A Revolução Constitucionalista de 1932 (IV)

Este artigo foi publicado na "Folha de S. Paulo" de 9 de julho de 2010:




São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2010

TENDÊNCIAS/DEBATES

1932 - Constituição e cidadaniaMARCO ANTONIO VILLA


A tarefa que se colocou para vencedores (e para vencidos) foi a de recolocar a política como elemento central no enfrentamento de problemas


A Revolução Constitucionalista de 1932 foi o maior conflito bélico da história brasileira do século 20. Foram mais de 100 mil homens combatendo. Estima-se que o Exército federal teve cerca de 55 mil homens nas frentes de batalha; os constitucionalistas, aproximadamente 30 mil soldados -dos quais 10 mil eram voluntários-, e mais de 30 mil das forças policiais do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.
A guerra acabou ficando restrita fundamentalmente a São Paulo: o apoio sinalizado por Flores da Cunha, interventor no Rio Grande do Sul, não ocorreu, e as oposições estaduais também não tiveram força militar para criar outros focos de rebelião, mesmo onde havia apoio popular, como no Pará, Rio Grande do Norte e Piauí.
No Rio Grande do Sul, ocorreram alguns combates, mas acabaram derrotados. Em Minas Gerais, o máximo que os rebeldes conseguiram foi a tomada da cidade de Pirapora por três dias.
O maior apoio aos constitucionalistas veio de Mato Grosso: o sul do Estado foi o teatro de violentos combates e o Exército federal deslocou milhares de homens para lá. No Rio de Janeiro ocorreram principalmente manifestações estudantis, e as passeatas foram duramente reprimidas pela polícia.
A indecisão no avanço pelo Vale do Paraíba em direção à capital federal, que poderia, pela surpresa, criar sérias dificuldades ao governo, a ausência de apoios militares em outros Estados e o fechamento dos portos paulistas -especialmente o de Santos- pela Marinha selaram a sorte militar da Revolução já na segunda quinzena de julho. A derrota seria só uma questão de tempo.
A rendição dos constitucionalistas foi considerada uma traição. O governo civil imputou à Força Pública ter assinado a paz em condições humilhantes. Ledo engano. A resistência militar seria inútil, além de criar uma fratura social e política de proporções inimagináveis. A tarefa que se colocou para os vencedores (e para os vencidos) foi a de recolocar a política como elemento central no enfrentamento dos problemas nacionais.
Nunca mais o Brasil teve uma guerra civil. Os principais líderes foram presos, tiveram seus direitos políticos suspensos e dezenas foram exilados. Um ano depois, a maioria já tinha regressado ao Brasil, devido aos indultos concedidos pelo governo.
O ano de 1932 faz parte da luta pela liberdade e pela democracia. A questão central foi a convocação de Assembleia Constituinte e a realização de eleições livres (a Constituição de 1891 estava suspensa e inexistia o Poder Legislativo). Em país marcado pelo autoritarismo -e em uma década com fascismo, nazismo, stalinismo, franquismo etc.-, aqui em São Paulo foi gestada uma revolução, que, como destacou o jurista Hélio Bicudo, "se constituiu no maior movimento popular de caráter democrático a que assistimos no Brasil".

MARCO ANTONIO VILLA, historiador, é professor da Universidade Federal de São Carlos e autor, entre outros livros, de "1932: Imagens de uma Revolução" (Imprensa Oficial).

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    # por Anônimo - 9 de julho de 2012 às 11:23

    POR LUIZ FELIPE " São Paulo é o Brasil. Ora bolas, Goiás também é. A Bahia também é. Roraima também é. Amazonas também é. Santa Catarina também é. E esses estados também têm coração de mãe, onde sempre cabe mais um irmão, seja ele nordestino, gaúcho, carioca, mineiro, goiano, paulista ou até mesmo estrangeiro, como couberam os nossos pais e avós que optaram por Sta. Catarina.", ou por qualquer outro estado-membro co-irmão. Portanto, aqui e agora, a esta altura do campeonato, vencidas as hediondas ditaduras, civil e militar, porém ainda à mercê e reféns de outras ditaduras, tal seja, a partidária, a midiática e a econômica, entre outras, o nosso desafio doravante é muitíssimo maior, posto que, na condição de desbravadores dos novos horizontes que se fazem necessários, urge evoluirmos no sentido da Revolução Pacífica do Leão, que implica na transformação do modello federativo e de política-partidário-eleitoral que aí estão, com prazo de validade vencido há muito tempo, numa Megaconfederação de primeiro mundo, como propõe o HoMeM do Mapa da Mina, com o PNBC ( Projeto Novo Brasil Confederativo), e a ME (Meritocracia Eleitoral), que implica em colocar na porta de entrada da administração pública de todo o nosso Brasilzão, de ponta-a-ponta, do Oiapoque ao Chuí, um enorme mata burros, malandros, corruptos, bandidos, sofistas, bravateiros, estelionatários eleitorais e cia. da mesmice, porque evoluir é preciso, e, sobretudo, para que possamos dar O Pulo de Leão adiante da China, EUA e Europa, assim chegarmos juntinho à Noruega no quesito IDH. Coragem irmãos, simbora para o futuro com o HMM, o PNBC e a Meritocracia Eleitoral, sem medo de ser feliz de Verdade, até porque o resto como bem o sabemos não passa de mais dos mesmos. "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos". “Non Ducor, Duco” (Não sou conduzido, conduzo).

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    # por Anônimo - 9 de julho de 2012 às 14:04

    (Primeira Parte)

    A revolução constitucionalista é uma data Brasileira, mas especialmente Paulista. Nos últimos anos me parece que tem crescido paulatinamente a atenção concedida à essa importante data. Grande parte das regiões do mundo, quer seja a nível nacional ou subnacional, tem valores que são compartilhados por grande parte da população de acordo com a narrativa histórica realizada sobre determinado período. Espero que, um dia, o feriado de 9 de Julho se consolide como a verdadeira data magna dos Paulistas, representando a defesa da democracia e também da federação, que, a rigor, é um componente da democracia. Em um país do tamanho do Brasil não há democracia se não houver uma federação verdadeiramente autônoma, e isso que precisa ser também destacado.

    Em outras épocas, o mito do Bandeirante também foi um valor Paulista, que com o tempo caiu em ruínas. Hoje, isso precisa ser revisto, não com o caráter glorificador do passado, mas todas as regiões do mundo possuem "mitos de origem". Para mim, o que interessa no mito do Bandeirante não é a vestimenta que eles usavam, não é a forma que andavam, não é nada disso. O que São Paulo deveria apreender dos Bandeirantes é justamente aquilo que eles fizeram: mesmo em condições de pobreza, mesmo se opondo algumas vezes à coroa portuguesa, eles adentraram o sertão Brasileiro atrás de pedras preciosas, não porque alguém os mandou fazer, simplesmente porque era o que precisavam fazer para que pudessem enriquecer, e nisso está simbolizado, para mim, a crença no indivíduo, a crença de que é possível crescer sem a necessidade de um poder superior, a crença de que o poder se faz de baixo para cima, e não de cima para baixo, ao contrário do que ocorre neste país, e que, aliás, naquela situação só atrapalharam os Bandeirantes, que diga-se de passagem descobriram as Minas mas perderam as posses dela. Muitos ficam discutindo as roupas que usavam e etc, mas se esquecem de observar o essencial, muitas vezes cometendo anacronismo.

    Mas, por alguma razão, todos esses símbolos que, em minha opinião, deveriam ter formado os valores básicos de São Paulo, no caso da revolução constitucionalista representando a crença na democracia e na federação; e no caso do Bandeirante representando a crença no indivíduo, tudo isso foi jogado para o lixo da história. E o pior não é isso. O pior é que, diante disso, sempre aparecem os grupos espúrios que aproveitam o que foi jogado no lixo para fazer uma reinterpretação e reaproveitamento da história de maneira a denegrir ainda mais determinado período, muitas vezes sob a ótica de grupos radicais.

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    # por Anônimo - 9 de julho de 2012 às 14:04

    (Continuando...)

    Entretanto o fato é que, até hoje, salvo em poucos grupos sociais, o "mito do Bandeirante" nunca adquiriu o simbolismo majoritário que eu gostaria que tivesse. Durante a Primeira República o período Bandeirista foi sim valorizado, mas de maneira equivocada a meu ver, pois é sempre bom lembrar que há milhares de maneiras de valorizar (ou desvalorizar) um acontecimento histórico em qualquer lugar que seja, com ou sem anacronismos, dependendo da posição política e da leitura histórica.

    Infelizmente o Brasil optou por outros caminhos. Mas, quem sabe, algum dia teremos a crença plena de que a revolução constitucionalista foi a defesa da democracia e da federação, e não do separatismo ou de um "interesse das elites", e também que os Bandeirantes não foram heróis puritanos, e nem tampouco vilões, e sim que fizeram o que eles fizeram porque precisavam e decidiram fazer, e que para mim como representação política significa a valorização do indivíduo, dando alguma ressaltada em alguns momentos históricos marcantes como ocorre em qualquer lugar do mundo.


    O passado serve para iluminar o futuro segundo a ótica dos políticos do presente. Talvez, se algum dia tivermos no Brasil e/ou em São Paulo um movimento político que busque a liberdade, a federação, e a crença no indivíduo, que na verdade são a base de uma mesma doutrina, a revolução de 1932 e os bandeirantes podem, quem sabe, voltar a ser vistos com um pouco mais de valor. Sou contra a ideia de que a história seja feita de heróis e vilões, mas só um tolo pode negar que as concepções que determinado país ou subnação tem sobre seu passado não influem em sua política no presente. Em outras palavras, se temos que conviver com um país que ultravaloriza Getúlio Vargas, Geisel, e outros, acho justo que existam outros grupos significativos que valorizem a revolução de 1932, os Bandeirantes, etc. Eu prefiro me enquadrar no segundo. Ou será que eu sou simplesmente um Brasileiro Paulista "sem passado"?

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    # por Anônimo - 10 de julho de 2012 às 12:53

    Ainda há livros escolares que "ensinam" que a Revolução de 32 foi uma tentativa da elite paulista de recuperar o controle do Brasil, em detrimento dos outros estados. E que Getúlio foi o maior Pai do Povo.
    Sds.,
    de MarceloF.