O trabalho do ministro do Trabalho.



São Paulo, segunda-feira, 30 de julho de 2012Opinião
Opinião


MARCO ANTONIO VILLA

TENDÊNCIAS/DEBATES

O trabalho do ministro do Trabalho
Daudt Brizola, para surpresa de muitos, é o ministro. Adepto radical de Lafargue ("O Direito à Preguiça"), aparece muito de vez em quando. Dilma sabe?
Carlos Daudt Brizola, para a surpresa de muitos, é o ministro do Trabalho. Sua passagem pelo ministério -hoje sem a mínima importância, ficou seis meses sem titular e ninguém notou- é a de um adepto radical de Paul Lafargue, o autor do clássico "O Direito à Preguiça".
Tomou posse no dia 3 de maio, quinta-feira. No dia seguinte teve um compromisso, às 10h. Reapareceu após quatro dias. Mas, de acordo com sua agenda oficial, seu expediente foi restrito: duas atividades pela manhã, não mais que duas horas. No dia 9, compareceu ao ministério, outra vez só pela manhã, para uma palestra. Na quinta, não mudou a rotina: um compromisso. No dia posterior, mais ociosidade: uma atividade, no final da tarde. Em seguida, três dias de folga. Reapareceu no dia 15, uma terça, para um evento às 10h30. Mais nada.
O mais bizarro é que o ministro desapareceu um mês -um mês! Será que quis gozar das férias? Já? Só voltou no dia 14 de junho. Estava na Suíça, que ninguém é de ferro.
Aí, como um homem de hábitos arraigados, tirou mais quatro dias de descanso. Em 19 de junho, uma terça, Daudt Brizola resolveu compensar a ociosidade. Marcou três audiências: das 15 às 18 horas, trabalhando três horas. Na quarta foi assistir a Rio+20. Na quinta, folga. Na sexta participou de um evento, pela manhã, no Rio, onde mora.
Pesquisando sua agenda, achei que ele finalmente iria assumir o trabalho no ministério do Trabalho. Sou um ingênuo. Submergiu mais cinco dias. Ressurgiu no dia 27. E aí, workaholic, trabalhou três horas pela manhã, duas e meia à tarde.
No dia posterior, repetiu a dose. Na sexta-feira, veio a São Paulo e em seis horas visitou quatro centrais sindicais. Em junho, trabalhou oito dias. Só em um deles a jornada se aproximou das oito horas diárias.
Em julho, Daudt Brizola só começou trabalhar na terça-feira: ele não gosta das segundas-feiras. Mas nada muito estafante: 90 minutos pela manhã, começando às 10h. À tarde, a mesma jornada, a partir das 16h. Na quarta, cinco horas. Na quinta, descansou pela manhã, almoçou tranquilo e só começou seu expediente às 14h30. Foi embora três horas depois. Na sexta, só compareceu ao ministério à tarde, por 60 minutos. Às 15h, estava liberado. Afinal, tem o happy hour.
Na segunda semana de julho, como um Stakhanov, resolveu ser um herói do trabalho. Registrou atividades de segunda a sexta. Claro que com o espírito macunaímico: em dois dias só teve um compromisso.
Parecia, apenas parecia, que finalmente o ministro do Trabalho iria trabalhar. Mais uma vez acabei me equivocando. Como de hábito, deixou a segunda de lado. Só apareceu na terça, à tarde, reservando 60 minutos para a labuta. Na quarta, mais três horas de expediente. No dia seguinte, o ministro sumiu. Só voltou seis dias depois, e somente à tarde. E voltou a se evadir do dia 25 -é devoto de São Cristovão?
Paro por aqui. Não vale a pena cansar o leitor da Folha com as ausências ao trabalho do ministro. Será que a presidente não tem conhecimento do absenteísmo do ministro? Com tanta greve, o que ele fez?
E o que diria Leonel Brizola -que trabalhou e estudou com enorme dificuldade, se formou engenheiro em um curso noturno, quando era deputado estadual- vendo um neto tão pouco afeito ao labor?
Em tempo: Brizola Neto é o irmão, não ele.
MARCO ANTONIO VILLA, 55, é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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    # por Bacuara da Vereda - 30 de julho de 2012 às 14:29

    TALVEZ SEJA MELHOR ESSA COISA SER PAGA PARA NÃO FAZER ABSOLUTAMENTE NADA, PODERIA ATRAPALHAR...

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    # por Anônimo - 30 de julho de 2012 às 18:09

    Essa conduta é bem do tipo PT. Nada de trabalho, mas muita fanfarra e mentira. Quanta saudade dos ministros dos governos miitares...!

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    # por Anônimo - 30 de julho de 2012 às 21:03

    Professor,
    acabo de ler seu artigo na versão impressa e já vim pra cá a fim de agradecer seu empenho em desmascarar esse pessoal todo que vive à custa do dinheiro da população. É preciso que se investigue profundamente e se leve a público o que acontece nos bastidores do poder.

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    # por Josias - 30 de julho de 2012 às 22:36

    Villa, esse nao e o mesmo deputado que, juntamente com Protogenes, foi a Líbia prestar ajuda ao Kadahfi? Talvez a ausência prolongada ao trabalho seja para dar uma ajudazinha ao Bashar al Assad. Investiga isso.

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    # por Josias - 30 de julho de 2012 às 22:38

    Villa, este nao e o deputado que, juntamente com o Protogenes, foi a Líbia prestar ajuda ao Kadahfi? Quem sabe agora ele nao tem ido a Síria?

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    # por Anônimo - 30 de julho de 2012 às 22:39

    Se era pra evitar a fadiga mesmo, nomeasse o Jaiminho pra ministro...

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    # por Ana Lúcia K. - 31 de julho de 2012 às 02:13

    Cadê a "faxineira? Poderia aproveitar a próxima quinta feira, na parte da tarde, para faxinar lá, certo?!

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    # por Anônimo - 31 de julho de 2012 às 08:23

    Se olharmos o Diário Oficial da União entenderemos melhor ainda esta reportagem. O Ministro só aparece pra assinar exonerações e nomeações conforme "interesse administrativo" exclusivamente seu.

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    # por Anônimo - 31 de julho de 2012 às 10:54

    É nisso que dá termos um país em que a maioria dos cargos públicos é por indicação e não merital. Essa minha opinião veio da deputada federal juíza Denise Frossat quando a mesma estava no "Sem Censura" falando sobre o Mensalão em que ela cita países como França, Estados Unidos e outros que seguem essa linha de Estado, todavia eu não creio que nenhum setor partidário do Brasil aceitaria isso porquê todo o sistema de pactos, alianças regionais, vendas de ministérios, conchavos nas estatais seria ameaçado.

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    # por Anônimo - 31 de julho de 2012 às 11:02

    PS: é Denise "Frossard" e não "Frossat".

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    # por Anônimo - 31 de julho de 2012 às 21:41

    Villa, Parabéns.Li esse artigo na Folha de S.Paulo,de 30.07.12, e achei ótimo esse artigo , numa linha investigativa, em que você descreve os fatos com muita sutileza e ironia. Você nos brinda com essa maestria que lhe é peculiar. Um abraço, Domingos Fulvio do Nascimento

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    # por Fernanda - 1 de agosto de 2012 às 18:17

    Deixa, professor, melhor assim.

    Olha o Haddad quando ministro. E agora o Mercadante. Antes ficassem quietinhos. Gente incompetente só faz merda.

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    # por Unknown - 1 de agosto de 2012 às 18:33

    Gostei da exposição do Villa, e até gosto de ouvi-lo no Jornal da Cultura, só me deixou um pouco desiludido com a comparação ao "O Direito à Preguiça" de Lafargue, uma comparação própria de um adepto da era industrial e completamente avesso ao ócio criativo que é tão rico à tecnologia e evolução do homem para o futuro (veja como funciona a turma do Google), uma sociedade criativa e não exploradora e castradora de talentos criativos.