Maluf, Jersey e a eleição paulistana

Saiu hoje no Estadão (ver abaixo) que os advogados de Maluf admitiram, pela primeira vez, que o deputado tem contas bancárias na ilha de Jersey.
De acordo com a matéria, o julgamento ocorrerá esta semana. No caso de uma condenação, o que é muito provável, certamente vai ter influência na eleição paulistana. É um caso típico de piada pronta: a prefeitura processando um deputado por desvio milionário de recursos públicos municipais. E, ao mesmo tempo, o processado está tendo uma participação ativa como aliado de um dos candidatos à prefeitura.
EM TEMPO: Maluf sempre disse que se fosse provado que tivesse alguma conta no exterior, doaria o dinheiro para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Resta aguardar o dia da doação.


Defesa admite dinheiro de Maluf em ilha

Advogados de offshore dizem que contas em Jersey são de familiares de ex-prefeito, mas negam que recursos tenham corrupção como origem

18 de julho de 2012 | 22h 40
Jamil Chade, correspondente de O Estado de S. Paulo
Advogados da offshore Durant admitiram em documentos entregues à Justiça de Jersey que a família de Paulo Maluf controlava contas na ilha britânica do Canal da Mancha. Admitiram ainda que o próprio Maluf recebeu "comissões" nessas contas. Os papéis foram anexados ao processo no qual a Prefeitura de São Paulo tenta recuperar US$ 22 milhões que diz terem sido desviados de obras da gestão Maluf, entre 1993 e 1996.

Advogados de Paulo Maluf admitem que o ex-prefeito de São Paulo tinha contas no exterior - Tiago Queiroz
Tiago Queiroz
Advogados de Paulo Maluf admitem que o ex-prefeito de São Paulo tinha contas no exterior
A admissão dos advogados desmonta a versão sustentada por Maluf há anos, de que ele não tem contas no exterior. A conclusão do processo, prevista para a quarta-feira, 18, acabou adiada para o dia seguinte a pedido da defesa. Em 1.º de novembro de 2010, documento anexado pelos advogados da offshore diz que Maluf "tinha interesse" na Durant. O papel acabou substituído em 15 de março de 2011. O nome de Maluf foi suprimido. Os advogados citaram, então, Flávio Maluf, filho do político. "Admite-se que o sr. Flávio Maluf era o diretor da Durant e da Sun Diamond Limited", escreveram os advogados, citando duas offshores.
Os advogados da Durant, porém, sustentam que o dinheiro nas contas do paraíso fiscal era originado de "negócios legítimos". Um dos pagamentos que foram parar numa conta em Jersey, segundo os advogados, se referia a uma comissão recebida pelo ex-prefeito após ele intermediar a venda de empresas. Já os advogados da Prefeitura sustentam que o dinheiro é de corrupção: foi enviado a Jersey nos anos 1990, em rota que incluía a Mendes Júnior, empreiteira que ajudou a construir a Avenida Águas Espraiadas (rebatizada de Jornalista Roberto Marinho), doleiros e contas em Nova York, nos EUA. Para a prefeitura, está clara a estratégia de defesa de Maluf: ela reconhece que o dinheiro e as contas existiam, mas insiste que, no máximo, o ex-prefeito cometeu evasão fiscal, o que não seria crime suficiente para que Jersey devolvesse os ativos aos cofres brasileiros. O paraíso fiscal está disposto a colaborar em casos de corrupção, mas não evasão fiscal.
Novas provas. Apesar de a conclusão do julgamento sobre os valores congelados na ilha estar previsto para hoje, o juiz Howard Page deverá dizer apenas nas próximas semanas se aceita ou não a devolução do dinheiro ao Brasil.
Nessa quarta-feira, o advogado contratado pela Prefeitura de São Paulo, Stephan Baker, apresentou novas provas que, segundo ele, confirmam as transferências de dinheiro entre a construtora Mendes Júnior e as contas de Maluf no exterior, o que obrigou o juiz a dar mais um dia para que a defesa respondesse. Além disso, a visita do príncipe Charles à corte também obrigou a suspensão do julgamento por três horas.
Baker mostrou transferências e extratos bancários que sustentam a tese de testemunhas segundo a qual a Mendes Júnior emitia notas superfaturadas e que a diferença era depositada em contas de Maluf – executivos da empreiteira foram denunciados criminalmente na semana passada pelo Ministério Público de São Paulo justamente no caso da Av. Águas Espraiadas.
A nova prova irritou os advogados da empresa controlada pela família Maluf. Eles alegaram que os dados não eram conhecidos e que a prefeitura esperou até o último dia para apresentá-los. O próprio juiz não escondia surpresa. "Como é que isso é apresentado só agora?" Os advogados da prefeitura disseram que, ao ver que seus documentos foram acusados de serem falsos pela defesa de Maluf – tese apresentada anteontem –, tiveram de se defender.

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    # por O Mascate - 19 de julho de 2012 às 08:44

    É Villa, no Brasil, o crime compensa, dá votos e foro previlegiado.

    Infelizmente, este país só muda na porrada, numa revolução popular para colocar essa cambada de vagabundos para correr.
    No voto já está provado que é impossível mudar alguma coisa. Quando não se frauda a eleição, é urna eletrônica mais viciada que caça níqueis do Cachoeira, ou o tal coeficente eleitoral que o povo vota em "X" e elege "Y". E assim os mediocres e bandidos vão se perpetuando no poder.