Gaza

Os trágicos acontecidos que atingiram o comboio que se dirigia à faixa de Gaza vão jogar água no moinho do Irã, justificar um endurecimento nas negociações e a legitimalção do projeto atômico. A diplomacia brasileira deve apoiar discretamente o Irã.

Coréia

A crise (mais uma vez) na península coreana e sua gravidade está relacionada (principalmente) ao potencial nuclear da Coreia do Norte. Não ficaria admirado se o Brasil (o governo Lula, claro) saisse em defesa da ditadura coreana, argumentando que o arsenal atômico é para defesa (ou para fins pacíficos......). Daí que a pressão contra o Irá é fundamental para evitar o surgimento de mais um fator (e gravíssimo) de instabilidade no Oriente Médio. Somente a irresponsabilidade de Lula e do triunvirato do Itamaraty não percebeu a "roubada" de apoiar a ditadura iraniana. Daí a desconfiança de que Lula apoia sigilosamente o projeto da bomba atômica brasileira.

Política e futebol.

No próximo dia 15, a seleção estreia na Copa. Até 11 de julho, o país só falará de futebol. os candidatos, caso queiram aparecer bem no noticiário, vão ter de falar de futebol. Veremos alguns até vestindo a camisa da seleção. Lula, como sempre, quis tirar a sua casquinha. Sempre com uma agenda leve, teve tempo suficiente para receber a seleção. Na verdade, exigiu que a delegação passasse por Brasília. E, forçoso reconhecer, Dunga agiu muito bem. Tinha de ir, mas seria hipocrisia ficar aos beijos e abraços com o presidente. Cumprimentou friamente Lula. Das vezes que vi delegações na capital sendo recebidas pelo presidente (e isto desde Getúlio Vargas) foi o único que teve coragem de demonstrar desconforto. Melhor assim. Duro é ter de ler o Tostão dizer que pensou em não comparecer ao Palácio, em 1970, para não cumprimentar Medici. Conversa fiada. A politização de Tostão foi muito posteiror. Basta ler os jornais da época. Numa longa entrevista ao Estadão declarou que o seu sonho era...............visitar a Disneylândia.

Estilo de campanha.

Serra, neste momento da campanha, está, em cada declaração, demarcando terreno. Parece uma espécie de ensaio para quando a campanha efetivamente começar. Até agora tem sempre tentando colocar Dilma nas cordas, mas ainda batendo de leve. Terá de escolher, dentro de um amplo leque de opções da sua agenda eleitoral, quais pontos criticar. Já falou do Banco Central, Mercosul, Bolívia, política de segurança. É pouco mas suficiente para o atual estágio da campanha.

Até agora, Dilma não levantou nenhum tema relevante. Evita a todo custo o debate. Repete a ladainha da continuidade. É mais cômodo e eficaz. Mas como no futebol, campanha é momento. Como a eleição é em outubro, Dilma terá de se colocar mais abertamente, sem ter o escudo da assessoria. O seu desafio começará quando os primeiros debates forem marcados. Não causará estranheza se a sua equipe colocar inúmeros obstáculos para a realização de cada encontro dos três candidatos. Cada debate será um tormento para Lula. Ele sabe das limitações da sua candidata.

Política externa na campanha

Novamente a política externa entrou na campanha. Agora com a declaração de Serra sobre a Bolívia. É importante que além dos temas clássicos (educação, saúde, etc), também sejam discutidas as opções do atual governo no campo externo, que estabeleceu alianças com diversas ditaduras. Explorar os erros desta política pode contar ponto para a oposição.

É essencial vincular o desastre da política externa com o que ocorre no dia-a-dia. Falar da Bolívia e da Colômbia (Uribe foi hostilizado abertamente nos 8 anos do governo Lula) e mostrar como é fundamental combater o tráfico de drogras que infelicita milhares de famílias no Brasil. Tocar no Mercosul e mostrar que no momento que a Argentina viola o Tratado comprando bilhões de dólares da China (recebeu um empréstimo fabuloso só para comprar mercadorias chinesas) está tirando empregos de milhares de brasileiros, dimuindo a arrecadação fiscal, etc.

Voltarei ao tema.

Dilma no Rio Grande

Muitas pessoas, estas que acompanham política nacional, só devem ter tido conhecimento de Dilma Rousseff em 2003, quando ela assumiu o Ministério das Minas e Energia. A bem da verdade, excetuando um ou outro que tinha conhecimento das ações da VPR no início dos anos 70, Dilma era uma ilustre desconhecida.

No Rio Grande foi uma figura de segunda linha. Como é sabido, o estado tem uma renhida luta política que vem, sem exagero, desde o Império. A província e o estado tiveram importantes líderes nacionais. Neste universo, Dilma era aquela que servia o café e que saia da sala na hopra das discussões mais importantes.

Acabou assumindo funções públicas de segundo escalão quando ao PDT, seu partido, era reservada alguma sinecura. O máximo que obteve, na esfera estadual, foi uma secretária de importância secundária. Não creio que tenha sido alguma perseguição a ela. Ou que o "imenso talento" de Dilma, como o de Pacheco, célebre personagem de Eça de Queiroz, não tenha sido descoberto. Não, absolutamente não. Os gaúchos não são bobos. Conheciam o "talento" de Dilma.

O Globo

Saiu hoje em "O Globo".

A questão do vice.

Nestes dias a imprensa tem explorado a questão do vice na chapa liderada por José Serra. Foi incentivada uma onda pró-Aécio. O ex-governador mineiro foi transformado em uma espécie de salvador da Pátria. Não é o salvador e nem a Pátria está em perigo. Só marola.

Para a candidatura Serra é fundamental (óbvio) vencer em Minas e com uma boa vantagem em relação à Dilma. Para Aécio (pensando em seu projeto político) vencer a eleição para o governo de Minas é fundamental. Ele sabe que será uma eleição super-disputada e que vai enfrentar uma forte aliança que sustenta a candidatura Hélio Costa. Precisa também ser eleito senador com uma grande votação. E, por fim, tem consciência de que com uma possível presidência Serra, consolida o seu projeto regional e abre caminho para poder chegar à presidência da República. Caso vençam Dilma e Hélio Costa, mesmo que seja eleito senador, vai passar oito anos comendo o pão que o diabo amassou. Aécio vai percorrer todos os municípios de Minas fazendo uma tripla campanha: para o Senado, levando à tiracolo Anastasia e defendendo a candidatura Serra. Só tem a ganhar com esta tripla vitória. E uma derrota na esfera federal será pior do que uma na esfera estadual. Sabe que Dilma vai retirar todas as suas bases usando a força política e econômica do governo federal. Tendo Serra na presidência pode tentar retomar o controle de Minas (na hipótese de uma vitória de Costa).

Uma presidência Dilma fechará por doze anos o caminho presidencial de Aécio. Dilma vai esquentar a cadeira para que Lula retorne em 2014. Evidentemente que Lula será candidato à reeleição em 2018. Aécio sabe que é vital a vitória de Serra.

Futebol e política

Com a Copa é inevitável a discussão da relação (ou possível relação) futebol e política. Agora dizem que se a seleção vencer, Lula vai ser favorecido. E se perder? Não há relação direta entre o êxito ou fracasso da seleção. Todos os presidentes tentaram tirar algum proveito (desde Vargas que recebeu a seleção de 1938 em palácio). O mesmo deve se repetir em 2010. Lula, é claro, vai tentar tirar proveito político do êxito (ele sempre desaparece quando há fracassos ou tragédias - como enchentes, desabamentos, etc). Mas o resultado não vai interferir na eleição. A Copa interfere no sentido (tantas vezes escrevi sobre isso) de deslocar a atenção popular e isso se repete a cada 4 anos, desde a aprovação da EC que retirou um ano do mandato presidencial.

Vaticínios equivocados

É impossível prever o resultado de qualquer eleição. No máximo são desenhadas possibilidades do que poderá ocorrer. Basta fazer uma simples consulta nos arquivos da eleição de 2006 e veremos um número fabuloso de equívocos, alguns baseados em complexos levantamentos estatísticos (outro dia escrevo sobre melhor sobre isso).

Em 1954, Jango foi candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul. A eleição foi a 3 de outubro. A 24 de agosto, como é sabido, ocorreu o suicídio de Getúlio Vargas. Jango estava no Rio e recebeu das mãos do próprio Vargas uma das cópias do que ficou posteriormente conhecido como Carta-Testamento (no meu livro, "Jango, um perfil", faço uma descrição mais detalhada deste fato). Era considerado o herdeiro natural de Vargas e a sua eleição era dada como certa. Jango perdeu. Não foi eleito. Imediatamente traçaram uma espécie de atestado de óbito do presidente nacional do velho PTB. Ledo engano. No ano seguinte foi eleito diretamente (como era determinado pela Constituição) vice-presidente da República. Ou seja, os dois vaticínios estavam absolutamente errados.

Tigre de papel?

Será que a campanha eleitoral realmente começou? Ontem na CNI teve um debate, não direto, entre os candidatos, mas um debate em que ficou claro que os dois principais candidatos não pensam a mesma coisa sobre a economia. Ainda bem. Estava na hora de ficar claro que a oposição tem um programa distinto.

Mitos são construídos para serem derrubados. Um deles, na campanha de 2010, é que Lula está de tal forma colado ao governo, que uma crítica à sua gestão acabaria redundando em perda de votos. Isto poderia se aplicar ao momento inicial da pré-campanha, quando não era possível o debate aberto. Mas agora, não.

Este é o momento de começar o enfrentamento direto. Primeiro, meio de leve, guardando munição (e não deve faltar munição) para o momento que a campanha vai esquentar, após a final da Copa do Mundo.

Pode ser (no dia 31 de outubro saberemos) que o tigre era de papel.

Direita e esquerda

Vários comentários identificaram (corretamente) a geléia geral dos partidos e das alianças. Desatar este nó é muito saudável para a democracia brasileira. Mas como fazê-lo? Evidentemente que não há uma receita. Um bom (e simples) caminho foi dado pelo Congresso Nacional (e já comentei) nesta legislatura quando aprovou a cláusula de barreira (que foi vetada pelo STF, argumentando que a mudança teria de ocorrer através de uma emenda constitucional).

Com a cláusula, o número de partidos no Congresso cairia para, aproximadamente, oito. Isto deveria levar a uma rearticulação das alianças e a uma identificação ideológica mais clara por parte dos partidos (ao longo do tempo, claro). Qualquer reforma mais ampla não passa. E continuaremos assistindo um grupo de partidos sempre no governo (o PMDB é o caso clássico).

Blefes

Em março, mais ou menos, surgiu em Brasília a história de que Lula iria renunciar e se candidatar ao Senado por SP. Loucura pura. mas espalharam para ver se o balão subiria. Deu errado.

Agora espalham que ele vai renunciar para ser o cabo eleitoral (como se já não fosse) de Dilma, percorrendo todo o Brasil com ela à tiracolo. Loucura pura.

Uma campanha eleitoral como essa é recheada de blefes, acusações e análises precipitadas. Em fevereiro Lula dizia que Dilma poderia ganhar no primeiro turno. Depois andaram espalhando que Serra venceria no primeiro turno. Agora que Serra está despencando ladeira abaixo. Meros blefes. Claro que o papel do blefe é enganar o outro jogador. Mas até agora, os blefes estão mais para Cantinflas jogando pôquer.

Volto a dizer: teremos uma eleição muito disputada e violenta. Em alguns pontos, deixará 1989 na saudade.

A importância do Sul e Sudeste

O ponto que chama mais a atenção na pesquisa Datafolha foi a queda de Serra no S (de 48 para 38%) e no SE (de 45 para 40%). Mesmo assim, continua vencendo Dilma tanto no S (38 a 35) como no SE (40 a 33). É pouco porque deve perder no NE e no NO e CO. No S, o PT não terá candidato ao governo do PR, uma candidata com poucas chances em SC e outro com chances de vitória (ao menos de ir ao segundo turno) no RS. No SE, o PT está mal. Não terá candidatos em MG, ES e RJ. A exceção é SP e com uma candidatura frágil, como é a de Mercadante. Este quadro pode favorecer no decorrer da campanha José Serra. Quando a campanha começar a pegar fogo, os palanques estaduais poderão fazer a diferença. Evidentemente, isto só ocorrerá caso os partidos simpáticos à sua candidatura "vestirem a camisa". Apoio só de palavra, sem mobilização, numa eleição super-disputada como teremos, de pouco adianta.

Punho forte no Maranhão

O PT do Maranhão manteve a decisão de se aliar a Flávio Dino (PC do B) que é candidato ao governo do estado. Lula acertou com Sarney e Roseana que fará o PT mudar de idéia (via intervenção no diretório, se preciso for). Lula vai cumprir o trato. O PT vai ter de (na marra) apoiar Roseana. E não romperá com a candidatura Dilma. Estranho os partidos maranhanses. Jackson Lago foi retirado do governo pelo TSE, numa manobra que contou com o silêncio de Lula e principalmente do seu próprio partido, o PDT. Conhecendo a direção nacional do PDT não causa estranheza este comportamento (não iam deixar as dezenas de cargos no governo - especialmente o ministério do Trabalho - para defender um militante, mesmo sendo um fundador do partido). O PSB também vai ser fritado. Contudo, os três apoiarão com entusiasmo a candidata de Lula.

Los Angeles Times

Na última terça, o Los Angeles Times comentou a minha entrevista para a Al Jazeera. Em certo momento eu disse que Lula estava muito mais interessado em obter algum cargo internacional (como a secretaria geral da ONU) do que em defender os interesses nacionais. Hoje a Folha deu, como se fosse um "furo" uma reportagem sobre o mesmo tema.

Lula e o TSE

Lula foi multado 4 vezes pelo TSE. Na pauta do tribunal há mais uma solicitação para ser apreciada. O presidente já desdenhou publicamente do TSE várias vezes. E estamos em maio. A tendência é do presidente continuar a fazer campanha, só mudando o local: do palco para as entrevistas "improvisadas", no momento da inauguração de alguma obra. Deve diminuir as viagens para o exterior concentrando-se na campanha eleitoral.

O TSE não poderá assistir passivamente a violação da legislação eleitoral. De nada vai adiantar, como anunciou o ministro Marco Aurélio de Mello, depois da eleição o resultado for questionado. Aí "morreu Neves". A ação tem de ocorrer em plena campanha. A questão central é que Lula não admite que não é candidato e sabe que sua candidata depende dele para vencer a eleição.

Estadão de hoje

No Estadão de hoje foi publicada esta entrevista. Vai dar pano para manga a constante intervenção ilegal do presidente Lula na eleição. E a campanha ainda está morna.

E quando acabar a Copa e, logo depois, começar a propaganda na TV? Ele vai continuar a invadir o espaço dos candidatos? Uma pergunta: já pagou as outras 3 multas?

Datafolha

Saiu a tão aguardada pesquisa Datafolha. Deu empate: Serra e Dilma estão com 37%. Marina continua longe, com 12% (o que não é um mau resultado). A popularidade de Lula está quase no céu: 76%. As explicações ficam ao gosto do freguês. É óbvio constatar o crescimento contínuo da candidatura Dilma. O ponto de interrogação que fica é até onde vai esta curva. Teve o programa de televisão que foi importante (onde Lula enfatizou que ela é a sua candidata). Contudo, ela mal chega a metade do índice de popularidade de Lula, o que pode indicar que a transferência não é automática (e menor do que os petistas imaginam) e que Serra se mantém bem no estágio atual da campanha. Nas próximas duas semanas, na televisão, teremos programas pró-Serra e (dependendo do que for exposto, pois o PT certamente vai tentar embargar - ou limitar - estes programas) que devem ter algum efeito nas pesquisas.

A pesquisa reforça a análise de que teremos uma eleição super-disputada, absolutamente distinta das últimas quatro (1992-2006). Teremos segundo turno, óbvio. E o calor da disputa vai transformar a eleição de 2010 (infelizmente) na mais violenta da história recente do país, como já escrevi diversas vezes.

Qualquer interpretação mais afirmativa é mero chute. As duas candidaturas tem estratégias bem distintas. Dilma tem de colar a sua imagem à de Lula. E só. Serra tem uma missão muito mais difícil: evitar o confronto desnecessário e ir comendo pelas bordas a situação, especialmente com as alianças estaduais (que terão enorme influência no quadro de uma eleição super-polarizada), que tem recebido muita pouca atenção da cobertura da imprensa.

Em suma, não faltará emoção.

Um mês

Um mês de blog. Um mês de campanha? Exagero. Já escrevi que a campanha é muito longa. E pior: sem idéias. Com este calendário, a maior parte do tempo da campanha é gasta nos preparativos, como aquele jopgador que fica á beira do gramado se aquecendo para entrar (à exemplo do Jorge Mendonça, em 1978, que fez o mais longo aquecimento da história das copas).

Campanha tem de ser coisa de dois meses, três, se tanto. E só. Precisa ter substância. A nossa não discutiu nada de substancial, nada. O melhor exemplo é o noticiário de hoje sobre a Dilma: está fazendo compras em New York.

O novo Íbis

O Itamaraty é o novo Íbis, o conhecido time pernambucano famoso pelas derrotas. Mais uma vez perdeu. Agora, colocando em risco uma região marcada pela tensão cotidiana: o Oriente Médio. O Brasil ficou isolado. Foi (ou será) uma grande derrota. Sem ser o herói de si mesmo (longe disso), na entrevista à Al Jazeera eu já tinha "cantado" a derrota.

Curioso é que no dia seguinte muitos "analistas" louvaram a "vitória" diplomática do Brasil e Lula como uma espécie de futuro secretário-geral da ONU. Nada como o dia seguinte.

Enquanto isso, as questões econômicas super importantes para o Brasil ficam jogadas em um segundo plano. A possibilidade de vários acordos bilaterais, o enfrentamento das sobretaxas americanas ou formas de estabelecer uma eficaz política com a África (não simplesmente, como temos, uma ação que acaba fortalecendo as dezenas de ditaduras) são empurradas com a barriga. E saber que uma desconhecida publicação americana considerou Celso Amorim o melhor Ministro das Relações Exteriores do mundo.........Alguns falaram até em Super-Homem. Nada disso, está mais para Chapolin.

Mais um golpe no MA?

José Sarney não estava presente na sessão do Senado que aprovou por unanimidade o projeto Ficha Limpa. Quando o Senado aprova algo por unanimidade e, mais ainda, quando o projeto é importante para a sociedade, fica sempre uma desconfiança. Sabemos que boa parte do Senado tem um espírito (para ser educado) pouco republicano.

Logo a desconfiança foi adquirindo um ar de conspiração: Sarney, o símbolo maior do que há de mais nefasto na política brasileira, apoiou o projeto como um instrumento contra a candidatura de Jackson Lago ao governo do MA contra a sua filha, a indefectível Roseana. Pretende acionar o TSE para vetar a candidatura Lago. Não podemos duvidar de Sarney. Ele conseguiu que o TSE anulasse a eleição de Lago para o governo do MA. Foi um dos maiores esbulhos da história recente do Brasil. Agora, vai usar esta condenação (que foi um absurdo) como instrumento para impedir que Lago vença novamente nas urnas sua filha (que é apioada entusiasticamente pelo presidente Lula).

Falso brilhante

Ivan Lessa escreveu que a cada quinze anos, o Brasil esquece o que aconteceu nos últimos quinze anos. O caso do Irã e seu programa atômico é exemplar. Durante semanas foi dado um enorme destaque a Lula (sempre em primeiro lugar) e depois à diplomacia brasileira. Quando foi assinado o acordo, os analistas mais apressados comemoraram (claro que vinculando o suposto "êxito" com a campanha presidencial). As grandes potências levam o assunto mais à sério, sem o ritmo carnavalesco do Itamaraty. Pensam nos seus interesses nacionais (e não partidários). Continuam falando em sanções, como a Rússia e a China (estes dois países, que têm populações muçulmanas sabem do perigo de uma bomba iraniana e a possibilidade (eventual) de chegar aos grupos separatistas e anti-Moscou e Pequim).

Já escrevi que a diplomacia brasileira que ser um player mundial. Não consegue. Em um mundo dominado por Johns Waynes, o Itamaraty age como Oscarito. Não vai passar muito tempo e a "mediação" brasileira vai ser esquecida. Lula imagina que o mundo é uma mera reprodução do Brasil. Ledo engano. As grandes potências não cairam no engodo. O Irã já assinou e violou inúmeros acordos. Tudo indica que fará o mesmo. O "cara" fez papel de bobo.

Voltarei ao tema.

Nada de importante

Hoje não aconteceu nada de importante. É natural. A campanha (como já escrevi) é muito longa. Se fosse mais curta, concentraria os debates e o interesse dos eleitores. Parece que os partidos não tem interesse nisso. A legislação eleitoral é ruim.

Apesar da realização de eleições a cada dois anos, a politização do eleitorado é baixíssima. No momento da redemocratização (1984-85) imaginava-se que as pessoas tinham enorme interesse pela política. A campanha das Diretas Já (1984) reforçou esta impressão. A sucessão de eleições acabou transformando o ato de votar em algo absolutamente rotineiro. Até aí, tudo bem. Porém, o desinteresse foi aumentando. O eleitor só comparece às urnas porque o voto é obrigatório. Mesmo assim, se somarmos as abstenções com os votos brancos e nulos chegamos tranquilamente a 1/4 do eleitorado.

As eleições foram ficando enfadonhas. Os candidatos, graças aos marqueteiros, acabaram a cada dia mais iguais. A escolha ocorre raramente devido ao programa ou de uma proposta de ações públicas, mas por razões de simpatia pessoal ou por equívocos cometidos durante o mandato.


A despolitização empobreceu as eleições. Se nem durante o período eleitoral o eleitor tem interesse pela política, imagine nos intervalos entre as eleições. Quem acompanha os canais que transmitem as sessões do Congresso Nacional fica abismado com a inexistência de debates. Passamos os últimos 4 anos sem uma discussão relevante no CN (no máximo teve, no Senado, o debate da CPMF e a discussão sobre a carga tributária). A repetição a cada 2 anos dos fenômenos eleitorais (geralmente celebridades do rádio e televisão) reforçam a tendência para a despolitização das eleições.


É necessário mudar mas não há nenhum consenso, nem sobre questões genéricas. O máximo que pode correr (e já escrevi) é a aprovação da cláusula de barreira por emenda constitucional.

A oposição que não foi.

O custo político da oposição não ter realizado o seu papel, especialmente no segundo governo Lula, é evidente. No primeiro governo, o desempenho foi pífio. Mesmo na crise do mensalão (2005), no auge, após o célebre depoimento de Duda Mendonça (que reconheceu ter recebido, numa conta nos EUA, o pagamento por parte da camapnha presidencial de Lula, em 2002), a oposição não desempenhou seu papel. A avaliação de conjuntura foi um desastre, como vimos em outubro de 2006.

No segundo governo inexistiu oposição parlamentar. Foi o momento de glória de Lula. A cada pesquisa, a oposição achava que deveria "se fechar em copas" pois o presidente estava popular. Na pesquisa seguinte considerava equivocado critícá-lo pois a popularidade tinha crescido. E assim foi indo, de mês em mês, de pesquisa em pesquisa (era o oposto do lema leninista: um passo à frente, dois passos atrás). Se melhorava a avaliação do governo, em parte era devido aos êxitos econômicos (poucos, é verdade), e de outra parte devido a ausência de oposição, que abandonou o jogo logo no início do segundo tempo (usando uma metáfora tão ao gosto de Lula).

Quando chega a eleição não dá para subitamente ser oposição. O capital político adquirido, sem contestação, em 4 anos, não vai se esvair em alguns meses. Porém, como vencer o governo? Este é o grande desafio da oposição, especialmente de José Serra. É compreensível entender que nestes momentos, ainda com a campanha bem morna, não tenha partido para o enfrentamento direto, mas tenha procurado "jabear", bailando no ringue. Vez ou outra teve um clinch e só. Mas isto pode ter um custo se a estratégia não mudar no decorrer do combate. A "fase de estudos" do adversário tem hora para terminar. O desafio é saber a hora e como partir para o ataque aberto.

Estilo SA

O discurso de Marta Suplicy, hoje, na Zona Leste, durante ato público de propaganda de Mercadante (candidato ao governo do estado) é preocupante. Ela disse que Gabeira (que não é candidato em SP mas ao governo do Rio de Janeiro) é que é sequestrador (do embaixador americano Charles Elbrick) e que estava, inclusive, encarregado de matá-lo. A informação irresponsável é típica de alguém que não conhece a história do regime militar e que durante o período se destacou (já no governo Figueiredo) pela participação na TV Mulher. Ou seja, durante aqueles anos nada fez, não participou de nenhuma organização da sociedade civil, nem individualmente fez qualquer protesto. Em suma, estava cuidado da sua vida familiar e profissional.

A agressão sinaliza que o PT deve agir, na campanha eleitoral, jogando lenha na fogueira. Não causará estranheza se patrocinar conflitos da rua e em eventos dos adversários. Isto é grave. A ação através da intimidação nada tem de democrático. Pelo contrário. Aponta para um tipo de ação da extrema-direita. O MR-8, hoje aliado do PT, foi pródigo neste tipo de ação quando apoiava o célebre pelego Joaquinzão, presidente do sindicato dos metalúrgicos de SP.

Eleições estaduais e eleição federal

Em 2006 a "onda Lula" acabou repercutindo em várias eleições estaduais. O caso da BA é clássico. Jaques Wagner acabou vencendo surpreendentemente no primeiro turno. E tinha como opositor - além de candidato da situação - Paulo Souto, que já tinha sido governador.

Em 2010 Dilma não deve conseguir repetir este fenômeno nos estados. O que pode ocorrer é o inverso: as eleições estaduais (suas alianças, conflitos eleitorais, segundos turnos com dois candidatos da base, etc) interferindo na eleição para presidente, pois é inegável que teremos dois turnos (a cada pesquisa que sai, aparece um analista dizendo que "poderemos ter uma eleição presidencial em um turno". Bobagem. O que aconteceu em 1994 e 1998, quando Lula perdeu no primeiro turno para FHC, é muito diferente do que temos em 2010).

A pesquisa Vox Populi (II)

No site do Vox Populi ainda não estão disponíveis os resultados da pesquisa (acabei de acessá-lo: www.voxpopuli.com.br). Pelo que foi noticiado, antes de perguntar em qual candidato o entrevistado pretende votar em outubro, foram efetuadas várias perguntas relacionando Dilma, Lula e o PT (no estilo qual a cor do cavalo branco de Napoleão Bonaparte). Isto é muito importante em qualquer pesquisa. Se tal ocorreu, a pesquisa cometeu erros evidentes e não merece credibilidade. A pesquisa Sensus, do mês passado, também teve falhas, que a própria empresa reconheceu.

O que isso quer dizer? Quer dizer que teremos uma guerra de pesquisas até outubro. Alguns levantamentos estimam entre 2% a 3% entre os eleitores que são infuenciados pelo "já ganhou¨, ou seja, votam no primeiro colocado induzidos pela pesquisa. Numa eleição disputadíssima, como teremos, isto pode ser decisivo.

Continuo considerando o "Datafolha" e o "Ibope" como os institutos que melhor conseguir aferir a vontade dos eleitores, mesmo sabendo que isto não significa "acertar" o resultado de uma eleição, como vimos em 2008, nas eleições municipais.

Resta aguardar as pesquisas destes dois institutos.

A pesquisa Vox Populi

Achei estranhíssima a pesquisa Vox Populi divulgada quase agora. Foi consultado pelo Ig antes de sair o resultado. recebi a informação que Dilma estava na frente nos dois turnos. Para mim é uma surpresa e sem explicação porque:

1. não correu nehum fato relevante que pudesse justificar esta virada;
2. Dilma deu vários escorregões nas últimas 3 semanas;
3. Lula apareceu poucas vezes, ao seu lado, depois que saiu da Casa Civil;
4. o programa do PT foi exibido depois do término da pesquisa;
5. Serra deu destaque especial ao NE, viajou para vários estados e evitou o confronto com Lula. Também esteve em vários programas populares pelo Brasil;
6. Serra não "pisou na jaca" nestas semanas.

Como explicar este resultado sem ter que desconfiar da amostragem?

Lula no Irã

A ida de Lula ao Irã, nesta conjuntura, é um tema controverso. A Al Jazeera fez esta matéria Critiquei a posição de Lula em relação ao programa nuclear iraniano.

O PT e seu destino.

Lula prometeu a Sarney e Roseana, ontem em Brasília, que o PT do MA vai rever sua decisão de apoiar Flávio Dino (PC do B), para o governo do estado. Lá, em convenção, apesar das pressões da governadora, o PT deciciu apoiar Dino. Não é preciso lembrar que o amplo leque de centro-esquerda no MA foi historicamente um opositor de Sarney e de sua famiglia.

Caso isto ocorra, estaremos assistindo (e para um pesquisador isto é um fato extremamente relevante), o fim do PT como partido pois:

1. virou simplesmente (para usar a expressão leninista) uma correia de transmissão dos interesses pessoais de Lula;
2. o partido aceitou todas as determinações de Lula, inclusive a candidatura de Dilma, que tem poucos anos como filiada ao partido, e nunca teve expressão, desde quando entrou, na história da agremiação;
3. revogar uma decisão amplamente discutida no partido (na seção regional) vai criar um trauma;
4. a aliança com a famiglia Sarney poderá ser o beijo da morte no partido;
5. o partido teve de engolir vários sapos (o que diria Brizola?), mas Lula estava na presidência, com o poder da caneta e com milhares de cargos e verbas para distribuir. E quando estiver fora do governo e com uma possível derrota de Dilma? O partido foi continuar a obedecê-lo cegamente? Vai se prostrar e apoiar o símbolo maior do atraso da política brasileira tão bem representado por Sarney? O partido vai rachar? Quem vai permanecer no comando? E o mito Lula, permanecerá?

Voltarei ao tema, claro, pois o que pode acontecer com o PT e com o mito Lula são belos temas.

E se a Dilma não decolar?

Os estrategistas da campanha de Dilma devem estar avaliando as pesquisas que tem em mãos. Nos só temos acesso àquelas divulgadas pela imprensa (Datafolha, Ibope, etc). Se a candidatura Dilma, nas pesquisas do partido, continuar patinando, o que farão?

A possibilidade de usar artilharia pesada é grande, muito grande. O estoque de dossiês já deve estar na mesa. Os dossiês vão (é voz corrente) da vida pessoal até ataques sobre as duas últimas administrações Serra (prefeitura e governo estadual). No ataque frontal vão também usar os "movimentos sociais", com o MST à frente. Poderemos logo ver um conjunto de invasões de propriedades rurais e de ocupações de prédios públicos.

Dar a impressão que um futuro governo Serra vai ser marcado por um conflito cotidiano com os "movimentos sociais" será uma estratégia arriscada. Pode arrastar aquele eleitorado que poderia votar em Marina Silva (parte dele). Mas também pode assustar o eleitorado lulista mas não petista. Não causará estranheza se mesmo com o risco de não obter mais votos, continuarem com a radicalização. Lula, discretamente, já disse que não é possível dar nenhum passo atrás. Que uma vitória da oposição seria um retrocesso.

Voltarei ao tema.

Movimentos na campanha.

Lula já percebeu (ainda não jogou a toalha, deve considerar que é cedo) que será dele o papel de dar as estocadas em José Serra durante a campanha e não de Dilma. Ela continua dando declarações confusas, saindo sempre atrás da agenda (tímida) apresentada por Serra e mostrando extrema insegurança. Com o vice que pretende ter (Michel Temer) o quadro não vai melhorar.

Ontem Lula, no Jornal do SBT, voltou a atacar Serra. Nunca deve ser esquecido que ele é um mestre da política, independemente de concordar ou não com suas posições. Jogou a armadilha mas Serra não caiu (campanha não é fácil: Serra estava sendo entrevistado por Ratinho!!).

Estamos chegando a metade do mês de maio e a campanha ainda continua ultra-morna. Quando a imprensa (como a Folha de S. Paulo) começa a fazer reportagem sobre o vestuário dos canidatos é mau sinal, representa que não há do que se falar, a não ser banalidades.

Reforma Política

A reforma política foi tema dos comentários. É uma questão fundamental para a democracia brasileira. Contudo, não vai ocorrer qualquer transformação mais radical do sistema que estamos vivendo. Considero impossível que seja adotado o voto distrital. A maioria do Congresso é contrária. Além do que, não teríamos um voto por cabeça, seria um voto distrital capenga. O máximo que podemos esperar é que a cláusula de barreira seja aprovada, agora como emenda constitucional, pois o STF vetou a aprovação como projeto de lei. A adoção significa uma sensível diminuição do número de partidos com representação no Congresso Nacional, algo próximo a 8 ou 9. Isto criará as condições para um outro tipo de política, acabando com os partidos de aluguel (ou, ao menos, criando dificuldades para sua existência). Pensar numa reforma mais ampla, que seria o mais adequado, não creio que seja viável.

Nada de novo.

Já escrevi que a campanha eleitoral, no Brasil, é muito longa. Provavelmente seja juntamente com a americana a mais extensa. Os EUA tem uma forma muito particular de fazer política. No caso brasileiro, a extensão da campanha acaba diluindo os temas, perdendo em substância e qualidade, o debate eleitoral.

Os candidatos ficam receosos de cometer deslizes. E quanto mais longa a campanha, maior a retranca, para usar uma metáfora futebolística. Ninguém quer arriscar. E a retranca é ruim para o processo eleitoral. O receio do candidato, nesta longa fase antes da propaganda gratuita, é em uma entrevista deixar escapar uma frase infeliz, um gesto considerado ofensivo.

Se a retranca acaba enfeiando o futebol, na política transforma a campanha numa coisa modorrenta, que vai se arrastando até 17 de agosto. quando começa o horário gratuito (nem tanto, pois neste ano deve custar 900 milhões de reais. valor da isenção fiscal para as empresas de rádio e televisão).

Uma saída seria diminuir o tempo de campanha, além da desincompatibilização ocorrer somente no momento que efetivamente começasse a campanha.

Capital financeiro

Ontem, na entrevista a CBN, Serra teve uma boa discussão com Miriam Leitão. A conhecida jornalista foi uma defensora intransigente da política do BC na época que foi dirigido por Gustavo Franco. Serra foi um adversário desta política e manifestou diversas vezes sua discordância. A sobrevalorizaçãodo real teve um efeito extremamente nocivo para a economia brasileira.

A discussão foi boa e deixou claro que numa presidência Serra o BC não vai fazer o que bem entende. Isto é bom para o país. A indústria brasileira está sendo sucateada e comprometendo o futuro do país (a indústria tem um enorme efeito multiplicador de empregos, no desenvolvimento da ciência e tecnologia, etc).

Deve ser recordando (lá vem a História.......) que no final de 2005/início de 2006, a pré-candidatura Serra (quando ele vencia, nas pesquisas, Lula inclusive no primeiro turno) foi bombardeada pelo capital financeiro e pelos seus aliados na imprensa. Temiam que ele mudasse a política cambial adotada por Meirelles e apoiada por Lula.

Não é chavismo

Sabia que o posto "Aliança ou saque do estado?" daria discussão. Boa discussão. Os comentários de Ed e Cristiano tocam em questões importantes. Queria deixar claro que:

1. buscar a aliança programática é possível. É o único meio de romper com o fisiologismo que está nas entranhas da política e do Estado brasileiro.

2. apresentar o programa de governo para os cidadãos (discordo daqueles que distinguem programa eleitoral de programa de governo) não é chavismo, democracia direta, bonapartismo, nada disso. É democracia. É respeitar o voto dado pelo eleitor.

3. não é possível que a vontade popular seja sequestrada pelo Parlamento, como vêm ocorrendo e faz tempo. O partido derrotado passa a fazer parte do governo. No Brasil isto é chamado de coalização. Em país sério é transação.

4. Temer, sempre ele, já anunciou que mesmo perdendo o PMDB estará no governo. Neste caso, o problema não é o Temer mas quem aceita seu apoio (que não é apoio, como sabemos, é uma relação pouco republicana - Ciro Gomes diria alguma palavra mais dura).

5. Romper com o fisiologismo não é romantismo ou golpe. Os fisiológicos temem a luz do sol, a transparência. Imaginem um presidente chamando o PMDB (e outros partidos) para negociar abertamente o apoio ao seu governo? Será que a turma lá do Rio, os Barbalhos do Pará, os Sarneys do Maranhão e Amapá e tantos outros, terão coragem de exigir ministérios, secretarias, empresas estatais (as diretorias de "furar poço", como disse Severino Cavalcanti)?

6. há uma espécie de conluio entre "analistas", setores da imprensa política, políticos, empresários, que repetem á exaustão a cantilena de que sem os fisiológicos nenhum governo se sustenta (os exemplos históricos - Jânio e Collor estão equivocados). Errado. Quem não se sustenta com um governo programático são os fisiológicos.

Voltarei ao tema.

Horário Eleitoral Gratuito

No sábado, na CBN, dei uma entrevista tratando do tema.

Aliança ou saque do Estado?

Uma boa questão da campanha é saber como cada presidenciável (dos 3 concorrentes) pretende governar (e depois, claro, cobrar quando iniciar o governo). Algumas explicações da política brasileira foram construídas e transformadas em verdade absoluta. Uma delas é que temos um presidencialismo de coalização que permite governar com estabilidade. Nada mais falso. O presidencialismo que temos é de transação, de negócios pouco republicanos. Permite saquear o Estado organizadamente, entre os grupos que controlam o poder em Brasília (e que se espalham pelos 3 poderes).

Enquanto não rompermos com esta prática (e esta análise legitimadora) continuaremos emperrados, sem a possibilidade de desenvolver mais rapidamente a economia, enfrentar os grandes problemas nacionais e efetivamente consolidar as instituições democráticas.

O primeiro passo começa com as alianças eleitorais. Elas sinalizam a forma do futuro governo. É possível governar sem aceitar os ditames dos oligarcas, assaltantes do Tesouro público. Considerar que os oligarcas controlam o Congresso e podem inviabilizar um governo é uma mentira (que também é reforçada pelos "analistas"). Os oligarcas sequestram a vontade popular expressa nas urnas no momento da eleição do Presidente. É como se a eleição fosse uma farsa, pois "eles" sempre estarão no governo. Michel Temer é uma espécie deste tipo de político que parece nunca dar adeus ao poder (e suas benesses, claro). Outro dia afirmou que o PMDB estará no governo, em 2011, independemente de quem vencer a eleição de outubro. Isto não passa de um blefe. É sim possível governar sem a escória que temos (e que será reeleita) no Congresso Nacional.

Voltarei ao tema.

Terceiro mandato.

Lula sonhou com o terceiro mandato. Abandonou a idéia quando perdeu a votação no Senado sobre a CPMF. Sentiu que não teria a maioria constitucional. Temendo o desgaste (e a derrota) optou por escolher uma mulher (certamente com base em pesquisas eleitorais). Usou o sistema consagrado no México, na época do PRI: o "dedazo". Indicou solitariamente e exigiu a fidelidade do partido. A escolha de Dilma não partiu de dentro, de alguma corrente. Foi um ato imperial de Lula, de fora para dentro do partido.

Não causará estranheza se Dilma continuar mal campanha eleitoral, a entrada em campo de Lula em grande estilo. Ele já disse que fará isso. Vamos ver se como o TSE vai agir. Lula vai continuar testando a paciência do tribunal.

Popularidade e eleição.

Em 1960 JK estava com a popularidade lá nas alturas. Mesmo assim não elegeu o sucessor. Recentemente, na América Latina, outros presidentes bem avaliados não conseguiram fazer o sucessor.

Os analistas que afirmavam, desde o ano passado, que Dilma herdaria a popularidade de Lula devem estar com os cabelos em pé. Citavam números, até para dar veracidade à hipótese. Até agora, contudo, o que vemos são as duas principais candidaturas estabilizadas: Serra na frente e Dilma em segundo, variando a diferença entre eles de 5 a 10% das intenções de voto.

Depois das duas últimas pesquisas (Ibope e Datafolha) nada aconteceu que mudasse este panorama. Se neste mês a diferença ficar estabilizada, veremos que ocorrerão várias defecções estaduais. O PMDB vai rachar, mas não sem antes saquear o que for possível do Estado. A seção gaúcha que têm uma tradição de combatividade - e de independência, nos últimos anos - já sinalizou que não vai apoiar Dilma. É uma defecção importante, tanto no sentido ideológico, como pela importância eleitoral do estado. Pode ser o sinal para outros rachas no partido.

Lula propala aos quatro ventos que Dilma não decolou por ele não entrou na campanha. Pura falácia. Ele faz campanha para ela desde 2008. Agora não pode fazer propaganda de acordo com a legislação eleitoral. Já sofreu duas penalidades do TSE. A pergunta que fica é se ele vai conseguir virar o jogo em favor de Dilma. Mais do que esta possibilidade, o que fica no ar é qual a postura que o TSE vai tomar.

Comentários dos comentários.

A partir da próxima segunda-feira vou começar a responder os comentários. Muitas questões importantes foram destacadas. Espero com isso impulsionar o debate.

Temas ausentes da campanha

O que deve faltar na campanha, infelizmente, é a discussão dos grandes temas nacionais. Neste momento, pior ainda. Quando a campanha esquentar, também ficaremos longe destes temas. A temperatura deve aumentar na base de acusações pessoais e dossiês (que devem estar prontos, esperando o momento certo para serem espalhados). Eventualmente, uma ou outra questão, deve ser discutida mas sempre passando meio de raspão no que é fundamental para o país na próxima década.

Um tema que envolve a Federação é o Distrito Federal. O que fazer? Deixar como está e ficarmos esperando um novo escândalo? Propor uma emenda constitucional alterando a estrutura do Distrito Federal? No auge do último escândalo apareceram boas propostas: 1. Separar Brasília das cidades-satélites; 2. Dar autonomia a estas últimas e nomear um prefeito para o Brasília; 3. Que as cidades-satélites fossem incorporadas pelo estado Goiás; 4. Acabar com a representação do DF no Senado; 5. Manter a Câmara Distrital. como Câmara Municipal.

O que será que os presidenciáveis pensam sobre esta questão? Voltaremos, até a eleição, a listar várias temas importantes e que são ignorados na campanha.

Palanques estaduais

Pouca atenção está sendo dada aos palanques estaduais (pensando, claro, na eleição presidencial). A candidata oficial vai ter problemas maiores do que imaginava. Em Minas, o apoio do PT ao PMDB (exigência das direções nacionais dos dois partidos) facilitará a vida de Anastasia, o candidato de Aécio. O eleitorado do PT dificilmente engolirá Hélio Costa. Como não há uma terceira candidatura, abre caminho para o fortalecimento de Anastasia. Com isso cresce a candidatura de Serra no segundo maior colégio eleitoral do país.

Na Bahia. Geddel está crescendo. Terá um ótimo tempo na TV. Wagner é um aliado histórico (e pessoal) de Lula. Quando a campanha esquentar, quem Lula vai apoiar? Terá de escolher. Subir nos dois palanques não vai dar. Ao optar por Wagner, vai empurrar Geddel para o palanque de Serra. A Bahia é o maior colégio eleitoral do Nordeste. Esta região é a única que nas pesquisas Dilma obtém a liderança.

No Maranhão, o PT está sendo pressionado a apoiar Roseana Sarney. Não é simplesmente um apoio. Terá de romper a aliança com Flávio Dino, o candidato do PC do B. E mais: apoiar Roseana é romper com mais de duas décadas de oposição à famiglia Sarney e tudo o que isto significa. E Dino, vai continuar a apoiar Lula? E Jackson Lago?

Diversamente do que se imaginava no início do ano, a base governamental começa nos estados a rachar.

Tempo da campanha.

Já está na hora de ser revisto o calendário eleitoral. No Brasil, a campanha oficiosa é muito longa. Na maior parte do tempo não se discute nada de relevante. O caso da Inglaterra, com um campanha curta mas substancial é uma excelente comparação. Lá, em pouquíssimas semanas, foram discutidas questões fundamentais para o país. Aqui, até agora, nada. Claro que oficialmente a campanha tem início só em julho. Neste caso, porque a desincompatibilização tem de ocorrer 6 meses antes do pleito? Não seria melhor que a desincompatibilização ocorresse 4 meses antes da eleição e 1 mês antes do início da campanha? Não é no mínimo estranho que os candidatos tenham de ser chamados de pré-candidatos, além de serem multados por uma eventual ato que seja considerado de campanha até o mês de julho?

Marina e seus dilemas

A candidatura Marina Silva também tem problemas e alguns êxitos:

1. com a saída de Ciro, Marina tende a ser o desaguadouro para os eleitores insatisfeitos com a polarização Serra/Dilma;

2. evitando o confronto eleitoral mais aberto, tende a receber votos dos que não gostam da política de embate, que deve marcar as duas principais chapas, especialmente a partir de julho;

3. um primeiro problema é a falta de estrutura nacional do PV;

4. outro problema são os frágeis palanques estaduais (excetuando o Rio de Janeiro);

5. mais um problema: o PV não tem cara, virou um partido de aluguel, de oportunistas. Basta recordar que tem na Cãmara como líder o "verde" Sarney Filho;

6. com estas dificuldades pode virar uma Heloísa Helena de 2010. Cresce quando a campanha está morna e depois cai. Até porque os partidários de Dilma, às vésperas do primeiro turno vão conclamar os eleitores de Marina para que votem em Dilma (é o voto útil).

7. para deixar de ser um azarão, Marina tem de ter uma estrutura de campanha nacional, um programa que enfrente os grandes problemas nacionais (evitar o "samba de uma nota só"), ter mais visibilidade e partir para o confronto com as candidaturas de Serra e Dilma. E mais: deixar as ilusões de lado e não cair no canto de sereias dos assessores (agora cismaram de falar da Colômbia e do azarão de lá - que se filiou ao PV colombiano - e que neste momento está em primeiro nas pesquisas. Não há nada mais diferente do que Brasil e Colômbia).

Os dilemas de Dilma

Dilma teve um mês de abril pavoroso. Imaginei que o comando da campanha iria colocar a candidata na linha. Não parece. Mal começou o mês de maio e ela voltou a cometer deslizes bobos, banais. Sua campanha tem muitos recursos. Deve ser a mais cara desta eleição. Portanto, não é falta de dinheiro. O problema é de comando e de sensibilidade política. Estranhamente, um dos coordenadores da campanha é candidato em MG (Fernando Pimentel). Não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo. O responsável pela internet só faz bobagem e se continuar assim, vai ser demitido.

A correção de rumo deve ocorrer logo. A crise de liderança no PT é tão grande que Lula virou uma espécie de faz-tudo. Indica a candidata, acerta alianças partidárias, desata os nós nos estados: é um polivalente, como diria o falecido Cláudio Coutinho (técnico da seleção brasileira em 78 e criador de algumas frases antológicas como: "o Brasil foi o campeão moral desta Copa"). Agora terá de assumir a coordenação (informal) da campanha da candidata. Neste ritmo vai transformar Dilma numa espécie de Louro José.

Acertar o tom da campanha é imperativo. Problemas nos estados, todos candidatos têm. O que Dilma precisa urgentemente para a sua campanha é de um rumo. Ela tem de acreditar que é a candidata. Esta história de se achar simplesmente a "continuidade", serve para iniciar a campanha. Não dá para ficar repetindo toda hora esta ladainha. Um candidato tem de ser ele (no caso, ela) mesmo. É óbvio mas ela não entendeu esta lição tão comezinha de qualquer eleição.

O barco não afundou. Faltam 5 meses para a eleição. Muitos no PT devem estar pensando: "ruim com ela, pior sem ela." Agora já foi, não dá para voltar atrás. O chefe escolheu e a tarefa é de viabilizar a candidata. Não será tarefa fácil. A empafia de Lula chegou a tal ponto que ele acreditou que bastava indicar quem ocuparia a sua cadeira a partir de 1 de janeiro de 2011, que o povo agradecido seguiria a determinação do chefe. Não está sendo assim.

Uso da máquina

Quem acessar o site da Casa Civil da Presidência da República (www.casacivil.planalto.gov.br) e clicar em vídeos, verá um conjunto de filmes com discursos da ex-ministra Dilma Rousseff. Evidentemente que não cabe apagar a história, como poderia dizer algum partidário mais exaltado da candidata, mas não é recomedável manter estes vídeos durante o processo eleitoral. É propaganda da candidata. Não pode. É ilegal. Depois de 31 de outubro, aí sim pode liberar os ídeos no site. Mesmo assim, é, no mínimo, estranho manter vídeos de ex-ministros nos sites dos ministérios.

Os desafios de Serra.

José Serra teve um mês de abril perfeito. Deu tudo certo. Fez o seu papel e foi ajudado pelas trapalhadas de Dilma (e que não sossega: hoje disse, em programa divulgado pela sua assessoria, que os retirantes da seca migraram do Nordeste para o Brasil!). Vai ter de enfrentar fogo cerrado do PT. Não causará assombro se já estiver no forno um dossiê contra Serra. A estabilização de Dilma e o crescimento da diferença a favor de Serra nas pesquisas vai aumentar a temperatura da campanha. A Copa do Mundo está nas portas. A campanha vai ficar em segundo plano. A estabilização da vantagem de Serra dará uma vantagem significativa quando a campanha for retomada, após a Copa (a final será a 11 de julho).


Até lá tem muito chão. Terá de se definir sobre a vaga de vice. Não será nada fácil. O nome mais forte. hoje, é o do senador Dornelles. É de perfil conservador, agrega muito pouco apoio à chapa, a não ser o tempo da TV. Serra terá de fazer a conta política e ver se compensa ganhar um minuto na TV e ser acusado de estar aliado com Maluf (um dos fundadores e líder do PP, partido do senador). Tem vários problemas nos palaques estaduais (o caso de PE é um deles). E deverá fechar os acordos para garantir um bom tempo na TV (provavelmente com o PSC - que tem nos seus quadros, o ex-governador Roriz - e o PTB de Roberto Jefferson).

Mas terá também de apresentar alguma coisa do seu programa. Não basta dizer que pretende continuar o que está indo bem. Isto dá certo nos primeiros momentos da eleição. Depois da Copa os eleitores vão começar a prestar a atenção na eleição. A fase da campanha que chamei no post anterior de "miss simpatia" (dos 3 principais candidatos), vai terminar.

Momento "miss simpatia"

A campanha ainda está morníssima. É o estágio "miss simpatia". Os candidatos viajam pelos estados, distribuem sorrisos a esmo, concordam com os interlocutores e só procuram auditórios dóceis. Se possível, levam as equipes de campanha para filmar o corpo-a-corpo. Em suma: é só elogio.

Programa que é bom, nada. É até natural pois a campanha, no Brasil, é muito longa (tal qual a americana). E ainda queriam que alguns partidos realizassem primárias...........Quanto mais longa a campanha, mais espetáculo e menos substância. E quando a política vira espetáculo, quem mais perde é a qualidade do debate eleitoral.

Política maranhense

Quem quiser acompanhar a política no Maranhão - triste Maranhão, apresado faz um tempão pela famiglia Sarney - deve acessar o http://marcos-nogueira.blogspot.com
No blog investiga e denuncia - com farta documentação - os desmandos dos Sarneys.

CBN

No www.cbn.globoradio.globo.com/programas/fato-em-foco está postado o programa de sábado, na CBN, "Fato em foco". Participei com o cientista político Humberto Dantas. Debatemos este momento da eleição.

Em busca dos votos

Ontem, primeiro de maio, Dilma e Serra percorreram caminhos opostos. Dilma esteve em São Paulo acompanhada de Lula nos atos públicos das centrais sindicais. Falar nestes atos, não vejo problema. A questão é que todas as manifestações foram pagas com dinheiro público, via patrocínio das empresas e bancos estatais. Dilma discursou e, como de hábito, não empolgou. Foi Lula que garantiu as manchetes, como sempre. Dilma buscou as centrais sindicais, que são aliadas férreas do governo (um post já tratou disso). Portanto, não foi em busca de ampliar seu leque de apoio. Os dirigentes estão com a candidata oficial porque não querem largar as boquinhas do FAT, do imposto sindical e de cargos no ministério do Trabalho. O público, como no ato da Força Sindical, estava lá por causa dos cantores e do sorteio dos prêmios. Não deu a mínima atenção ao seu discurso.

Serra foi a Santa Catarina em busca do voto dos evangélicos. Eleitorado que em 2002 e 2006 foi cortejado pelo PT. Ganhou pontos. Busca o apoio do PSC (é o tempo da TV, já comentado). Fez um discurso recheado de citações bíblicas, como seria de se esperar. A estratégia está correta. Para vencer uma eleição presidencial é condição indispensável ganhar estes votos, principalmente quando há uma candidata desta denominação (Marina) e um governo que cortejou os evangélicos.

Em resumo: Dilma seguiu o roteiro de Lula e buscou um território amigo. Serra, neste sentido, foi mais ousado. Foi lá buscando ampliar seu apoio.

Recordando 2002

De acordo com o Datafolha, em dezembro de 2001, onze meses antes da eleição, Lula tinha 36% das intenções de voto. Liderava fácil pois o segundo colocado tinha somente 16% (Ciro Gomes). Em fevereiro de 2002 Lula caiu para 32% e o segundo colocado tinha chegado a 18% (agora era Garotinho). Em março Lula voltou a cair: 29%. O segundo colocado alcançou 22% (e agora era Serra). A diferença entre os dois primeiros era de apenas 7%. Parecia que Lula não parava de cair e que o segundo colocado (neste momento era Serra) ia continuar crescendo. ledo engano. Lula tinha chegado no piso mínimo da campanha, assim como a diferença para o segundo lugar: um mês depois subiu para 10 pontos e em maio foi de 26 pontos.

Serra, até agora, sempre liderou as pesquisas. As duas últimas (Datafolha e Ibope) mostraram que a diferença (que tinha siminuido) voltou a crescer para o segundo lugar (Dilma). Ou seja, nas pesquisas anteriores deu um crescimento do segundo colocado e uma queda do primeiro, diminuindo a diferença entre os candidatos. Os mais apressados consideraram que Dilma iria suplantar Serra, que estaria, segundo eles, em queda livre. Não foi o que ocorreu, assim como em 2002, no primeiro trimestre Lula atingiu seu pior índice e depois voltou a crescer nas pesquisas.

É o que ocorreu neste ano. Serra tinha chegado ao piso e Dilma ao teto. E o que estamos vendo é uma consolidação de Serra na liderança das pesquisas (assim como Lula em 2002, só que em proproções inferiores).