pecuária e o restante na agricultura.
Depois de derrubar em 48% a safra da soja e em 44% a do milho no Rio Grande do Sul, os efeitos da seca se prolongam no Estado. Na semana passada, apenas 12% da área de trigo, a principal lavoura de inverno, estava plantada devido à baixa umidade do solo, ante 25% no mesmo período de 2011. No Paraná, depois de a seca deixar prejuízos estimados em R$ 3,8 bilhões, a preocupação dos produtores agora é com a ocorrência de geadas.



Peluso poderá votar

A 3 de setembro, Cezar Peluso cai na "expulsória". Portanto, deverá votar até o final de agosto. As votações devem começar no dia 15 e serão 3 sessões por semana de 5 horas cada.

De acordo com o regime do STF, art. 135:


Art. 135. Concluído o debate oral, o Presidente tomará os votos do Relator, do
Revisor, se houver, e dos outros Ministros, na ordem inversa de antiguidade.
RISTF: art. 4º, § 1º (Presidente de Turma) – art. 17 (antiguidade) – art. 143 (Presidente do STF).

§ 1º Os Ministros poderão antecipar o voto se o Presidente autorizar.
RISTF: art. 133 (quando se pronunciam).

§ 2º Encerrada a votação, o Presidente proclamará a decisão.
RISTF: art. 93 (constará do acórdão) – art. 97, I (integram o acórdão).
CPC: art. 556 (proclamação da deciisão)

§ 3º Se o Relator for vencido, ficará designado o Revisor para redigir o acórdão.
RISTF: art. 23 e art. 24 (do Revisor) – art. 38, I (da substituição).

§ 4º Se não houver Revisor, ou se este também tiver sido vencido, será designado
para redigir o acórdão o Ministro que houver proferido o primeiro voto prevalecente.
RISTF: art. 23 (há revisão) – art. 38, II e IV, b (da substituição).
CPC: art. 556, in fine (lavrará o acórdão).

O §1º é muito claro. Se Ayres Brito autorizar, Peluso poderá pronunciar seu voto sem seguir o rito prescrito no caput do artigo.



E o Lewandowski ainda não entregou o relatório.

Como é sabido, o ministro Lewandowski é o revisor do processo do Mensalão. De acordo com o regimento do STF (art. 25), cabe ao revisor:


Art. 25. Compete ao Revisor:

RISTF: art. 38, I (substituição pelo Relator) e art. 39 (substituição do Revisor).

I – sugerir ao Relator medidas ordinatórias do processo que tenham sido
omitidas;
RISTF: art. 21, I (Relator: ordenar e dirigir o processo).

II – confirmar, completar ou retificar o relatório;
RISTF: art. 243 e art. 245, I (AP) – art. 262, in fine (AR) – art. 268

III – pedir dia para julgamento dos feitos nos quais estiver habilitado a proferir voto.
RISTF: art. 83 (pauta) – art. 87, II (cópias do relatório).

Faz seis meses (seis meses!!!)  que recebeu o processo e nada. É importante lembrar que ele NÃO esteve presente à reunião dos ministros que, na semana passada, definiu o calendário do processo. Como esperado, ele atrasou quanto pode o processo, mas vai ter de entregar o seu trabalho este mês de qualquer jeito. Vale notar que os ministros presentes á reunião (eram nove, faltaram o Tófolli e o Lewandowski) já resolveram o item III, ou seja, não aguentaram mais o lenga-lenga.

Importante: não vai causar admiração se ele apresentar um relatório no estilo Chacrinha, ou seja, mais para confundir do que para explicar.

2008 diferente de 2012

A crise de 2012 é muito mais grave que a do último trimestre de 2008. Aquela esteve restrita, inicialmente, aos EUA. A de hoje o centro é a Europa e seus efeitos serão muito mais prolongados (durante toda esta década) do que a de 2008. Além do que não há uma autoridade central na Europa como nos EUA (os governos nacionais são um anteparo às medidas centrais necessárias; seria muito diferente caso houvesse um Estados Unidos da Europa). A economia Ásia-Pacífico também mostra sinais de que não conseguirá (como na crise de 2008) puxar o crescimento mundial. E o Brasil? O governo simplesmente assiste a crise sem saber o que fazer. Quando se pronuncia é no estilo Afonso Celso (aquele do "Porque me ufano do meu país"). Mas, como é sabido, a palavra não substitui a ação.

A crise espanhola e o Brasil

A Espanha vai receber socorro bilionário para salvar seu sistema financeiro. A crise européia parece um saco sem fundo. A Grécia teme eleições no dia 17. Tudo indica que não haverá um governo com maioria para poder governar. A Europa deve neste ano crescer 0% ou até negativamente. E com o baixíssimo crescimento americano. A China, desta vez, não vai conseguir repetir o papel de 2009-2010. Mostra sinais de esgotamento mas deve ainda crescer a uma taxa de pouco  mais de 8%. E o Brasil? Com a paralisia decisória e a incompetência administrativa que marca a presidência Dilma, não é exagero afirmar que teremos um péssimo segundo semestre. O governo fará de tudo para maquiar a taxa de crescimento. Vai incentivar ainda mais o crédito e escolher setores da economia que tenham maior impacto no conjunto da economia concedendo incentivos de toda ordem (empréstimos subsidiados, isenções, etc), tudo para apresentar uma taxa próxima a 3%.    

Banco do Nordeste: mais um escândalo

Para a seca não há recursos. Mas se somarmos o que foi desviado do DNOCS (quase 200 milhões em 3 anos) e o rombo do Banco do Nordeste dá 300 milhões de reais. Como cada cisterna (água para consumo doméstico) custa mil reais, somente com os recursos destes dois roubos daria para construir 300 mil cisternas (cerca de 1/3 do que é mais urgente para o semi-árido).

Segue reportagem da "Época":

Polícia Federal apura o desvio de mais de R$ 100 milhões do Banco do Nordeste

Lembra o caso dos dólares escondidos na cueca? Uma investigação obtida por ÉPOCA revela desvio de dinheiro envolvendo o mesmo banco – e o mesmo partido político

LEOPOLDO MATEUS, DE FORTALEZA


SOB INVESTIGAÇÃO A sede do Banco do Nordeste, em Fortaleza, e o chefe de gabinete do banco, Robério do Vale (à direita). Três empresas dos cunhados de Vale obtiveram empréstimos suspeitos que chegaram a cerca de R$ 12 milhões (Foto: Kléber A. Gonçalves/O Povo e Miguel Porti/Ag. Diário)
No auge do escândalo do mensalão, em julho de 2005, nenhum caso chamou tanta atenção quanto os “dólares na cueca”, que levaram à renúncia de José Genoino à presidência do Partido dos Trabalhadores. Um assessor parlamentar do então deputado estadual cearense José Guimarães (PT), irmão de Genoino, foi detido pela Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Em suas roupas de baixo, havia US$ 100 mil em espécie. As investigações indicaram na ocasião que o dinheiro era propina recebida pelo então chefe de gabinete do Banco do Nordeste (BNB) e ex-dirigente do PT, Kennedy Moura, para acelerar empréstimos no banco. Passados sete anos, uma auditoria interna do banco e outra da Controladoria-Geral da União, obtidas por ÉPOCA, revelam um novo esquema de desvio de dinheiro. Somente a empresa dos cunhados do atual chefe de gabinete, Robério Gress do Vale, recebeu quase R$ 12 milhões. Sucessor de Kennedy, Vale foi o quarto maior doador como pessoa física para a campanha de 2010 do hoje deputado federal José Guimarães.
O poder de Guimarães sobre o BNB pode ser medido a partir da lista dos doadores de sua bem-sucedida campanha ao segundo mandato, dois anos atrás. A maior doação de pessoa física é dele próprio. A segunda é de José Alencar Sydrião Júnior, diretor do BNB e filiado ao PT. A terceira é do também petista Roberto Smith, presidente do banco no período em que ocorreram operações fraudulentas e hoje presidente da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará, nomeado pelo governador Cid Gomes (PSB). O atual presidente do BNB, Jurandir Vieira Santiago, vem em 11º. Eleito para a Câmara Federal pela primeira vez em 2006, com a maior votação do Ceará, Guimarães ganhou poder na Câmara. Tornou-se vice-líder do governo e passou a ser amplamente reconhecido como o homem que indicava a diretoria no Banco do Nordeste. No disputado campo de batalha da política nordestina, o BNB é território de José Guimarães.
O novo esquema de desvios e fraudes no banco nordestino segue um padrão já estabelecido na longa e rica história da corrupção brasileira: o uso de laranjas ou notas fiscais frias para justificar empréstimos ou financiamentos tomados no banco. Assim como na dança de dinheiro dos tempos do mensalão, as suspeitas envolvem integrantes do PT. Um levantamento feito por ÉPOCA mostra que, entre os nomes envolvidos nas investigações da CGU e da Polícia Federal, há pelo menos dez filiados ao PT. Apresentado ao levantamento e aos documentos, o promotor do caso, Ricardo Rocha, foi enfático ao afirmar que vê grandes indícios de um esquema de caixa dois para campanhas eleitorais. “O número de filiados do PT envolvidos dá indícios de ação orquestrada para arrecadar recursos”, afirma Rocha.
A maioria das operações fraudulentas ocorreu entre o final de 2009 e o início de 2011. Somados, os valores dos financiamentos chegam a R$ 100 milhões, e a dívida com o banco a R$ 125 milhões. Só a MP Empreendimentos, a Destak Empreendimentos e a Destak Incorporadora conseguiram financiamentos na ordem de R$ 11,9 milhões. Elas pertencem aos irmãos da mulher de Robério do Vale, Marcelo e Felipe Rocha Parente. Segundo a auditoria do próprio banco, as três empresas fazem parte de uma lista de 24 que obtiveram empréstimos do BNB com notas fiscais falsas, usando laranjas ou fraudando assinaturas. As empresas foram identificadas após a denúncia feita por Fred Elias de Souza, um dos gerentes de negócios do Banco do Nordeste. Ele soube do esquema na agência em que trabalhava, a Fortaleza-Centro, e decidiu procurar o Ministério Público, em setembro do ano passado. “Sou funcionário do banco há 28 anos. Quando soube do que estava acontecendo, achei que tinha o dever de avisar o MP”, diz. O promotor Rocha, depois de tomar conhecimento do teor e da gravidade das denúncias de Souza, chamou representantes do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União para acompanhar o depoimento.
DENÚNCIA O ex-gerente Fred Elias de Souza, que revelou muitas das irregularidades. Ele foi transferido de função e hoje trabalha durante a madrugada, no SAC do banco (Foto: Jarbas Oliveira/ÉPOCA)
Em um dos casos, fica evidente o aparelhamento político do banco por membros do PT. Souza denunciou a existência de um esquema chefiado pelo empresário José Juacy da Cunha Pinto Filho, dono de seis empresas que obtiveram mais de R$ 38 milhões do Banco do Nordeste, em recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), entre 2010 e 2011. Para conseguir financiamentos para compras de máquinas e veículos, foram apresentadas notas fiscais falsas, segundo o Relatório da CGU. Tudo era feito com a conivência de funcionários das agências bancárias e de avaliadores do banco. No caso da empresa Flexcar Comércio e Locação de Veículos, o então gerente de negócios da Agência BNB Fortaleza-Centro, Gean Carlos Alves, afirmou em laudo ter visto os 103 carros financiados pelo banco. Fred de Souza afirmou em depoimento que uma fiscalização identificou apenas 33. Segundo a investigação, Alves alterou os registros referentes aos gravames (documentos de garantia da dívida) dos veículos para liberar quase R$ 3 milhões para a Flexcar, aceitou notas fiscais falsas e falsificou o e-mail de um colega. Segundo o depoimento de Fred de Souza, Alves liberou R$ 11,57 milhões para três empresas de Pinto Filho usando uma senha dada pelo controle interno do banco e pela Gerência-Geral da agência. A gerência é ocupada por Manoel Neto da Silva, filiado ao Partido dos Trabalhadores.
Outras duas empresas de Pinto Filho obtiveram empréstimos em outra agência de Fortaleza, a Bezerra de Menezes, cujo gerente-geral é José Ricáscio Mendes de Sousa, também filiado ao PT. Segundo o depoimento de Souza, foi Mendes de Sousa quem atraiu Pinto Filho para realizar negócios com o banco. A sexta empresa de Pinto Filho envolvida no esquema, segundo as auditorias, é a JPFC Empreendimentos, que apresentou notas falsificadas para justificar um empréstimo de R$ 2,9 milhões. As notas foram assinadas por Antônio Martins da Silva Filho, filiado ao PT de Limoeiro do Norte, cidade cearense de onde chegaram à PF outras denúncias envolvendo o BNB, em dezembro último.
A investigação da polícia está sob segredo de Justiça, mas ÉPOCA obteve com exclusividade o depoimento de José Edgar do Rêgo, funcionário do banco há 32 anos. Desde março de 2010, Rêgo é gerente de negócios do Programa Nacional de Financiamento da Agricultura Familiar (Pronaf), coordenado pelo banco, em Limoeiro. Ele delatou um esquema, investigado pela PF, em que os beneficiados pelas linhas de crédito do banco não eram agricultores, mas motoqueiros, frentistas, professores municipais e taxistas. Tudo ocorreu em 2010.
Empréstimos do BNB eram pedidos e autorizados por membros do PT, citados na denúncia
Os projetos aprovados pelo banco eram apresentados por dois sindicalistas: Sidcley Almeida de Sousa e Francisco César Gondim. Ambos são filiados ao PT da cidade de Tabuleiro. Em suas visitas ao BNB de Limoeiro, eles eram sempre acompanhados pelo vice-prefeito de Tabuleiro, Marcondes Moreira, também do PT. Apesar das irregularidades na identificação dos beneficiados, os projetos eram aprovados. Entre os citados por Rêgo como envolvidos na aprovação dos projetos ainda estavam outros dois filiados ao PT: Ariosmar Barros Maia, da cooperativa técnica de assessoria e projetos, e Samuel Victor de Macena, que avaliou em R$ 180 mil imóveis cujo valor, medido pelo banco, não passam de R$ 53 mil. Os imóveis foram colocados como garantia dos empréstimos.
No meio de seu depoimento à Polícia Federal, foi questionado sobre a empresa Emiliano Turismo, investigada pela PF. Disse que “era de conhecimento público em Tabuleiro que a empresa Emiliano Turismo trabalhava como cabo eleitoral para os então candidatos a deputado estadual e federal Dedé Teixeira e (José) Guimarães, ambos do Partido dos Trabalhadores”. O deputado Guimarães nega qualquer tipo de relação com a Emiliano.
As Fraudes no BNB (Foto: revista ÉPOCA/Reprodução)
Rêgo disse ainda que a Emiliano Turismo montava projetos para ser aprovados pelo Pronaf. Ele afirma ter detectado falsificações em assinaturas do projetista José Ivonildo Raulino, em projetos apresentados pela empresa. Alguns deles foram aprovados pelo gerente-geral da agência, José Francisco Marçal de Cerqueira. Devido ao grande número de projetos do Pronaf na agência de Limoeiro, Marçal determinou que funcionários trabalhassem nos fins de semana. Alguns contratados passaram a ter a senha de Rêgo, gerente de negócios do Pronaf, para liberar os recursos quando ele não estivesse presente. Um deles era Otávio Nunes de Castro Filho, filiado ao PT. Ainda segundo o depoimento de Rêgo, Marçal autorizava e Isidro Moraes de Siqueira, então superintendente do banco e atual diretor de Controle e Risco, tinha conhecimento do que ocorria. Siqueira afirma que, informado das irregularidades, acionou a auditoria interna do banco. O maior responsável no banco pelos recursos do Pronaf é outro petista, indicado pelo deputado Guimarães: José Alencar Sydrião Júnior, diretor de Gestão do Desenvolvimento do banco, setor responsável pela liberação dos recursos do programa, e segundo maior doador da campanha de Guimarães.
O Ministério Público, Federal ou Estadual, ainda não recebeu o relatório da CGU nem a auditoria interna do BNB. A quebra de sigilos bancários dos envolvidos tampouco foi autorizada pela Justiça. Uma discussão judicial quanto à competência das esferas estadual ou federal para apurar as denúncias também postergou os trabalhos de investigação. Após várias idas e vindas, atualmente o processo está nas mãos do promotor do MPE Ricardo Rocha.
O atual presidente do BNB, Jurandir Vieira Santiago, assumiu o cargo em junho de 2011. Sua última administração também é alvo de uma investigação, que no Ceará ganhou o nome de “escândalos dos banheiros”. Até assumir a presidência do banco, no meio do ano passado, Jurandir era secretário das Cidades do Estado. O TCE investiga um esquema de superfaturamento na construção de banheiros em comunidades carentes no interior do Ceará. Alguns envolvidos já foram intimados a devolver R$ 164 mil aos cofres públicos.
O deputado Guimarães nega ter conhecimento das irregularidades e repudia qualquer envolvimento de seu nome relacionado a desvios de recursos no Banco do Nordeste. Ele diz que o ex-presidente Roberto Smith foi indicado pelo PT do Ceará com sua anuência. O comando do BNB diz nunca ter sido omisso quanto às irregularidades e que vários dos envolvidos foram demitidos. Robério do Vale, chefe de gabinete, afirma que sua função não interfere no processo de concessão de crédito. Ele diz que o banco deve apurar as irregularidades e punir os responsáveis. O ex-presidente do banco Roberto Smith diz não ter tomado conhecimento do relatório da CGU nem das conclusões da auditoria interna, por estar fora do banco desde 2011. Afirma que, no final de seu mandato, recebeu denúncia de desvios de crédito e encaminhou para a auditoria.
O promotor Rocha pediu ao banco que providenciasse segurança a Fred de Souza, autor da maior parte das denúncias. Souza recusou. Desde então, escapou de um tiro na rua e foi perseguido por motos duas vezes. Souza foi transferido de horário e função. Hoje, trabalha da meia-noite às 7 horas, avaliando o trabalho de atendentes do Serviço de Atendimento ao Cliente do banco. Ali, até o momento, não identificou nenhuma irregularidade.
  

Os fabulosos empréstimos (doações?) do BNDES

Saiu na Folha de hoje.

O BNDES criou uma burguesia financiada pelo Estado e que depende das relações "especiais" que mantém com o partido que está no poder. É o velho ditado de Celso Furtado (usado em outro contexto - a análise da política de defesa do café - mas que serve para o atual momento): socialização das perdas e privatização dos ganhos.


Subsídio do Tesouro para o BNDES atinge R$ 28 bi em três anos
Custo para os contribuintes equivale a dois terços do que o governo gastou com o Bolsa Família no período
Política adotada para reagir à crise de 2008 aumentou a oferta de crédito barato para investimentos privados
LORENNA RODRIGUES
DE BRASÍLIA
A estratégia adotada pelo governo para reforçar os cofres do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e dar impulso aos investimentos custou aos contribuintes R$ 28 bilhões nos últimos três anos.
O valor foi calculado pelo próprio governo e foi revelado por um relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) divulgado no fim de maio. Ele representa a primeira estimativa oficial sobre os custos da acelerada expansão que o BNDES teve nos últimos anos.
Para combater os efeitos da crise financeira internacional em 2008, o governo decidiu emprestar recursos do Tesouro para o BNDES, ampliando sua capacidade de oferecer crédito barato às empresas.
A operação tem um custo financeiro elevado para o Tesouro porque ele tomou o dinheiro emprestado no mercado pagando juros mais altos do que os cobrados pelo banco de fomento ao repassar esses recursos a seus clientes.
Desde a crise de 2008, o governo empresou R$ 282 bilhões para o BNDES dessa maneira. Isso multiplicou sua capacidade de financiar investimentos. No ano passado, os desembolsos do banco atingiram R$ 140 bilhões, mais do que duas vezes o valor contabilizado em 2007.
O governo nunca expôs com clareza os custos dessa política e só o fez agora por determinação do TCU. O custo acumulado nos últimos três anos representa 65% do que foi gasto com o Bolsa Família no mesmo período.
Em dezembro do ano passado, o Tesouro pagava em média juros de 12,83% aos compradores dos títulos emitidos para financiar o BNDES. Ao devolver os recursos para o Tesouro, porém, o BNDES paga juros de apenas 6%.
"É como se uma família sacasse no cartão de crédito, que tem juro de 8% ao mês, para investir na poupança, que rende 0,7%", disse o economista Mansueto Almeida, que trabalha no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão vinculado à Presidência da República, mas se manifestou em caráter pessoal. Em 2012, o BNDES deverá receber novos empréstimos do Tesouro, no valor de até R$ 45 bilhões.
BENEFÍCIOS
Além do custo financeiro, o governo subsidia diretamente os empréstimos feitos pelo BNDES. Nas operações do PSI (Programa de Sustentação do Investimento), que financia a compra de caminhões, máquinas e equipamentos, o banco cobra taxas abaixo das de mercado, e o governo cobre a diferença.
Só no ano passado, o custo com esse programa foi de R$ 3,6 bilhões. O dinheiro é repassado diretamente do Orçamento da União para o BNDES e não é devolvido como no caso dos empréstimos.
Na avaliação do governo, os custos dos empréstimos para o BNDES são compensados pelos benefícios que essas operações teriam ao reaquecer a economia, gerar empregos e tributos. Mas é difícil calcular o valor desses benefícios e o governo não apresentou uma estimativa.
"Não foram considerados no cálculo [do custo] os benefícios diretos e indiretos do aumento do crédito na economia, que tendem a reduzir o valor dos subsídios, seja pelo incremento na arrecadação, seja pela menor necessidade de outros tipos de gastos governamental", informmou o Tesouro ao TCU.
Além disso, há outra vantagem apontada pelo governo: como o BNDES é estatal, o governo federal recebe dividendos pagos pelo banco. Mas o tribunal ressaltou em seu relatório que, mesmo com essas vantagens, não se pode desconsiderar "os efeitos sobre os gastos da União, assim como os impactos sobre a dívida pública".

O julgamento do mensalão

De acordo com a reunião de hoje do STF (importante: sem a presença do Lewandowski - sempre ocupadíssimo, estava viajando), o julgamento começa dia 1 de agosto.
Primeiro, Lewandowski, ministro revisor, tem de entregar o seu relatório. Diz que fará até o final do mês. fará no último dia último dia útil, 29, dia de São Pedro. Depois deve pular fogueira e dançar quadrilha. Conseguiu o que queria: atrasar o julgamento. Joaquim Barbosa, ministro relator, entregou seu relatório em dezembro. Lewandovski levou 6 meses para simplesmente fazer a revisão.

De a 14 de agosto serão 9 sessões para as sustentações orais. Uma só para a leitura do relatório de Barbosa. Gurgel deve ocupar 5 horas para sua sustentação. Sobram 7. São 38 réus. cada defensor pode falar até 1 hora. Se ocuparem todo o tempo serão 38 horas. Vão estourar em 3 horas, pois se sobraram 7 sessões e cada uma é de 5 horas, perfazem um total de 35 horas.

A segunda etapa começa no dia 15 de agosto. É o julgamento propriamente dito. Aí serão 3 sessões por semana. Não vai causar admiração de cada ministro ocupar uma sessão de 5 horas cada. Neste caso, o julgamento irá até a segunda quinzena de setembro. lembrando que Cézar Peluso se aposenta no dia 3 de setembro.

E Tofolli, vai votar? Não está impedido?

Certamente o julgamento e o resultado vai estar presente na campanha eleitoral municipal, especialmente dos grandes colégios eleitorais. Teremos muitas emoções até lá.

História da migração nordestina para São Paulo

Segue link de um trecho de um capítulo de um livro meu (ainda) inacabado. Trata da grande migração nordestina para São Paulo. Foi publicado na revista eletrônica de poesia e cultura Sibila: http://www.sibila.com.br/index.php/mix/2171-quando-vim-mimbora-a-migracao-nordestina-para-sao-paulo

A economia vai mal

A questão central no país é a precária situação econômica. Como de hábito não é o foco principal do debate político. Vale a pena listar algumas questões:

1. a situação difícil dos pequenos bancos. O caso do Cruzeiro do Sul é somente mais um e não é o único;

2. o setor da construção civil mostra sinais de esgotamento;

3. o endividamento das famílias não para de crescer;

4. problemas estruturais da economia não se resolvem com medidas tributárias (aumentando ou baixando impostos temporariamente);

5. a tal "classe C" como instrumento de puxar o consumo para cima não passa de ficção;

6. a falta de uma política industrial é evidente;

7. os velhos gargalos da infra-estrutura se mantem apesar de dez anos de consulado petista;

8.  a baixa produtividade dos trabalhadores;

9.  a poupança interna é irrelevante;

10. o governo não consegue planejar nada (apesar dos dois ministérios dedicados à esta função);

11. o "modelo" de desenvolvimento criado nos anos 90 está fazendo água - e não é de hoje;

12. governo trata a economia com descaso, acha que a palavra substitui a ação.

13. a situação econômica internacional deve se manter neste patamar (ruim) por um bom tempo (especialmente a Europa e os EUA);

14. temerosa de alguma medida impopular (mas necessária) para reequilibrar a economia a médio prazo, Dilma opta pela fraseologia vazia (com tinturas do velho populismo) e com medo de algum reflexo negativo nos índices de popularidade.

15, a taxa de investimento é ridícula.

O mais terrível é que o Congresso Nacional sequer passa perto de qualquer destas questões.

O custo perverso da seca

Veja a matéria da Folha de S. Paulo. A seca continua e com efeitos terríveis. O governo federal não sabe o que fazer. Carros-pipa são instrumentos eleitorais, mais ainda em um ano de eleição municipal (água só para o eleitor do prefeito......).
Com estes 100 milhões gastos até agora, daria para construir 100 mil cisternas (ao custo de mil reais cada). A cisterna reserva a água da chuva para consumo doméstico e liberta o sertanejo do carro-pipa. Lula fez um enorme barulho, no segundo mandato, quando concedeu verba para a construção de 20 mil cisternas. A região (o semi-árido) precisa de aproximadamente 1 milhão de cisternas.

Gasto de governo com carros-pipa já chega a R$ 103 mi
Valor repassado ao Exército é para levar água a 2,8 milhões de pessoas em oito Estados nordestinos e norte de Minas
Para evitar furto, ministério estuda equipar veículos com GPS para saber destino de caminhões
Ricardo Cardoso/Frame/Folhapress
Morador de povoado em Vitória da Conquista, Bahia, usa animal para transportar água
Morador de povoado em Vitória da Conquista, Bahia, usa animal para transportar água
DANIEL CARVALHO
DE SÃO PAULO
O Ministério da Integração Nacional já gastou R$ 103 milhões com carros-pipa de janeiro a maio deste ano.
O montante foi repassado ao Exército para levar água a 2,8 milhões de pessoas em oito dos nove Estados nordestinos e no norte de Minas.
O valor já corresponde a mais da metade dos R$ 180 milhões gastos em 2011. Até outubro, mais R$ 130,6 milhões deverão ser repassados com base no plano de ação apresentado pelo Exército, responsável pela distribuição da água nos municípios.
Comitês de enfrentamento à seca dos Estados e municípios devem passar a auxiliar os militares na coordenação dessa tarefa. O ministério acredita que os técnicos desses grupos são quem melhor conhece a realidade dos locais atingidos pela estiagem.
Além disso, a Integração Nacional estuda equipar carros-pipa com GPS. A ideia é mapear os caminhões para saber de onde a água está sendo retirada, a exemplo do que foi anunciado no mês passado por Pernambuco.
O governo estadual identificou furto de água para abastecer carros clandestinamente e anunciou o monitoramento de 800 veículos contratados pelo Estado.
ORÇAMENTO
Em abril, a presidente Dilma Rousseff anunciou um pacote de R$ 2,7 bilhões para enfrentar a estiagem no semiárido neste ano. O repasse é equivalente a um terço do valor da transposição do rio São Francisco, obra que estava prevista para acabar este ano e que deve levar água para 12 milhões de pessoas em Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
A última previsão do governo federal para o término da obra é dezembro de 2015, a um custo de R$ 8,2 bilhões.
Segundo o ministério, o pacote emergencial pode "engordar" ainda mais caso seja necessário manter a ajuda às vítimas da seca.
Além de custear os caminhões com água, o dinheiro está sendo utilizado em ações como implantação de cisternas, linha especial de crédito para pequenos e médios agricultores e redução do valor da saca do milho (usado como ração para o gado), segundo o ministério.
Parte dos recursos (R$ 200 milhões) foi destinada ao Bolsa Estiagem, programa voltado a pequenos agricultores de cidades em situação de emergência que não estão no seguro-safra. Segundo o governo federal, a primeira das cinco parcelas de R$ 80 está prevista para o dia 18.