Cuba

Esta reportagem foi exibida no "Bom dia Brasil" de ontem:

"Fidel Castro apareceu ontem mais uma vez. Discursou durante uma hora e 14 minutos. Lembrou o passado e evitou o futuro. Não comentou as promessas de mudança na economia.

Cuba vive uma situação muito complicada. Não tem indústria, não tem capacidade para produzir. Mas tem uma imensa mão de obra. São cubanos que trabalhavam como funcionários públicos e que agora estão ameaçados de demissão.

A Cuba de Ibrahim Ferrer, de Compay Segundo, de Ruben Gonzales, músicos que voltaram a aparecer para o mundo nos anos 1990, vive hoje uma das piores crises da sua história. O país já não é um grande exportador de açúcar, nem de tabaco. Praticamente não tem indústrias.

Cuba vive hoje de uma pequena exportação de níquel, do turismo e de recursos que cubanos exilados enviam aos familiares.

Diante desse quadro, Raúl Castro, que há quatro anos cria novas medidas econômicas para tirar o país da crise, anuncia a intenção de demitir cerca de 500 mil funcionários públicos nos próximos meses.

Para absorver esses funcionários no mercado de trabalho cubano, Castro autorizou o emprego privado para 178 atividades, entre elas afinador de piano, carregador de água, fotógrafo, jardineiro, cartomante.

“Os funcionários públicos ganham um salário simbólico, de US$ 25 ou US$ 30. Grande parte deles sequer trabalha porque não há o que fazer tendo em vista a grave crise cubana. O que vai ocorrer é que vai incentivar os pequenos negócios, tanto no caso da indústria, em um setor terciário da economia, no comércio e tal. Porém, para isso é necessário ter capitais, matérias-primas, equipamentos, insumos e muitos são importados. A grande questão é que Cuba não tem capacidade para importar, não tem recursos suficientes para isso. Então tudo indica que essas reformas estão fadadas ao fracasso”, explica o historiador da UFSCar Marco Antonio Villa.

O bailarino cubano Yasser Diaz vive há 15 anos no Brasil, mas tem uma irmã que mora em Cuba: “A minha irmã é funcionária pública e também está correndo o risco de ser demitida”.

A irmã de Yasser recebe cerca de US$ 100 por mês. “Felizmente a minha irmã hoje em dia não precisa fazer nada porque eu estou aqui e mando dinheiro para minha família periodicamente. Mas a minha mãe e a minha irmã já venderam doce de leite, venderam sucos e é isso exatamente o que quer o governo. Essas pessoas que antigamente estavam ‘na ilegalidade’, eles querem fazer uma nova lei para trazer todas essas pessoas para eles e que eles comecem a trabalhar e que não seja ilegal”, aponta o bailarino Yasser Diaz.

Para o historiador Marco Antonio Villa, a saída para Cuba está na ajuda dos principais países da América Latina: Argentina, México e Brasil.

“O Brasil hoje tem uma tecnologia, por exemplo, na cana-de-açúcar, na extração de petróleo, no desenvolvimento de pequenos negócios, por exemplo, o papel que o Sebrae pode desenvolver lá, o do Banco do Brasil, do BNDES. Acho que seria fundamental o governo brasileiro estender a mão à Cuba e buscar uma solução econômica, mas também entender que sem o respeito às liberdades, aos direitos humanos, não há saída para Cuba”, destaca o historiador da UFSCar Marco Antonio Villa.

Para os especialistas ouvidos pela reportagem, a figura emblemática de Fidel Castro ainda garante certa estabilidade a Cuba. A ilha pode ser um local de ótimas oportunidades para indústrias. Mas, quem vai querer se arriscar?"

Marolinha vermelha

Publiquei ontem na Folha de S. Paulo:

A SOBERBA faz mal a política. A eleição não está decidida. A onda vermelha, parece, não passou de uma marolinha.

A avidez dos apoiadores, que já estavam dividindo os cargos do futuro governo, foi contida. A comemoração da vitória, antes do apito final do juiz, pode explicar a violência dos ataques à liberdade de imprensa e à oposição em geral.

É importante para o país uma discussão de programas e propostas. Até o momento, a campanha ficou resumida ao protagonismo de Lula e às graves denúncias envolvendo ministros e aliados do governo. É preciso muito mais que isso.

Os debates entre os presidenciáveis foram inúteis. Viraram monólogos. O enfrentamento democrático entre candidatos acabou se transformando numa repetição enfadonha de promessas, recheadas de números, sem sentido algum.

Ninguém aguenta mais debates que não são debates, onde as grandes questões nacionais são ignoradas. Até os ataques aos adversários são mal elaborados. O cronômetro, indicando que o tempo para a resposta do candidato está terminando, é o melhor aliado do telespectador.

O desinteresse popular é evidente. A ausência de política empobreceu a eleição. A repetição das velhas fórmulas esgotou a paciência do eleitor.

A falsa euforia do corpo a corpo nas ruas, que serve simplesmente para obter imagens para a TV, é a melhor representação de uma campanha pobre de ideias e recheada de marketing vazio.

Para a estratégia do governo é essencial despolitizar a eleição. Transforma-la em um plebiscito. As diferenças políticas devem ser diluídas.

Daí que não causa estranheza a aliança oficial combinar o apoio do empresariado, com os beneficiados pelos programas assistencialistas e os dirigentes sindicais amarelos.

Nesse coquetel infernal deve ser acrescentado o apoio dos oligarcas estaduais. Barbalho, Sarney, Calheiros e Collor servem para obter votos nos burgos podres. Mas é o típico apoio envergonhado: nos grandes centros seriam hostilizados.

Uma campanha sem ideologia sempre foi o desejo do governo. Até este momento conseguiu o seu intento. Caso ocorra um segundo turno, o artifício deverá ter vida curta.

A polarização, com a apresentação de dois projetos para o país, é tudo o que Lula não quer. Os candidatos terão tempos iguais na televisão. E nos debates o confronto será inevitável.

A oposição vai ter um teste de fogo. Terá de apresentar um programa de governo. Mostrar unidade e combatividade. E realizar algo que tinha esquecido nos últimos tempos: fazer política.

Folha

Amanhã sairá, na Folha de S. Paulo, mais um artigo meu tratando das eleições.

Debate e Pesquisa

O debate de domingo foi fraco. O modelo deu o que tinha de dar. Não esclarece o eleitor. Não possibilita a comparação de programas e propostas.
A pesquisa de hoje abre concretamente a possibilidade de segundo turno. Seria muito bom para o debate eleitoral se isso efetivamente ocorresse.

Links Globo News Painel e Canal Livre

http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/O,,MUL1620958-17665,00-AMERICA+ESPANHOLA+ENFRENTA+DESAFIOS+ANOS+APOS+INDEPENDENCIA.html

http://www.band.com.br/canallivre/videos.asp

1932 e os esportistas

Este é o link para a bela matéria do Esporte Espetacular sobre a participação dos
esportistas na Revolução de 1932:
http://globoesporte.globo.com/programas/esporte-espetacular/noticia/2010/09/o-dia-em-que-esportistas-foram-para-trincheiras-lutar-pelo-proprio-pais.html

Canal Livre

Hoje estarei no Canal Livre, da Band, às 23 horas, discutindo a sucessão presidencial e o voto dos eleitores.

Ùltima semana

Nesta semana teremos os últimos dois debates. Hoje na Record e quinta na Globo. A campanha deverá ser intensa. Teremos na terça um Datafolha. A oposição corre atrás da possibilidade de um segundo turno. E o estado de São Paulo é a chave desta possibilidade.

Comentando as eleições brasileiras

No site da revista Veja, neste link, estão postados vários vídeos em que comento alguns aspectos das eleições presidenciais no Brasil.

Globo News Painel

Participei do Globo News Painel deste final de semana. Horários de exibição: sábado às 23 horas e domingo às 11 e 20 horas. O tema foi a América Latina e a política neste final de ano.

Aguardando

Saiu a pesquisa Ibope. Reforça a pesquisa Datafolha. É difícil mas não impossível o segundo turno. É tudo o que Lula não quer. O escândalo Erenice atingiu o eleitorado com maior escolaridade e renda, como esperado. Foi importante também por despertar setores da oposição que estavam desinteressados da eleição.

Manifesto

Para assinar o manifesto basta acessar www.defesadademocracia.com.br

Grupo lança manifesto pela democracia

Saiu hoje em O Estado de S. Paulo:


Num momento em que o governo do presidente Lula se dedica a investidas quase diárias contra a liberdade de informação e de expressão e critica a imprensa por divulgar notícias sobre irregularidades na Casa Civil, um grupo de personalidades de diferentes setores - entre eles juristas, intelectuais e artistas - decidiu lançar um "Manifesto em Defesa da Democracia", cuja meta é "brecar a marcha para o autoritarismo".

O ato público será realizado hoje, ao meio dia, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo.

Entre seus signatários estão o jurista Hélio Bicudo, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso, os cientistas políticos Leôncio Martins Rodrigues, José Arthur Gianotti, José Álvaro Moisés e Lourdes Sola,o poeta Ferreira Gullar, d. Paulo Evaristo Arns, os historiadores Marco Antonio Villa e Bóris Fausto, o embaixador Celso Lafer, os atores Carlos Vereza e Mauro Mendonça e a atriz Rosamaria Murtinho.

"Em uma democracia, nenhum dos poderes é soberano", diz o manifesto em sua abertura. Nos seus 14 parágrafos, ele aponta desvios e abusos do governo federal. "Hoje, no Brasil", diz o texto, "os inconformados com a democracia representativa se organizam para solapar o regime democrático." Mais adiante, considera "inconcebível" que "uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita".

"Ameaça concreta". O historiador Marco Antônio Villa, da Universidade Federal de São Carlos e um dos signatários do manifesto, decidiu aderir porque vê nos recentes atos do governo "uma ameaça concreta" à democracia no País. "É uma preocupação geral com o que está ocorrendo no País, e hoje (ontem) o Lula mais uma vez reforçou", disse, em referência às críticas do presidente à imprensa, feitas em viagem ao Tocantins. "O manifesto é uma síntese dessas preocupações." Caso um eventual governo Dilma consiga eleger três quintos do Congresso, advertiu, "eles conseguirão fazer mudanças constitucionais a seu bel-prazer. E se você tiver uma parte da legislatura formada por "Tiriricas", corremos sério risco. Nada melhor para um Executivo autoritário do que um Legislativo desmoralizado". Para Villa, "é preciso de um grito de alerta". Ele acredita que "há muitas pessoas que comungam dessa preocupação" e que o manifesto funcionará como forma de agregá-las. "Não se pode achar que ataques, ameaças e agressão fazem parte da política", diz.

O cientista político Leôncio Martins Rodrigues, que também subscreveu o documento, avalia que as ameaças à democracia têm origem na postura do presidente, opinião também manifestada por José Arthur Gianotti. "Lula não pode misturar as funções de homem de Estado e líder partidário. Ele também é meu presidente, independentemente do meu partido", afirma Gianotti.

A ÍNTEGRA DO "MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA"

"Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano.
Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.
Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.
É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.
É inaceitável que a militância partidária tenha convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.

É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.

É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.

É constrangedor que o Presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há ''depois do expediente'' para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no ''outro'' um adversário que deve ser vencido segundo regras da Democracia , mas um inimigo que tem de ser eliminado.

É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.

É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.

É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.

Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para rasgar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.

Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.

Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos."

A cara do cara

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:

O BRASIL É UM país estranho. O TSE fez várias propagandas explicando ao eleitor quais são as funções dos deputados, senadores, governadores e do presidente.

Contudo, ao relatar as principais atribuições do presidente, ocupou mais da metade do tempo dizendo que cabe a ele divulgar o país no exterior, viajar e buscar novos negócios. Curiosamente, nenhuma dessas funções fazem parte do artigo constitucional que regulamenta as atribuições presidenciais.

Ou seja, o TSE, que é presidido por um ministro do STF, desconhece qual o papel que deve ser exercido pelo presidente da República.

Mas, a bem da verdade, o desconhecimento é mais amplo. O próprio presidente Lula tem demonstrado nesta campanha eleitoral que não sabe os limites estipulados pelo artigo 84, logo ele que foi deputado constituinte (mas que, junto com a bancada do PT, votou contra a aprovação do texto constitucional).

Sem exagero, é possível afirmar que nunca na história presidencialista brasileira um presidente foi tão agressivo contra seus adversários. Faz ameaças, agride, acusa. É o verdadeiro Lula, é a cara do cara, sem maquiagem ou disfarce.

Quando um presidente não tem freios, como agora, é a democracia que corre risco. A omissão do Judiciário é perigosa. E vai criando, pela covardia, uma nefasta jurisprudência. Em certos casos, cabe ao STF uma ação para coibir a violação da Constituição.

Mas, dificilmente ocorrerá: o STF não tem uma história de defesa da cidadania frente ao despotismo do Estado. Pelo contrário, nos momentos mais difíceis do país, a Suprema Corte silenciou. Basta recordar a conivência com o Estado Novo ou com a ditadura militar.

A irritação presidencial com as críticas demonstra a dificuldade de conviver com a democracia. Lula sabe que no Brasil é predominante a cultura política autoritária. E que conta com o apoio popular, assim como a ditadura, durante o chamado milagre brasileiro, graças à situação econômica.

Em um país sem tradição democrática, um governo descompromissado com a defesa das liberdades, fica seduzido pelo poder absoluto. Para isso, necessita esmagar a oposição a qualquer preço. E conta com a adesão da maior parte da elite política, sedenta por saquear o Estado, tarefa facilitada pela supressão das liberdades.

Caminhamos para um impasse político. Com um Executivo que tudo pode, um Judiciário omisso e um Legislativo dócil, com ampla maioria governamental, que permitirá mudanças constitucionais ao bel prazer dos poderosos de momento.

Corrupção

O caso envolvendo Erenice Guerra é exemplar. A negociação dos favores governamentais ocorreu dentro do Palácio do Planalto. Não conheço nenhum caso parecido na história republicana. O esquema PC-Collor não teve esta desfaçatez. Getúlio foi levado ao suicídio por fatos infinitamente menores. O "mar de lama" denunciado por Afonso Arinos, comparado com o que assistimos, não passa de brincadeira de criança. Mas nada de desespero: 2011 vai ser pior (aguardem a turma do "repartir o pão").

Mudando de assunto mas ficando no mesmo: marta fez um jantar com as milionárias paulistas. A mulher do dono do Safra fez uma intervença de apoio total à candidata ao Senado. E Marta é considerada de esquerda...........

Segundo turno?

A oposição tem 17 dias para obter mais 7% de votos, aproximadamente. Com isso consegue levar a eleição para o segundo turno. Impossível não é. O escândalo Eunice Guerra pode ajudar. Mas o fundamental é conseguir estes votos onde a possibilidade é maior: o estado de São Paulo. Foi assim, em 2006, com os aloprados.

Minas é um caso perdido. É possível até encontrar propaganda do Levy Fidelix, mas do Serra... Sem campanha a possibilidade da oposição crescer é muito pequena.

O verde-amarelismo voltou

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:


É MUITO DIFÍCIL encontrar algum sinal de entusiasmo popular pela realização das eleições. O desinteresse é evidente. Como de costume, caiu a audiência da televisão após o início do horário pago -não é possível chamar de gratuito, quando as empresas deixarão de pagar R$ 850 milhões de imposto de renda. O clima lembra 1970. Crescimento econômico, expansão do consumo e do crédito e muitas pitadas de ufanismo. Lula é uma espécie de Médici do século 21. Não tem a terrível máquina repressiva ao seu lado. Não precisa. Asfixiou a oposição. Diluiu as diferenças ideológicas e morais. Tanto que pode apoiar uma candidata identificada historicamente com o feminismo, assim como outro, que é conhecido como um covarde agressor de mulheres.

Aos críticos do "milagre econômico lulista" foi reservado o pior dos mundos. Criou o seu próprio "ame-o ou deixe-o".

Quem está com ele -e nessa categoria o arco é amplo, vai do MST ao grande empresariado- "ama" o Brasil; quem está contra é inimigo e tem de ser destruído.

Não causará estranheza, se disser que o "amor à pátria que entendemos é o que almeja desenvolvê-la e enriquecê-la para que alcance o bem-estar de toda a nossa gente". E que não consegue "ver esse amor em quem se volta contra a sua pátria, quem a quer em tudo derrotada, na estratégia do quanto pior melhor", como discursou Médici em 1970.

A sociedade civil silencia. Mais do que medo, está desinteressada da política. Já o governo avança. Não há mais distinção entre o lulismo e o Estado. É tudo uma coisa só, um só corpo.

O Estado Novo e o regime militar foram dois momentos de supressão das liberdades e de expansão econômica. Tudo à sombra da repressão policial-militar. O domínio lulista é mais eficaz e sedutor. Até o momento, o pau de arara foi substituído pelos empréstimos bancários, pelo cartão de crédito. Isso só foi possível graças às reformas adotadas na década de 90, que acabaram abrindo o caminho para o crescimento da economia. Mas isso pode estar no limite do esgotamento.

Sem as benesses financeiras, o lulismo não sobrevive. Ao mantê-las, sem realizar as reformas necessárias, o país caminha para o estrangulamento econômico. Mas o que está ruim pode piorar. Deveremos ter o pior Legislativo federal desde 1930. Produto do verde-amarelismo lulista, do conservadorismo, da despolitização. Estaremos cercados de Tiriricas por todos os lados. E, por incrível que pareça, sentiremos, em 2011, saudades do Congresso de 2010.

Cantinflas não é Tiririca

Publiquei hoje em O Globo:

Vez ou outra volta à tona o tema “mexicanização” do Brasil.

Agora vinculado a um provável domínio do Partido dos Trabalhadores da cena política como resultado das eleições de outubro.

O PT seria a versão nacional do Partido Revolucionário Institucional (PRI). Nada mais falso. O longo período de domínio do PRI esteve vinculado à revolução de 1910, à Constituição de 1917 e seus direitos sociais, à reforma agrária (só a presidência Cárdenas distribuiu 18 milhões de hectares) e às figuras que marcaram o processo revolucionário, especialmente os líderes camponeses Emiliano Zapata e Pancho Villa.

Depois da grande turbulência de 1910-1920 — e das dezenas de milhares de mortos — teve início a primeira tentativa de estabilização com a eleição de Álvaro Obregón para a presidência e, quatro anos depois, de Plutarco Elias Calles. Contudo, as divergências políticas continuaram a ser resolvidas no terreno militar. Basta recordar a guerra dos cristeros, quando houve o confronto aberto entre Estado e a Igreja católica em uma guerra civil com 80 mil mortos. Em 1928, Obregón foi novamente eleito presidente, mas acabou morrendo, vítima de um atentado (na década anterior dois presidentes já tinham sido assassinados: Francisco Madero e Venustiano Carranza).

A fundação do Partido Nacional Revolucionário (PNR), em 1929, teve como mentor o ex-presidente Calles. O objetivo era dificultar a intervenção dos generais nas deliberações governamentais, transferindo as decisões e as divergências do campo militar para o interior do partido. Formado por chefes militares e civis da revolução, o PNR foi um instrumento do Estado para impor a sua vontade: fora dele nenhuma liderança política, por mais expressiva que fosse, poderia sobreviver.

Em 1938, o PNR transformou-se em Partido da Revolução Mexicana, e oito anos depois em Partido Revolucionário Institucional. O PRI funcionou como um verdadeiro partido de Estado, lançando seus tentáculos sobre a sociedade civil, asfixiando a vida política e transformando as eleições em mero ritual confirmatório da imposição partidária.

O caso brasileiro é muito distinto.

Apesar dos pesares, temos uma democracia em funcionamento. Aqui, a sustentação política do governo tem uma base plural. Se os “movimentos sociais” estão sob a tutela do PT, o movimento sindical, assim como os governos estaduais, estão partilhados entre vários partidos. A máquina do Estado, incluindo as empresas estatais, não é monopolizada pelos petistas, mesmo que estes controlem as áreas mais importantes, onde estão alocados os maiores recursos orçamentários, origem de negócios nada republicanos.

Também, diferentemente do México, a mística que vai ser preservada não é a da revolução, mas de Lula. O culto pessoal chegou a um ponto nunca visto no Brasil. E veremos muito mais entre a eleição de outubro e a saída formal de Lula da presidência, a 1 de janeiro de 2011. O queremismo de 1945 vai parecer brincadeira infantil frente ao espetáculo de verdadeira comoção pública.

Lula vai percorrer o país como um verdadeiro Dom Sebastião. Só que, diferentemente do rei português, vai anunciar o seu “desaparecimento” e deixar no ar o “retorno”.

Tudo no melhor estilo Lula: vai encerrar o governo de onde nunca saiu em oito anos — o palanque.

O PT não é o PRI. Não tem como instrumentalizar uma legenda revolucionária.

Não teve líderes históricos, uma história épica, tal qual a Revolução de 1910. Enquanto no México o PRI insistia em dizer que continuava a luta de Emiliano Zapata, para o PT restou ter como referência José Dirceu.

A função do PT é conceder alguma coerência ideológica à ampla base do governo. Produz o discurso que vai ser repetido pelos outros partidos, indo do PP até o MST. O PT solda a ampla aliança governamental, dando organicidade ao saque do Estado.

Ou, na linguagem de Michel Temer, à partilha do pão.

Numa mesa onde aparentemente cabem todos, o governo foi estabelecendo laços de dependência entre figuras tão díspares como Jader Barbalho e José Rainha. Todos tributários do Estado e da boa vontade do presidente para seus múltiplos negócios, desde um ranário milionário até um assentamento improdutivo.

Na eleição de 2000, o esgotamento do modelo econômico e as pressões da sociedade civil mexicana acabaram levando o domínio do PRI à derrocada.

No Brasil o domínio lulista (mais que petista) pretende permanecer longo tempo no poder. Mas, como se alicerça numa base política frágil, tende a ter vida curta.

Debate?

O debate de domingo foi ruim. É verdade que o estilo pessoal de cada candidato não ajuda muito. Mas a estrutura do debate é que é o centro do problema. Perguntas breves, respostas inconclusas, réplicas que reforçam o que foi dito na resposta, em suma, um desastre. Só quando as duas jornalistas fizeram perguntas (mas sem terem o direito de réplica, proibidas que foram pelos partidos) foi que o debate teve algum brilho.

As propostas nunca são desenvolvidas, os números são absurdos, o debate das propostas é primário. Muitas perguntas ficaram sem respostas pois os candidatos respondiam o que davam na telha e fugiam das questões espinhosas.

Debate só poderá dar certo quando tiver dois candidatos e inquiridos por um ou dois jornalistas. No Brasil isto não será fácil. Cada lado vai desconfiar dos jornalistas (que farão a vez dos cidadãos).

Manter esta estrutura é um desserviço à democracia.

Hoje tem debate

O debate RedeTv/Folha deve ser em ritmo e tom muito distinto do último com a participação de Dilma. A grave denúncia da revista Veja, envolvendo o tráfico de influência na Casa Civil, além do tiroteio das últimas semanas sobre os vazamanetos na Receita, vão elevar a temperatura do debate. O mediador vai ter dificuldades.

A eleição está morníssima. Como o governo desejava. O desinteresse popular é evidente. Os comícios - pouquíssimos - não tiveram até agora mais que 4 mil pessoas, mesmo com o uso da máquina oficial. Os otimistas dirão que a população já se acostumou com as eleições, que virou "carne de vaca". Conversa. É sintoma de despolitização, de desinteresse, de alienação do processo eleitoral.

Idéias

Estamos a três semanas da eleição. Nem parece. A aguardada discussão sobre os projetos para o Brasil não aconteceu. E nem vai acontecer. O governo só fala em cotinuidade, mostra obras, despolitiza a campanha. A oposição fica refém a cada semana de um tema de momento, pode ser saúde, pode ser o dossiê.

No máximo vemos a apresentação de números de prováveis realizações dos candidatos. É uma espécie de malufismo moderno, mais bem acabado. Contudo, tão inconsistente como o do célebre e nefasto deputado do PP de SP.

Tudo indica que nada vai mudar até 3 de outubro.

Mais uma novidade

Cada campanha tem suas novidades. Esta é a eleição que a candidata favorita desaparece dias e dias da campanha. É substituída não por um reserva, mas pelo titular. Ela é que a reserva de Lula. Faz 4 dias que não faz campanha. Lula fala por ela. Hoje novamente apareceu no programa do PT com uma imagem no interior do Palácio da Alvorada, o que é ilegal. Claro que é uma pequena ilegalidade, frente a tantas outras. Nada vai acontecer, como já é sabido. O TSE é um tribunal de brincadeirinha, tipo café com leite, como nas brincadeiras de crianças.

Como candidata, Dilma faz bem o seu papel. Não se sente incomodada (parece). E como presidente? Tudo indica que vai ser um problema. E tendo o PMDB à espreita, esperando, avidamente, partilhar o pão, como disse Temer.

O despertar da oposição

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:


A oposição acordou. Finalmente. Tinha imaginado que a eleição era na Lapônia. E que a candidatura oficial tinha a lhaneza do Papai Noel. Descobriu que vivemos em um país onde as instituições democráticas são frágeis. Onde o poder Judiciário é de mentirinha. E o Legislativo está sendo invadido – para a alegria mórbida dos inimigos da liberdade – por humoristas decadentes, ex-jogadores de futebol, celebridades instantâneas e “sambeiros” que espancam suas mulheres.

Lula rasgou a lei eleitoral. Depois de ter sido multado diversas vezes pela TSE resolveu, a seu modo, a questão: passou a ignorar solenemente o tribunal. Manteve a rotina de associar o cotidiano administrativo com o processo eleitoral. Em outras palavras: “peitou” o tribunal e ganhou. Ganhou por omissão do TSE. Para Lula, a democracia não funciona pelo respeito às leis, com uma oposição vigilante e pela crítica às ações do governo. Não. Para ele, a democracia só tem uma fala, a dele. Transformou as cerimônias públicas em espetáculos de humilhação. Aos adversários, como na Revolução Cultural chinesa, reserva o opróbrio. Basta citar dois incidentes recentes: um em São Paulo e outro em Sorocaba. Manteve-se impassível quando a claque vaiou e quase impediu de falar, o governador Goldman. No fundo, estava satisfeito. O mais triste é que o fato foi considerado absolutamente natural. No Brasil lulista a prática de impedir pelos gritos e, se necessário, pela força, um opositor de falar, está virando rotina.

A associação indevida entre governo e Estado é evidenciada a todo momento. Tanto no escândalo dos dossiês, como no comício de Guarulhos – onde nem usou o disfarce da presença da candidata – ou na decoração do gabinete presidencial, que tem na parede um adesivo com o logotipo do governo ao invés de algum símbolo nacional.

O lulismo desqualifica a política. E abre caminho para o autoritarismo. A eleição deixa de ser uma salutar disputa pelo futuro do país e vira uma guerra. Para ele, os opositores não são adversários, são inimigos. Enfatiza alguns êxitos econômicos (parte deles sem qualquer relação com o atual governo) e sonha com o poder absoluto. Despreza os defensores das liberdades e, por vontade própria, já começou a mini-constituinte: aboliu informalmente o artigo 5º da Constituição.

Age como o regime militar. Tem medo de, cara a cara, enfrentar um oposicionista. Ridiculariza a política. Neste ritmo logo veremos, como na ditadura, algum outdoor com a frase: “Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada.”

Em tempo

Amanhã tem artigo na Folha.

Esclarecendo: nas últimas postagens destaquei que a oposição mudou o discurso. Lembrei também que isto pode abrir caminho para o segundo turno, o que seria bom para o país, pois poderíamos entrar numa discussão programática. De forma alguma imagino, neste momento, uma vitória do PSDB no primeiro turno. O que tenho escrito (e falado) é que as pesquisas do processo eleitoral propriamente dito, tanto em 2006, como em 2008, erraram feio no primeiro turno.

Virada?

O episódio da violação dos sigilos de vários políticios do PSDB terá repercussão na eleição. É evidente que entre uma faixa pequena do eleitorado. Mas pode iniciar um processo de recuperação da candidatura Serra. Se isto ocorrer, vai ficar demonstrado que o caminho é o enfrentamento direto. Ou seja, oposição é oposição. Mais ainda quando da eleição.

Os programas de TV de Serra melhoraram. Não vai ser fácil tirar a diferença pró-Dilma. Contudo, caso ocorra segundo turno (o que é bem provável), os 27 dias até o dia 31 de outubro poderão, finalmente, se transformar em um plebiscito, não sobre Lula, mas sobre o futuro.

Pesquisas

As pesquisas indicam tendências. No Brasil dá a impressão que a eleição já está definida, como se a pesquisa substituísse a eleição. Em consequência, os analistas já desenham cenários para o dia seguinte, quem vai liderar a oposição, como será formado o ministério, etc (em tempo: vale a pena checar, depois da eleição, as projeções que estavam fazendo agora sobre a futura composição do Congresso).
Nas duas últimas eleições, as pesquisas erraram feio. Em 2006 indicavam que Lula venceria no primeiro turno. Em 2008 (já escrevi um post sobre isso), erraram no primeiro turno nas 3 maiores capitais brasileiras. Convenhamos que não é pouco.
As pesquisas induzem alguns eleitores a votar no candidato que vai ganhar. O eleitor não quer "perder o voto", tem satisfação de dizer que votou no vencedor.
Caso as pesquisas, novamente, errem feio, não vai dar para esconder os fatos. O problema não deverá ser simplesmente de metodologia, como sempre justificam os institutos.
Claro que sem nenhuma base científica, mas quando leio que só 4% acham que o governo é ruim ou péssimo fico desconfiado: haja unanimidade.

Rumo

Evidentemente, que a fase de denúncia do dossiê, caso não sujam novos fatos, vai se esgotar. É necessário, para a oposição, manter o rumo mais agressivo que foi adotado na última semana. A ênfase dos programas deveria combinar crítica e proposição, de forma clara para o grande eleitorado. Tem de criticar. Mas só isso não basta. Caso contrário vira uma espécie de PSTU. Tem de mostrar as soluções. Melhor ainda quando tem exemplos concretos de realização. E se preparar para os debates que faltam.

Compasso de espera

Fim de semana teremos duas novas pesquisas eleitorais. O escândalo do dossiê não será totalmente assimilado em nenhuma delas (pode ser um pouco mais na pesquisa Datafolha, que vai até hoje).

O clima da campanha mudou. A oposição, finalmente, percebeu que tem de ser oposição. Caso contrário, será esmagada. Estamos muito longe de uma campanha violenta. Claro que tudo vai depender da distância mantida por Dilma em relação a Serra. Se começar a cair, a fábrica de dossiês vai entrar em ação.

O desafio para a oposição é transformar este caso em algo compreensível para a maioria do eleitorado. É difícil, mas possível. Assim como, insistir na denúncia das alianças de Lula com ditadores ou proto-ditadores. Em outras palavras, mostrar que liberdade também enche estômago.

Violência na campanha

Escrevi diversas vezes que teríamos a campanha mais violenta desde 1989. Na semana passada, na quarta, disse no artigo da Folha que tinha errado feio. Faltou esclarecer que a violência não tinha se manifestado devido à fragilidade do discurso oposicionista. O escândalo do dossiê (que não é novo, apenas soubemos, ontem, detalhes mais escabrosos) deve propiciar munição para a oposição. Pode ser que ela acorde e descubra que estamos ainda a um mês da eleição. E finalmente resolva fazer o seu papel, ou seja, oposição.

Dossiê

O caso é gravíssimo. Terá, certamente, repercussão eleitoral. Mais do que a eleição, o caso viola a Constituição. O que foi divulgado até este momento é inacreditável. É uma espécie de vale-tudo. Mais assustador é imaginar o que vai acontecer a partir de janeiro de 2011, com o esmagamento da oposição a qualquer preço.

Domínio oligárquico

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:


EM 1982, o PDS, partido do regime militar, venceu as eleições em todos os nove Estados do Nordeste. A região passava por uma seca. Com milhões de flagelados, a União montou um programa associando ajuda econômica às eleições. Não era a primeira vez que ocorria (pode ser lembrado 1958), porém nunca tinha alcançado aquelas proporções.

Tudo com o objetivo de controlar o Colégio Eleitoral, que se reuniria em 1985, para eleger o presidente da República. Se em 1982 deu tudo certo, na hora da eleição, Tancredo Neves acabou eleito presidente.

Parte considerável da elite acabou se bandeando para Tancredo. Tanto que, na eleição seguinte, os candidatos da Aliança Democrática venceram em todos os Estados da região. Ou seja, em duas eleições o quadro político tinha mudado. Mas só na aparência. A AD foi vitoriosa mas com frações da antiga elite que tinha servido o regime, como Fernando Collor, que fez parte da Arena e foi eleito governador de Alagoas.

Mas o melhor (e triste) exemplo desta elite perversa é José Sarney. Usou e abusou do regime militar e por obra do acaso chegou à Presidência da República. Fez um governo desastroso. Saiu sob apupos gerais. Hoje, graças a Lula, transformou-se em condestável da República.

Como os grandes partidos consideram que, para vencer a eleição, necessitam do apoio oligárquico, a cada quatro anos estabelecem alianças com essas lideranças. É um engano: a eleição poderia servir para que os setores modernos da política nacional (e regional) pudessem ter contato direto com os milhões de oprimidos e subjugados pelos oligarcas.

Nesta eleição, o quadro se repete. Nos últimos oito anos foram recriadas agências (como a Sudene) e os bancos oficiais e as empresas estatais estiveram à serviço da oligarquia (que só admitiu partilhar do saque do Estado com os egressos da máfia sindical).

Sem uma economia real, são os pagamentos da aposentadoria rural e do Bolsa Família que movimentam o comércio do interior nordestino. Apesar disso, a região não é tema eleitoral. Do lado do governo, é explicável; mas não do lado oposicionista.

E os intelectuais? Estão satisfeitíssimos, locupletando-se com as doações estatais. Em Canudos, no sertão baiano, organizaram uma oficina de cinema. Segundo dados oficiais, os empregos não passam de 1.000 (entre 15 mil habitantes). A produtividade da agricultura e pecuária é baixíssima. Há centenas de desempregados. Para os otimistas, resta imaginar que surja um Visconti e faça um novo "La Terra Trema".