A banalização das eleições

Este texto foi publicado na Folha de S. Paulo em 3 de outubro de 2004. Por incrível que pareça, de lá para cá quase nada mudou.


A banalização das eleições

MARCO ANTONIO VILLA

A sucessão das eleições a cada dois anos traz ao cidadão um sentimento de enfado. As idéias pouco variam, os temas são despolitizados e perdem seu caráter polêmico. O feroz adversário de ontem é o aliado incondicional de hoje, sem que o eleitor entenda bem as razões da súbita reconciliação. Restam os ataques pessoais e a denúncia nem sempre sincera das mazelas das administrações municipal, estadual ou federal.
No caso da eleição municipal, esse quadro é mais grave, pois é considerada a menos relevante, reforçando uma antiga raiz histórica de desprezo pela vida municipal. Muitos candidatos a prefeito aproveitam para reforçar junto ao eleitorado seus nomes com vistas a uma eleição que consideram mais importante. O objetivo não é vencer, mas sim fazer propaganda para a futura eleição a deputado estadual ou federal com dois anos de antecedência: é uma espécie de "lei de Gerson" eleitoral.
Construir o programa de governo, que deveria representar um importante momento do processo eleitoral, é uma tarefa relegada a um plano secundário. Sendo necessário apresentar algo ao eleitorado, os candidatos redigem às pressas um documento que é mostrado no horário eleitoral gratuito como se fosse produto de debate prolongado com as bases partidárias. Como foi ocorrendo uma pasteurização dos problemas, as soluções seguem o mesmo caminho. Apresentam-se obras irrealizáveis sem se saber quais os recursos orçamentários para esses gastos. É uma espécie de solução virtual da demanda social. E, quando o candidato é cobrado por uma promessa não realizada, a culpa sempre é transferida para outra esfera, estadual ou federal.
As alianças entre os partidos não são estabelecidas devido às afinidades ideológicas -o que justificaria plenamente os acordos. O que conta é o tempo que a coligação terá na televisão. Ou, pior, muito pior, são adotadas formas pouco republicanas, que deixariam envergonhado o velho Catão, como a compra de uma bancada partidária estabelecendo um valor per capita ou o pagamento de uma mesada aos aliados fiéis. Chega-se ao cúmulo de um partido ter uma aliança política no município que é diferente da estabelecida na esfera estadual, que, por sua vez, não é a mesma que foi efetuada no Congresso Nacional.


O marketing eleitoral é um dos responsáveis, mas não o único, pela despolitização das eleições

O marketing eleitoral é um dos responsáveis, mas não o único, pela despolitização das eleições. O marqueteiro, até para mostrar eficiência, elabora um modelo ideal e aplica a receita, independentemente de quem comprou seus serviços. As fórmulas repetitivas vão do aspecto exterior do candidato, passando pelos símbolos de campanha, aos slogans e, o que é extremamente danoso para a democracia, chegam até a plataforma eleitoral. Propostas apresentadas em eleições passadas ou em outras cidades e Estados são reapresentadas como se fossem novas e adaptáveis a qualquer contexto. É como se, com a contratação do marqueteiro, este trouxesse, além da sua equipe e de seus métodos de trabalho, o programa eleitoral do candidato. E, como a cada eleição os gastos aumentam, os partidos vão criando formas originais de recolhimento de fundos.
Se é uma velha prática da política brasileira inaugurar obras no ano eleitoral, agora até para pagar os custos da campanha temos uma inovação: a enxurrada de contratos assinados com empresas que vão prestar serviços públicos, alguns de 20 anos, ou seja, que comprometerão cinco gestões municipais.
Esperava-se que, com o restabelecimento da democracia -e nisso já se vão quase 20 anos-, as eleições fossem um momento da vida política, mas não o único, como acabou ocorrendo. As eleições deveriam culminar um processo de participação popular, mesmo que descontínuo. O Poder Legislativo seria o espaço privilegiado da luta cidadã, especialmente quando estivessem em discussão projetos que afetassem a vida da cidade, do Estado, do país. Porém é difícil um paulistano recordar um projeto discutido na Câmara dos Vereadores no último ano e não só. A Câmara, quando é notícia, é devido a alguma transação, para dizer o mínimo, pouco ética.
O mesmo se aplica à Assembléia Legislativa paulista -que, durante semanas, não merece sequer uma linha do noticiário político dos jornais -e ao Congresso Nacional. Este, com 600 congressistas, é uma Casa servil, sempre à espera de alguma benesse do Palácio do Planalto: passa meses, como neste semestre, sem analisar nada de relevante.
Uma profunda reforma política pode reverter esse quadro. Com a adoção do financiamento público das campanhas, da fidelidade partidária, com a extinção dos partidos de aluguel, ao menos no campo político-institucional, teremos, provavelmente, um processo eleitoral mais rico em idéias e com menores distorções representativas.
Mas torna-se urgente a criação de formas permanentes de participação que não se restrinjam à transformação do cidadão em, simplesmente, eleitor. O espaço da política -plural e complexo, como é a sociedade brasileira- tem de ser reconquistado pela cidadania, principalmente quando as eleições -um dos grandes momentos da vida democrática- caminham para a banalização.


Requião, Sarney, Renan, Jucá, Argello e tantos outros

O Senado só aparece no noticiário quando tem algum escândalo. E merece. A formação é péssima. É muito difícil encontrar uma dúzia de bons senadores entre os 81 que lá estão. A questão é que foram eleitos. Será que o problema é o Requião, por exemplo, ou os eleitores que o elegeram? Aí entramos em um terreno perigoso (mas essencial) para a discussão da séria crise da representação política no Brasil. Boa parte dos eleitores não está nem aí com as eleições. Não acompanha a vida política. E quando vota no mesmo político, quando acusado de sérios desvios éticos, o faz como se escolhesse o sabor de um sorvete. O que fazer? Só resta fazer política, buscar o convencimento e insistir para que o voto seja produto efetivo de uma escolha sensata (se não de todos, mas de uma boa parcela dos eleitores). Que não é fácil, é óbvio. É muito duro ter de remar contra a corrente. Ou seja: este Senado é fruto dos eleitores, do baixíssimo nível do debate político no Brasil. Na campanha de 2010 escrevi que o novo Congresso seria pior que o anterior e que estaríamos cercados de tiriricas por todos os lados. Acho, infelizmente, que acertei.

Incompetência

O governo federal não consegue andar. Os ministros são ruins e a presidenta faz o papel de gerente mandona mas incompetente. Cara feia ou gritos não resolvem o problema. Para piorar, como era esperado, a presidenta (diferentemente do antecessor) tem uma limitadíssima capacidade de comunicação.


Não custa imaginar o escândalo que o PT faria se estivesse na oposição e o governo anunciasse a privatização dos aeroportos. Resultado (mais um) da incompetência.

Silêncio

Como no célebre bolero "Silêncio", imortalizado na interpretação de Ibrahim Ferrer e Omara Portuondo, no belíssimo "Buena Vista Social Club" (Mi alma, muy triste y pesarosa/A las flores quiere ocultar su amargo dolor), a oposição vive um momento terrível. Pior é o silêncio dos seus líderes. E tudo está ocorrendo na maior seção estadual do partido, o PSDB. A direção nacional fica na moita, mas muito pior são os líderes estaduais do partido e que são também importantes figuras nacionais. Achar que o silêncio resolve a crise é ridículo. Pelo contrário, só aprofunda o racha.

Analisando 1964

Este texto foi publicado na "Folha de S. Paulo" de 1 de abril de 2004. A análise toma como base o meu livro "Jango, um perfil", que tinha acabado de ser editado pela Globo. A discussão sobre 1964 é recorrente, daí ter republicado o texto no blog.


O caldeirão da turbulência

MARCO ANTONIO VILLA

Em 1964 o Brasil era um país politicamente dividido. Dividido e paralisado. Crise econômica, movimentos grevistas, ameaças de golpe militar, marasmo administrativo. A situação era muito grave.
No Clube Militar, uma assembléia foi interrompida devido a batalha campal entre os oficiais; na Marinha, os marujos discordavam do ministro e exigiam no cargo um almirante alinhado às suas posições. No ano anterior, os sargentos das três Forças Armadas tomaram Brasília e iniciaram uma rebelião. Detiveram diversas autoridades, entre elas um ministro do Supremo Tribunal Federal e o presidente interino da Câmara. Apesar da gravidade do fato, os sargentos foram defendidos e considerados soldados da democracia, e o STF foi chamado de uma "corte podre" pelo deputado Max da Costa Santos.
O clima de radicalização era agravado por velhos adversários da democracia. A direita brasileira tinha uma relação de incompatibilidade com as urnas. A União Democrática Nacional nunca assimilou as derrotas nas eleições presidenciais de 1945, 1950 e 1955 -a vitória de Jânio Quadros em 1960 foi pessoal e não pode ser atribuída a nenhum partido da sua coligação. O ódio a Getúlio Vargas fez com que construísse seus mitos. A derrubada de Vargas, em outubro de 1945, foi transformada em momento máximo da redemocratização, isso quando tal fato somente possibilitou que o Palácio do Catete fosse ocupado por um general (Gaspar Dutra) ou por um brigadeiro (Eduardo Gomes). Anos depois, Dutra foi transformado em símbolo dos valores republicanos, no maior defensor da Constituição, embora tenha sido simpatizante dos nazistas e comemorado efusivamente em sua própria casa a queda de Paris em 1940.


Numa conjuntura radicalizada, esperava-se do presidente [João Goulart] um ponto de equilíbrio político


A direita não conseguia conviver com uma democracia de massas em um momento da nossa história de profundas transformações econômicas e sociais, graças ao rápido processo de industrialização e à crescente urbanização. Temerosa do novo, buscava um antigo recurso: arrastar as Forças Armadas para o centro da luta política, dentro da velha tradição inaugurada pela República, que nasceu com um golpe de Estado.
A esquerda comunista não ficou atrás. Também sempre esteve nas vizinhanças dos quartéis, como em 1935, quando tentou depor Vargas através de uma quartelada. Depois de 1945 buscou incessantemente o apoio dos militares e alcunhou alguns como "generais e almirantes do povo". Ser "do povo" era comungar com a política do Partido Comunista Brasileiro e estar pronto para atender ao chamado do partido em uma eventual aventura golpista. As células clandestinas do PCB nas Forças Armadas eram apresentadas como uma demonstração de força política -Luís Carlos Prestes chegou a dizer a Nikita Kruschev, em janeiro de 1964, que os comunistas tinham dois generais no alto comando do Exército.
À esquerda do partidão havia os revolucionários, os adeptos da luta armada. O Partido Comunista do Brasil era um deles. Defendia a revolução ao estilo chinês, na qual o campo deveria cercar as cidades. Queriam logo iniciar a luta armada, tanto que enviaram, em março de 64, o primeiro grupo de guerrilheiros para treinar na Academia Militar de Pequim. As Ligas Camponesas -que desejam a reforma agrária "na lei ou na marra"- organizaram campos de treinamento guerrilheiro no país ainda em 1962: militantes foram presos e foram encontrados documentos que vinculavam a guerrilha com Cuba.
Já os brizolistas, principalmente após a criação dos Grupos dos Onze, embrião do que consideravam um partido revolucionário, julgavam que tinham ampla base militar entre soldados, marinheiros, cabos e sargentos.
Numa conjuntura radicalizada, esperava-se do presidente da República um ponto de equilíbrio político. Ledo engano. Se João Goulart não estava nem com a direita udenista e muito menos com a esquerda revolucionária, não jogava pela preservação da democracia. Articulava pela sua permanência na Presidência -a reeleição era proibida- e necessitava emendar a Constituição: nesse jogo, recebeu apoio público de Prestes. Sinalizava que tinha apoio nos quartéis para, se necessário, impor pela força a reeleição. Organizou um "dispositivo militar" que "cortaria a cabeça" da direita. Insistia a todo momento que não podia governar com um Congresso Nacional conservador, apesar de o seu partido -o PTB- ter a maior bancada na Câmara em março de 1964 e de não ter encaminhado à Casa os projetos de lei para viabilizar as reformas de base.
Em meio ao golpismo, a democracia sobrevivia aos trambolhões. Defendê-la era, segundo a esquerda golpista/revolucionária, comungar com o liberalismo burguês, ou, de acordo com a direita, com o populismo varguista. Atacada por todos flancos, acabou destruída, abrindo as portas para duas décadas de arbítrios e violências.
1964 ensinou a importância da preservação da democracia, a necessidade imperiosa da convivência dos contrários de que o presidente da República tenha vontade de governar, iniciativa política e efetivo comando do Poder Executivo.


Crise na oposição

A oposição vive uma crise. Isto é uma constatação óbvia. O DEM até que conseguiu viver muitos anos longe do poder. Mas é compreensível que tenha entrado em crise. Como o velho PFL, os "democratas" não conseguem viver longe das boquinhas do poder. O PSD será a versão "moderna" do PFL.


Já o PSDB, sem dar uma de Polyana, está passando por uma séria crise em um bom momento. Ainda em 2011 e antes da convenção de maio. Manter o partido rachado como se estivesse unido, como ocorreu na campanha de 2010, é péssimo. O melhor é resolver as pendências agora, mais de um ano antes das próximas eleições.

Resolver como? Tentando agir como partido, com programa, organização, militantes e disciplina.

Panfleto televisivo

O SBT está exibindo uma novela que é muito pior, mas muito pior mesmo, que os dramalhões mexicanos. SS deu aquele golpe de 4,5 bilhões (é o homem de visão do ano, indiscutivelmente). Quer ser simpático ao governo. É o mesmo que fazia a semana do presidente, quando estava querendo obter uma concessão de TV (que acabou ocorrendo) no governo Figueiredo. Durante a presidência Geisel, SS tinha um quadro de prêmios que incluía entre as perguntas acertar os nomes dos ministros. A novela lembra o estilo do realismo socialista mas consegue ser ainda mais panfletária e bizarra. esta reportagem saiu no site Veja.com


Dirceu, pivô do mensalão, fala sobre a ditadura na TV

O-ministro José Dirceu merece, sem sombra de dúvida, constar dos livros de história. Ele foi personagem central do maior esquema de corrupção já detectado no Brasil - o mensalão petista - e artífice do processo de aparelhamento do estado que o governo Lula protagonizou em oito anos de poder. É por esses dois episódios que sua história deve ser medida. E é bom ter isso em mente ao assistir aos depoimentos que ele gravou para a novela Amor & Revolução, do SBT. A trama diz respeito aos anos de chumbo impostos ao Brasil pelo governo militar. Dirceu foi chamado para falar de seu envolvimento na luta contra a ditadura. Sim, ele tem algo para contar. Mas nessa trama, não passa de uma figura menor.

O depoimento que foi ao ar nesta quarta foi apropriadamente burocrático. Ele recordou o episódio de Ibiúna, quando centenas de estudantes foram presos pela repressão durante um congresso clandestino. Algum tempo depois, o ex-ministro foi libertado, ao lado de diversos outros presos políticos, em troca do embaixador americano no Brasil, Charles Elbrick.

De acordo com o autor da novela, Tiago Santiago, os depoimentos de Dirceu, assim como os de outros, vão voltar quando a trama se aproximar do período de acirramento da luta terrorista contra o regime militar.

O depoimento do pivô do escândalo do mensalão surpreendeu o escritor e jornalista Flávio Tavares, libertado junto com José Dirceu. "Em nenhum momento ele tentou se colocar em primeiro plano e, importante, contou que não foi torturado", afirmou o ex-preso político. "Quando saímos do Brasil, ele foi para Cuba treinar e eu viajei para o México", lembra. "Ao retornar para casa, Dirceu optou por viver clandestino no Paraná. Ele soube recuar, admitir a derrota."

O cientista político Marco Antônio Villa explica o fraco desempenho teledramatúrgico de Dirceu, quando comparado com os demais militantes políticos. “Ele não foi torturado. No retorno ao Brasil, não participou da luta contra a ditadura. Viveu como um pequeno empresário no interior, mais preocupado com o balanço da loja e com o noticiário esportivo”, disse.

Datafolha

A recente persquisa Datafolha sobre as preferências partidárias pouco significa. Basta comparar os resultados com a eleição presidencial de outubro. Na verdade, a pesquisa pouco serve para analisar o atual quadro político. Simplesmente acaba ocupando o vazio do noticiário, produto, principalmente, da inércia da oposição. O governo continua surfando na mesma onda. O problema é que a economia nacional está com sérios problemas e é necessário redifinir para os próximos anos, entre outros pontos, o perfil das exportações brasileiras, o que até agora sequer foi pensado.

BNDES

Se no Brasil tivesse oposição parlamentar, certamente teria questionado o BNDES. É muito estranho o valor dos empréstimos que promete conceder. Para o trem bala fala em 20 bilhões. Para a Copa, diz que cada estádio vai levar 200 milhões e por aí vai. Sobre o BNDES sabemos que:

1. Pertence à União;
2. Seu capital vem do Tesouro;
3. Cada aporte de capital é obtido via título da União colocados no mercado;
4. Para conseguir este capital precisa (a União) oferecer juros de mercado;
5. Os empréstimos do banco são oferecidos com juros subsidiados e a prazo longuíssimo (30 anos).
6. Claro que a conta não fecha.
7. Sem falar nos estranhos empréstimos para obras de empresas brasileiras no exterior (como na América Latina e África).

1 ano de Blog

Hoje o Blog completa um ano de vida. Nesse período tivemos mais de 1.800 comentários e 60.000 visitas de mais de 50 países. Agradeço os leitores e comentaristas. A ideia inicial era de encerrar o Blog logo após a eleição presidencial. Porém, devido à diversos pedidos, resolvi continuar, mesmo tendo dificuldades para atualizá-lo diariamente.

Racha em São Paulo.

O PSDB vive o maior racha da sua história em São Paulo. Do outro lado, Lula se reune com prefeitos e lideranças do PT acertando a estratégia para 2012. Lula sugeriu ampliar ainda mais o arco de aliança chegando até os malufistas (na prática esta aliança já existiu nas eleições municipais de SP em 2004 e 2008, quando Maluf apoiou Marta no segundo turno).

O PSDB, no momento, não tem nenhum nome com viabilidade eleitoral. Além de enfrentar o PT, terá Chalita no PMDB e Afif no PSD, como candidatos. Se não acertar os ponteiros logo, corre o risco de manter um partido rachado e sem possibilidades de fazer alianças, pois o PT sairá bem na frente. Perdendo em SP, o fim da hegemonia do PSDB no estado estará próximo. O mais incrível é como a liderança do PSDB faz o jogo dos adversários.

Relembrando

Não custa voltar a perguntar:

1. e os 400 desaparecidos na região serrana fluminense? Quantos morreram? O que está sendo feito para evitar nova tragédia?

2. e os líderes do tráfico no Rio, quando serão presos?

Onde está?

O senador Aloysio Nunes Ferreira recebeu na última eleição uma votação consagradora. Contudo tem tido uma tímida atuação no Senado. Pesquisando os jornais não se encontra nada, uma fala, uma proposta, uma crítica ao governo federal. O que está acontecendo?

São Paulo

É sabido que para o PT, a eleição que interessa em 2012 é a da capital paulista. Já estão trabalhando desde o início do ano para construir uma sólida aliança e dividir o campo oposicionista. Já conseguiram uma grande vitória com a criação do PSD. Agora com a adesão em massa de vereadores. Mais uma vitória foi a divisão do PSDB municipal. Deve ser notado que todas estas vitórias ocorreram no campo adversário do PT (e estimulado por eles, claro). São profissionais contra amandores. Quando será que os amadores vão subir de nível? Até agora, o PT está ganhando de goleada.

Debatendo o novo papel de FHC

Segue reportagem do Veja.com. Por falta de tempo ainda não deu para comentar o artigo de FHC.


Fernando Henrique Cardoso, o resgate do líder tucano

Após oito anos de esquecimento e três derrotas, PSDB recorre a ex-presidente

Carolina Freitas
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso

Exercício de memória: FHC domou a inflação e deu estabilidade à economia (Paula Sholl/Agência PSDB)

“O PSDB não foi capaz de desenvolver estratégias corretas de comunicação”, Sérgio Guerra, presidente nacional do partido

Fernando Henrique Cardoso está de volta. Não veio fazer campanha eleitoral ou mediar conflitos partidários. Ainda assim, seu ressurgimento refletirá na organização do PSDB para as eleições de 2014 e pode inspirar os tucanos a se preocuparem um pouco mais com propostas para o desenvolvimento do Brasil. FHC retoma a palavra em um PSDB cindido e calejado após três derrotas seguidas nas urnas.
O retorno dele à cena pública vem sendo articulado desde a derrota de José Serra nas eleições do ano passado. A ex-ministros com quem costuma se reunir, deu o recado: não permitiria mais omissão em relação ao seu governo. Na campanha, Serra falou mais de Luiz Inácio Lula da Silva do que de Fernando Henrique. A mística criada em torno da popularidade de Lula amedrontava os opositores. Foi assim também na campanha de Geraldo Alckmin, em 2006.
Hoje, os tucanos admitem o erro, apesar de o associarem a uma mera falha de marketing. “Não posso agora reavaliar as estratégias de campanha, mas hoje não há mais dúvida sobre a importância da participação de Fernando Hernique”, afirma o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, que coordenou a campanha de Serra em 2010. “O PSDB não foi capaz de desenvolver estratégias corretas de comunicação.”
O historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos, relaciona o resgate de FHC ao desempenho dos tucanos nas urnas após o governo dele. “As sucessivas derrotas do PSDB recolocaram Fernando Henrique no primeiro plano do partido. Se Serra tivesse ganhado, FHC estaria na prateleira.”
Chacoalhada – Renegado durante as eleições, o ex-presidente começou 2011 sendo elogiado diante de uma plateia de 3.000 pessoas no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, na posse de Geraldo Alckmin. O governador lembrou os feitos econômicos do governo FHC. “Vamos deixar a modéstia de lado. O presidente Fernando Henrique mudou o Brasil”, disse Alckmin.
Em 2006, o mesmo Alckmin posou para fotógrafos vestindo boné e jaqueta cobertos de logotipos de empresas públicas, para rebater as acusações de Lula de que seria privatista. As privatizações tiveram impulso no governo Fernando Henrique e resultaram em eficiência e popularização de serviços.
“Alckmin deveria ter tirado um celular do bolso e dito aos eleitores que eles também tinham o aparelho graças à privatização da telefonia feita por Fernando Henrique”, analisa o sociólogo Humberto Dantas, doutor em Ciências Políticas pela Universidade de São Paulo.
A virada de FHC se deu em fevereiro, no primeiro programa partidário do PSDB após a derrota de 2010, apresentado por ele. De microfone em punho, Fernando Henrique sentenciou: “É preciso dar uma chacoalhada nos partidos, começando pelo meu, pelo PSDB.”
E, por meio de um artigo acadêmico, o líder tucano fincou os dois pés no cenário político na última semana. Recomendou à oposição preocupar-se mais com a classe média e reclamou, com todas as letras, do descaso dos colegas de partido em relação ao seu legado de oito anos de governo.
“O patrimônio deixado por Fernando Henrique ao Brasil não foi defendido como deveria”, admite o senador pelo PSDB Álvaro Dias. Para o sociólogo e ex-deputado federal pelo partido Arnaldo Madeira, os tucanos não compreendiam o legado de FHC. “Ele fez um grande governo mas nunca teve nas campanhas quem o defendesse. Nem durante o governo FHC houve uma defesa convicta das ações dele por parte do partido.”
Vazio – O reingresso de Fernando Henrique no debate público será sacramentado em junho, durante as comemorações dos 80 anos de idade do ex-presidente. Integrantes do Instituto FHC preparam um seminário internacional para homenagear Fernando Henrique. A data marcará ainda o lançamento de uma rede social na internet para a discussão de soluções para o Brasil. O partido anunciou, neste mês, a criação do Prêmio Fernando Henrique, voltado para gestores que adotem as melhores práticas na administração de seus municípios.
“O PSDB tem um vazio que, pela absoluta ausência de lideranças, está sendo ocupado por Fernando Henrique”, diz Marco Antonio Villa. “Ele não pode sair da política se ninguém assumir essa discussão programática.”
Para o historiador, os tucanos perderam-se em disputas internas entre o grupo de José Serra e o grupo de Aécio Neves. “As campanhas ficaram centralizadas em projetos pessoais. Foi um erro não ter feito uma discussão real de propostas nos anos anteriores. FHC traz de volta essa inspiração.” Antes tarde do que nunca.

Aécio e a CNH

Aécio deu uma tremendo passo em falso. Na primeira eleição vai ser lembrado o episódio. E deverá perder força na disputa interna do PSDB.

Inovação baiana

Jaques Wagner inovou a teoria sobre os movimentos sociais. Na verdade, inovou a prática. Deu centenas de quilos dem carve para os militantes do MST que invadiramm um prédio público estadual. Não é a primeira fez que isso. É o absurdo. Mas o pior é o MST aceitar. Isto mais uma vez demonstra que o "movimento" não passa de um braço à serviço do PT e o que menos importa é a reforma agrária. São os pelegos da carne (paga com dinheiro público)

O poder da comunicação

O PT sempre teve (e tem) um excelente poder de comunicação, convencimento e imposição da sua leitura da conjuntura política e até da história do Brasil. FHC escreveu um artigo (que preciso comentar aqui) e foi pinçada uma passagem sobre o "povão". Bem, até Lula falou sobre o assunto. Aproveitou, com competência e oportunismo, para desqualificar a discussão, retirando o foco do que era importante. Desta forma, as pessoas "leram" através do comentário de Lula. Ou seja, passaram a repetir a crítica sem ter sequer lido dois parágrafos do artigo. E a discussão acabou, morreu. Já falar da revista de 4 ministros brasileiros, em território nacional, quando da visita de Obama - o que nunca tinha ocorrido na história brasileira - ah, isto ninguém fala, nem a oposição. Não custa repetir: e se o PT estivesse na oposição e....................

O fracasso dos caudilhos (2)

Este artigo foi publicado na Folha de S. Paulo de 23 de junho de 2004, pouco depois da morte de Leonel Brizola.



O último caudilho

MARCO ANTONIO VILLA

Anteontem morreu o último caudilho da história do Brasil. Teve admiradores fiéis e inimigos mortais. Com o engenheiro Leonel de Moura Brizola desaparece também o trabalhismo getulista, sempre tão atacado pela direita e pela esquerda. Brizola foi o derradeiro representante do que a sociologia chamou de "populismo".
Nacionalismo, presença do Estado na economia, legislação de proteção ao trabalhador, desenvolvimentismo, atenção à educação foram idéias repetidas "ad nauseam" entre os anos 1930 e 1964. Porém, muito mais que idéias, foram programas colocados em prática que levaram o país à industrialização e à formação da moderna sociedade brasileira. Ao insistir nessas propostas, justamente no momento em que a elite política brasileira, hegemonizada pelo pensamento antigetulista, não mais conseguia ter idéias próprias, Brizola transformou-se em um ser deslocado, um dinossauro, como foi chamado, pois não sucumbiu ao discurso dominante.


Com a morte de Leonel Brizola, um raro político de idéias próprias, aumentou a pobreza do debate político brasileiro


Insistia teimosamente em recolocar no debate político temas que eram considerados superados, mesmo o país estando havia 20 anos paralisado, sem nenhuma mostra de recuperação econômica consistente. Dada a hegemonia do discurso e da prática conservadores, Brizola somente incomodava os donos do poder. Não era mais considerado um adversário a levar em conta. Politicamente era um morto-vivo.
O grande momento da vida política do engenheiro foi a Campanha da Legalidade: entre a renúncia de Jânio Quadros, a 25 de agosto de 1961, e o retorno do vice-presidente João Goulart ao território nacional. Dias e noites que abalaram o Brasil, ameaçado por um golpe militar direitista. O então governador do Rio Grande do Sul mobilizou todo o país em defesa da Constituição e da democracia, comportamento que, infelizmente, não manteve nos idos de 1963/ 64. Porém, quando retornou do exílio de 15 anos, estava convicto da necessidade de mudanças -e sempre pelo caminho do voto.
Em 1982 venceu heroicamente, contra tudo e contra todos, as eleições para o governo do Estado do Rio de Janeiro -isso depois de haver perdido a sigla PTB para Ivete Vargas, que agia a soldo do Palácio do Planalto. Sete anos depois teve, nas eleições presidenciais, consagradoras votações no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. Conseguiu um fato raro: transferiu seus votos no segundo turno para o candidato da Frente Brasil Popular, Luiz Inácio Lula da Silva. No ano seguinte, venceu novamente as eleições para o governo do Rio de Janeiro. A partir dali, foram sucessivas derrotadas, até a última, em 2002: quinto lugar nas eleições para o Senado como representante dos fluminenses.
Apesar da origem sulista e de ter sido um vitorioso nas eleições gaúchas -foi sucessivamente deputado estadual, deputado federal, prefeito de Porto Alegre e governador-, acabou sendo no Rio de Janeiro que se consagrou nas urnas e que voltou para morrer. Depois da queda da ditadura, todos os prefeitos do Rio passaram pelo batismo do brizolismo, caso único na história recente do Brasil (e mais expressivo, se levarmos em conta a politização do eleitorado carioca). Mas o curioso é que esses prefeitos tiveram enormes dificuldades de governar mantendo-se no partido do engenheiro, o PDT.
Em quase 60 anos de política, Brizola destacou-se pela coragem e pela insistência em temas programáticos, sempre recordando a tradição getulista. Sua determinação e coragem, em um país marcado por uma elite política conciliadora, foi exemplar. A defesa intransigente do ideário varguista diferenciou-o dos políticos brasileiros, sempre à procura da última novidade no exterior.
Daí a estranheza e a inadaptação a um ambiente contemporâneo marcado pela falta de iniciativa política, pelo descrédito no futuro do país e pelo atrelamento a políticas nocivas ao interesse nacional -pois, diferentemente do que imaginam os sábios de plantão, o século 21, tal qual o precedente, é marcado pelo crescente nacionalismo, inclusive das grandes potências e dos grandes blocos econômicos. Assim, a vaia recebida pelo presidente Lula no velório não foi uma manifestação de destempero dos presentes, mas a resposta sincera a uma deslealdade programática e eleitoral (lembremo-nos de que, em duas eleições presidenciais, Brizola apoiou Lula no segundo turno, e em outra foi seu companheiro de chapa).
No final da vida, Brizola estava sozinho. Não conseguiu realizar o sonho de retomar a sigla PTB nem chegou à presidência da República. Seu partido quase que desapareceu. Suas idéias eram motivo de chacotas. Seus principais liderados o haviam abandonado. Restava um ou outro político de expressão. Terminou cercado de aventureiros, oportunistas, que o ouviam com enfado, sedentos para controlar o partido no jogo pequeno dos interesses eleitorais. O velho caudilho estava só. E derrotado.
Numa carta a Oswaldo Aranha, Getúlio Vargas escreveu: "Vivemos numa pobreza franciscana em matéria de idéias políticas". Com a morte de Leonel de Moura Brizola, um raro político de idéias próprias, aumentou a pobreza do debate político brasileiro.






O fracasso dos caudilhos

Vou postar nos próximos dias alguns artigos que tratam do fracasso dos caudilhos brasileiros. São artigos que foram publicados nos últimos 6 anos. Abaixo, segue o artigo publicado pouco após a morte de Miguel Arraes. Saiu em "O Estado de S. Paulo" de 15 de agosto de 2005.



Arraes e o Malogro da Centro-Esquerda Nordestina

MARCO ANTONIO VILLA

Miguel Arraes foi um político de sucesso em Pernambuco. Passou pela secretaria da Fazenda, foi deputado estadual três vezes e, aos 43 anos, chegou à Prefeitura de Recife. Três anos depois, em 1962, venceu uma das eleições mais disputadas do Brasil, a de governador de Pernambuco. Próximo dos comunistas, que estavam na ilegalidade, adotou medidas reformistas, como o apoio ao programa de alfabetização idealizado pelo educador Paulo Freire e a defesa da reforma agrária, e acabou por simbolizar a esquerda administrativa de então.
Arraes tentou ter um papel expressivo nas articulações que precederam o golpe militar, participou do comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, mas não conseguiu ocupar espaço político próprio. As duas candidaturas presidenciais mais fortes para 1965, de Juscelino Kubitschek e de Carlos Lacerda, não o queriam como vice. João Goulart e Leonel Brizola, que não poderiam ser candidatos por um impedimento constitucional, não o colocavam como alternativa. Sair candidato à Presidência seria uma temeridade. Era, na verdade, cortejado por Magalhães Pinto, também pré-candidato à Presidência da República e que gostaria de ter um vice do Nordeste e mais à esquerda, dando um tom reformista à sua chapa.
Tudo acabou em 2 de abril, com a destituição de João Goulart e a prisão de Arraes, que, dignamente, se recusou a renunciar pela força das armas ao governo do Estado. Foi levado preso do Palácio das Princesas para Fernando de Noronha. Lá permaneceu detido por um ano. Libertado por um habeas corpus, acabou sendo obrigado a pedir asilo à embaixada da Argélia. Logo depois, ele partiu para o exílio. Permaneceu 14 anos na Argélia, onde se transformou em um próspero empresário, favorecido que foi pelo ditador Houari Boumedienne. Nesses anos, ele teve uma atuação política discreta e tentou manter, mesmo à distância, sua influência em Pernambuco.
De regresso ao Brasil, após a Lei de Anistia, em 1979, Arraes encontrou o espaço político pernambucano de centro-esquerda ocupado pelo MDB: de um lado, os mais conservadores, liderados por Tales Ramalho, de outro, os autênticos, capitaneados por Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos e Fernando Lyra. Era como se Ulisses, depois de enfrentar tantos desafios, retornasse a Ítaca e encontrasse Penélope com outro marido. E, pior: feliz.
Buscou articular com a direção nacional do partido e fazer parte do sucedâneo do MDB, o PMDB. Conseguiu ser eleito para o comando nacional, mas não tinha condições de influenciar decisivamente os rumos do partido, tanto que nem sequer conseguiu ser candidato ao governo de Pernambuco em 1982, perdendo a indicação para o senador Marcos Freire. Arraes não se esforçou em apoiar Freire, que foi derrotado por Marco Maciel.
Eleito deputado federal, aproveitou para ir tecendo as alianças para a eleição de 1986, retomando os contatos com as lideranças do sertão e do agreste e aparando as arestas com os conservadores do Estado. A estratégia deu resultado, tanto que venceu as eleições sem esquecer que foi favorecido pelo Plano Cruzado, assim como os outros candidatos do PMDB em outros Estados.
Vinte e três anos depois, retornou ao Palácio das Princesas. Não era mais o "incendiário" de 1963. E o Brasil também era outro. A presidência de Sarney se arrastava e tinha como principal alvo o mandato de cinco anos. O socialismo real vivia a sua crise terminal. Em Pernambuco, o reformador Arraes foi substituído pelo Arraes conciliador, pouco ousado, mais preocupado em ter algum papel na cena política nacional do que na gestão da coisa pública regional. Acabou perdendo a eleição para a prefeitura de Recife, em 1988, para Joaquim Francisco, do PFL -isso quando historicamente a esquerda sempre vencia as eleições na cidade.
Em 1989, tal como nos idos de 64, Arraes não conseguiu sair candidato ou influenciar o processo eleitoral, momento crucial da história política brasileira após o fim da ditadura militar. Começou apoiando Ulysses Guimarães, passou depois para o campo de Leonel Brizola e acabou, no segundo turno, apoiando Lula. Perdeu nas três vezes. E voltou a ser derrotado no ano seguinte, quando novamente Joaquim Francisco venceu as eleições para o governo estadual enfrentando o seu candidato, agora já no PSB, pois tinha abandonado o PMDB.
Na mesma eleição, foi eleito deputado federal. Como da vez anterior, Arraes teve uma passagem pouco expressiva, mesmo em uma conjuntura tão delicada como a do impeachment de Fernando Collor de Mello. Como um político matreiro, porém, no Congresso Nacional dava mais atenção à vida política da província diversamente do que fazia quando governava o Estado.
Novamente, saiu candidato a governador em 1994 e venceu o PFL. Se o primeiro governo foi um marco na história regional, o segundo foi cinzento e o terceiro foi um desastre. Idoso, ultra-centralista, desatualizado em relação ao funcionamento da administração pública, arrastou os quatro anos de governo em meio a greves do funcionalismo público, até mesmo da Polícia Militar, invasões de terras lideradas pelo MST, além de ter sido denunciado no escândalo dos precatórios, que envolveu lideranças conservadoras do Sudeste, como Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo. Tentou a todo custo transferir sua liderança regional para Eduardo Campos, mas, até hoje, seu neto se revelou um político sem a mesma sagacidade do avô.
Dos políticos expressivos do pré-64, Miguel Arraes era o último que se mantinha na vida pública. Diferentemente de Leonel Brizola, não deixou nenhuma marca política, como a enfática defesa da educação feita pelo caudilho gaúcho, mas tal qual Brizola, vivia o ocaso político. Nunca passou de um político regional e fracassou quando tentou ter um papel expressivo na esfera nacional, tanto antes do golpe militar, como após o retorno do exílio até a presidência de Lula. Pode ser que o seu malogro não seja pessoal, mas o da centro-esquerda nordestina, que não conseguiu se libertar das relações coronelísticas e construir um projeto próprio para a região e para o Brasil. Resta maldizer a sorte, atacar a elite política sulista e solicitar mais verbas públicas.


Armadilha

A oposição tem de romper a camisa de força do personalismo. Isto acirra a divisão e despolitiza o debate. No PSDB isto é claríssimo. O caminho é a discussão programática.

Acompanhamento

A iniciativa do DEM de montar um banco de dados para acompanhar as promessas eleitorais de Dilma e a sua eventual realização, é uma proposta inteligente e que pode render dividendos políticos. Não custa nada para a oposição escolher 5 setores importantes da gestão governamental e ir também acompanhando o cotidiano administrativo, como um pequeno gabinete fantasma. Basta um mínimo de iniciativa e disposição para o debate político.

O farsante

É muito difícil encontrar na história recente do Brasil um personagem tão nefasto como o senador José Sarney. É muito esperto. Sempre tenta fugir da raia. Até agora a tal reforma administrativa do Senado não saiu do papel. O ponto eletrônico (que custou uma fortuna) foi abandonado. Não satisfeito, agora veio com esta história de plebiscito. Deve ser lembrado que ele (e sua família) estava decadente. Quem deu nova vida a Sarney e a outros oligarcas foi Lula. Estavam perdendo espaço nos seus estados. No caso do Maranhão, a família Sarney tinha perdido a eleição de 2006. Contudo, ele deu a volta por cima. Uma das heranças malditas do lulismo foi ter dado novo alento aos oligarcas. E isto tem um enorme custo político.

Fritura

Guido Mantega está sendo fritado. Não foi escolhido por Dilma. Foi indicado por Lula. Se a inflação e o câmbio não forem enfrentados com êxito nos próximos meses, ele cai.

Breve balanço dos cem dias ("Jovem Pan")

Segue link da entrevista para a Jovem Pan AM analisando os cem dias do governo Dilma:

Copa

Governo diz que pode "flexibilizar" a lei das licitações para as obras da Copa do Mundo de 2014. Flexibilizar, no Brasil, é sinônimo de fechar os olhos para a forma como serão utilizados recursos públicos. Para a Copa das Confederações (em 2013) faltam apenas 27 meses.

Inflação

Quanto mais tempo o governo demorar para enfrentar a alta da inflação, piorar será o remédio. O governo está perdendo a batalha. Caso o índice não recue nos próximos três meses, é inevitável um alta de juros e medidas que controlem o crescimento econômico, o que é muito ruim e não resolve o problema.

Peru

Ollanta Humala venceu o primeiro turno. Disse claramente à FSP que não aceita os contratos realizados pela Petrobras no país. Vamos ver como vai agir o governo brasileiro. Na Bolívia, Lula ficou quieto e a empresa engoliu um calote, quando Morales "nacionalizou" várias refinarias.

Cem dias, sem nada.

Foram cem dias marcadas pela inépcia administrativa. Não conseguiu enfrentar um problema, apresentar uma proposta e acompanhar os primeiros passos na solução. O caso da região serrana fluminense é um bom exemplo. Ainda no Rio, serve o caso das UPPs. Cadê os líderes do tráfico? Foram presos?

E as obras do PAC? Só após as denúncias da imprensa é que o governo tomou ciência da super-exploração dos trabalhadores. Ah, se o PT estivesse na oposição.......
E a inflação? E a indexação? E a paralisia administrativa?
Parece que tudo isso é quimera. pelo que se lê na imprensa (até na estrangeira), o governo vai muito bem.

Balanço dos Cem dias

Saiu ontem no "Veja" on line: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/a-dificil-transicao-das-promessas-para-a-vida-real

"El Tiempo", da Colômbia

http://www.eltiempo.com/mundo/latinoamerica/ARTICULO-WEB-NEW_NOTA_INTERIOR-9146880.html

Hoje na "Jovem Pan"

http://jovempan.uol.com.br/videos/especialista-afirma-que-pouca-coisa-mudou-no-governo-de-dilma-55751,1,0

Reforma Política (2)

Lendo o noticiário de hoje, continuo achando que é melhor ficar tudo como está. O ruim pode ficar ainda pior.

Mais mensalão

É curiosa a reação do PT e de seus acólitos com a divulgação do relatório da PF. E a história do golpe, como fica? E a "imprensa golpista"? E a promessa do Lula de investigar o mensalão depois de sair da presidência? Lula não disse que tudo era mentira?

Aécio

O discurso foi razoável. Vamos ver agora a atuação no dia a dia, nos debates e em diversos temas polêmicos, que vão estar presente ainda neste semestre na agenda política.

O poder da repetição

Quatro ministros foram revistados pela segurança americana, em Brasília, quando da visita de Obama. Isto, reafirmando, em território nacional e em um edifício público.

Celso Lafer, logo após o 11 de setembro, foi obrigado (juntamente com o ministro da Rússia) a tirar os sapatos para ser examinado pela polícia americana. Isto ocorreu nos EUA. Portanto, em território americano e no clima de atentados gravíssimos.
Do primeiro fato, tudo mundo já esqueceu. Do segundo, até hoje é lembrado.
Razão? É que o segundo fato foi propagado (e ainda é) pela eficiente máquina propagandística do PT.

Destino?

Marina Silva encontra muita dificuldade no PV. Está em conflito aberto com a direção (eterna) do partido. Esperava ser presidente do PV para, nos próximos anos, ter uma tribuna de onde falar.

José Serra encontra muita dificuldade no PSDB. Está em conflito aberto (mas nem tanto como Marina) com a direção do partido. Esperava ser presidente do PSDB para, nos próximos anos, ter uma tribuna de onde falar.
Os dois não devem atingir seus objetivos. Vão ser abatidos pelas direções partidárias. Como vão responder?

Artigo de "O Globo"

Este artigo foi publicado na edição de hoje de "O Globo".


GOVERNO CINZENTO

Analisar a política brasileira não é tarefa fácil. Nada parece ser o que realmente é. O cenário sempre é confuso. Verdade e mentira se misturam facilmente. O diz que diz supera a discussão programática. Há um gosto especial pela fofoca, pela pequena política. As polêmicas tem a profundidade de um pires.

A presidente Dilma completou cem dias de mandato. É vista como um verdadeiro fenômeno. Elogiada por todos, até pela oposição. Todos louvam sua habilidade política e a capacidade gerencial. Alguns lamentam ter votado na oposição, tão eficiente é a sua gestão.

Contudo, ninguém consegue identificar algo relevante realizado pela presidente nestes cem dias. O que ela realizou de tão brilhante? Quais os projetos apresentados? E os resultados daqueles desenvolvidos desde 2003? Ninguém sabe, ninguém viu. Só os áulicos - e haja áulico como no Brasil - é que saúdam o nada, o vazio. Pior, o governo revelou incapacidade e inoperância administrativas raramente vistas no Brasil.

Vamos aos fatos. Nos últimos três anos cresceu a demanda por etanol em mais de 70%. Já a oferta cresceu cerca de 20%. O resultado só poderia ser este a que estamos assistindo: desabastecimento somado com uma disparada nos preços. Frente à grave situação, o governo resolveu importar etanol e aumentar a adição de água. Convenhamos, é inacreditável. A presidente tem quatro ministérios que poderiam ter observado esse problema no seu nascedouro: Minas e Energia, Agricultura, Planejamento, além da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Claro que esses ministros não se destacam pela competência, vivacidade, brilho e conhecimento das áreas pelas quais são responsáveis. Mas não é um problema nosso. Qualquer pessoa sensata não convidaria Edison Lobão sequer para tomar um café; mas a presidente o convidou para gerir um dos ministérios mais importantes do seu governo.

As grandes obras civis do PAC são um fracasso. Os episódios de Jirau foram a gota-d"agua. Das poucas obras que estão sendo realizadas, todas estão com os cronogramas atrasados, o que aumenta ainda mais os custos, além de deixar de apresentar resultados no prazo estipulado. A infraestrutura do país está em frangalhos. Nada funciona a contento. Todos os principais portos têm graves problemas. As estradas de rodagem federais estão abandonadas. Basta uma chuva para que desabem dezenas de pontes, criando sérios obstáculos à circulação de pessoas e mercadorias.

A economia está sem direção. A meta da inflação de 2010 foi superada, e a de 2011 - ainda em março - foi considerada pelo BC como inviável. Portanto, teremos dois anos (alguns estimam também que em 2012 o fato vai se repetir) com as metas estouradas. A presidente assiste passivamente à disparada dos preços e à retomada paulatina da indexação. Vê dentro do próprio Palácio uma guerra surda contra o titular da Fazenda. Nada faz. No fundo, até gostaria de rapidamente se livrar de um ministro que não foi escolhido por ela. No Brasil presidencialista, o Ministério é formado por imposições (não indicações) de oligarcas e, como no caso atual, por solicitações pessoais do ex-presidente Lula.

Os programas sociais patinam. Minha Casa, Minha Vida" não conseguiu atingir sequer 20% da meta. Mesmo assim, demonstrando enorme eficácia propagandista, foi lançada a segunda etapa, isto quando faltam entregar 80% das casas da fase anterior.

E a Educação e Ciência e Tecnologia? Como é possível desejar ser um país emergente com os péssimos indicadores nestas duas áreas? Faltam verbas e, inegável reconhecer, faltam gestores. Os dois ministros são ruins. O que foi planejado nestes cem dias? Quais os passos dados para alcançar as metas? O Brasil comemora ser sede de uma Copa do Mundo. Claro que é bom, mas quando comemoraremos um Prêmio Nobel de Física?

Falando em Copa do Mundo, é notável a incompetência dos gestores, especialmente do ministro Orlando Silva. Tudo caminha para o improviso e para a realização de obras com licitações duvidosas, justificadas pela necessidade do evento cumprir o cronograma. Quaisquer crítica ou denúncia serão consideradas impatrióticas, claro. Silva, ainda nos vemos, mas onde está o titular do Turismo? Em São Luís? Como é mesmo o nome dele?

A ineficácia governamental é evidente. A máquina está inchada. Virou (e já faz algum tempo) instrumento de apresamento partidário. A quantidade de ministérios é tão grande que a presidente não deve se lembrar de todos. Mas, não satisfeita com a estrutura herdada de Lula, resolveu deixar a sua marca: criou mais um ministério, o das Pequenas Empresas. Mesmo assim não ficou plenamente satisfeita: vai criar mais um, o da Aviação Civil. Somos, entre as democracias ocidentais, o país que tem o maior número de ministérios.

Deveríamos ter um planejamento estratégico. Mas como tê-lo tendo à frente da secretaria Moreira Franco? Como falar em planejamento, se o ministério que leva este nome só faz o orçamento (e mal, como vimos, com os cortes de 50 bilhões)? Como pensar e bem planejar o futuro?

O país vai caminhando como um avião com piloto automático. Não deverá ocorrer alguma bobagem, mas também não haverá nenhuma ousadia. Faremos a lição como um aluno bem-comportado, como aqueles que não pensam, mas reproduzem docilmente às solicitações da professora. Estamos perdendo um tempo precioso. O Brasil pode aproveitar muito bem suas potencialidades, ser ousado. Deixar de lado elogios baratos é um bom começo. Reconhecer que o governo é cinzento revela somente realismo.



Jackson Lago

Morreu Jackson Lago, ex-governador do Maranhão. Foi um ferrenho adversário da oligarquia Sarney. Venceu Roseana, em 2006, mas teve a eleição anulada, em 2008, em um esbulho raramente visto em tempos recentes no Brasil. O TSE patrocinou a farsa. O PDT - seu partido e do qual era fundador e vice-presidente nacional - silenciou. O país não protestou. E Lula fez de tudo para entregar o governo a Roseana. Uma das heranças malditas de Lula foi ter dado nova vida às oligarquias.

Mensalão e Lula

Lula sempre disse que quando abandonasse a presidência faria a "sua" investigação do mensalão. Não precisa. Basta ler o relatório da PF. Foi uma conspiração? Um golpe contra seu governo? Uma farsa? Não. Foi corrupção descarada.

Município

2012 teremos eleição em mais de 6500 municípios. Veremos mais uma vez a pobreza na apresentação de propostas para gerir especialmente as grandes cidades. É incrível como os gestores das grandes cidades brasileiras são medíocres. Não tem uma idéia original, não ousam e só fazem o mais simples. O caso, no passado, de Curitiba é exceção. E os eleitores também não manifestam que estão cansados de uma discussão vazia.

Época

É devastadora a reportagem da Revista Época tratando do inquérito de PF sobre o mensalão. Se o Brasil adotasse um regime parlamentar, dificilmente o governo não cairia. Mesmo no regime presidencialista, em qualquer país politicamente sério, o estrago seria enorme. Já no Brasil.....

Popularidade

Saiu a pesquisa CNI sobre a popularidade da presidente. Pura bobagem, como aquelas referentes ao presidente Lula. Ela teve 5% de "ruim". Lula tinha 4% e sempre ironiza (junto com seus acólitos). Iludido pela pesquisa, Lula achava que venceria a eleição (de 2010) no primeiro turno. Afinal, só 4% discordava frontalmente do governo. Errou feio. Teve segundo turno e a oposição recebeu 44% dos votos. O que falar da pesquisa de hoje? Nada. É pura bobagem.

PAC e a incompetência

As obras consideradas importantes pelo tímido programa de "aceleração" do crescimento estão todas atrasadas. Faltam planejamento e gerenciamento. Todo é feito de improviso. Um simples acompanhamento no tal PAC permite detectar inúmeros problemas. Será que não tem no Senado ou na Câmara assessores dos partidos oposicionistas, que consigam municiar os parlamentares para que cobrem do governo o cumprimento do cronograma das obras?