A década perdida.



A década perdida

31 de dezembro de 2012 | 2h 04

MARCO ANTONIO VILLA - O Estado de S.Paulo
A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 foi recebida como um conto de fadas. O País estaria pagando uma dívida social. E o recebedor era um operário.
Operário que tinha somente uma década de trabalho fabril, pois aos 28 anos de idade deu adeus, para sempre, à fábrica. Virou um burocrata sindical. Mesmo assim, de 1972 a 2002 - entre a entrada na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e a eleição presidencial -, portanto, durante 30 anos, usou e abusou do figurino do operário, trabalhador, sofrido. E pior, encontrou respaldo e legitimação por parte da intelectualidade tupiniquim, sempre com um sentimento de culpa não resolvido.
A posse - parte dos gastos paga pelo esquema do pré-mensalão, de acordo com depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público - foi uma consagração. Logo a fantasia cedeu lugar à realidade. A mediocridade da gestão era visível. Como a proposta de governo - chamar de projeto seria um exagero - era inexequível, resolveram manter a economia no mesmo rumo, o que foi reforçado no momento da alta internacional no preço das commodities.
Quando veio a crise internacional, no final de 2008, sem capacidade gerencial e criatividade econômica, abriram o baú da História, procurando encontrar soluções do século 20 para questões do século 21. O velho Estado reapareceu e distribuiu prebendas aos seus favoritos, a sempre voraz burguesia de rapina, tão brasileira como a jabuticaba. Evidentemente que só poderia dar errado. Errado se pensarmos no futuro do País. Quando se esgotou o ciclo de crescimento mundial - como em tantas outras vezes nos últimos três séculos -, o governo ficou, como está até hoje, buscando desesperadamente algum caminho. Sem perder de vista, claro, a eleição de 2014, pois tudo gira em torno da permanência no poder por mais um longo tempo, como profetizou recentemente o sentenciado José Dirceu.
Os bancos e as empresas estatais foram usados como instrumentos de política partidária, em correias de transmissão, para o que chamou o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, de "projeto criminoso de poder", quando do julgamento do mensalão. Os cargos de direção foram loteados entre as diferentes tendências do Partido dos Trabalhadores (PT) e o restante foi entregue à saciedade dos partidos da base aliada no Congresso Nacional. O PT transformou o patrimônio nacional, construído durante décadas, em moeda para obter recursos partidários e pessoais, como ficou demonstrado em vários escândalos durante a década.
O PT era considerado uma novidade na política brasileira. A "novidade" deu vida nova às oligarquias. É muito difícil encontrar nos últimos 50 anos um período tão longo de poder em que os velhos oligarcas tiveram tanto poder como agora. Usaram e abusaram dos recursos públicos e transformaram seus Estados em domínios familiares perpétuos. Esse congelamento da política é o maior obstáculo ao crescimento econômico e ao enfrentamento dos problemas sociais tão conhecidos de todos.
Não será tarefa fácil retirar o PT do poder. Foi criado um sólido bloco de sustentação que - enquanto a economia permitir - satisfaz o topo e a base da pirâmide. Na base, com os programas assistenciais que petrificam a miséria, mas garantem apoio político e algum tipo de satisfação econômica aos que vivem na pobreza absoluta. No topo, atendendo ao grande capital com uma política de cofres abertos, em que tudo pode, basta ser amigo do rei - a rainha é secundária.
A incapacidade da oposição de cumprir o seu papel facilitou em muito o domínio petista. Deu até um grau de eficiência política que o PT nunca teve. E o ano de 2005 foi o ponto de inflexão, quando a oposição, em meio ao escândalo do mensalão, e com a popularidade de Lula atingindo seu nível mais baixo, se omitiu, temendo perturbar a "paz social". Seu principal líder, Fernando Henrique Cardoso, disse que Lula já estava derrotado e bastaria levá-lo nas cordas até o ano seguinte para vencê-lo facilmente nas urnas. Como de hábito, a análise estava absolutamente equivocada. E a tragédia que vivemos é, em grande parte, devida a esse grave erro de 2005. Mas, apesar da oposição digna de uma ópera-bufa, os eleitores nunca deram ao PT, nas eleições presidenciais, uma vitória no primeiro turno.
O PT não esconde o que deseja. Sua direção partidária já ordenou aos milicianos que devem concentrar os seus ataques na imprensa e no Poder Judiciário. São os únicos obstáculos que ainda encontram pelo caminho. E até com ameaças diretas, como a feita na mensagem natalina - natalina, leitores! - de Gilberto Carvalho - ex-seminarista, registre-se - de que "o bicho vai pegar". A tarefa para 2013 é impor na agenda política o controle social da mídia e do Judiciário. Sabem que não será tarefa fácil, porém a simples ameaça pode-se transformar em instrumento de coação. O PT tem ódio das liberdades democráticas. Sabe que elas são o único obstáculo para o seu "projeto histórico". E eles não vão perdoar jamais que a direção petista de 2002 esteja hoje condenada à cadeia.
A década petista terminou. E nada melhor para ilustrar o fracasso do que o crescimento do produto interno bruto (PIB) de 1%. Foi uma década perdida. Não para os petistas e seus acólitos, claro. Estes enriqueceram, buscaram algum refinamento material e até ficaram "chiques", como a Rosemary Nóvoa de Noronha, sua melhor tradução. Mas o Brasil perdeu.
Poderíamos ter avançado melhorando a gestão pública e enfrentado com eficiência os nossos velhos problemas sociais, aqueles que os marqueteiros exploram a cada dois anos nos períodos eleitorais. Quase nada foi feito - basta citar a tragédia do saneamento básico ou os milhões de analfabetos.
Mas se estagnamos, outros países avançaram. E o Brasil continua a ser, como dizia Monteiro Lobato, "essa coisa inerme e enorme".

  MARCO ANTONIO VILLA É HISTORIADOR E PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFCAR) 

A história das constituições brasileiras: o livro e uma entrevista.

Segue link da entrevista concedida à Univesp TV para o jornalista Ederson Granetto tratando do meu livro "A história das constituições brasileiras. 200 anos de luta contra o arbítrio" (editora LeYa):

http://www.youtube.com/watch?v=k325AS9PEno

Mensalão, o livro e mais uma resenha

Segue resenha publicada no jornal Opção:


Edição 1955 de 23 a 29 de dezembro de 2012
Mensalão
O julgamento que desmascarou o PT
Para o historiador Marco Antonio Villa, autor do recém-lançado “Mensalão”, o julgamento do STF é um marco histórico, que mostra a verdadeira e antiga face do partido de Lula
Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski: embate permanente na Corte
José Maria e Silva
Em 15 de maio de 2005, um domingo, a revista “Veja” chegou às bancas trazendo uma notícia banal: a denúncia de que um funcionário dos Correios estava cobrando R$ 3 mil de empresários, a título de acerto, para que eles pudessem participar de licitações. Tratava-se de mais um caso de corrupção no setor público, algo tão corriqueiro no Brasil que não chama a atenção de ninguém, tanto que a revista nem deu ao fato o destaque principal, preferindo tratar como manchete a luta do ator Raul Cortez contra o câncer. E olha que a denúncia era baseada num vídeo de quase duas horas de duração, em que o empresário não só aparecia pedindo propina como também afirmava que o esquema de corrupção era comandado pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), um aliado do PT, que, como presidente do seu partido, dialogava com o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Como Roberto Jefferson tinha sido um dos principais líderes da “tropa de choque” do então presidente Fernando Collor de Mello, o novo caso de corrupção denunciado por “Veja” tendia a ser encarado com naturalidade e esquecido, com o passar das semanas. Tratava-se, aparentemente, de uma corrupção na periferia do poder, perpetrada por um aliado fisiológico do governo Lula, que o presidente e o PT, a contragosto, tiveram de engolir em nome da governabilidade. Quem poderia imaginar que o Partido dos Trabalhadores, a vestal da redemocratização do país, pudesse estar envolvido no maior escândalo documentado de corrupção de toda a história do Brasil, que acabaria rendendo no Supremo um processo de cerca de 5 mil páginas, 235 volumes, 600 testemunhas e cinco anos de investigações, apenas no âmbito da Justiça?

Afinal, exatos 13 anos antes da denúncia de propina nos Correios, que acabaria envolvendo o PT e o governo Lula, foi deflagrado o Movimento pela Ética na Política, mobilizando segmentos influentes da sociedade, como a OAB e a CNBB, e tendo entre seus principais arautos o Partido dos Traba­lha­dores, que não se conformava com a derrota de Lula em 1989 e tentava, de todas as formas, desestabilizar o governo Collor. Até então o PT era visto pela sociedade como um partido ético e idealista, cujas concessões para chegar ao poder eram apenas uma estratégia ditada pelas circunstâncias, sem abalar o compromisso do partido com a moralidade da vida pública. Mas esse encantamento do mundo político, sob a competente prestidigitação do PT, foi quebrado com o escândalo do Men­salão. É o que mostra o historiador Marco Antonio Villa no corajoso livro “Mensalão”, escrito no calor dos acontecimentos, como se dizia nos velhos tempos do jornalismo de papel, e publicado pela Leya, editora que pode se tornar um salutar contraponto mais à “direita” à Com­panhia das Letras.
O dissonante da academia

O historiador Marco Antonio Villa é uma das raras vozes dissonantes na academia brasileira, ao lado do sociólogo Demétrio Mag­noli, doutor em Geografia Humana pela USP, e do filósofo Denis Lerrer Rosenfield, doutor em filosofia em Paris e professor titular da Uni­versidade Federal do Rio Grande do Sul. Os três foram excomungados pela esquerda, que os trata como penas de aluguel da “imprensa golpista”. Devido à sua sistemática colaboração com a revista “Veja” desde que teve início o julgamento da Ação Penal 470, relativa ao mensalão, Marco Antonio Villa tem sido um dos mais atacados nos blogs influentes da esquerda, como o do jornalista Luis Nassif, que conta com dezenas de colaboradores. Mestre em Sociologia e doutor em História Social pela USP, Villa é professor associado da Univer­sidade Federal de São Carlos e já publicou vários livros, inclusive sobre líderes revolucionários. O primeiro, de 1984, foi “Pancho Villa: O Herói Des­foca­do”, publicado pela Editora Bra­siliense, a mais popular voz editorial da esquerda na época. Tam­bém escreveu sobre Canudos e é autor de “Vida e Morte no Sertão” (Ática, 2000), uma história das secas no Nordeste em que narra a fracassada saga dos camelos importados da África para servir de transporte no sertão.

Como se depreende de seu currículo, nem sempre a ocupação de Marco Antonio Villa como historiador foi a política atual, como pode parecer. Seu penúltimo livro foi “A História das Constituições Brasi­leiras” (Editora Leya, 2011), em que mostra as vicissitudes do constitucionalismo brasileiro ao longo do Império e da República, precariamente assentado na retórica e no fisiologismo. Já o “Mensalão”, o livro, talvez seja um trabalho mais de jornalista do que de historiador. Villa nem esperou a conclusão definitiva do julgamento da Ação Penal 470 para lançar a obra. Numa provável estratégia de marketing da Leya (carro-chefe de um grande grupo editorial português, que edita José Saramago e Antonio Lobo Antunes em Portugal), o lançamento do livro se deu em meio às últimas sessões da Ação Penal 470, quando o STF já estava discutindo a dosimetria das penas. O livro, impresso em novembro último, cobre o julgamento até o seu final, em outubro, quando se deu a condenação do comando petista do mensalão (José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares), classificada por Villa como “histórica, sem exagero”.

“Depois de sete anos de muitas polêmicas, pressões e acusações, havia sido condenada a direção do Partido dos Trabalhadores por corrupção ativa”, escreve Villa, tratando do 34ª sessão de julgamento, realizada em 10 de outubro, quando José Dirceu foi condenado por 8 votos contra 2, José Genoíno por 9 a 1 e Delúbio Soares por unanimidade. Na 39ª sessão, realizada em 22 de outubro, eles seriam condenados por formação de quadrilha, faltando apenas a dosimetria. “O PT que começou com a crise era um; o que terminou era outro”, sentencia Marco Antonio Villa. Mas ressalva: “Isso para efeito público. As práticas reveladas pela ação corajosa da CPI dos Correios não eram novas. Tinham alcançado grandes proporções, pois o partido detinha, desde 2003, o controle da máquina federal. Aquilo que era sabido e praticado pelos altos dirigentes desde priscas eras, era desconhecido por boa parte dos militantes e dos milhões de simpatizantes. Para muitos, que tinham acreditado piamente no discurso de que o PT era ‘contra tudo que estava aí’, como sinônimo de radical oposição ao status quo, o ano de 2005 havia sido terrível, cheio de desilusões. O encanto tinha acabado, como num conto de fadas. Mas com uma diferença: sem um final feliz”.
“Policial da Verdade”

O “Mensalão” de Marco An­tonio Villa foi escrito e editado de forma didática. Intercalando-se entre a narrativa da CPI Mista dos Correios e do processo no STF, há capítulos com páginas negras e fontes brancas, bem destacados, trazendo o dia a dia do Mensalão sintetizado em datas, a descrição jurídica dos crimes que estavam sendo julgados, a relação dos réus, dos crimes e das penas e um quadro com as condenações e absolvições de cada ministro. O contundente Joaquim Bar­bosa foi responsável por 96 condenações e apenas 16 absolvições, seguindo pelo estranho ministro Luiz Fux, com 93 condenações e 16 absolvições. No extremo oposto, Ricardo Lewandowski aparece com 70 absolvições e 42 condenações, seguido por Dias Tofolli com 61 absolvições e 51 condenações. Já o colegiado do STF (os ministros como um todo) foi responsável por 80 condenações e 32 absolvições. O resultado contrariou as expectativas do início do julgamento, quando “o sentimento de justiça estava no ar, mas também o de impunidade”, uma vez que, no julgamento de Fernando Collor, em dezembro de 1994, dos nove acusados no processo, apenas quatro foram condenados e o decano Celso Mello também votou pela absolvição de Collor por falta de provas.

Essa incerteza quanto ao julgamento decorria da própria peça acusatória, tachada pelos defensores dos réus de inconsistente e criticada, em alguns momentos, até pelo ministro Joaquim Barbosa. “Causou estranheza que muitos dos citados no relatório final da CPMI dos Correios e nas investigações da Polícia Federal acabaram não estando entre os acusados pela Pro­curadoria-Geral da República. O Banco BMG foi um deles”, lembra Villa. O BMG foi citado diversas vezes tanto na concessão de empréstimos considerados fantasiosos quanto no recebimento de autorização para realizar empréstimo consignado, uma operação milionária autorizada por medida provisória do presidente Lula, que ainda mandou cartas aos aposentados informando sobre o suposto beneficio de se endividar. O BMG vendeu sua carteira de empréstimos para a Caixa Econô­mica Federal por R$ 1 bilhão e, em agosto de 2012, quatro de seus diretores foram denunciados pela Procuradoria Geral da República em Minas Gerais, numa outra ação, devido a empréstimo para o PT. Também foi retirado da denúncia o nome do filho de Lula (Fábio Luis da Silva, o Lulinha), cuja empresa, a Gamecorp, recebeu R$ 5 milhões da Telemar, hoje Oi.

Mesmo assim, Lula ficou muito irritado quando viu que o julgamento do mensalão entrou na pauta do Supremo, com data marcada, e não seria protelado até que todos os crime prescrevessem. Quando do recebimento da denúncia, em 2007, o então presidente Lula disse que “61% do povo deu a resposta na eleição do ano passado”. Marco Antonio Villa comenta: “Fazia referência à eleição presidencial de 2006, como se um fato tivesse relação com outro, ou, ainda pior, como se uma eleição significasse uma espécie de anistia aos crimes cometidos pelo governo e seus asseclas”. Lula reagiu, pressionando ministros do Supremo, inclusive Gilmar Mendes, tentando envolvê-lo nas investigações da CPI do Cachoeira, na esperança de protelar o julgamento até 2013, para não coincidir com as eleições deste ano. O historiador lembra que Lula, fortalecido pela reeleição, “passou todo o segundo mandato dizendo que o mensalão nunca tinha existido, mas o ‘policial da verdade’ fracassou para o bem da democracia brasileira”.
Vitória de Joaquim Barbosa

A primeira sessão do Supremo Tribunal Federal para apreciar a denúncia da Procuradoria da República sobre o mensalão foi em 22 de agosto de 2007, totalizando 36 horas de trabalho em cinco dias. O inquérito tinha 11.200 páginas, 41 testemunhas e 40 réus. O então procurador-geral Antonio Fernando de Souza — que o seu colega Manoel Pastana acusa de ter deixado Lula de fora da ação propositalmente — sustentou sua denúncia em 136 páginas, em que aparece sete vezes a palavra “quadrilha” e José Dirceu era apontado como chefe do esquema. O ministro Joaquim Barbosa foi escolhido por sorteio para ser o relator e, segundo Marco Antonio Villa, ele foi o grande vencedor no processo do mensalão, pois, no âmbito interno do STF, ganhou todas as 112 votações, das quais 96 por unanimidade. O que não era nada fácil. Já na fase de recebimento da denúncia, o clima estava tenso em Brasília. Só os advogados diretamente envolvidos com o processo eram 150. “Especulava-se que o conjunto da defesa receberia 60 milhões de reais. Só um dos réus pagaria ao seu defensor 30 milhões de reais”, conta Villa.

“Era voz corrente que a ação penal seria julgada no segundo semestre de 2010. Contudo, estendeu-se até dezembro de 2011, quando a ação foi encaminhada pelo ministro revisor, Ricardo Lewan­dowski”, afirma Villa, acrescentando que a imprensa criticava a morosidade do processo, com receio de que as penas dos eventuais condenados prescrevessem. Era a aposta de Lula. “Essa estratégia, digna de um Ministério da Verdade orwelliano estava dando certo”, observa o historiador.  O PT passou a apostar na lentidão da revisão, já que Lewandowski, ao contrário de Bar­bosa, encampou quase todas as teses da defesa, desde o recebimento da denúncia, quando chegou a ser flagrado ao telefone dizendo que estava “tinindo nos cascos” para se contrapor a Joaquim Barbosa. “A delonga na revisão foi logo percebida. A pressão dos próprios colegas — e, em especial, do ministro Ayres Brito — emparedou Lewandowski. O relatório da revisão foi entregue no primeiro semestre e o julgamento marcado para agosto, logo depois das férias. Em represália, o ministro não compareceu à reunião que estabeleceu o calendário do julgamento (Dias Toffoli também não — estava numa festa de casamento de um banqueiro em São Paulo)”, conta Villa.

Quando o julgamento da Ação Penal 470 (o Mensalão) teve início em 2 de agosto deste ano, já era previsto o constante embate entre Joaquim Barbosa, o relator, e Ricardo Lewandowski, o revisor. Volta e meia, Barbosa também se desentendia com Marco Aurelio Mello, mas a serenidade do ex-petista Ayres Brito, presidente da Corte, acabava acalmando o conflagrado ambiente. Devido aos seus problemas de saúde, Joaquim Barbosa passava a maior parte das sessões de pé, atrás do plenário, dispunha de uma sala especial, com um fisioterapeuta, que o atendia nos momentos de maior dor. Seu “longo e indignado relatório demonstrou como o aparelho de estado foi tomado por um projeto de poder corrupto e autoritário”, escreve Villa, que também reproduz no livro dois poemas de Ayres Brito, um singelo, quase de autoajuda, falando de céus e colibris, e outro panfletário, praticamente debitando o crime à conta da desigualdade social.
O Poderoso Dirceu



José Dirceu, como o réu mais poderoso entre os 40, é impiedosamente criticado por Marco Antonio Villa. O historiador não acredita na história de que Dirceu fez e refez o rosto por meio de cirurgias plásticas em Cuba na época que esteve envolvido na luta armada e, depois, escondido no interior do Paraná. “Se a história de José Dirceu é marcada pela fantasia, sua defesa no processo do mensalão não ficou atrás”, diz Villa, lembrando que o ex-ministro de Lula plantou na imprensa que pretendia fazer sua própria defesa, como Fidel Castro, em 1953, quando foi processado pelo ataque ao Quartel de Moncada. “Depois afirmou que pretendia liderar movimentos sociais para pressionar o STF. Mais uma balela. Sempre contando com generoso espaço na imprensa”, ironiza o historiador. O advogado de Dirceu, José Lins de Oliveira Lima, não ficou atrás nas bravatas: disse “o pedido de condenação de José Dirceu é o mais atrevido e escandaloso ataque à Constituição”.

Essa, aliás, foi a tônica dos réus petistas, que trataram a denúncia contra eles como um atentado à democracia e aos direitos humanos. O advogado de José Genoíno, Luiz Fernando Pacheco, “considerou a denúncia uma extensão do direito penal nazista”. Já o advogado de Delúbio Soares, Arnaldo Malheiros, autor intelectual da tese do caixa dois de campanha, além de falar “tranquilamente da compra do PL por 10 milhões de reais, como se fosse algo absolutamente rotineiro, normal, da política”, também mencionou a crucificação de Cristo e a libertação de Barrabás, dando a entender que seu cliente estava sendo sacrificado. O advogado de Simone Vasconcelos, Leonardo Yarochewsky, encarando o procurador-geral Roberto Gurgel, recitou versos de “Apesar de Você”, de Chico Buarque, “como se ele fosse o representante de um poder discricionário, tal qual o ministro da Justiça de Costa e Silva, Gama e Silva, para quem havia sido dirigida originalmente a música”. Villa ironiza o excesso de citação de Chico Buarque no STF, que poderia levar um estrangeiro a pensar que o compositor é o “Shakespeare brasileiro”.

À defesa dos réus não faltou histrionismo. O defensor da secretária de Paulo Rocha, Luiz Maximiano Mota, olhando para o procurador-geral, disse que não iria citar Chico Buarque (“já deu o que tinha que dar”) e lascou Cazuza: “Procurador, sua piscina está cheia de ratos. As tuas ideias não correspondem aos fatos. O tempo não para”. Já o advogado Paulo Sérgio Abreu, defensor de Geiza dos Santos, referiu-se a ela como funcionária “mequetrefe” de Simone Vascon­celos. E explicou: “Pensei em me referir a ela como funcionária ‘baranga’, mas seria muito deselegante e inapropriado. Estava lá em casa, semana passada, tomando cerveja e o ‘mequetrefe’ apareceu, feito uma luz. Falei: é esse”. Mas para Villa, a pior defesa foi a do famoso Antônio Carlos de Almeida Castro, mais conhecido como Kakay, advogado de Demóstenes Torres e “dono de restaurante em Brasília que exerce ainda a profissão de advogado”. Kakay sugeriu que Gurgel deve a ele o cargo, por pertencer ao grupo de Claudio Fon­teles, seu antecessor, indicado por Kakay.
O fiasco de Thomaz Bastos



Além do histrionismo, não faltou falsa erudição. O advogado de Ramon Hollerbach, Hermes Guerrero, citou Alexandre Herculano ao cabo de sua sustentação oral: “Debaixo dos pés de cada geração que passa na terra dormem as cinzas de muitas gerações que a precederam”. A frase do romancista e historiador português é antológica, mas nada tinha a ver com a defesa que o advogado fazia de seu cliente. Erro em que também incorreu o advogado Alberto Toron, defensor do deputado petista João Paulo Cunha. Ele citou Oswald de Andrade, justamente num trecho em que o escritor modernista desanca a retórica dos advogados. O que leva Marco Antonio Villa a afirmar que Toron deveria ter citado outro trecho do iconoclasta “Manifesto Antropofágico”: “Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós”.

Nem Márcio Thomaz Bastos, apelidado de “God” (Deus) e amigo de Lula, escapou da mediocridade. Conta Villa: “Inseguro, como se ainda estivesse na Câmara Municipal de Cruzeiro, no Vale do Paraíba, onde foi vereador pela Arena — partido da ditadura militar —, Bastos começou dizendo que os ministros não deveriam esperar ‘uma defesa sintética, uma defesa brilhante’. Estranha ponderação”. Villa mostra a fragilidade da argumentação de Thomaz Bastos: “Disse que sua defesa era ‘fastidiosa’ e que ‘para o bem de todos nós’ iria terminar. Não sem antes, claro, fazer uma citação de Rui Barbosa, que, na verdade, é de segunda mão, pois trata-se de uma passagem de Ésquilo: ‘Eu instituo este tribunal venerando, severo, incorruptível, guarda vigilante desta terra através do sono de todos, e anuncio aos cidadãos para que assim seja de hoje pelo futuro adiante’. Con­venhamos, a citação era vazia para o processo em tela. Inclusive porque podia dar vezo a várias interpretações, como a passagem ‘eu instituo este tribunal’. Como é sabido, dos atuais onze ministros, Bastos teve participação direta na nomeação de oito deles”.
“Condenação histórica”

O historiador conclui sobre a atuação dos advogados: “A corte já estava exausta. Não só ela. Qualquer um que estivesse assistindo àquela sessão não aguentaria mais a linguagem rebuscada e vazia dos advogados, o latinório primário, os gestos aprendidos em algum cursinho, a dicção e seus falsetes de indignação, em suma, todos os recursos usados habitualmente em um tribunal do júri estão sendo repetidos em pleno STF”. O próprio Supremo Tribunal Federal, apesar de ter levado a cabo o julgamento e merecer elogios por isso no livro, também é passível de críticas pontuais do historiador: “Mais uma vez ficou patente que o STF não conseguia agir como um colegiado. Cada ministro era um tribunal. A imprensa era utilizada para um ministro atacar o outro. E durante o julgamento do mensalão isso ocorreu diversas vezes.”

O que não impediu o Supremo de condenar não só os políticos, mas também os empresários envolvidos no esquema. O que, para Villa, é um fato inédito. “A condenação dos diretores do Banco Rural, sem exageros, pode ser considerada histórica”, escreve, lembrando que o banco esteve envolvido em outros escândalos, como o caso PC Farias, que levou à queda de Collor. “Nos últimos quarenta anos, o sistema financeiro brasileiro foi marcado por fraudes monumentais, mas os dirigentes dessas instituições acabaram sempre impunes. (...) A decisão do STF certamente influencia as instâncias inferiores da Justiça ao tratar de crimes financeiros. E, dessa vez, o sinal era claro: não haveria mais contemplação com os poderosos”.

Para Marco Antonio Villa, “a derrota dos advogados mais caros do processo — Márcio Thomaz Bastos e José Carlos Dias, que teriam recebido juntos 28 milhões de reais pela defesa (Bastos com 20 milhões e Dias com 8 milhões) — também representou um alerta de que não bastava contratar um defensor de renome que o réu, independentemente da provas, seria absolvido”. Para o historiador Marco Antonio Villa, a decisão do STF dá um alento de que “é possível imaginar uma República em que os valores predominantes não sejam o da malandragem e da corrupção”, mas “para que isso se materialize de forma permanente é preciso mudar radicalmente a forma de fazer política e de participar dela”. E conclui utopicamente acadêmico: “É preciso refundar a República. Caso contrário, outros Delúbios, Josés, Marcos, Kátias, Valdemares surgirão”. 

Mensalão, o livro e uma resenha

Transcrevo  a resenha de Hugo Souza publicada no site "Opinião&Notícia":


Livro sobre o mensalão: o ‘encanto petista’ se desfez?

Historiador Marco Antonio Villa lança livro sobre julgamento, documentando o escândalo deste os seus primórdios até a dosimetria

por Hugo Souza
fonte | A A A
O julgamento do mensalão, vulgo “do século”, nem havia terminado e já acontecia, no último dia 10 de dezembro, em São Paulo, o lançamento do primeiro livro sobre este que para alguns, inclusive para o autor, é um dos mais importantes capítulos da história recente do Brasil, senão de toda a história desta podre República. Trata-se da obra “Men$alão – o julgamento do maior caso de corrupção da história política brasileira”, do historiador Marco Antonio Villa (Editora LeYa; 392 páginas; 31,90 reais).
O livro de Marco Antonio Villa tem orelhas, apresentação e uma epígrafe de página inteira recheada de adjetivações sobre o mensalão e seus artífices escritas não apenas pelo autor, mas tomadas emprestadas de declarações do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e do decano do Supremo Tribunal Federal, ministro Celso de Mello: “cultura da transgressão”, “prática ordinária e desonesta do poder”, “marginais do poder”, “sórdidas práticas criminosas”, “delinquentes”, “sofisticada organização criminosa“, “o maior escândalo da história” e, por último, mas não por menor importância, “projeto de poder de continuísmo seco, raso. Golpe, portanto”.
Tudo, talvez, para preparar o estômago do leitor para um longo relato com ares jornalísticos sobre o escândalo do mensalão, relato que se inicia com um capítulo sugestivamente intitulado “O assalto” e que abarca desde a reportagem da revista Veja publicada em maio de 2005 sobre o vídeo mostrando um funcionário dos Correios, Maurício Marinho, chamando Roberto Jefferson de “doidão” até a fase da dosimetria, ou seja, da definição das penas para os condenados por participação no esquema de corrupção que, antes de fomes zeros ou assistencialismos eleitoreiros que tais, marcou a  presidência de Luiz Inácio Lula da Silva.
O Estado dos apadrinhados, genros…
Entre a reportagem de Veja e a dosimetria no STF, a história mais que recente contada por Marco Antonio Villa passa por episódios como o governo Lula liberando R$ 773 milhões para parlamentares a fim de tentar evitar a instauração da CPI dos Correios; pelo senador Eduardo Suplicy assinando o requerimento de CPI com lágrimas nos olhos, pelo banho de mídia, por assim dizer, dado por Roberto Jefferson em José Dirceu, sintetizado no famoso “Sai daí, Zé!” dito em uma sessão da Comissão de Ética da Câmara, para delírio da imprensa presente; pelo relatório final na CPI, em que o nome de Lula não apareceu uma vez sequer ao longo das 1.800 páginas, prenunciando o que aconteceria no inquérito do Ministério Público e no próprio julgamento do mensalão; e pela minuciosa, mas não maçante, descrição do dia-a-dia dos trabalhos no Supremo, com direito à reprodução ipsis literis do embate entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, acerca do desmembramento do processo, logo no primeiro dia do julgamento.
E talvez esteja aí o maior mérito do livro: reviver em uma brochura só quase oito anos de muitas notícias sobre gigantescos mal feitos levados a cabo no alto escalão da administração da República: toda uma gama de escândalos secundários dentro de um escândalo maior, algo que nem sempre as rotinas de produção da imprensa dão conta de encadear e dar sentido ao seu conjunto a ponto de fazer com que a indignação seja proporcional ao colossal tamanho da podridão do velho Estado brasileiro.
É o velho Estado dos apadrinhados, genros, amigos enriquecendo por meio da gigantesca teia da burocracia estatal, do dinheiro sujo, clandestino, lavado, escamoteado, sendo repassado a parlamentares em quartos de hotéis, transportado via cuecas e malotes, movimentado até em carro forte (Simone Vasconcelos alugou um para levar R$ 650 mil de uma agência do Banco Rural para a filial em Brasília da SMP&B de Marcos Valério), ou mesmo sacado na boca do caixa de bancos parceiros da farra.
‘Tese das urnas’
Já o maior “senão” do livro express de Marco Antonio Villa talvez seja exatamente a pressa em afirmar que o escândalo do mensalão desfez o “encanto petista”. Está certo que Villa se refere à imagem do PT como defensor da ética na política, da moralidade, enquanto organização contrária a “tudo isto que está aí”, frase de efeito que os dirigentes e a militância cansaram de repetir durante os anos em que o partido fazia oposição.
Porém, fato é que nas urnas o PT continua, digamos, “encantado”, algo de que os próprios condenados do mensalão não param de se gabar. Como o autor bem ressalta, José Dirceu, na reunião da direção nacional do PT realizada logo após o veredicto com sua condenação, disse que a melhor resposta que o partido poderia dar seria vencer as eleições municipais deste ano, como de fato venceu, e derrotar “nossos adversários”. Já Genoino, quando condenado, cacarejou: “O julgamento da população sempre nos favorecerá”.
Ainda acerca do que chama de “tese das urnas”, Villa cita também a declaração dada pelo ex-presidente Lula na Argentina na sequência das condenações dos companheiros, de que sua reeleição em 2006 havia sido sua “absolvição”. O historiador se refere a uma entrevista de Lula ao diário portenho La Nación em que o ex-presidente disse: “Eu já fui julgado. A eleição da Dilma foi um julgamento extraordinário. Para um presidente com oito anos de mandato, sair com 87% de aprovação é um grande juízo e não me preocupo com nada”.
‘O país vai continuar normal’
“Estabelecendo um paralelo absolutamente inexistente entre os votos dos ministros em um processo recheado de provas e uma eleição presidencial, em que o eleitor escolhe um candidato em meio a uma campanha”, diz Villa com precisão, já nas últimas páginas do livro, sobre a declaração de Lula na Argentina, mas acossado pelo fato de que toda a sórdida história por ele narrada parece que não resultará em consequências mais práticas, diretas, para a política nacional, muito menos para o chefe do Executivo à época da vigência do esquema do mensalão como principal instrumento para a perpetuação do seu partido no poder.
Já se tenta desqualificar o livro de Marco Antonio Villa com base no suposto fato de que ele é um intelectual ligado, ou no mínimo simpático a grupos de poder eleitoreiros rivais do PT, como de fato ele deixa transparecer logo na abertura do livro ao contextualizar a eclosão do escândalo do mensalão:
“Luiz Inácio Lula da Silva já havia completado metade do seu mandato presidencial. Não havia nada de especial que notabilizasse seu governo. Se a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto, em 2004, tinha sido de 5,7%, a do ano anterior havia se mostrado muito ruim: 1,1%. Isso quando, em 2002, último ano da gestão de Fernando Henrique Cardoso, a taxa tinha alcançado 2,7%”.
É do jogo. O mesmo acontece, mas no sentido inverso, quando um livro anti-tucano é publicado por alguém, assumidamente ou não, ligado ao PT. Isto apenas evidencia a miséria da nossa literatura política. O livro de Villa talvez seja uma exceção, em parte, devido ao seu teor altamente documental.
“O país vai continuar normal”, disse Marcos Valério lá no início da CPI dos Correios, e na página 38 do livro de Marco Antonio Villa, referindo-se à sua convicção de que a República não cairia por sua causa, mas talvez também profetizando, com a autoridade de um “verdadeiro profissional do crime”, nas palavras do ex-procurador Antonio Fernando de Souza, que não há imprensa, polícia, comissão, tribunal ou livro capaz de mudar a natureza corrupta de um Estado que parece só funcionar na base da falcatrua, seja lá a sigla que se empoleirar no poder.

A piada do dia.

Do blog do sentenciado José Dirceu:



O ano da conclusão de uma farsa 


O ano de 2012 entrará para a história do Brasil como o de concretização de uma farsa político-jurídica e midiática elaborada e montada com o objetivo maior de, por vias indiretas, atingir o projeto de desenvolvimento do país iniciado com a chegada do companheiro Lula à Presidência da República.

Maranhão: a terra do medo.

Como repercutiu bem o artigo "O Estado do medo", republico uma entrevista que dei à Folha de S. Paulo em junho de 2009. O tema é a relação entre Lula - no exercício da Presidência - e José Ribamar Costa, vulgo José Sarney. Observem que a jornalista fez referência a um outro artigo meu, de outubro de 2005, que também denunciava a famiglia Sarney, especialmente seu chefe, José Ribamar.


Entrevista - Marco Antonio Villa
Folha de S. Paulo - 28/06/2009

SARNEY NÃO DEVERÁ RENUNCIAR, DIZ HISTORIADOR

Marco Antonio Villa, da UFSCar, avalia que presidente do Senado só deixa o cargo se isso ajudar Roseana


FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL


Marco Antonio Villa, professor de história da Universidade Federal de São Carlos, escreveu em outubro de 2005 o artigo "A crise política e o coronelismo", na Folha. O texto gerou polêmica por conta das críticas a José Sarney (um dos filhos do senador enviou carta ao jornal respondendo ao historiador). Quatro anos depois, Villa diz que nada mudou em sua análise. Pelo contrário, a situação piorou: "É a pior crise na história do Senado republicano". Para o professor, a tendência é de que Sarney se mantenha no cargo, pois tem o apoio da maioria dos senadores. Villa diz que o presidente da Casa só deixará a cadeira se calcular que isso beneficiará as pretensões da família no Maranhão. 


FOLHA - Em 2005, o sr. escreveu um artigo que gerou polêmica pelas duras criticas a Sarney. Quatro anos depois, o que mudou na sua análise? 
MARCO ANTONIO VILLA - Infelizmente nada. José Sarney mantém hoje relações até mais extensas com o governo federal. O poder local, provincial, que ele tem, deve-se às relações estreitas com o governo federal. Só é um cacique tão poderoso porque controla as nomeações federais para o Maranhão, os recursos orçamentários. É um intermediário -na minha opinião perverso- entre o governo federal e o Maranhão. Sarney é o maior, o mais antigo dos oligarcas e o de maior êxito. 

FOLHA - O que essa atual crise do Senado tem de peculiar? 
VILLA - É a maior crise do Senado republicano. O início de tudo foi a eleição da Mesa Diretora, mas ninguém imaginava que iria alcançar tamanhas proporções. Pela primeira vez ficou claro que o Senado era dirigido por funcionários que transformaram crimes em algo cotidiano, como se fossem atos normais. É algo muito grave. 

FOLHA - Que consequências práticas a atual crise pode trazer? 
VILLA - O Ministério Público terá que atuar, porque foram cometidos crimes gravíssimos. Esse é um dos pontos centrais da grave crise ética que vivemos. Não é possível ter mais de 600 atos sigilosos e a Justiça não fazer nada. Os escândalos envolvendo Renan Calheiros em 2007 são coisas de criança se comparados aos deste ano. 

FOLHA - Renan renunciou à presidência. Sarney pode renunciar? 
VILLA - A maioria do Senado não é contrária ao Sarney e tudo indica que não deva mudar de opinião porque tem práticas pouco republicanas e não acredita que a ação do Sarney seja algo negativo para a Casa. Ao contrário, acha isso natural. Os senadores (inclusive aqueles que se destacam pelo discurso da ética) foram coniventes com esses atos secretos. A grande maioria foi beneficiada. Isso explica a dificuldade do próprio Senado ter condição de se reformar. Agora, se as revelações continuarem, pode ser que o caminho seja a renúncia. 

FOLHA - Por quê? 
VILLA - Sarney raciocina pensando nos interesses da sua família. Creio que o grande temor de renunciar à presidência do Senado é o de perder influência no governo federal e isso prejudicar os interesses da família. É esse raciocínio que ele vai utilizar para decidir se renuncia ou não. A saída só ocorrerá se ele perceber que a avalanche de denúncias chegou a tal ponto que coloca em risco o domínio da família no Maranhão e a eleição de Roseana ao governo estadual em 2010. Ele é um bom chefe de família, basta ver o número de familiares que empregou no Senado. Muitos senadores jogam com o esquecimento. Sarney bem que poderá dizer ao Renan: "Eu sou você amanhã". Renan usou a estratégia de se retirar dos holofotes e se deu bem. Antonio Carlos Magalhães renunciou ao mandato e voltou eleito senador. 

FOLHA - O que o sr. achou da declaração de Sarney de que sofre ataques porque apoia Lula? 
VILLA - É uma estratégia porque ele precisa se manter próximo do presidente. O oligarca só tem poder na província porque tem forte poder central. Romper o poder coronelístico por dentro, na própria província, é tarefa quase impossível. Por isso torço para que o próximo presidente consiga destruir a fonte do poder dos oligarcas: as relações privilegiadas que o clã mantém com a União.
A questão central é que, hoje, Lula e Sarney são unha e carne, faces da mesma moeda. Por incrível que pareça, eles não se distinguem, o que é estranho pelas histórias tão distintas. A crise ética no Brasil chegou a tal ponto que não há mais distinção entre o Lula e o Sarney.

Mensalão: entrevista para o Zero Hora


ENTREVISTA


“Um passo para enfrentarmos a corrupção”

Autor do livro Mensalão – O julgamento do maior caso de
corrupção da história brasileira, que acaba de ser lançado
pela editora Leya Brasil, o historiador Marco Antonio Villa é
categórico ao avaliar o resultado da ação penal 470: para ele, o
desfecho do processo terá um efeito pedagógico no país. Confira
trechos da entrevista.


Zero Hora – Daqui para frente, após
o mensalão, a corrupção será punida
com mais rigor no Brasil?
Marco Antonio Villa – Sim. O julgamento
do mensalão pelo Supremo Tribunal
Federal inicia o processo, longo, é claro,
de refundação da República brasileira.
Estamos começando a combater a impunidade.
É o primeiro passo para enfrentarmos
a corrupção


ZH – A condenação dos réus, com penas
consideradas pesadas, pode inibir
a atuação de corruptos e corruptores?
Villa – Sim. A punição é pedagógica.
Não se trata de uma questão de vingança.
A questão é outra: estamos falando no papel
pedagógico das penas e da defesa do
Estado Democrático de Direito no Brasil,
que foi ameaçado pelos quadrilheiros do
mensalão.


ZH – Na sua opinião, muda alguma
coisa para o brasileiro comum depois
do julgamento?
Villa – Muda muito. Quando um corrupto
de uma pequena cidade do interior
assistir pela TV José Dirceu (o ministro da
Casa Civil no primeiro governo Lula, considerado
pelo Supremo o chefe do mensalão),
condenado a 10 anos e 10 meses de reclusão,
entrando numa penitenciária, certamente
vai pensar duas vezes antes de cometer
algum ilícito contra a coisa pública.
Como disse o ministro Celso de Mello, não
devemos nos esquecer de que a República
é formada por cidadãos que são iguais em
direitos e deveres. Por isso, o julgamento e
a condenação dos 25 réus são um marco
na história do Brasil republicano.



A piada do dia (mais uma).

Deu no site da Rádio Metrópole (Salvador, Bahia):

15h37 em Política

A piada do dia.

Hoje na Folha:

Após Rose e Valério, Lula só dá entrevistas à TVT

Estado do medo - a minha brevíssima resposta

A minha brevíssima resposta ao jornal sobre a carta do secretário de Roseana: 

O autor não retira nenhum dado ou informação constante do artigo. Infelizmente, a situação no Maranhão é muito mais grave do que a retratada no artigo.

O Estado do medo - a resposta do governo.


O texto de Marco Antonio Villa, em O Globo de 25.12.2012, sob o título “O Estado do medo”, é um amontoado de desinformações.
Começa por dizer que, aqui, “o medo está em cada esquina”. Tal afirmação não procede. Desfrutamos de um dos menores índices de violência do Brasil, das taxas mais baixas de homicídios por grupos de 100 mil habitantes e da competência do aparelho policial que beira os 100% de resolução das ocorrências registradas.
Depois ele fala da derrubada do mandato de Jackson Lago, em 2009, atribuindo isso ao Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. Não é verdade. Quem cassou o ex-governador foi o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base nas provas materializadas em vídeos e depoimentos. Mais de R$ 1 bilhão em dinheiro utilizado na compra de votos. No TRE daqui, o processo não deu um passo.
Ele fala que o Maranhão é o Estado mais pobre do Brasil. Nada disso. No último PIB ficamos em 16º lugar, o 12º que mais cresceu de um ano para o outro no Brasil e o segundo que mais evoluiu no Nordeste. Se ele quis se referir a PIB per capita, faltou citar que o Maranhão é o Estado mais rural do Brasil, com mais de 40% da sua população vivendo da informalidade do campo, e que na última medição do IBGE, enquanto a Bahia desceu sua população em mais de 250 mil habitantes, assim como todos os demais estados nordestinos, o Maranhão cresceu seu contingente populacional em mais de 600 mil pessoas, claro que abrigando em seus vales úmidos, entre outros, os foragidos das intempéries, tanto do Nordeste como do Norte.
Quando trata de mudança em artigo da Constituição Estadual, comete outro equívoco. Roseana Sarney deixou o governo do Maranhão em abril de 2002, portanto, não pode ser responsável por mudança feita no documento em janeiro de 2003, quando o governador já era outro.
Ele fala do sobrenome Sarney nas fachadas de equipamentos públicos. Uma verdade. Porém, também é verdade que há outros nomes e sobrenomes, de gente viva da oposição, o que comprova uma característica das gentes daqui, de homenagear pessoas dessa maneira. Nem a cidade de Presidente Sarney ou qualquer outra fachada com nome da governadora do estado foi iniciativa dos homenageados.
Por fim, ele fala que o atual Governo do Maranhão criou uma lei própria de licitações, se sobrepondo à Federal 8.666. Desinformação. O Artigo 118 da Lei nº 8.666 determina que os estados criem suas leis de licitações tendo como parâmetros os estabelecidos pela Lei Federal. Bahia, Espírito Santo, Paraná e outros fizeram isso muito antes. A do Maranhão, tida como a mais moderna de todas, foi implantada na presença do presidente do Tribunal de Contas da União, TCU, Benjamin Zimler, com notas de elogio deste.
No mais, o Maranhão é hoje destino de mais de R$ 120 bilhões em investimentos, públicos e privados, tem gigantescas jazidas de gás descobertas e já em fase de exploração, tem uma perspectiva de 250 mil novas vagas de emprego, o seu conjunto portuário se expande e em breve será um dos principais do mundo e tem em andamento a implantação da maior refinaria de petróleo do Brasil. Dessas boas notícias o professor Marco Antonio Villa não tem conhecimento. 

Sérgio Macedo
Secretário de Comunicação Social do Estado 
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Sobre o artigo “O estado do medo” (Marco Antonio Villa, 25/12), não procede a informação de que, aqui, “o medo está em cada esquina”. Desfrutamos de um dos menores índices de violência do Brasil, das taxas mais baixas de homicídios por grupos de 100 mil habitantes e da competência do aparelho policial que beira os 100% de resolução das ocorrências registradas. A respeito da cassação de Jackson Lago, em 2009,  foi o TSE, com base nas provas materializadas em vídeos e depoimentos.  No TRE daqui, o processo não deu um passo. Ele fala que o Maranhão é o estado mais pobre do Brasil. No último PIB ficamos em 16º lugar, o 12º que mais cresceu de um ano para o outro no Brasil e o segundo que mais evoluiu no Nordeste. Quando trata de mudança em artigo da Constituição Estadual, comete outro equívoco. Roseana Sarney deixou o governo do Maranhão em abril de 2002, portanto, não pode ser responsável por mudança feita no documento em janeiro de 2003. Sobre o sobrenome Sarney nas fachadas de equipamentos públicos, é  verdade, porém, também é verdade que há outros nomes e sobrenomes, de gente viva da oposição, o que comprova uma característica daqui, de homenagear pessoas dessa maneira. Nem a cidade de Presidente Sarney ou qualquer outra fachada com nome da governadora foram iniciativas dos homenageados. Por fim,  fala que o atual Governo do Maranhão criou uma lei própria de licitações, sobrepondo-se à federal, 8.666.  O artigo 118 da Lei nº 8.666 determina que os estados criem suas leis de licitações tendo como parâmetros os estabelecidos pela lei federal. 

Sérgio Macedo
Secretário de Comunicação Social do Estado 

O Estado do medo.

Publiquei hoje n'O Globo:


O Estado do medo - Marco Antonio Villa


Em meio ao processo do mensalão, as diversas operações da Polícia Federal ou a turbulenta relação entre os poderes da República, o Brasil esqueceu do Maranhão. Na fase final da guerra contra Canudos, em 1897, os oficiais militares costumavam dizer que não viam a hora de voltar para o Brasil. Quem hoje visita o Maranhão fica com a mesma impressão. É um estado onde o medo está em cada esquina, onde as leis da República são desprezadas. Lá tudo depende de um sobrenome: Sarney. Os três poderes são controlados pela família do, como diria Euclides da Cunha, senhor do baraço e do cutelo. A relação incestuosa dos poderes é considerada como algo absolutamente natural. Tanto que, em 2009, o Tribunal Regional Eleitoral anulou a eleição para o governo estadual. O vencedor foi Jackson Lago, adversário figadal da oligarquia mais nefasta da história do Brasil. O donatário da capitania - lá ainda se mantém informalmente o regime adotado em 1534 por D. João III - ficou indignado com o resultado das urnas. A eleição acabou anulada pelo TRE, que tinha como vice-presidente (depois assumiu a presidência) a tia da beneficiária, Roseana Sarney.

No estado onde o coronel tudo pode, a Constituição Federal é só um enfeite. Lá, diversos artigos que vigoram em todo o Brasil, são considerados nulos, pela jurisprudência da famiglia . O artigo 37 da nossa Constituição, tanto no caput como no §1º, é muito claro. Reza que a administração pública "obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência" e "a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos". Contudo, a Constituição maranhense, no artigo 19, XXI, § 9º determina que "é proibida a denominação de obras e logradouros públicos com o nome de pessoas vivas, excetuando-se da aplicação deste dispositivo as pessoas vivas consagradas notória e internacionalmente como ilustres ou que tenham prestado relevantes serviços à comunidade na qual está localizada a obra ou logradouro".

Note, leitor, especialmente a seguinte passagem: "excetuando-se da aplicação deste dispositivo as pessoas vivas e consagradas notória e internacionalmente como ilustres". Nem preciso dizer quem é o "mais ilustre" daquele estado - e que o provincianismo e o mandonismo imaginam que tenha "consagração internacional." Contudo, a redação original do artigo era bem outra: "É vedada a alteração dos nomes dos próprios públicos estaduais e municipais que contenham nome de pessoas, fatos históricos ou geográficos, salvo para correção ou adequação nos termos da lei; é vedada também a inscrição de símbolos ou nomes de autoridades ou administradores em placas indicadores de obras ou em veículos de propriedade ou a serviço da administração pública direta, indireta ou fundacional do Estado e dos Municípios, inclusive a atribuição de nome de pessoa viva a bem público de qualquer natureza pertencente ao Estado e ao Município". Quando foi feita a mudança? A 24 de janeiro de 2003, com o apoio decisivo de Roseana Sarney. Desta forma foi permitido que centenas - centenas, sem exagero - de logradouros e edifícios públicos recebessem, em todo o estado, denominações de familiares, especialmente do chefe. Para mostrar o desprezo pela ordem legal, em 1997 foi criado o município de Presidente Sarney, isto quando a Constituição Federal proíbe e a estadual ainda proibia. Quem criou o município? Foi a filha, no exercício do governo. Mas a homenagem ficou somente na denominação do município. Pena. Os pobres sarneyenses - é o gentílico - vivem em condições miseráveis: é um dos municípios que detêm os piores índices de desenvolvimento humano no Brasil.

Como o Brasil esqueceu o Maranhão, a família faz o que bem entende. E isto desde 1965! Sabe que adquiriu impunidade pelo silêncio (cúmplice) dos brasileiros. Mas, no estado onde a política se confunde com o realismo fantástico, o maior equívoco é imaginar que todas as mazelas já foram feitas. Não, absolutamente não. A governadora resolveu fazer uma lei própria sobre licitação. Como é sabido, a lei federal 8.666 regulamenta e tenta moralizar as licitações. Mas não no Maranhão. Por medida provisória, Roseana Sarney adotou uma legislação peculiar, que dispensa a "emergência", substituída pela "urgência". Quem determina se é ou não urgente? Bingo, claro, é ela própria. Não satisfeita resolveu eliminar qualquer restrição ao número de aditivos. Ou seja, uma obra pode custar o dobro do que foi contratada. E é tudo legal. Não é um chiste. É algo gravíssimo. E se o Brasil fosse um país sério, certamente teria ocorrido, como dispõe a Constituição, uma intervenção federal. O que lá ocorre horroriza todos aqueles que tem apreço por uma conquista histórica do povo brasileiro: o Estado Democrático de Direito.

O silêncio do Brasil custa caro, muito caro, ao povo do Maranhão. Hoje é o estado mais pobre da Federação. Seus municípios lideram a lista dos que detém os piores índices de desenvolvimento humano. Muitos dos que lá vivem lutam contra os promotores do Estado do medo. Não é tarefa fácil. Os tentáculos da oligarquia estão presentes em toda a sociedade. É como se apresassem para sempre a sociedade civil. Sabemos que o país tem inúmeros problemas, mas temos uma tarefa cívica, a de reincorporar o Maranhão ao Brasil.

Marco Antonio Villa é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos (SP)

Marighella: política não é guerra.

Saiu hoje na Folha de S. Paulo:


MARCO ANTONIO VILLA

TENDÊNCIAS / DEBATES
A negação da política contra o regime militar
Revolucionários nunca tiveram objetivo no campo democrático. Sem ideias, só personalismo e, como mostra Marighella, ação terrorista e violência. Para quê?

O recém-lançado livro "Marighella: o Guerrilheiro que Incendiou o Mundo" (Companhia das Letras), de Mário Magalhães, permite uma série de reflexões sobre a esquerda brasileira.

Isso porque o autor fez uma pesquisa exemplar, exaustiva. Focou -e não poderia ser diferente, sendo uma biografia- a vida pessoal e política de Carlos Marighella, desde seu nascimento, em Salvador, até sua morte, em São Paulo.

Ao longo dos 58 anos da vida de Marighella, o leitor percorre o caminho tortuoso da esquerda sempre à procura de um farol, de uma Roma vermelha: começando em Moscou, passando por Pequim, depois Havana, Tirana e, quem diria, mais recentemente, Caracas. Viveu de descobertas e, principalmente, de desilusões. E acabou perdendo a possibilidade de entender o Brasil.

Não é acidental que a esquerda revolucionária tenha sido derrotada em todas as batalhas políticas. Restou obter vitórias no campo ideológico e construir mitos, despolitizando-os e transformando-os em heróis, mas heróis fadados ao fracasso. Na falta de ideias, sobrou o culto personalista.

A iniciação política de Marighella teve início durante o primeiro governo Vargas. Logo conheceu a prisão e a barbárie dos torturadores. Ficou muitos anos preso.
Com a anistia de 1945 e a legalização do Partido Comunista, foi eleito deputado constituinte pela Bahia. Dois anos depois, perdeu o mandato e o PC foi novamente perseguido. Viveu em São Paulo como militante profissional. Como todos comunistas da sua geração, tinha em Stálin e em Luís Carlos Prestes os modelos a serem seguidos.
Seu momento de inflexão política foi em 1964. Criticou a estratégia do PCB. Da crítica, chegou ao rompimento e à fundação da Ação Libertadora Nacional.

A ALN recusava qualquer luta política. Diz Marighella: "O dever de todo revolucionário é fazer a revolução; o segundo é que não pedimos licença para praticar atos revolucionários; e o terceiro é que só temos compromissos com a revolução". Escreveu que o "conceito teórico" que o guiava "é o de que a ação faz a vanguarda" e que "a ação é a guerrilha".

A trajetória de Marighella entre os anos 1964 e 1969, parte mais importante do livro, reforça a negação da política em uma guerra aberta contra o regime militar.
O que não se vê é qualquer ato de busca de apoio popular, de organização, de traçar algum objetivo no campo democrático. Tudo se resume à ação terrorista, à violência. E a cada ação, maior o isolamento.

O máximo de atividade efetivamente política nos atentados, sequestros ou assaltos a bancos são os panfletos atirados logo após alguma "ação revolucionária".
Marighella passou os últimos cinco anos da sua vida como a maior parte dos anteriores: fugindo, se escondendo dos seus perseguidores.

Depois de tantas fugas, sacrifícios, sem vida pessoal plena, em meio à violência e ao sadismo da repressão militar, ficam algumas (incômodas?) perguntas: para que tudo isso? É a busca do martírio? É a tentativa de colocar seu corpo para o sacrifício ritual da revolução? Anos e anos fugindo produziram o quê? O que, do pouco que escreveu, poderia ficar para a construção do Estado democrático de Direito? Que ideia serviria para nortear a consolidação da democracia e do respeito aos direitos humanos?
É difícil, muito difícil, encontrar alguma resposta positiva.

A trajetória de vida do revolucionário baiano serve para refletir como as ideias democráticas tiveram enorme dificuldade de prosperar no Brasil. E mais: mostra como avançamos nos últimos 25 anos enfrentando o autoritarismo histórico das elites políticas. Principalmente quando observamos o século 20 brasileiro, marcado pela negação da política e pela exaltação da violência.

    Mensalão: o último debate.

    Segue link do último debate sobre o julgamento do mensalão: http://veja.abril.com.br/multimidia/video/o-ultimo-debate-sobre-o-julgamento-do-mensalao

    A piada do dia.

    Do G1:

    Congresso é chamado para votar 3 mil vetos hoje

    Mensalão - entrevista sobre o livro.

    Segue link da entrevista que dei hoje ao Jornal da Gazeta:

    http://www.youtube.com/watch?v=WZVk3jRgX_I

    Fracassa ato de "solidariedade" a Lula

    Vejam a manchete do Estadão:

    Lula recebe 'solidariedade' de oito governadores em evento em SP

    Iniciativa ocorre após reportagem sobre novo depoimento do empresário Marcos Valério



    Vale lembrar que são 27 governadores e só apareceram 8! Portanto, menos de 1/3. O mais grotesco, claro, foi a presença de Teotônio Vilela Filho. Ah, o que diria o pai dele se assistisse ato tão indigno....

    Mensalão: o final do julgamento

    Entrevista para a CBN, hoje logo cedo, tratando do final do julgamento do mensalão:
    http://cbn.globoradio.globo.com/programas/jornal-da-cbn/2012/12/18/MARCO-MAIA-ESTA-AGINDO-MAIS-COMO-PETISTA-DO-QUE-PRESIDENTE-DA-CAMARA.htm

    Vitória!!!!!!

    Acabou. E com a vitória do Estado Democrático de Direito. Os mensaleiros perderam. E sabem que perderam. E nos ganhamos, mas não sabemos que ganhamos. Temos de comemorar dando vivas à democracia e à liberdade, justamente o que os mensaleiros tanto odeiam, especialmente o chefe da quadrilha..

    A piada do dia.

    Do El Pais:


    La presidenta de Brasil anuncia que quiere construir 800 aeropuertos

    Rousseff quiere infraestructuras aéreas en ciudades de más de 100.000 habitantes