O vice de Serra

Foi uma surpresa a escolha de Índio da Costa. Além das piadas (inevitáveis) é possível extrair algumas conclusões:
1. foi um desastre o encaminhamento da escolha do vice;
2. a falta de uma eficaz coordenação de campanha ficou claríssima;
3. o DEM esperneou e fez uma violenta pressão (como Álvaro e Osmar Dias estavam fazendo no PR);
4. a solução encontrada não foi ruim;
5. quem vai votar na Dilma e na Marina não vai olhar quem é vice. O mesmo se aplica a Serra;
6. foi a demora na definição do vice que criou esta agenda negativa;
7. a sorte foi que a Copa escondeu a confusão (para a maioria da população, óbvio);
8. agora cabe obter ganhos desta escolha (alguns argumentos favoráveis são evidentes: é deputado pelo terceiro maior colégio eleitoral, jovem, participou ativamente da luta pela aprovação do projeto Ficha Limpa, foi vereador várias vezes e pode colocar temas da esfera municipal, etc, etc).
9. fazer com que a campanha comece efetivamente a ter uma coordenação.
10. definir claramente as idéias centrais do programa do candidato.

Cenários para 2011

Fui cobrado sobre o Brasil pós-Lula. Se Dilma vencer, não haverá pós-Lula. Lula vai continuar pairando como uma sombra (e que sombra!) sobre o governo Dilma. Se Serra vencer, Lula vai estar em campanha desde o final do segundo turno (31 de outubro). Vai transformar a saída do governo em campanha aberta. percorrerá o Brasil, assistiremos cenas "comoventes", ele será carregado pelo povo, vai chorar, etc, etc.

Não é possível, ainda, traçar este cenário. Primeiro, porque sequer foi feito um balanço sobre os 8 anos do governo. Tem tanta coisa para ser explicada, entendida. Os 8 anos, por exemplo, se dividem em duas partes: de 2003 até o final de 2005 e daí para frente. A grande virada de Lula foi ter aguentado a pressão do mensalão sem se desesperar, analisado corretamente que a oposição não queria briga (prefiria brincar de casinha), fortalecido a relação com o grande empresariado e mantido os "movimentos sociais" sob controle (como uma reserva especial, caso o conflito se agravasse com a oposição). Jogou bem. Claro que os adversários ajudaram, porém ele não tem culpa se a oposição foi tão incapaz.

Três meses

Três meses de campanha. Abril, maio e junho. Contudo, quase nada foi discutido. A campanha nestes meses não passou de uma ou outra escaramuça entre Serra e Dilma, uma ou outra entrevista e mais nada. De substancial, nada. É possível avaliar que este ritmo lento, quase parando, foi ditado pela candidata Dilma. É o que interessa a ela. Enfrentamento, polêmica, definições, é o que ela menos quer. Sabe que pode cometer erros. Prefere jogar só no acerto, trocando passes curtos e aguardando o final do jogo.

Serra acabou metido nesta embaralhada do candidato a vice. Algo relativamente simples (pois a ausência de Aécio banalizava a solução da questão) acabou virando uma novela rocambolesca. Virou pauta da agenda negativa. Se for solucionada logo cairá no esquecimento. Como já escrevi, a Copa escondeu a crise entre o PSDB e o DEM.

O mais importante desta semana será o Datafolha. Sairá no final de semana. Provavelmente dará Dilma em primeiro, como o Ibope. O que reforça a necessidade da oposição afinar o discurso, resolver pendências banais (como esta do vice) e traçar uma nova estratégia. A campanha, caso a seleção chegue até a final, começará mesmo no dia 12 de julho.

Partidos sem candidatos

O PMDB teve candidato para presidente em 1989 (Ulysses) e 1994 (Quércia). Desde então reservou-se ao papel de apoiar outros partidos ou manter-se omisso (nacionalmente falando). O DEM/PFL é um caso mais grave. Só teve candidato em 1989 (Aureliano Chaves). PSDB e PT, desde 1989, sempre lançaram candidatos. Isto, em parte, explica que a política brasileira desde os anos 90 gira em torno destes dois partidos. São os mais orgânicos, apesar das deficiências. E que conseguem desenhar um projeto para o país.

Previsões

Os jornais estão cheios de previsões. Já foi feito inclusive um mapa da provável composição do Senado e da bancada do PT. Em 2006 aconteceu a mesma coisa e deu tudo errado. A campanha ainda não começou e o eleitorado (como já escrevi diversas vezes) não está interessado em eleição. Esta é a sorte da oposição, neste momento. A confusão com o vice não foi resolvida. O DEM, através de algumas lideranças, continua esperneando. Faz o jogo do governo, mesmo que assim não o queira. A convençã do DEM pode ser o momen to de encerrar esta questão e retomar a tal agenda positiva. Do lado do governo, tudo azul. Dilma continua a mesma. Já foi pior. Está aprendendo, basta ver o "Roda Viva" de ontem.

Só um turno

Reapareceu a lenga-lenga de que a eleição presidencial vai ser decidida em primeiro turno. Bobagem. No início do ano a conversa era que Serra decidiria tudo em um só turno, em abril seria Dilma, depois o assunto caiu no esquecimento. Agora voltou de leve. A eleição terá dois turnos e a campanha não começou. Só começará após o final da participação do Brasil na Copa.

Enchentes e eleição

Em 2002 Lula aproveitou o surto de dengue como instrumento eleitoral. Falou e falou. Tentou colar em Serra a responsabilidade da dengue (pouco adiantou os esclarecimentos de Serra da reponsabilidade das autoridades estaduais, etc, etc). Agora temos mais enchentes. O Ministério da Integração Nacional passou 8 anos como instrumento do PSB (gestão Ciro) e do PMDB (gestão Geddel). O país teve uma sucessão de tragédias e enchentes em todas as regiões. Nenhum trabalho de prevenção foi realizado. As verbas foram mal alocadas e usadas para fim eleitoral (caso de Geddel e o estado da Bahia). E o que a oposição falou? Nada. Entrou no discurso do governo, acreditou na conversa fiada de que criticar o governo é explorar a tragédia de milhares de famílias. Não é difícil imaginar se fosse o contrário. Teríamos, neste momento, passeatas por toda a região atingida pelas grandes chuvas.

DEM

O DEM, como se sabe, nasceu do antigo PFL. Durante anos lemos que o PFL era um partido de profissionais. Evidentemente, que os líderes pefelistas adoravam ser chamados de profissionais. dava a impressão que enxergavam muito mais que os simples mortais. Veio a derrota de 2002. Novamente perderam espaço político em 2006. Acharam que o problema era o nome. Mudaram para DEM (claro que consultaram um marqueteiro, considerado gênio, como 99% deles). tentaram ser o partido da classe média, batendo na tecla dos impostos e do inchamento do Estado. A idéia era boa. Desejavam ser uma espécie de Partido Conservador inglês. Mas faltou o principal: quadros. E pior: indicaram para presidente nacional um político inexperiente, produto do filhotismo. Deu no que deu.

Recolhendo os cacos

Em meio a todo este rolo, a oposição, ao menos, tem uma vantagem: a maioria da população não está nem aí para a eleição. Está acompanhando a Copa. Portanto, dá tempo para acertar o time rapidamente, acabar com o bate-boca pela imprensa e reorganizar a campanha.

As atitudes dos líderes do DEM (que estão nos jornais de hoje) foram desastrosas. Não é novidade que o DEM depende para sua sobrevivência de uma vitória de José Serra (ao menos, de uma boa campanha). Afirmar que estão acompanhando um velório, uma derrota previsível, é ridículo. Coisa de colegial.

Teremos no próximo fim de semana mais um Datafolha. Não causará estranehza que aponte a liderança de Dilma. Assimilar este golpe e preparar um contra-ataque é essencial para a oposição. Será desastroso encontrar declarações de líderes opocisionistas considerando que a eleição já está decidida.

A oposição (e já escrevi tantas vezes isso em mais de 7 anos) não sabe ser oposição e ter comportamento de oposição. Chances de vitória, a oposição tem. Não pode agir como fez no auge da crise do mensalão. Analisou e traçou uma estratégia equivocada.

Ainda sobre o vice

Vice pode ser solução ou algo absolutamente indiferente, mera composição de uma aliança política. Vice nunca pode ser problema. Dos presidentes eleitos desde 1989, Itamar Franco não foi solução, nem problema. Foi quase indiferente. Se lermos os jornais de 1990 até a entrevista de Pedro Collor (na metade de 1992) raramente encontramos o nome de Itamar. Só deu seu ar da graça quando o impeachment começou a despontar. Os outros vices (Marco Maciel e José Alencar) foram discretos (excetuando um breve período que Alencar resolveu botar a boca no trombone contra as altas taxas de juros) e não somaram votos, só permitiram a composição de uma aliança política pontual.

Dito isso, causa ainda mais estranheza o rolo criado pela oposição. Vice é vice, só isso. Arranjar um problema para resolver uma questão, que, neste momento (em março a história era outra), se resume ao mero preenchimento da cédula eleitoral é uma tremenda bobagem.

Semana complicada

Os incidentes de ontem sobre o provável vice de Serra foram péssimos. Reforçam a idéia de que a oposição perde primeiro para ela própria. A escolha do vice já deveria ter ocorrido antes da convenção do PSDB. A demora acabou conduzindo à divisão da frente oposicionista. A pesquisa Ibope aprofundou as divergências.

Enquanto isso, Lula foi pela primeira vez a uma área atingida por uma enchente. A situação no Nordeste é grave. A oposição ignorou a enchente. Ficou receosa de ser acusada de aproveitadora. Errou. A tragédia nordestina tem, em parte, a marca do governo Lula. Pode ser usada como exemplo de uma administração incompetente. Evidentemente que não é fácil em meio a uma situação de calamidade pública fazer política. Mas Lula, como sempre, está sabemdo tirar dividendos políticos.

Mais Ibope

Reforçando o que foi escrito ontem e observando o relatório do Ibope, a oposição tem de jogar todas as suas forças nas regiões Sul e Sudeste. O país está partido, eleitoralmente falando. A chance de vencer é de aumentar a distância na região Sul (no momento: 42% a 34%) e ganhar por mais de 10 pontos no Sudeste (no momento 37 a 36 para Dilma). Este empate técnico no Sudeste pode ter entre suas explicações a ausência efetiva das campanhas dos candidatos do PSDB aos governos dos estados de São Paulo e Minas.

A pesquisa Vox Populi que deu Hélio Costa na frente pode estimular Aécio a efetivamente fazer a campanha em Minas. Qualquer tentativa de conciliação com Dilma (como o tal Dilmasia) será um fracasso. Lula pode até estimular, mas (e não será a primeira vez) estará blefando e enganando Aécio (Lula fez este jogo durante 7 anos, neutralizou Aécio, desgastou lideranças do PSDB e no fim impôs a sua candidata, arrastando o PMDB para apoiá-la).

Em São Paulo (quase um quarto do eleitorado nacional), Alckmin terá de colar a sua campanha à de Serra. A propaganda eleitoral tem de mostrar tudo o que foi realizado pelos últimos governos e relacionar com a importância de ter um aliado na presidência. Se ganhar no primeiro turno, terá de dar uma vantagem confortável para Serra e se jogar com toda disposição para a curta campanha do segundo turno.

O Rio é o caso mais complicado. E, até agora, parece que Dilma vencerá com facilidade. Daí a movimentação nestes dias de colocar Patricia Amorim como possível candidata a vice. Temer nada acrescentou em termos de voto à Dilma (claro que a jogada foi pensada de olho no tempo de TV e de algumas coligações estaduais). Quem vota na Dilma nem sabe quem é Temer (e nem está interessado em saber). Patrícia (supostamente) arrastaria os votos dos flamenguistas e das mulheres (onde Serra vai bem). É uma decisão difícil. Claro que o comando da campanha deve ter uma montanha de pesquisas para auxiliar a decisão. Depois da eleição, caso dê certo, a jogada terá vários pais, se perder ninguém vai querer ser responsabilizado. E mais uma vez o futebol faz par com a política.

A oposição e suas tarefas

A pesquisa IBOPE divulgada ontem revela alguns defeitos da oposição. A falta de combatividade é um deles. Os líderes oposicionistas querem vitórias fácies, de preferência no primeiro turno. Pensam nos casos de Minas (2002 e 2006) e de São Paulo (especialmente 2006). Fogem de uma campanha polarizada, difícil.

Parte do sucesso eleitoral de Lula (Dilma é uma simples marionete) deve-se à oposição. Ficou 7 anos e meio evitando o confronto, excetuando 3 meses de 2005, durante a crise do mensalão. de resto, foi quase que uma linha auxiliar do governo. Registre-se, por exemplo, os depoimentos de Antonio Palocci ou de Hnerique Meirelles no Senado. Parecia que a oposição era a bancada governamental. Este acúmulo de anos e anos de ausência de oposição acabou facilitando a aprovação popuilar do governo Lula.

Os projetos pessoais sempre estiveram à frente do projeto partidário (mais uma vez deve ser lembrado Lula: ele impôs Dilma e a manteve até agora, passando por cima de tudo). Todos os caciques se acham "o máximo", mas os eleiotores pensam diferente.

A eleição vai se definir favorável a oposição caso obtenha uma grande vitória no Sul e principalmente em São Paulo e Minas. Nordeste e Norte, especialmente, são regiões que o governo vai vencer tranquilamente.

Por outro lado, deve ser destacado que as campanhas estaduais que podem favorecer Serra ainda não começaram, como é o caso de São Paulo.

A pesquisa IBOPE deve servir também para testar os nervos da oposição e o caráter de muito líder oposicionista.

Pesquisa Ibope

Os números da pesquisa IBOPE são favoráveis a Dilma. A margem de 5% de vantagem é expressiva. Mostra que a popularidade de Lula, como era esperado, está tendo um papel determinante. Que a eleição vai ser muito disputada, escrevi diversas vezes. A oposição (entenda-se, José Serra) tem chances reais de vitótia. Porém necessita primeiro arrumar a casa, dar uma efetiva unidade aos projetos dos líderes regionais, resolver rapidamente a questão do vice e manter o pique dos militantes.

A estratégia do governo está sendo vitoriosa. Dilma não fala, some dos holofotes. Como disse Lula, "o candidato sou eu". Arrastar Dilma para os debates televisivos é a cada dia mais fundamental para a oposição. É óbvio que os estrategistas da sua candidatura vão evitar a ida dela aos debates. Não deve estar descartada a recusa, no primeiro turno, de participar de qualquer debate, inclusive, o da Globo, que tradicionalmente é o último.

Mas ainda estamos longe da consolidação do quadro sucessório. Porém, é evidente, Dilma - melhor dizendo, Lula - larga na frente.

A questão do vice.

No Brasil nem sempre se dá a atenção devida ao vice. No caso da Presidência da República, o vice é ainda mais importante. Na história republicana tivemos vários vices que assumiram e completaram (ou quase) o mandato do cabeça de chapa. Floriano Peixoto (que não era o vice de Deodoro na eleição congressual) governou mais que o titular. Nilo Peçanha assumiu por um ano e meio (era o vice de Afonso Pena). Café Filho ficou na presidência de agosto de 54 até novembro de 55. Durante a maior parte do segundo governo Vargas foi um opositor radical do presidente. Tanto que sequer compareceu ao velório do presidente. Jânio governou 7 meses e seu vice e Jango cerca de 31 meses (o mandato acabou sendo concluído por Castello Branco, que aproveitou e estendeu o seu próprio por cerca de um ano). Itamar governou quase tanto que Collor. Claro que não citei Sarney, que governou 5 anos, enquanto que Tancredo Neves, que era o cabeça de chapa, não assumiu sequer um dia (foi internado e operado, pela primeira vez, na noite de 14 para 15 de março de 1985).

O eleitor de Dilma dificlmente ficará satisfeito se Temer assumir, assim como o de Serra não ficará alegre com o vice (que ainda não sabemos qual será), especialmente se não for alguém que tenha proximidade política com o candidato. O ideal seria a convocação de novas eleições após a ausência do titular e a supressão do cargo de vice (tanto na esfera federal, como na estadual e municipal). Poderia ter uma exceção caso faltasse 1/4 para o término do mandato. Neste caso, o Legislativo faria uma eleição indireta.

Quem fala em nome do candidato

É curioso observar (e nos últimos dias ficou ainda mais patente) que pela candidata Dilma falam diversos membros do partido e do governo. Fala o presidente do PT, o secretário-geral, ministros, líderes do partido no Congresso Nacional. E, claro, Lula. Mas ela não fala. Ou quando fala, são declarações breves.

Já Serra é quase que o porta-voz solitário da candidatura. Eventualmente o presidente do PSDB dá alguma declaração. De resto, é o candidato que tem de tomar sempre a iniciativa, o que nem sempre é bom. Não é bom porque acaba desgastando o candidato.

Temos, portanto, dois casos opostos: uma candidata que raramente fala e um candidato que tem sempre de falar.

Campanha arrastada

Ontem Serra foi entrevistado pela Folha/Uol e no Roda Viva (este foi gravado). Bateu em alguns temas. Contudo não deve ser fácil fazer campanha sem que o oponente dê as caras. Parece uma luta de boxe que o oponente é um fantasma. Será uma tarefa daquelas típicas da mitologia grega: esconder a candidata até outubro. Como o Brasil é um país estranho, pode dar certo. Mas vai chegar uma hora (lá por volta de setembro) que isto vai cansar e pegar muito mal. Debate não é dar brevíssimas entrevistas para jornalistas na saída de algum evento. Pode ser conversa de historiador, mas Dilma lembra (nas atitudes, pouca clareza nas exposições e enorme dificuldade com o vernáculo) um pouco o Marechal Hermes da Fonseca (presidente entre 1910-1914).

Dilma e os arranjos estaduais

Dilma não tem participado das negociações dos palanques estaduais, diferentemente de Serra. Como já escrevi, na hora que a campanha pegar no breu, isto vai contar - e muito. Quem negocia é Lula e, em segundo plano, o PT. Aparentemente é bom porque não desgasta a candidata. Mera ilusão: os caciques regionais não tendo contato direto com Dilma (a maioria não a conhece), dificilmente vão sustentar sua candidatura quando a campanha tiver (e terá, como todas) algum momento difícil. E mesmo que tudo ocorra bem para Dilma, vai ficar a impressão que ela nada decide.

Marina e o PV

Tal qual o que ocorreu com o PSOL em 2006, com a candidata Heloisa Helena, em 2010 Marina Silva deve ter um bom desempenho eleitoral (superior ao de HH). Contudo isto não deverá significar que o partido (no caso, o PV) tem algum crescimento real. E, evidentemente, o PV pode crescer muito mais do que o PSOL. Mas, diferentemente do PSOL, tem entre seus filiados desde malufistas, sarneysistas (Sarney Filho liderou o partido diversas vezes na Câmara) e oportunistas de toda ordem. Parece que não será desta vez que o PV se consolidará como um partido alternativo, com uma sólida plataforma e forte inserção na sociedade.

A eleição presidencial colombiana.

Juan Manuel Santos venceu fácil. Era o candidato de Uribe. Foi hostilizado pelo governo brasileiro desde 2003. Buscou cooperação nas fronteiras para combater o tráfico de drogas e de armas (em parte controlado pelas FARC) e só recebeu desaforos. Nos fóruns regionais foi tratado com desprezo por Lula e a troika do Itamaraty. Por outro lado, os governos venezuelano, boliviano e equatoriano (sem falar no argentino) trataram os interesses do Brasil sempre com desdém (basta recordar as "nacionalizações' de Morales, as ameaças de Correa, etc). Contudo, foram muito bem tratados por Lula.

A vitória de Santos mostra que discutir segurança não tira voto, muito pelo contrário.

Estado e partido

As recentes denúncias de uso da máquina pública pelo PT para a coação de adversários políticos são gravíssimas. Não serão apuradas. Os acusados, como sempre vão negar. Desta forma, novas denúncias vão aparecer quando a campanha pegar no breu. No segundo turno teremos o uso criminoso de informações sigilosas em larga escala. Vai ser uma espécie de vale tudo eleitoral. Tudo dependerá de como estará a candidata oficial: as denúncias aumentarão se estiver perdendo e diminuirão se liderar as pesquisas.

Mas o pior é a herança maldita deixada por estas práticas.

Sarney ganhou.

Nos últimos dias, Sarney obteve mais duas grandes vitórias. O término da greve de fome do deputado Domingos Dutra e de Manoel da Conceição não fez com que o PT rompesse com o apoio à reeleição de Roseana. Deu somente liberdade para aqueles que desejam apoiar Flávio Dino. A segunda vitória foi a aprovação do Ficha Limpa e a ameaça (que deve se concretizar) de impedir a candidatura de Jaclson Lago para o governo. Desta forma, Roseana caminha celeremente para a reeleição. Pobre Maranhão........

Eleição e Copa

Desde a alteração do mandato presidencial para 4 anos (a ANC de 1987/88 tinha aprovado o mandato de 5 anos), as eleições presidenciais coincidem com a realização da Copa do Mundo. Isto vai sempre se repetir pois a seleção brasileira estará presente a todas as Copas. Achar que isto atrapalha a campanha presidencial é um exagero. Caso o Brasil chegue à final, em 11 de julho, teremos quase 3 meses para tratar só da eleição. Volto ao exemplo inglês: uma campanha de pouco mais de um mês e com densidade. Se em 2010 está sendo assim, imaginem em 2014, quando a Copa vai ser realizada no Brasil.

Em tempo: também não existe nenhuma relação entre a vitória da seleção brasileira e a eleição de um determinado candidato à presidência. Em 2002 o Brasil venceu e a oposição ganhou a eleição.

Como o esperado

Com a insistência dos candidatos nanicos em participar dos debates na TV, dificlmente teremos algum encontro que reuna os três principais candidatos. Dilma deve estar satisfetíssima.

Com a aplicação do Ficha Limpa às condenações pregressas, comprovou-se as denúncias de que Sarney facilitou a tramitação e aprovação do projeto com um único objetivo: barrar a candidatura de Jackson Lago ao governo do Maranhão. Desta forma, o caminho fica livre para a sua filha.

Dossiês e intervenções

O dia foi marcado por novas denúncias sobre o dossiê organizado pelo comitê petista. Parece que o caso ainda terá vários desdobramentos.
O outro assunto importante foi a decretação da intervenção no PMDB de Santa Catarina. É um anúncio do que poderá ocorrer em todos os estados que não estão alinhados com a chapa Dilma-Temer. Quero ver o que acontecerá em São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

A oposição na TV

Foi muito bom o programa apresentado pelo PSDB na TV. Didático, com uma boa passagem de um tema a outro e tendo como questão central a saúde. Uma campanha também se vence com uma propaganda eficaz.

PMDB

Seis diretórios do PMDB não vão apoiar Dilma: Acre, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Pernambuco. Temer fingiu entregar para Lula todo o partido. Blefou. Não tem o controle sobre estas seções. É claro que vão tentar vários golpes para à força assumir o controle dos diretórios nestes estados.

Esta deserção é péssima para a candidata Dilma. Agora, pode não ter muita importância, mas quando começar a campanha, vai fazer muito falta este apoio. Resta observar como Serra vai se aproveitar desta fratura no PMDB.

Futebol e política (2)

Como era esperado, ninguém mais quer saber de eleição. Só um assunto interessa: a seleção brasileira. Má hora, inclusive, para a greve de fome do deputado Dutra, do PT do Maranhão....

E como o assunto é futebol, vale lembrar um mito que surgiu em 1970. João Saldanha, técnico durante as eliminatórias de 69, acabou demitido no início da preparação para a Copa de 70. Saldanha era jornalista. Sua designação para técnico, em 69, foi uma grande surpresa e extremamente ousada. A imprensa paulista recebeu muito mal a sua escolha. Era um conhecido jornalista mas que tinha tido somente uma breve experiência como técnico do Botafogo, em 57, quando, inclusive, o time da "estrela solitária", foi campeão carioca.

Foi muito bem nas eliminatórias. Porém, na fase de preparação, em 70, estava emocionalmente perturbado. Chegou a colocar Pelé na reserva dizendo que ele não enxergava bem. Acabou sendo demitido e Zagallo assumiu o comando. Saldanha espalhou aos quatro ventos que foi demitido porque era comunista. Bobagem. Todos sabiam que ele era comunista e não foi por esta razão que foi nomeado e muito menos demitido. Depois disse que saiu porque não queria convocar Dario, o Dadá Maravilha (na época no Atlético Mineiro), suposta exigência de Médici. teria tido uma espécie de bate-boca com o general e dito que o presidente cuidasse de escolher seus ministros, pois os jogadores da seleção era com ele, Saldanha. Conversa. Nunca disse nada disso. Pelo contrário, após a demissão chegou a pedir uma audiência para o Ministro da Educação, Jarbas Passarinho. Na época, a CBD (não havia ainda CBF) estava submetida ao CND (Conselho Nacional de Desportos) e este ao MEC. Na audiência, Saldanha solicitou (como foi amplamente noticiado pela imprensa) que Passarinho interviesse na CBD e nomeasse um interventor. O ministro explicou que esta medida extrema não poderia ser tomada pois não havia razão para tal.....

Em resumo: Saldanha foi demitido por incapacidade e tentou mascarar com uma roupagem de perseguição política. Vale lembrar que foi a Copa de 70 como o principal comentarista da....Rede Globo. Contudo, até hoje, a versão se sobrepôs ao fato.

A promessa de Lula

Lula não está esconde o jogo: disse e repetiu que vai entrar com tudo na eleição. Usará, se necessário, a máquina do Estado. O aumento da aposentadoria foi só uma pequena demonstração. A proposta do governo era inferior àquela aprovada pelo Congresso Nacional. Acabou concordando olhando não para o Tesouro Nacional, mas para os milhões de votos dos aposentados. Cada ação governamental vai estar pautada pela eleição e pela colocação nas pesquisas da sua candidata. O governo, no sentido do estabelecimento de metas, programas e trabalho administrativo, acabou. Nestes 5 meses, até a eleição de outubro, o governo passará a funcionar exclusivamente como o comitê central da candidatura Dilma.

O aparelhamento do Estado

Um ponto importantíssimo nesta campanha é o aparelhamento do Estado. Como todas as questões políticas, não será fácil explicar para a maioria dos eleitores o seu significado. Vazamentos de sigilos bancários tornou-se praxe no governo petista. Poucos ainda se lembram do caso do jardineiro de Brasília e a ação de Antonio Palocci. E ainda mais: caso a oposição vença a eleição de outubro, encontrará um Estado sob controle partidário. O governo será sabotado. Aí, por estranho que pareça, os DAS serão fundamentais. Sem eles, o governo (caso a oposição vença, óbvio) não conseguirá governar.

O aparelhamento do Estado coloca em risco as liberdades democráticas. Apresentar esta questão para os eleitores é fundamental para a oposição e para a democracia brasileira.

Gato e rato

Vai começar o jogo de gato e rato. Ontem, na convenção do PT, mais uma vez foi possível constatar o óbvio: Dilma tem enorme dificuldade de comunicação. É, o que se diria na linguagem futebolísitca: uma jogadora de cintura dura. Além dos problemas de comunicação, é uma candidata do Lula e não do partido. Vai ser protegida até outubro dos debates e entrevistas consideradas perigosas. Outra vez usando linguagem futebolistica: só vai na boa. Evitará divididas e não poderá jogar desprotegida.

A oposição vai ter a tarefa de chamar Dilma para o jogo. Se ela não aparecer, terá (a oposição) de demonstrar para os eleitores que a candidata foge do debate e que é uma mera marionete de Lula. Não será tarefa fácil.

Começou

Com a formalização das candidaturas, a campanha começou. Marina e Serra apresentaram seus programas nos discursos nas convenções e Dilma fará o mesmo. Do longo arrazoado dos candidatos, deverão ser escolhidos alguns pontos para serem "martelados" até a exaustão. No fim, a questão pessoal vai contar muito. A escolha com base na simpatia (não do candidato, mas com alguma idéia ou ação administrativa já realizada) e afinidade (daquele tipo que é difícil explicar ou mensurar). Isto caso não ocorra nenhum escorregão, o que é muito dfiícil. Em um debate, numa entrevista, em um corpo-a-corpo pelas ruas, vão surgir alguns incidentes. É impossível estimar o grau, mas ocorrerão, como em toda campanha.

Como já escrevi, a oposição (principalmente a candidatura Serra, que é a que tem viabilidade de vitória), está pagando o preço de ter sido leniente nos últimos 7 anos. Tem a difícil tarefa de em 4 meses fazer o que não foi feito em quase 90 meses. O êxito pode ocorrer se focar na candidata todas as críticas. Evidentemente que Lula sabe disso e vai ser o escudo de Dilma.

PC do B

Esta eleição vai fornecer um bom material sobre partidos políticos. O PT está se eesmanchando. Já o PC do B foi humilhado no Maranhão. Como será que vai reagir? Reagirá?

Bem, o "partido socialismo" abandonou, faz tempo, a leitura de "O Capital". Hoje virou o partido do lazer. E tem como leitura de cabeceira "O direito à preguiça", de Paul Lafarque. As generosas verbas para a Copa de 14 e a Olímpiada de 16 calaram a boca do partido. Seus dirigentes estão em postos oficiais, recebendo altos salários. Como diria Garotinho, "não querem perder a boquinha".

A fratura do PT

A intervenção no PT do Maranhão é mais uma etapa no processo de controle do partido por parte da direção nacional. Mais do que controle, de domínio, elimando qualquer voz dissidente. O velho centralismo democrático leninista impôs com mão de ferro a vontade de Lula. Se o PT nasceu (ou teria nascido) como a "voz dos movimentos sociais", hoje vocaliza servilmente a vontade de Lula. Nem discute, obedece. Sabe que sem ele perderia os valiosos cargos da administração federal, o apoio financeiro dos empresários, a posição social que a nova classe dos dirigentes (deste a esfera municipal) acabaram obtendo na última década. Os tempos da fundação, da militância voluntária e das eleições com propaganda oriunda de recursos próprios (festas, rifas, venda de brindes, etc), acabou. Restava um pouco deste espírito em alguns estados, onde o movimento da história aparece um pouco mais lento. Mas também lá, o processo da vontade única (a de Lula), chegou.

Uma pergunta que fica é o que farão estes velhos militantes? Ficarão no PT? Abandonarão a política? Vão se filiar aos partidos já existentes? Criarão um novo partido? Aguardarão o resultado de outubro e com a derrota de Dilma lutarão pelo controle do partido, com um Lula enfraquecido?

Completando

Completando o post anterior, acho muito difícil encontrar as razões que levam o eleitor a votar em um candidato. Na maior parte das vezes, o voto não tem nada de racional. Em 2002, vi um "analista" afirmar que o eleitorado paulista votou no Lula, para presidente, e no Alckmin, para governador, para visava equilibrar o peso dos partidos, um, na esfera federal, outro, na esfera estadual. Portanto, o eleitor não teria desejado dar a um só partido todo o poder. Achei uma tremenda bobagem. O eleitor não estava querendo "equilibrar" o jogo entre os dois principais partidos. Votou porque teve algum tipo de identificação com um e o outro candidato. É claro que a biografa e a proposta de cada candidato influiu, mas imaginar uma racionalidade absoluta no voto é uma asneira.

É sabido que os partidos fazem inúmeras pesquisas para acertar o discurso e suas propostas. Alguns canidatos ficam sob o domínio dos seus marqueteiros. Nada fazem sem consultá-los. A eleição é uma indústria, cara e muito lucrativa. E no caso brasileiro temos eleições a cada 2 anos. O voto pode ter razões emotivas, de mera simpatia ou antipatia. O eleitor faz uma relação com a sua vida, com o forma que está vivendo, seus planos, desejos, sonhos. A biografia do candidato é muito importante. E este ponto, até agora (e é até compreensivo, pois a campanha não começou), não foi explorado por José Serra. É um dos seus pontos fortes e, do outro lado, um ponto fraco de Dilma (que tem seus pontos fortes, principalmente, como é óbvio, o apoio de Lula).

As regiões e os votos.

Já temos (e teremos muito mais) informações sobre a intenção de voto para a eleição presidencial em cada região do país. É evidente a divisão entre o Sul e Sudeste com as outras regições. As explicações ficam ao gosto do freguês. Todas são possíveis de algum tipo de comprovação empírica ou ideológica.

Considero o Nordeste, nesta eleição (assim como em 2006), um território lulista. Basta consultar os dados do Ministério do Desenvolvimento Social, cruzá-los com os do IBGE, ambos disponibilizados na rede, para constatarmos a importância do Bolsa Família em centenas de municípios da região. Em 2006 estive em Canudos, sertão baiano, entre o primeiro e segundo turnos da eleição presidencial. Escrevi um artigo que saiu na Folha tratando justamente desta questão.

Além da importância do Bolsa Família, a figura do Lula (migrante nordestino, etc) tem um enorme apelo político. Que é amplificado com o apoio da maioria da elite política regional. Não deve ser esquecido também, que o voto situacionista é uma característica regional. Estes quatro fatores são fortes e a oposição deve perder por larga margem na região.

Qual discurso?

A oposição está tendo enorme dificuldade em acertar o tom do discurso. É natural, infelizmente. Passou os últimos 7 anos sem saber o que fazer. Ora criticava, ora temia o enfrentamento mais direto, ora elogiava a política econômica do governo (basta recordar algumas sessões do Senado). Em suma, não sabia como cumprir o seu papel.

Enquanto isso, Lula foi navegando em um mar tranquilo. Quando teve problemas, estes não foram criados pela oposição, mas pela base (basta recordar como começou o mensalão). No desenrolar da crise do mensalão, a oposição ficou temerosa das consequências, deu um passo para trás e Lula, espertamente e com muita sorte, retomou a iniciativa política, encurralou os opositores, se reelegeu com facilidade e iniciou o segundo governo quase que sem oposição.

Agora, no processo eleitoral, o problema para a oposição é acertar o discurso. Para atacar o governo Lula não faltam problemas. Evidentemente - e como decorrência da ausência de oposição efetiva em 7 anos - terá de centrar fogo em Dilma, mostrar sua ineficiência administrativa (a propaganda acabou transformando a ex-ministra em um gênio da administração pública contemporãnea), sua inexperiência política e uma biografia pífia. O desafio é o de demonstrar tudo isso sem que pareça uma crítica fácil, ao estilo daquela que o PT fazia antes de 2002 ("ser contra tudo o que está aí").

Novidades?

Dia de poucas novidades. Uma delas não é novidade: Dilma não vai comparecer à sabatina do UOL, apesar de ter sido marcada depois de 4 meses de negociação. E com a anuência da sua assessoria. Isto vai se repetir durante a campanha. A estratégia é evitar ao máximo os debates. No máximo, dar entrevistas para jornalistas "amigos". os que farão perguntas do agrado da entrevistada e com conhecimento prévio da candidata. Uma espécie de DIP do século XXI.

Minas em disputa

Finalmente, o PT mineiro decidiu (após enorme pressão do Planalto) apoiar Hélio Costa. Agora resta saber:
1. se as bases petistas vão apoiar Hélio Costa;
2. se a candidatura Pimentel decola para o Senado (terá de enfrentar além de Aécio - que conquistará a vaga sem dificuldade - provavelmente Itamar Franco, este em dobradinha com o ex-governador mineiro);
3. se as bases tucanas apoiarão efetivamente José Serra, isto depois de meses e meses de um forte discurso regionalista ("Minas é minha pátria") e vitimista ("Não querem que Minas volte a governar o Brasil");
4. se Aécio Neves vai fazer a sua campanha e de Anastasia com o mesmo entusiasmo que a de Serra (em 2002 e 2006, em Minas, Lula ganhou com enorme facilidade de Serra e Alckmin).

Política tem muita coisa estranha. Com este quadro eleitoral, como entender a aliança de Aécio e Pimentel em 2008? Se ganharam em 2008, perderam feio em 2010: Aécio queria ser candidato a Presidente e Pimentel a Governador. Não conseguiram. Para os dois, como prêmio de consolação, restou o Senado (para Aécio, quase que um passeio, mas Pimentel vai ter de suar para ser eleito senador).

Mexicanização?

A discussão sobre a "mexicanização" política do Brasil (não a novelesca) é antiga. Em 1970, após a grande vitória da ARENA, falou-se em mexicanização. Disseram que a ARENA era o PRI. Em 1986 falaram que o PMDB era o PRI, após a vitória acachapante de novembro. Nem a ARENA ou o PMDB tiveram qualquer semelhança com o PRI. O PRI era um partido de Estado e que carregava a mística da Revolução de 1910. Surgiu em 1929 (como PNR) com o objetivo de institucionalizar a revolução, evitando que os caudilhos empurrassem a política para ser resolvida nos campos de batalha (a última rebelião será a de Saturnino Cedillo, já na época de Cárdenas). Virou PRM durante o sexênio de Lázaro Cárdenas e PRI durante o mandato de Ávila Camacho. Dominou a cena política até 2000 com uma estrutura de partido única na América Latina (a filiação não era individual mas por organizações).

No Brasil nunca tivemos algo do gênero. O PT também não é o PRI,. Mas poderemos ter uma mexicanização à la brasileira com o PT, caso vença as eleições de outubro. O PT funcionaria como o partido que daria a coloração ideológica para a base. Não seria o partido hegemônico mas aquele que daria organicidade ao bloco do poder, que teria, na partilha do Estado, a liderança do PMDB. Poderia combinar crescimento econômico, atendimento das demandas de várias classes e suas frações e o paulatino asfixiamento das liberdades (que Lula tentou mas não - ainda? -conseguiu).

Voltando ao Maranhão (2)

Com os esclarecimentos do amigo Marcos Nogueira (que conhece tudo de política maranhense), fico satisfeito com a atitude tomada por Jackson Lago. Afinal, Jackson é um político com uma longa tradição de luta contra o despotismo da famiglia Sarney.

Voltando ao Maranhão

Um comentarista destacou pontos importantes da política do Maranhão, daí a razão deste post. Jackson Lago foi cassado em 2009. A resistência foi quase que desprezível. Foi um processo longo. Sarney foi, bem devagar, preparando a cama de Jackson. Como um esperto coronel, priorizou os contatos no centro do poder político, em Brasília. Afinal, só é forte na província porque detem algum poder na capital federal (não gosto da expressão Distrito Federal). Jackson acreditou, ingenuamente, que teria o apoio do seu partido, o PDT. Foi um dos seus fundadores. O PDT silenciou. Emitiu uma nota pífia, só para constar. Não ia perder os valiosíssimos cargos no Ministério do Trabalho. Depois, Jackson imaginou que os partidos que sustentavam seu governo viriam em seu apoio. Doce ilusão. Também só fizeram declarações vagas, evitando comprometer eventuais alianças futuras com o grupo do nefasto senador do Amapá.

Caminhando para o isolamento político, com uma defesa legal ruim, sem articulações em Brasília, Jackson resolveu (até hoje não entendi) publicar anúncios (certamente caros) nos jornais de São Paulo e Rio (não sei se repetiu em Brasília) com as realizações do seu governo, como uma espécie de despedida, isto quando ainda não tinha esgotado as vias legais.

Sem saber como se defender - e enfrentando o símbolo maior do coronelismo brasileiro - resolveu dar uma guinada à esquerda, apoiando o MST que chegou até a acampar na sede do governo. O PMST (afinal é um partido e não um "movimento social") pensou em tirar alguma vantagem. Nem passou pela cabeça dos seus dirigentes de romper com o governo Lula (que assistiu a tudo, passivamente, e, no fundo, com alegria). Deve ser recordado o apoio milionário que o MST recebe do Governo Federal via créditos a fundo perdido para assentamentos fadados ao fracasso.

O final é conhecido. Jackson perdeu na "justiça" o governo que ganhou nas urnas. Jackson e outras correntes consideradas de esquerda, lembram aquela personagem de Nelson Rodrigues: gostam de apanhar. Continuam apoiando Lula, enquanto o presidente da República mantém sua aliança com Sarney e famiglia. Não é preciso ser uma pitonisa para saber o final: a famiglia continuará mandando e desmandando no Maranhão por mais quatro anos.

Comentários dos comentários (2)

Agradeço os comentários. Várias questões foram sugeridas para debate. Infelizmente não tenho condições de aprofundá-las. Umas delas faz referência a um certo "partido da imprensa golpista". Pura bobagem, não a pergunta, mas a expressão. Imprensa golpista é a de 1954. Basta ir a um arquivo e consultar os jornais cariocas daquele ano e veremos que o presidente Vargas acuado por todos os jornais, excetuando a "Última Hora", de Samuel Wainer (e que foi fundada com empréstimos oficiais e uma longa história que não vem ao caso).

No caso de Lula, a referência é 2005 e a crise do mensalão. Na época (consultar o Google) escrevi e falei muito sobre o tema. Não foi a imprensa que criou o mensalão. Foi um produto oficial (o processo se arrasta na justiça e, como tantos outros, não vai dar em nada). Não houve conspiração, golpismo, nada planejado. Em agosto de 2005, na Folha, na página 3 (Tendências e Debates) escrevi que Lula caminhava para a reeleição, pois a oposição temia dar um passo à frente, que seria entrar com um pedido de abertura de um processo de impeachment (dizia que era melhor levar Lula "sangrando" até 2006, nas cordas, para nocauteá-lo no momento da eleição......).

Em resumo, não houve golpismo e nenhuma imprensa golpista.

Pesquisa Ibope (2)

Não é novidade que Serra vai aparecer em diversosm programas políticos durante o mês de junho. Isto deve ter algum reflexo positivo nas próximas pesquisas. Dilma vai para o exterior. Os marqueteiros consideram que uma viagem ao exterior no início da campanha é importante. Dizem que fortalece o candidato. Não acho. No caso da Dilma, ela pode perder tempo com uma viagem ao exterior, pois o principal personagem da sua campanha não é a candidata: é Lula.

Serra, por outro lado, tem de matar um leão por dia. Lutar por boas coligações nos estados, manter a equipe de capanha unida e buscar novos apoios na esfera federal.

A partir da próxima sexta, dia 11, a campanha vai ficar em segundo plano. O assunto nacional será a Copa do Mundo.

Pesquisa Ibope (1)

O resultado divulgado (tanto do primeiro turno, como do segundo) são excelentes. Excelentes porque Dilma teve uma exposição fabulosa na mídia e Lula (que já foi multado 5 vezes pelo TSE) aproveitou todas as ocasiões para fazer propaganda da sua candidata. Desta forma, o empate é uma vitória.

Também deve ser lembrado que as pesquisas Sensus e Vox Populi estavam realmente furadas e serviço explicitamente à candidatura Dilma. É sabido que de 2 a 3 % dos eleitores votam em quem vai ganhar. Ou seja, uma pesquisa induzindo a votar na Dilma acaba, obviamente, favorecendo a candidata, especialmente numa eleição extremamente disputada como estamos assisitindo.

Vale também registrar que membros do PT espalharam na internet que a pesquisa daria Dilma lá na frente, com quase dez pontos à frente de Serra. Puro blefe.

Voltarei ao tema.

A oposição gosta de perder?

Depois do lançamento oficioso da candidatura José Serra, com muito entusiasmo e aparente unidade do PSDB e dos partidos aliados (DEM e PPS), voltou a oposição à sua pasmaceira habitual. Vez ou outra dá algum sinal de vida (como agora, sustando o dossiê preparado pelos arapongas do PT), mas, em seguida, retorna ao seu ritmo de vigor rarefeito, divisões internas e o predomínio dos projetos pessoais em detrimento de uma possível vitória na eleição presidencial.
Se continuar assim, a oposição será derrotada. A única chance de vitória (numa eleição super-disoutada, como teremos) é fazer uma campanha com muito entusiasmo, mobilizando, primeiro, os diretórios municipais, as lideranças regionais, estaduais e as grandes figuras dos estados nacionais. Os candidatos ao governo nos estados de São Paulo e Minas Gerais devem ter papel central também na campanha presidencial.

A oposição ter de sair deste marasmo. Acreditar que basta vencer em alguns estados a eleição para o governo estadual, acumular forças, para depois voltar a enfrentar, em boas condições, o PT em 2014, é mera ilusão. A eleição de 2010 não decidirá os próximos 4 anos, mas os próximos 12 anos da política nacional.

O caso de MInas Gerais

Dos três maiores colégios eleitorais, Minas é aquele que está mais interessante para ser acompanhado. Em SP e no RJ as alianças e os candidatos já são conhecidos. Em MG, não. O PT vai ter de engolir Hélio Costa. Ocorrerá fraturas. A oposição poderá aproveitar muito bem as contradições e ganhar mais espaço político.

É em Minas onde está mais evidente o tacão de Lula. Ele impôs a aliança sem consultar nenhum líder petista regional. Agiu como um caudilho (e criticava Brizola..........). É provável que encontrará resistência. Se fez isto em Minas, imagine o que fará no Maranhão.........

Indefinição

No atual estágio da eleição, tudo para a oposição é mais difícil. Tem de enfrentar o poderio da máquina governamental, a popularidade do presidente e a campanha em banho-maria. Todos estes fatores são ruins. A oposição fica relativamente imobilizada pois não pode lançar um ataque mais pesado meses antes da eleição. Tem de guardar munição para o momento propriamente eleitoral. Também tem de definir o nome do vice, que não é uma questão de vida ou morte, porém acaba abrindo campo para uma agenda negativa.

Temperatura alta

O bate-boca sobre o dossiê aumentou a temperatura da campanha. A oposição agiu bem respondendo imediatamente. Já escrevi (e não só aqui) que teremos a campanha mais violenta da história republicana. A "mobilização" dos "movimentos sociais" custa muito caro e dificilmente ocorrerá na escala desejada pela direção da campanha da candidata oficialista (basta citar o fracasso do ato de ontem, no Pacaembu). O caminho vai ser o ataque frontal com acusações destinadas ao eleitorado menos politizado (como já está ocorrendo), uso da internet para espalhar calúnias (e com a ajuda dos blogueiros oficiais) e dossiês em larga escala. O bloco que está no poder usará de todos os meios (legais e ilegais) para se manter. Teme não só o desmantelamento pela oposição do saque organizado do Estado, como a revelação do que ocorreu nestes últimos 7 anos e meio. A guerra ainda nem começou.

O caudilho de São Bernardo

Uma excelente tarefa acadêmica e política é a de escrever uma biografia política de Lula. Não uma hagiografia, mas uma biografia. Desde 1975 há na imprensa farto material, além do material partidário de diversas correntes políticas.

Gaza (2)

Os trágicos episódios não estão esclarecidos (e dificilmente serão). O que é óbvio é que a tensão na região vai aumentar. Isto reforça a ideia de que é uma "furada" se envolver naquela região. O Brasil não tem nenhum interesse estratégico no Oriente Médio e economicamente não é um parceiro importante. A prioridade da diplomacia brasileira deve ser o trato das questões econômicas com a China, EUA e Europa. O resto (inclusive o Mercosul) é secundário. Evidentemente que o Brasil não deve se omitir nas questões internacionais. Pelo contrário, a ênfase na defesa das liberdades e do respeito aos direitos humanos devem ser elementos que distinguam a nossa diplomacia.

Abril, maio..........

Dois meses de campanha e nada. Na Inglaterra bastou um mês. Temos uma das campanhas mais longas (e sem substância) do mundo. Teria de mudar a lei eleitoral, mas isso dificilmente ocorrerá. Ontem ainda teve um seminário: Serra e Dilma falaram de economia. Mostraram diferenças, mas quem ficou sabendo? Só após a Copa (e será sempre assim, pois o mandato presidencial deve se manter nos quatro anos e a seleção brasileira estará presente em todas as copas) a campanha vai interessar aos eleitores. Agora é aquela fase do trabalho miúdo, das articulações regionais e dos acertos do tipo de campanha de cada candidato.

Até agora, a tarefa "hérculea" tem sido a de Serra. Dilma é uma mera delegada de Lula. Teve tempo até para fazer compras em Nova York. Só fala em continuidade e evita qualquer assunto espinhoso. De debate, nem quer ouvir falar. Deve estar pensando em só comparecer no último debate do primeiro turno, que deve ser o da Rede Globo.

Já o candidato do PSDB está buscando ampliar e fortalecer os palanques regionais, montar uma equipe forte de campanha, sempre ficando atento ao jogo sujo da candidata oficial (nestes dias foi denunciado que estava sendo elaborado um dossiê contra Verônica Serra). Os sindicatos, como já tinha escrito, serão um dos instrumentos mais eficazes para semear a desinformação. Paulinho, conhecido pelego, disse ontem que Serra pretende acabar com a licença maternidade, férias, etc. Só faltou falar que seria restabelecida a escravidão.

O jogo de denúncias tem sua eficácia principalmente nas regiões mais atrasadas, como o Nordeste. O boato se propaga com mais rapidez e a resposta tarda a chegar. No Sul e Sudeste o panorama é distinto. Daí que, a tendência é a eleição ser decidida no Triângulo de Ferro da política nacional: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A chance real da oposição para ganhar a eleição é sair com uma ampla margem de votos, especialmente nos dois primeiros estados.