Nova pesquisa Ibope

Pelos dados apresentados, Dilma continua no caminho certo. Fala pouco. Quem fala por ela é Lula (ou a direção do PT). É impossível prever até quando o eleitorado vai manter esta tendência. Lula está com avaliação muito alta (77%) e vai fazer de tudo para transferir este apoio para Dilma. Pelo que disse, vai fazer a campanha na TV.

Serra continua vencendo fácil no Sul (46 a 31), mas caiu no Sudeste perdendo por 35 a 37. É preocupante. Minas é a chave da eleição (Dilma ganha com larga vantagem: 44 a 32). Aécio está com 70% das intenções de voto parta o Senado mas Anastasia perde para Hélio Costa. Minas, como é sabido, é o segundo colégio eleitoral do país. Serra, para pensar em vencer a eleição, tem de ganhar por uma boa margem em Minas (coisa de 10 pontos, ou seja, inverter o quadro atual).
O Rio parece um caso perdido. Até agora, Gabeira não decola. Cabral ganha fácil no primeiro turno. Serra perde de 46 a 27. São 19 pontos. Muita coisa. É essencial, ao menos, para Serra dimiuri esta enorme vantagem de Dilma.

No Nordeste o quadro já é conhecido. Dilma vence por 49 a 25. Mais uma razão para intensificar a campanha no Sudeste e buscar ainda mais votos no Sul.

A campanha oposicionista tem de gerar algum fato novo. Teremos novas pesquisas que devem, no momento, manter a tendência do Ibope. Que a eleição vai ser disputada, sabemos. O difícil para a oposição é não perder a cabeça e explorar as contradições estaduais do bloco governista (como, entre outros exemplos, no Maranhão).

Lula, o mexicano

Ontem Lula lembrou o personagem general Arroyo do romance "Los relampagos de Agosto" de Jorge Ibarguengoitia. Para cada auditório tinha um discurso. Entre os agraristas, Arroyo defendia enfaticamente a reforma agrária, entre os latifundiários dizia o inverso.

Lula atacou a "elite golpista" e depois participou de um evento com a mesma "elite". No primeiro encontro foi radical, no segundo foi um "doce", seduzindo os empresários com mais empréstimos do BNDES e outros mimos.

A importância do debate

Já é uma tradição o debate na televisão. Alguns ficaram célebres. Numa eleição tão disputada, como a atual, o debate assume importãncia ainda maior. A audiência nem sempre é grande. Porém, não deve ser esquecida a repercussão do debate durante a semana no noticiário eleitoral. Além da TV, estará nas rádios e jornais. E acaba sendo comentado nas ruas, sinônimo de que alcançou o seu objetivo.

Quando um candidato está liderando folgado as pesquisas, raramente vai a um debate na TV. Sabe que pode, se for mal, perder votos. Sinal de que o debate tem influência na decisão do eleitor.

Para que o debate tenha uma boa dinâmica é essencial que seja limitado o número de participantes. Quatro ou cinco é o número ideal. Desta forma também é evitada a participação do candidato nanico, aquele que está na eleição servindo aos interesses de um terceiro.

O primeiro debate será na Band, na próxima quinta-feira. Deverão estar presentes Serra, Dilma, Marina e Plínio. Evidente que a grande expectativa é sobre o desempenho de Dilma.

A escolha do eleitor

Eleitor não lê programa. Eleitor (a maioria do eleitorado, óbvio) escolhe o candidato por algumas propostas, simples e de fácil entendimento. Necessita relacionar estas propostas com seu cotidiano. Na campanha (e o horário gratuito é importantíssimo) o eleitor vai estabelecendo uma relação de afinidade com o candidato. Começa a se identificar com o seu "jeito". E necessita encontrar no adversário algumas características negativas, que acaba fortalecendo a sua escolha. O grande mistério das eleições é conseguir estabelecer estes elos com o eleitor.

Candidato não precisa ser carismático. Os prefeitos de São Paulo e Rio de Janeiro são bons exemplos. Evidentemente que o carisma ajuda (e muito) mas não é o elemento indispensável para vencer uma eleição.

Ciro Gomes

Ciro Gomes é um personagem interessante. Rompeu com o PSDB pois teria ficado magoado com algumas lideranças (deve ser recordado que foi oferecido a ele, por FHC, o ministério da Saúde, isto logo após a eleição de 1994). Foi ministro de Lula durante 4 anos ocupando um ministério de segunda categoria. Passou pela Câmara e foi visto raramente em plenário. Transferiu, a pedido de Lula, o domicílio eleitoral para SP e acabou humilhado pelo presidente. Lula insinuou que Ciro poderia ser seu candidato (ou um dos candidatos da base governista). Contudo, acabou impondo o nome de Dilma e pressiou o PSB para isolá-lo. Ao mesmo tempo, deu a entender que Ciro seria o melhor candidato contra os tucanos, em São Paulo. Por baixo do pano, Lula articulava a candidatura de Mercadante. Ciro acabou não saindo candidato a nada. Restou "ccordenar" a campanha do irmão, no Ceará, e virar comentarista de um programa de TV em Fortaleza. Declarou que pretende se candidatar em 2014 à presidência. Imagina que a política ficará congelada até lá. ledo engano: a oportunidade era agora. Em 2014 encontrará Lula como candidato (ou Dilma, se esta se rebelar contra o criador, caso vença, claro).

Ataque ou defesa?

Em qualquer campanha eleitoral, um dos problemas centrais é a forma e a hora do ataque. Atacar muito cedo pode ser ruim, assim como reservar o ataque somente para os últimos dias de campanha. A forma e a escolha do que atacar conta muito. Uma candidatura de oposição tem de atacar. Isto é óbvio mas nem tanto, principalmente no Brasil.

A campanha de Serra escolheu um primeiro alvo - arelação Farc/PT - e foi bem. Deixou a candidata oficial na defensiva e seus apoiadores ficaram furiosos, demonstrando que o ataque atingiu o alvo. O que não ficou claro para os eleitores é de como esta relação pode facilitar o tráfico de drogas e seus tenebrosos efeitos em milhares de famílias brasileiras. A questão não era de relacionar o PT com os traficantes. Mas demonstrar que a leniência no trato com a Bolívia acabou facilitando a expansão do tráfico. Também a inexistência de uma política de colaboração com a Colômbia estimulou o comércio de drogas. Ou seja, as simpatias políticas do PT para com Evo Morales e as Farc impediram uma ação efetiva do governo brasileiro (não significa dizer que o governo é conivente com o tráfico, basta citar diversas operações da PF especialmente nas áreas de fronteira). Melhorar o calibre deste ataque pode render bons frutos eleitorais.

A questão da segurança pública é outro tema que pode ser usado e que tem excelente resultado eleitoral. Serra acabou deixando de lado ou dando pouca importância. Bater sistematicamente nesta tecla e apresentar propostas viáveis, pode abrir uma nova área de combate, deixando o governo na defensiva.

Megalomania

A política externa do governo Lula foi um desastre. Não vou repetir argumentos já apresentados (em artigos e entrevistas). Mas o caso do Irã foi o ápice da irresponsabilidade política. Ainda é cedo para avaliar todos as consequências danosas da "mediação" mas, com toda certeza, o Irã conseguiu mais alguns meses (ou até anos) para desenvolver seu programa de um arsenal nuclear (não só a bomba mas também os foguetes). Em uma zona de conflito secular, Lula fez papel de bobo e mais: serviu de instrumento para o Irã e o fundamentalismo islâmico. E se a tecnologia nuclear cair nas mãos de um grupo terrorista muçulmano........

Rússia e China se afastaram do Brasil. São dois países que tem problemas com minorias islâmicas. Os EUA também deram um gelo na diplomacia brasileira, assim como a União Européia. Dificilmente o Conselho de Segurança da ONU obterá um consenso para efetivamente impor sanções ao Irã. Lula desarticulou todo o trabalho realizado no Conselho durante meses.

É provável que a megalomania lulista no campo internacional, esconda uma tentativa interna de retomar o projeto de construção de uma bomba atômica tupiniquim (Lula e membros do governo já fizeram declarações tortuosas em que deixaram explícito este desejo). É a idéia primária de que a socialização da bomba levará à paz mundial. É idiotia pura. Vamos ver como isto vai aparecer na campanha presidencial.

Pesquisa de hoje

O Datafolha divulgou mais uma pesquisa. Serra ganha no primeiro turno mas perde no segundo. Todos os resultados por uma margem exígua. Isto reforça a tese de que teremos a eleição presidencial mais disputada da nossa história (e a mais violenta). Serra vence em SP e MG (em SP por 14 pontos - 44 a 30; em Minas por 3 pontos - 38 a 35). Perde no Rio por 6 pontos (31 a 37). No Rio Grande, parecido com São Paulo, vence por 12 pontos (46 a 34). Na Bahia perde por 11 pontos (43 a 32). O resultado em Pernambuco é muito ruim: perde de 46 a 27.

O candidato de Aécio vai muito mal em Minas: perde para Hélio Costa de 44 a 18 (diversamente de Alckim que ganha fácil de Mercadante: 47 a 16). O sinal está amarelo para Aécio. Vai precisar arregaçar as mangas para levar, primeiro, o seu candidato ao segundo turno. Ou seja, até o momento fracassou a política que desenvolveu durante 7 anos de aproximação com Lula. O presidente chegou até a insinuar que Aécio poderia ser o seu candidato. Ainda está em tempo de Aécio não fazer o papel de Ciro Gomes, que tomou o maior passa-moleque da história republicana brasileira. Seria muito ruim para Aécio ser o Ciro Gomes do dia seguinte.

Programa de TV

Hoje estarei participando do Globonews Painel (que passa às 23 horas e é reprisado no domingo às 11 e 20 horas). O debate é sobre a Venezuela e Cuba e as relações do Brasil com os dois países. Do debate também participam o embaixador Marcos Azambuja e o cientista político Sérgio Fausto.

É essencial baratear eleições para brecar profissionalização

Escrevi este artigo que foi publicado, hoje, na Folha de S. Paulo:


As informações do TSE reforçam uma tendência do sistema político brasileiro. Ter como profissão ser político causa estranheza. Uma coisa é o homem público, aquele que acaba se dedicando às grandes questões nacionais e que, mesmo assim, exerce o seu ofício. Outra muito distinta é o indivíduo que abandona qualquer trabalho para se dedicar única e exclusivamente à política.

Durante a Primeira República boa parte dos políticos desenvolviam outras atividades. Eram fazendeiros, comerciantes, advogados ou médicos. A política era um complemento. Evidentemente defendiam seus interesses de classe. Contudo não abandonavam seus afazeres para se dedicar só à política.

O surgimento da democracia de massas, em 1945, mudou o panorama político. Democratizou-se o processo eleitoral e a escolha dos candidatos. A velha elite política foi substituída, na maioria das vezes, por profissionais liberais -basta ver a origem profissional dos presidentes.

Contudo a consolidação do processo eleitoral -e não necessariamente da democracia- foi transformando a política em profissão. De um lado, devido à necessidade de se dedicar exclusivamente ao mandato. Argumenta-se que é impossível exercer a profissão original e, ao mesmo tempo, fazer política.

Por outro lado, é possível imaginar que a dedicação à política acabe criando vícios antirrepublicanos. É sabido que o salário acaba, muitas vezes, não sendo suficiente para manter os gastos do parlamentar. Muito menos para que possa preparar-se para a próxima eleição.

Assim, fica aberto o caminho para práticas que conduzam à corrupção. A intermediação de uma verba pública, a liberação de um gasto orçamentário pode significar um "ganho" muito superior a um ano de recebimento dos proventos de um deputado.

É essencial baratear o custo de se eleger e a criação de um sistema eleitoral que permita a efetiva participação, como candidato, de um cidadão sinceramente republicano. Caso contrário, a cada eleição aumentará o número de profissionais da política.

Alta temperatura

As declarações do vice de Serra e as repercussões tem marcado a campanha nestes dias. A oposição percebeu que pode usar a relação nebulosa do PT com as Farc na campanha. E que pode obter bons resultados.

Em outras palavras, pode ser que este episódio inaugure uma forma mais agressiva da campanha oposicionista. Já escrevi que o PT não sabe responder aos ataques. Foi mal acostumado. Durante mais de sete anos governou quase que sem oposição (excetuando parte do segundo semestre de 2005).

Evidentemente que o PT está preparando o troco. Campanha é assim. Punhos de renda não é o traje mais adequado para uma campanha tão decisiva como esta de 2010.

O rompimento das relações diplomáticas da Venezuela com a Colombia deve manter, por tabela, o tema nas primeiras páginas dos jornais (o que não é bom para Dilma).

Vices incômodos

Foi lembrado nos comentários os casos de José Sarney e Itamar Franco. Vices que acabaram assumindo o governo. Sarney não era o vice dos sonhos de Tancredo. Foi imposto pela Frente Liberal (na época, ainda uma dissidência do PDS - o partido nasce em janeiro de 1985). Mas era um político experiente. Tinha sido deputado federal, governador de estado, senador e presidido o PDS (comente este fato, com mais detalhes, no livro que vai sair ainda este semestre tratando da eleição de Tancredo pelo Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985).

Itamar virou vice de Fernando Collor na falta de outra alternativa. Durante a campanha fez corpo mole. Em certo momento, sumiu. Durante a presidência Collor, submergiu. Voltou a tona durante o processo de impeachment. Também era um político experiente. Tinha sido prefeito e duas vezes senador.

Popularidade e transferência de voto

Saiu um pouco de cena (até a próxima pesquisa, claro) o tema da popularidade e transferência de voto (e até as comparações externas, com o Chile, etc). Até o momento, Dilma não chegou nem a metade dos índices de popularidade de Lula. Dificilmente chegará. Uma coisa é popularidade pessoal, outra bem diferente é a capacidade de politicamente transferir voto. Quando a popularidade é muito mais uma relação pessoal, a transferência é muito menor do que se a relação é marcadamente política. É o caso de Lula.

A polêmica do dia

As declarações do Índio da Costa tiveram enorme repercussão. As respostas do PT mostram que o resultado foi obtido. Diversamente do que está (hoje) na imprensa, o PT caiu na defensiva. Um fato interessante (e que escrevi e falei tantas vezes) é que a oposição não gosta de ser oposição. Oposição tem de atacar o governo. É parte do jogo democrático. A relação PT/Farc é conhecida. Pode não ser uma relação orgânica. Mas setores do partido apoiam a guerrilha colombiana. Uribe passou maus bocados com a diplomacia brasileira. Mesmo apresentado fatos do envolvimento da Venezuela e Equador, era visto como um direitista, golpista e aliado incondicional dos EUA. Além do episódio de Emanuel (post anterior), teve a prisão de Fernandinho Beira-Mar e, muitos já devem ter esquecido, a libertação de Ingrid Bettancourt e de outros reféns, quando ao governo brasileiro fez uma crítica indireta ao governo colombiano.
Todo o barulho feito pelo PT significa que o golpe foi acusado.

Este tipo de debate é desenvolvido em um terreno movediço. Qualquer escorregão pode ser fatal. É preciso sempre relacionar o ataque aos fatos e evitar o discurso extremista. No Brasil a direita e a esquerda não tem uma relação saudável com a democracia e seus corolários. Um debate logo vira troca de xingamentos e acusações de baixo nível.

Pesquisas, acusações, etc.

Várias pesquisas estão sendo divulgadas nos estados. Algumas são curiosas. No Acre, Serra lidera, seguido por Marina e Dilma está em terceiro, mesmo tendo o candidato ao governo do PT (Tião Viana) em primeiro. Serra também lidera no Espírito Santo. Mas o caso mais interessante é o de Minas. Hélio Costa pode ganhar no primeiro turno (pode, mas não vai ocorrer, óbvio - tem muita camapnha pela fgrente), Aécio lidera disparado para o Senado e Dilma empata com Serra (mas estando um pouco à frente). Aécio tem de entrar em campo, fazer campanha. Caso contrário, perderá suas bases em Minas. Se Hélio Costa e Dilma vencerem, o ex-governador ficará no Senado falando para as moscas. As "bases" vão ser engolidas pelos governos estadual e federal. Como não é bobo, Aécio deve logo arregaçar as mangas e trabalhar muito pela vitória de Anastasia e Serra. O seu projeto político passa pela vitória dos dois, principalmente de Serra. Perdendo o governo estadual mas tendo presença no governo federal, ainda poderá de Brasília retomar suas bases.

Sobre o "caso Índio". O candidato foi infeliz. É ingênuo. Deve ainda estar fascinado pelas luzes. O PT não tem relação com o narcotráfico mas é simpático às Farc, isto todo mundo sabe. Basta ler os documentos do Foro de São Paulo. Deve ser recordado como o governo brasileiro atacou diplomaticamente Uribe quando da ação contra as Farc. Lembro que o "professor" Marco Aurélio Garcia fez parte daquela encenação da libertação do garoto Emanuel. O garoto não estava mais com as Farc: tinha sido abandonado na casa de um camponês. Era a "libertação" de um refém que não estava mais em seu poder. O governo brasileiro disse (junto com Chavez) que a libertação não tinha ocorrido devido ao descumprimeiro, por parte do governo colombiano, de não movimentar tropas próximo a área da "libertação". Tempos depois a criança foi achada. E o Brasil coonestou a farsa.

O caso de Índio é típico do presidencialismo brasileiro. Vice não serve para nada. Quer dizer, serve somente para substituir o presidente (artigo 79 da Constituição). Na eleição serve para compor as alianças políticas. O cargo não tem qualquer atribuição (e nem deve ter, acho). A Constituição de 1946 ainda dava alguma função ao Vice: presidir o Senado Federal "onde só terá voto de qualidade" (artigo 61)

Pesquisas

No fim de semana o Datafolha divulga nova pesquisa sobre a eleição presidencial. Esta fase da campanha - entre o final da Copa e o horário gratuito - tem suas peculiaridades. Os candidatos aparecem no noticiário político geralmente no famigerado corpo-a-corpo. Imagens são registradas, os jornalistas recolhem alguma resposta, mas nada efetivamente acontece.

Teria de ser feita uma contabilidade no final de outubro. mas até este momento, Dilma tem sumido vários dias da campanha e Lula passa a concentrar a atenção jornalística. Mas em agosto vai ser difícil manter esta estratégia.

Certamente teremos nesta semana mais declarações de Lula sobre a sua candidata. Ele novamente aparecerá muito mais que ela. E falará durante o "horário de expediente".

Compasso de espera

Serra e Marina tem percorrido o Brasil. Buscam apoios, dão entrevistas, tentam criar fatos novos. Dilma continua à sombra de Lula. Isto pode dar certo se a campanha for curta e os opositores não criarem situações que obriguem a candidata a sair da toca. O primeiro teste efetivo será o debate inicial entre os candidatos. Ninguém sabe o que "vai colar" na eleição. Pode ser que o eleitorado simpatize com Dilma (tudo é possível). Pode ser que vai colar na candidata a pecha de mero boneco do Lula. Tal qual a economia, o futebol, etc, ninguém sabe o que vai acontecer (os economistas sempre dizem que vai ocorrer uma crise mundial e os "analistas" de futebol desenham um cenário - como na Copa da África - e acaba acontecendo outra coisa). Que o jogo está equilibrado, sabemos (as pesquisas mostram isso). Que o governo vai usar a máquina e os "novos pelegos", também não é novidade (os últimos acontecimentos reforçam). Até agora nenhum dos principais candidatos cometeu algum erro grave. É aquela fase de "estudos" de um jogo de futebol. O que é certo, diversamente do que imaginava Lula, a transferência de prestígio não é automática. A diferença (hoje) entre a avaliação do governo e as intenções de voto da candidata é muito grande.´

Esperado

Ontem, quatro fatos reforçam o esperado para esta campanha:

1. o comício dos Cem Mil acabou sendo um fracasso. Compareceram mil assistentes. Muitos eram funcionários públicos do Rio ou de cidades próximas. Se a oposição trivesse a força de propagar versões, piadas e "verdades", teria um farto material. Claro que o tempo ruim prejudicou o comício, porém ficou reforçada a tese de que o PT não obiliza mais ninguém. É um partido da máquina do Estado. Mobiliza DAS, militantes profissionais e os pelegos dos sindicatos e dos "movimentos sociais";

2. Dilma foi muito mal. É uma oradora de recursos limitados. Já disse aqui, que ela (vide entrevista para o Estadão), não consegue caminhar com as próprias pernas;

3. Lula atacou a Justiça Eleitoral. O confronto será a cada dia da camapnha mais aberto. Vamos ver onde isso vai terminar;

4. Provavelmente o PT não vai repetir (nessa fase da campanha) outro comício. Tinha escolhido o Rio onte teve as máquinas da Prefeitura e do Estado (além do Governo Federal). Mesmo assim, foi um fracasso.

Legislação e uso da máquina

Se um observador estrangeiro ler a legislação eleitoral brasileira deverá ficar impressionado. Imaginará que a máquina pública não terá qualquer influência na eleição, que os gastos são plenamente divulgados e que os candidatos tem "ficha limpa". O detalhismo da legislação não favorece a democracia. Pelo contrário, dá margem a inúmeras interpretações. Quem ganha com issow Os advogados especializados em Direito Eleitoral, claro.
Todo mundo sabe que a máquina pública é utilizado pelos candidatos. Até porque não está bem definido o que é "uso da máquina pública". Todo mundo sabe que os gastos das campanhas não são aqueles registrados na Justiça Eleitoral. Assim como, tem um montanha de candidatos que podem ser chamados de tudo, menos de "ficha limpa".
Se tivéssemos uma sociedade organizada, não seria necessário uma legislação tão minuciosa e que, na prática, não tem qualquer efeito. Político que é corrupto continua candidato e o governo usa a máquina descaradamente para eleger a sua candidata (e para coagir a oposição - basta ver o caso da Receita Federal).
Ontem, mais uma vez, Dilma esteve ausente fisicamente da campanha. Quem falou por ela? Lula, claro. O Brasil é um país que inova, sempre inventa algo inusitado. Agora criou uma tremenda novidade: candidato que fala menos que o patrocinador da candidatura. É uma espécie de candidata de "mentitinha".

Clima da campanha

O noticiário político de hoje mostra bem a campanha que teremos. Já escrevi sobre isso, mas só reforçando, Serra partiu para o ataque. Centrou fogo nas centrais sindicais. Lula voltou a fazer propaganda da sua candidata violando a legislação eleitoral. E Dilma? Está protegida pelo escudo do presidente. Só faz declarações quando é indispensável e lança acusações (como a de que Serra vai extinguir o ministério do Desenvolvimento Agrário). Tudo indica que iremos até outubro desta forma. O embate verbal vai ser entre Serra e Lula. A vantagem de Dilma é que ela tem uma centena de apoiadores para falar e plantar notícias na imprensa. Serra tem um número menor (e seus aliados apoiam com um olho e com o outro observam as pesquisas de intenção de voto).

Lula de volta

Como o esperado, Lula está em campanha. E vai continuar até o final do segundo turno. Vai violar a lei quando quiser e achar necessário. Só tem um pensamento: a eleição de Dilma, que é a preparação para o seu retorno, em 2014. retorno na América Latina não costuma dar certo, basta recordar Juan Domingo Peron e, em parte, Getúlio Vargas.

As centrais sindicais e os movimentos sociais estão em campo sustentados pelo Tesouro Público. A central de boatos também. Tudo está sendo preparado para a próxima pesquisa de intenção de voto. Um eventual crescimento de Dilma mostrará que a estratégia governista está correta. Um empate (e, pior, uma derrota) vai intensificar os ataques e teremos os primeiros atos de violência da campanha (algo como um empurra-empurra em uma rua quando da passagem do candidato, coisa fácil de fazer para pelegos experientes).

O Globo

Foi publicado hoje em O Globo:


Obsessão pelo poder

Como é sabido, o Partido dos Trabalhadores nasceu em 1980. Contudo, muito antes da sua fundação, foi precedido de um amplo processo de crítica das diversas correntes de esquerda realizada na universidade e no calor dos debates políticos. A ação partidária, os sindicatos e as estratégias políticas adotadas durante o populismo (1945-1964) foram duramente atacados. Sem que houvesse um contraponto eficaz, fez-se tábula rasa do passado. A história da esquerda brasileira estaria começando com a fundação do PT. O ocorrido antes de 1980 não teria passado de uma pré-história eivada de conciliações com a burguesia e marcada pelo descompromisso em relação ao destino histórico da classe trabalhadora.

O processo de desconstrução do passado permaneceu durante vinte anos, até o final do século XX. As pesquisas universitárias continuaram dando o sustentáculo "científico" de que o PT era um marco na história política brasileira, o primeiro partido de trabalhadores. O estilo stalinista de fazer história se estendeu para o movimento operário. Tudo teria começado no ABC. Mas não só: a história do sindicalismo "independente" teve um momento de partida, a eleição de Luís Inácio Lula da Silva para a presidência do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, em 1975 (na posse, estava presente o governador Paulo Egydio, fato único naquela época). Toda história anterior, desde os anarquistas, tinha sido somente uma preparação para o surgimento do maior líder operário da história do Brasil.

A repetição sistemática de que em São Bernardo foi gestada uma ruptura acabou ganhando foro de verdade científica, indiscutível. Lula tinha de negar e desqualificar a história para surgir como uma espécie de "esperado", o "ungido". Não podia por si só realizar esta tarefa. Para isso contou com o apoio entusiástico dos intelectuais, ironicamente, ele que sempre desdenhou do conhecimento, da leitura e da reflexão. E muitos desses intelectuais que construíram o mito acabaram rompendo com o PT depois de 2003, quando a criatura adquiriu vida própria e se revoltou contra os criadores.

Mas não bastou apagar o passado. Foi necessário eliminar as lideranças que surgiram, tanto no sindicato, como no PT. E Lula foi um mestre. Os que não se submeteram, aceitando um papel subalterno, acabaram não tendo mais espaço político. Este processo foi se desenvolvendo sem que os embates e as rupturas desgastassem a figura de líder inconteste do partido. Ao dissidente era reservado o opróbrio eterno.

A permanência na liderança, sem contestação, não se deu por um choque de ideias. Pelo contrário. Lula sempre desprezou o debate político. Sabia que neste terreno seria derrotado. Optou sempre pela despolitização. Como nada tinha escrito, a divergência não podia percorrer o caminho tradicional da luta política, o enfrentamento de textos e ideias, seguindo a clássica tradição dos partidos de esquerda desde o final do século XIX. Desta forma, ele transformou a discordância em uma questão pessoal. E, como a sua figura era intocável, tudo acabava sem ter começado.

A vontade pessoal, fortalecida pelo culto da personalidade, fomentado desde os anos 70 pelos intelectuais, se transformou em obsessão. O processo se agravou ainda mais após a vitória de 2002. Afinal, não só o Brasil, mas o mundo se curvou frente ao presidente operário. Seus defeitos foram ainda mais transformados em qualidades. Qualquer crítica virou um crime de lesa-majestade. O desejo de eliminar as vozes discordantes acabou como política de Estado. Quem não louvava o presidente era considerado um inimigo.

Os conservadores brasileiros - conservadores não no sentido político, mas como defensores da manutenção de privilégios antirrepublicanos - logo entenderam o funcionamento da personalidade do presidente. Começaram a louvar suas realizações, suas palavras, seus mínimos gestos. Enfim, o que o presidente falava ou agia passou a ser considerado algo genial. Não é preciso dizer que Lula transformou os antigos "picaretas" em aliados incondicionais. Afinal, eles reconheciam publicamente seus feitos, suas qualidades. E mereceram benesses como nunca tiveram em outros governos.

É só esta obsessão pelo poder e pelo mando sem qualquer questionamento que pode ser uma das chaves explicativas da escolha de Dilma Rousseff como sua candidata.

1932 na "Folha"

Este artigo saiu na última sexta-feira na Folha de S. Paulo.

Saiu no R7

Esta reportagem saiu hoje no portal R7. Só uma alteração: saiu cientista político mas o correto, óbvio, é historiador.

Os novos pelegos

Pouco coisa aconteceu de relevante no fim de semana. Importante foi a divulgação do "manifesto" das centrais sindicais atacando José Serra (e teve também a entrevista de Stédile, eterno dirigente do MST - Stédile lembra um velho pelego - já falecido - do México que chefiou com mão de ferro a CTM durante várias décadas: Fidel Velasquez). os novos epelegos sobrevivem (e muito bem) graças ao FAT. Sabem que uma auditoria do FAT vai criar problemas. E hoje não vivem sem este dinheiro. Já o MST necessita de "um governo amigo" para firmar contratos com ONGs controladas pelo movimento.

Tanto as centrais como o MST nestes 4 meses (até o final do segundo turno) vão agir à serviço de Dilma. E prestarão qualquer tipo de "serviço". Caso a campanha fique equilibrada até o final, mais violentas serão as manifestações (e as ameaças) dos novos pelegos.

Maranhão

Leiam o blog de Marcos Nogueira (http://marcos-nogueira.blogspot.com) . A campanha no Maranhão já está pegando fogo e, como seria de se esperar, com inúmeros golpes baixos patrocinados pela famiglia Sarney.

Rio Grande como exemplo

Hoje, o jornal Zero Hora publica uma pesquisa sobre o desempenho dos candidatos presidenciais no Rio Grande do Sul. Apesar da avaliação positiva de Lula chegar a 70%, Dilma perde para Serra de 37% a 46% (e perde também no segundo turno). É sabido que a governadora Yeda Crusis fez uma gestão muito contestada e que os apoiadores de Dilma tentam associá-la com Serra. Até agora parece não ter dado certo (Yeda tem somente 15%, Fogaça tem 29% e Tarso 39%) .

Esta pesquisa reforça a idéia de que a campanha de Serra tem de centrar fogo no Sul e Sudeste. E aí, se tiver uma vitória expressiva, que poderá ganhar a eleição (e no Sudeste tem muitos problemas, como no Rio e em Minas).

Já Dilma tem um agenda tranquila. Sabe que não é a candidata de verdade. Aguarda o retorno de Lula, que já prometeu, de acordo com os jornais, que vai entrar de cabeça na campanha.

Aguardando o horário gratuito.

Os candidatos se esforçam para aparecer na mídia. Visitam personalidades, vão à rua para o famoso corpo-a-corpo e visitam cidades de regiões onde as pesquisas indicam um resultado ruim. Este é o momento da campanha, já dentro do prazo legal, que quase nada acontece e os candidatos ficam aguardando o início do horário gratuito na TV e no rádio. E quando começar, sabemos que o primeiro programa vai contar as história de vida dos candidatos, histórias que já conhecemos, mas que os marqueteiros acham o máximo.

O marasmo se deve ao tempo excessivo da campanha. Com a facilidade das comunicações e entendendo que o debate político deve ser algo contínuo e não esporádico (restrito aos momentos eleitorais), a campanha no Brasil é longa e despolitizada (além de muito cara - e com todas as consequências advindas de ser cara).

Vejamos o noticiário. Dilma teve como principal atividade encontrar-se com socialites na casa de Lilly Marinho. Serra andou pelo centro de Vitória e Marina, sinceramente, nem sei onde estava. Ou seja, não aconteceu nada de relevante.

A campanha presidencial depende também das campanhas para os governos estaduais. E estas estão também começando e com pouca atenção dada pela imprensa (e, ainda, um certo desinteresse do eleitorado).

As leis e o processo eleitoral

É incrível o número de leis que regulam o processo eleitoral. A maior parte delas não propicia que o processo eleitoral seja efetivamente democrático. São leis para inglês ver. A Ficha Limpa, recém aprovada e tão coemmorada, tem sido violada pelo próprio STF. A obrigação de divulgar o patrimônio é piada. Sabemos que a maior parte dos candidatos escondem o valor real dos seus bens ou usam terceiros (os "laranjas") para ocultar a fortuna que adquiriram, a maioria das vezes, através de ações "pouco republicanas". Neste rol de beiteirol legal deve ser incluído os gastos eleitorais. Tudo mundo sabe que a maioria das declarações dos gastos dos candidatos são absolutamente falsas. Lembro que um presidnete do TRE de SP disse para os jornais que sabia que eram falsas (as declarações) mas não tinha meios de comprovar. Se realmente desejasse checar os dados poderia pedir apoio aos técnicos (que são extremamente competentes) do TCE. Mas ninguém quer mexer neste vespeiro. O melhor é louvar a "transparência" do processo democrático, considerar alguma condenação um grande avanço e dar uma de Poliana eleitoral. E quem rema contra a corrente é considerado um pessimista, chato e até descrente da democracia.

Primeiras escaramuças

Após o início legal da campanha, o programa Bolsa-Família virou motivo do primeiro embate oposição-governo. Serra agiu com inteligência: ao invés de discutir se vai ou não manter o programa (alterando alguns dos seus fundamentos), disse que vai dobrar o número de famílias atendidas. Já escrevi (não aqui) sobre o tema relacionando o programa e o controle do voto na esfera municipal. O alistamento das famílias ocorre nos municípios e é a prefeitura a encarregada deste trabalho. nas pequenas cidades é comum, especialmente no momento da eleição municipal, o prefeito prometer ampliar o cadastro e favorecer famílias em troca de votos. Fazer uma auditoria sobre o total das famílias beneficiadas é impossível. Mas escolher aleatoriamente municípios pelo Brasil, checar os dados, visitar os beneficiados pelo programa, é possível e saudável. Punições para eventuais abusos tem um enorme poder pedagógico.

Ninguém, em sã consciência, vai defender o fim do programa. Afinal, contando os dependentes, são quase 50 milhões de eleitores, cerca de 40% do eleitorado. É fundamental que haja uma efetiva fiscalização e que seja criado alguma forma de acompanhamento das famílias. Mas só isso não basta. É essencial a adoção de programas de inserção efetiva (não os organizados pelas centrais sindicais, que tem eficácia duvidosa), ao mercado de trabalho. Só desta forma evitaremos que milhões de brasileiros fiquem, para sempre, dependentes do Estado, transformando-se numa versão moderna (high tech, via cartão eletrônico) do Jeca Tatu.

Frente à pobreza do debate político nacional, é uma boa notícia a discussão do programa Bolsa-Família.

Primeiro dia

Pelas últimas pesquisas, os dois principais candidatos, como é sabido, estão empatados. Serra terá muitas mais dificuldades durante a campanha do que Dilma. A candidata oficial vai ser "blindada" pelo staff da sua campanha. Quantomemnos falar, menos erros vai cometer. Lula vai pairar sempre como uma sombra nos primeiros momentos da campanha. E, quando a temperatura aumentar, vai entrar em campo, independentemente do que a Justiça deliberar. Aí vai depender da reação do eleitor: se for indiferente, Lula vai continuar a violar a legislação sem pudores. Se a repercussão for negativa, voltará ao seu posto de presidente. Lula nunca foi, na sua história política, alguém que remou contra a corrente. Sempre muito esperto, conseguiu ao longo de todos estes anos, ler corretamente a conjuntura, muito mais arguto do que as centenas de intelectuais que durante certo momento tiveram papel importante na condução do PT (nacional e nas direções estaduais).

Serra tem de resolver as últimas pendências estaduais e se concentrar somente na campanha. Começou bem lutando pelas bandeiras sociais. E apresentando um pouco de história. O lulismo (e Lula em particular) conseguiram até o momento transformar o dia 1 de janeiro de 2003 no ponto inicial da História do Brasil. Nestes 3 meses de campanha deve ser lembrado todo dia que a História do Brasil começou bem antes.............

Início de verdade

Sem o Brasil na Copa e sem as marras da absurda legislação eleitoral, a campanha realmente começou. Serra já partiu para o ataque chamando Dilma para a briga. Claro que ainda de leve. Dilma vai evitar qualquer enfrentamento direto. Não vai se desgastar. E tem o PT e seus aliados para defendê-la e atacar Serra. E mais: tem Lula. Este vai ser um ponto que ainda vai gerar muita discussão. Com a mais absoluta certeza é possível afirmar que Lula vai querer participar ativamente da campanha.

Observando

Com o início efetivo da campanha (apesar dos problemas criados pelo TSE, em parte devido a péssima produção das leis eleitorais pelo Legislativo) é interessante observar:

1. Os anúncios das empresas estatais. Até o momento, fazem abertamente propaganda eleitoral;
2. A ação dos ministros, especialmente das pastas políticas;
3. A proliferação de pesquisas e um bate-boca quando a candidata Dilma estiver em segundo. Pesquisa boa é aquela que registra a sua vitória, preferencialmente por larga margem;
4. As decisões do TSE. O tribunal pode virar um personagem ativo nas eleições;
5. Claro que o grande personagem não estará na cédula, assim como o grande personagem da Argentina não estava dentro "das quatro linhas". Veremos como ele vai agir. Que haverá sérios problemas legais, é pule de dez.

Caminhos da oposição (2)

Um dos desafios é de ampliar o leque das propostas. Claro que falar de saúde é importante para Serra, mas só isso não basta. Falar só da biografia, também. Buscar questões que são relevantes para o dia-a-dia da maioria dos eleitores é um tremendo desafio. Muitas vezes o eleitor vota por mera simpatia (ou antipatia em relação ao adversário, especialmente no segundo turno). Quando o candidato cai no "gosto" do eleitor, acaba vencendo sem nem saber porque. Evidentemente que tem muitos "explicadores" da vitória. Os consultores e marqueteiros sempre "sabem" com antecedência (lembra um pouco alguns economistas estrangeiros que estão sempre prevendo uma crise; chega uma hora que a crise acontece e eles possam de "futurólogos").

A imagem de Serra é boa e consegue rivalizar com Dilma entre o eleitorado de Lula (mais do que o do PT). Em grande parte isto se deve à pássagem pelo ministério da Saúde. Daí que Lula fez de tudo, até março deste ano, para embaralhar o jogo da oposição. Ele já tinha candidata e queria designar o candidato da oposição. Queria escolher o melhor adversário para vencer. E este melhor adversário, evidentemente, não era o Serra.

Entre os desafios de Serra é o de encontrar o tom para a campanha e alguns itens programáticos para repetir até a exaustão. O eleitorad0 (a maioria, claro) não tem a mínima idéia do que é reforma tributária, câmbio, taxa de juros, etc, etc. Se for tocar nestas questões, tem de ser de leve, residualmente, e de forma muito didática. Não pode perder o tempo da propaganda pensando estar dando aula de Introdução à Economia. Ser candidato da oposição é muito mais difícil do que ser candidato do governo.

Caminhos da oposição

Dilma, se perder, analistas dirão que fez mais do que se esperava (lembra um pouco as "análises" de futebol). Se ganhar, logo vão começar a especular se vai trair o criador. Marina pode ter 8, 9 ou 10% dos votos, e logo dirão que foi uma vitoriosa. O único que corre risco na eleição (dos candidatos, claro) é Serra. Tem de vencer. E até uma vitória por pequena margem vai ser criticada. E mais difícil: tem de transformar seus aliados em apoiadores. parece redundância mas não é. Tem aliados mas não (ao menos até agora) apoiadores efetivos. Alguns deles estão olhando para o campo adversário para ver se é melhor fazer corpo mole e depois aderir (após, óbvio, a vitória de Dilma).

Serra tem o grande desafio de enfrentar um governo muito bem avaliado e com uma economia estabilizada e com bom crescimento (comparativamente aos últimos 20 anos). Não pode dizer que tudo está ruim, sob o risco não só de perder a eleição, mas de ser considerado maluco. O seu primeiro desafio será criticar a política econômica e mostrar (de forma acessível, sem economês) que o país pode crescer muito mais. E como este crescimento servirá para (rapidamente) enfrentar os graves problemas sociais. Não é uma tarefa fácil.

Datafolha

O Datafolha de hoje deu Serra com 39% e Dilma com 38%. Estão empatados. Aquela conversa de que a Dilma ganharia no primeiro turno, como eu já tinha escrito, não passa de bobagem. Ninguém vai ganhar no primeiro turno. Teremos um segundo turno disputadíssimo e um vencedor por uma margem muito pequena.

A pesquisa pode representar uma virada de página, depois de dias e dias de enorme confusão entre os oposicionistas. Mas também não é para ser comemorada como uma grande vitória. Mostra que o candidato Serra é o único - no campo oposicionista - que pode enfrentar Lula. Pois, sabemos (e o próprio presidente disse), Dilma é o codinome de Lula na eleição de 2010.

Agora, a oposição tem de se convencer que a campanha começou, ainda que timidamente, e que não pode ser vítima de fogo amigo a cada semana. Dilma continuará seu périplo, evitando entrevistas e nem querendo saber de debates. Deve, nestes dias, colar a sua imagem a de Lula. vai tentar associar uma eventual vitória da seleção a Lula e a ela. Vamos ver várias fotos da ex-ministra "vibrando" com a seleção e até com a camisa "canarinho".

Analisando as regiões, a pesquisa reforça a interpretação de um país eleitoralmente partido. Serra tem 50% dos votos do Sul e 43% do Sudeste. Para ganhar tem de ampliar a diferença especialmente no Sudeste. Se passar dos 50% gahará a eleição independentemente da derrota no Nordeste e Norte. Concentrar a campanha no "triângulo de ferro" da política brasileira pode ser o segredo da vitória.

Fazendo política

Para, momentaneamente, encerrar a questão das enchentes, vale mais uma consideração. É rotineiro o governo federal prometer a liberação das verbas. Falam em milhões de reais com enorme facilidade. Passa uma, duas, três semanas e o dinheiro não chega. Quando vem, é alguma migalha, desprezível frente aos milhões prometidos, quando da tragédia.

O que deve fazer a oposição? O que fazia o PT, quando era oposição. Espernear, protestar, mobilizar a população, convocar a imprensa. Qual deputado estadual foi protestar na assembléia? Qual usou a sua influência na região onde foi eleito para denunciar a inércia governamental? Qual deputado federal foi sistematicamente à tribuna da Cãmara para cobrar providências do governo? Que senador cobrou providências do governo? Quem procurou a imprensa para denunciar o descaso governamental? A oposição assiste a política da janela. Raramente dá algum sinal de vida. Quer ganhar a eleição por WO.

Voltado ao problema das enchentes

A oposição continua silenciosa. Mas a tragédia continua. Não fala um líder partidário, alguém da direção da campanha, um deputado federal, senador, ninguém. É possível compreender que o candidato não fale, pois, certamente, seria acusado de querer "explorar a tragédia". Porém é inexplicável que alguém da oposição não coloque o dedo na ferida, fale das péssimas gestões de Ciro e Geddel, da fortuna destinada á transposição do rio São Francisco, da falta de planejamento e por aí vai. E pior ainda (e só pensando eleitoralmente): é a região que, nas pesquisas, Dilma está mais confortável.