44% estão na oposição.

Este artigo publiquei na "Folha de S. Paulo" de 3 de novembro, pouco depois do segundo turno das eleições presidenciais. Dá para fazer um link com a matéria de hoje da Veja.Com:


São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2010 

MARCO ANTONIO VILLA 

44% estão na oposição

Espaço para a oposição existe. O primeiro passo é assumir seu papel e pensar em um projeto para o Brasil

A OPOSIÇÃO acreditou que criticar o governo levaria ao isolamento político. O resultado das urnas sinalizou o contrário: 44% do eleitorado disse não a Dilma. Ela era candidata desde 2008. Ninguém falou em prévias, nenhum líder fez muxoxo. Lula uniu não só o partido, como toda a base.
Articulou, ainda em 2009, as alianças regionais e centrou fogo para garantir um Congresso com ampla maioria, para que Dilma pudesse governar tranquilamente.
Afinal, nem de longe ela tem sua capacidade de articulação política.
E a oposição? Demorou para definir seu candidato. Quando finalmente chegou ao nome de Serra, o partido estava dividido, vítima da fogueira das vaidades. Ao buscar as alianças regionais, encontrou o terreno já ocupado. Não tinha aliados de peso no Norte e Centro-Oeste, e principalmente no Nordeste.
Neste cenário, ter chegado ao segundo turno foi uma vitória. No último mês deu mostras de combatividade, de disposição de enfrentar um governo que usou e abusou como nunca da máquina estatal. Como, agora, fazer oposição?
Não cabe aos governadores serem os principais atores desta luta -a União pode retaliar e isso, no Brasil, é considerado "normal".
É principalmente no Congresso Nacional que a oposição deve travar o debate. Lá estará, inicialmente, enfraquecida. Perdeu na última eleição, especialmente na Câmara, quadros importantes. Mesmo assim, pode organizar um "gabinete fantasma" e municiar seus parlamentares e militantes com informações e argumentos. Usar as Câmaras Municipais e as Assembleias estaduais como espaços para atacar o governo federal. E abastecer a imprensa -como sempre o PT fez- com denúncias e críticas.
Espaço para a oposição existe. O primeiro passo é assumir o seu papel. Deve elaborar um projeto alternativo para o Brasil. Sair da esfera dos ataques pessoais e politizar o debate, acabar com o personalismo e o regionalismo tacanho, formar quadros e mobilizar suas bases.
É uma tarefa imediata, não para ser realizada às vésperas da eleição presidencial de 2014.
O lulismo tem pilares de barro. É frágil. Não tem ideologia. Não passa de uma aliança conservadora das velhas oligarquias, de ocupantes de milhares de cargos de confiança, da máfia sindical e do grande capital parasitário. Como disse Monteiro Lobato, preso pelo Estado Novo e agora perseguido pelo lulismo: "Os nossos estadistas nos últimos tempos positivamente pensam com outros órgãos que não o cérebro -com o calcanhar, com o cotovelo, com certo penduricalhos, raramente com os miolos".


MARCO ANTONIO VILLA é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar



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    # por O Mascate - 20 de julho de 2012 às 17:46

    Villa, Temos que levar em consideração a hipótese da oposição não querer ser oposição.
    Não esqueça que não temos nenhum partido de direita no Brasil, todos são de centro esquerda, quando muito liberais.
    Falta mesmo é um partido de direita com idéias novas e cabeça arejada para combater essa cambada vermelha.
    Com o que temos hoje de "oposição" muito provavelmente o PT vai se perpetuar no poder.
    O PSDB e aliados tripudiaram dos 44 milhões de NÃO votos à Dilma. Perderam a chance, agora..já era!

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    # por Anônimo - 20 de julho de 2012 às 21:28

    ‎'Qual a mulher que vai querer namorar uma pessoa que ganha mal?', questiona presidente da associação de juízes. Salários de presidentes de Tribunais de Justiça chegam a R$ 60 mil, mais que o dobro de Dilma. Categoria é contra a divulgação dos valores na internet e usou a frase acima como argumento: 'Pessoas que ganham salários pequenos (...) se sentem humilhados'. Veja mais em http://migre.me/9YITa

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    # por j.a.mellow - 20 de julho de 2012 às 22:11

    Meu caro Marco Villa, os 44% ou até mais ainda estão aí creio eu, mas significam principalmente um não ao Governo e não um sim ao PSDB. Como o PSDB, poderia ser qualquer um que assumisse posições radicalmente contrarias a tudo isso que estamos vendo acontecer.
    Publiquei isto no BLOG DO J.A.MELLOW:

    sexta-feira, 20 de julho de 2012


    VOTO NULO

    Começo esta para dizer que tive grande satisfação em saber que existe aí uma possibilidade do voto nulo, mesmo através da urna eletronica. Não sei se é verdade, mas espero que seja pois não sendo assim que adiantarão tantos votos no PSDB que aliás houveram nas ultimas eleições presidenciais?
    Prá ficarmos vendo isto que aí está?
    Ao contrario do que muitas vezes se pensa, a pura e simples existencia de uma oposição ao governo é o maior testemunho da sua legitimidade pois é esse embate que emoldura a democracia. No minimo, se vota na oposição simplesmente com o intuito de votar contra aquele governo e não é muito dificil acontecer alguém que estando na situação crie uma outra situação artificial de oposição só para isso. É só lembrarmos não muito distante de nós o regime militar com a ARENA e o MDB.
    E quando já se acha isso de graça, como é o caso do PSDB atual?
    Portanto, existindo opção para que se vote em outro, pelo menos evita-se aí o voto nulo que seria a única ferramenta capaz para pedir-se prá parar, prá acertar e fazer-se pelo menos uma reforma politica, mudar as regras, o comportamento ético e etc., deixando com isto a população sempre a acreditar na possibilidade de substituição e de alternancia de poder, se for a vontade do povo, e se...
    E como se não bastasse isso, insiste-se na utilização da urna eletronica aqui no Brasil, quando foi rejeitada nos States, que além de facilitar a fraude, nela não existe a forma natural de registrar o voto nulo que é o grande terror dos governos de situação que querem se eternizar no poder.
    Então, estando isso resolvido, o que mais podemos esperar? É a eterna ditadura consentida que é a pior de todas as ditaduras, pois não temos nem como nem por que recorrer das politicas de governo quando outorgamos ao Estado e renunciamos eternamente do único instrumento válido dentro da democracia, ficando apenas com a instituição do plebiscito que é um processo muito mais raro e mais complexo.

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    # por Anônimo - 20 de julho de 2012 às 23:37

    E vc tratou disso brilhantemente na entrevista que concedeu ao M@M
    http://www.midiaamais.com.br/artigo/detalhes/2076/Entrevista+MIDIAMAIS+Professor+Marco+Antonio+Villa

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    # por Anônimo - 21 de julho de 2012 às 09:47

    Concordo com as linhas gerais do artigo. Porém, o caminho da oposição não é fácil. Basta lembrar que o poder ou a perspectiva dele compra fácil o apoio de políticos e grupos de interesse que estão sedentos para mamar nas tetas gordas da União.

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    # por ubirajara araujo - 21 de julho de 2012 às 09:59

    Oposição existe, o povo esta insatisfeito com o governo, o que não existe são candidatos, gente com vontade de lutar por uma sociedade mais justa e progressista, embora todos preguem esse discurso.
    Caso houvesse um candidato ético, com um curriculum respeitável, com um projeto de governo, comprometido com o social (com a coletividade como um todo, não como arrebanhador de votos para se sustentar no poder como um caudilho), sem dúvida a situação estaria fora. Muito embora seja bastante dificl reverter esse quadro, porque os coroneis dos partidos não o permitem, cabe a nos, cidadaos, concientizarmos aqueles que nos estão proximos e fazer um efeito multiplicador, para que novas lideranças surjam, aí iniciarmos uma caminhada para uma cidadania respeitada e honrada.
    2014 está aí, começemos a luta, para que nosso barco não afunde, como esta acontecendo na Venezuela, ArgentinA, Bolivia etc. etc.

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    # por Rose - 21 de julho de 2012 às 23:55

    Duas observações: Não considero apenas os 44% que votaram em Serra contra o governo do PT, na verdade OITENTA MILHÕES de eleitores NÃO votaram na Dilma.
    Outro porém é a onda do Voto Nulo, a mesma onda de 2010 que garantiu a vitória do PT, porque eles têm votos suficientes para serem eleitos e para preencher as cadeiras do Congresso somente com parlamentares do partido e da base aliada. Quem votou nulo prestou um desserviço à Nação.
    Mais um detalhe, se ao menos um terço dos que se omitiram de votar (36 milhões) tivessem votado no Serra, o resultado seria outro.
    Ou alguém vislumbra a possibilidade de ninguém ser eleito e transformar o Brasil definitivamente numa anarquia?

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    # por Anônimo - 22 de julho de 2012 às 20:52

    Villa,

    Infelizmente votei em lulla em 2002, depois de muito tempos desconfiada (anulei meu voto na disputa entre o doutor e collor...)´Hoje sou posição com MUITO orgulho. Não me enganam mais não. Somos mais do que 44%, acredito, e a cada dia, o número tende a aumentar. O poder desgasta.

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    # por Sô - Sampa - 31 de julho de 2012 às 13:10

    Villa,

    Somos muito mais que 44 milhões. O problema é que não temos oposição, não sei se eles tem rabo preso ou medo da rejeição, não entendo.
    Na verdade a oposição nem precisa fazer nada, basta mostrar a verdade ao povo...sair pelo Brasil inteiro mostrando que não estão fazenda nada...só isso e poderíamos estar livres dessa corja...
    Deus tenha piedade de nós!