Dilma e a "base"
Saiu hoje na "Folha de S. Paulo":
TENDÊNCIAS/DEBATES
A faxina nos Transportes pode abalar a relação de Dilma com a base governista?
NÃO
Presidencialismo de transação
MARCO ANTONIO VILLA
A presidente Dilma anunciou que vai moralizar a alta administração pública. Boa notícia, mesmo que tardia. Afinal, herdou do antecessor essa forma de governar.
E já está com mais de um semestre como titular, ainda que eventual, da Presidência da República. Até agora, falou mais do que fez.
Tomou decisões, mas voltou atrás. Gritou, ameaçou, mas, de concreto, pouco fez no combate a uma das maiores mazelas do Brasil, a corrupção. Brigar com o PR e mostrar pulso firme com políticos de pouco brilho, mas muita esperteza, é fácil.
E se o PMDB controlasse o Ministério dos Transportes? E, ainda, se o ministro fosse um afilhado do senador José Sarney, o comportamento de Dilma seria o mesmo?
Evidente que não. Mostrar firmeza e compromisso público com a honestidade e com a eficiência é o mínimo que se espera da presidente. E que estenda aos outros ministérios as mesmas exigências (são para valer?), inclusive aqueles controlados pelo PT.
O PR virou o inimigo público número um. Numa espécie de catarse coletiva, agora é a sua vez, como já aconteceu com Renan Calheiros, José Sarney, Antonio Palocci e tantos outros. São revelados negócios pouco republicanos, nepotismo, obras inacabadas, um sem número de mazelas.
Alguns dos denunciados são nossos velhos conhecidos. Até poderiam estar em algum edifício público mais insalubre do que o do Congresso Nacional.
Os "republicanos" são peixes pequenos. Representam o baixo clero.
Não tomam parte nos debates parlamentares. Sobrevivem nas sombras. Seus momentos de glória ocorrem quando o governo, numa votação importante, necessita do seu apoio. Aí destilam o amargor, reclamam do esquecimento.
Mero teatro mambembe. Sabem que não têm condições de participar do cotidiano da vida parlamentar. Não estão lá para isso. Querem fazer caixa. E só.
Dilma prefere governar com o PR e asseclas que buscar debate aberto com todas as forças parlamentares.
Considera mais fácil e menos trabalhoso adquirir apoio político que obtê-lo no enfrentamento democrático entre governo e oposição. Tal método, consagrado por seu antecessor, empobrece a política e desmoraliza a democracia.
A estratégia de manter uma base heterodoxa e politicamente invertebrada, formada por 15 partidos, acaba gerando, a todo instante, crises de governabilidade, diversamente do que afirmam os defensores deste presidencialismo de transação. O país fica paralisado (e horrorizado, com razão) com as denúncias, e o debate político da conjuntura e do futuro do Brasil desaparece de cena.
A recorrência desse comportamento tem prejudicado o crescimento da economia e o combate aos graves problemas sociais.
Uma base tão ampla e sustentada só pela partilha da máquina do Estado acaba produzindo ineficiência administrativa, corrupção e perda (por falta de planejamento e quadros burocráticos capazes) de excelentes oportunidades, como os momentos de bonança da economia internacional, de 2003 a 2008, durante o governo Lula.
As Presidências petistas optaram por suprimir o debate político, garantindo folgada maioria parlamentar. Sem nenhuma ousadia, instalaram um modelo caracterizado por taxas anêmicas de crescimento econômico (e até negativa, como em 2009), por base de perfil neocolonial (60% das exportações são do setor primário) e por um distributivismo de viés conservador.
Dessa forma, não causa estranheza a companhia do PR e de seus métodos administrativos pouco convencionais como sócio deste projeto antinacional.
MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
A faxina nos Transportes pode abalar a relação de Dilma com a base governista?
NÃO
Presidencialismo de transação
MARCO ANTONIO VILLA
A presidente Dilma anunciou que vai moralizar a alta administração pública. Boa notícia, mesmo que tardia. Afinal, herdou do antecessor essa forma de governar.
E já está com mais de um semestre como titular, ainda que eventual, da Presidência da República. Até agora, falou mais do que fez.
Tomou decisões, mas voltou atrás. Gritou, ameaçou, mas, de concreto, pouco fez no combate a uma das maiores mazelas do Brasil, a corrupção. Brigar com o PR e mostrar pulso firme com políticos de pouco brilho, mas muita esperteza, é fácil.
E se o PMDB controlasse o Ministério dos Transportes? E, ainda, se o ministro fosse um afilhado do senador José Sarney, o comportamento de Dilma seria o mesmo?
Evidente que não. Mostrar firmeza e compromisso público com a honestidade e com a eficiência é o mínimo que se espera da presidente. E que estenda aos outros ministérios as mesmas exigências (são para valer?), inclusive aqueles controlados pelo PT.
O PR virou o inimigo público número um. Numa espécie de catarse coletiva, agora é a sua vez, como já aconteceu com Renan Calheiros, José Sarney, Antonio Palocci e tantos outros. São revelados negócios pouco republicanos, nepotismo, obras inacabadas, um sem número de mazelas.
Alguns dos denunciados são nossos velhos conhecidos. Até poderiam estar em algum edifício público mais insalubre do que o do Congresso Nacional.
Os "republicanos" são peixes pequenos. Representam o baixo clero.
Não tomam parte nos debates parlamentares. Sobrevivem nas sombras. Seus momentos de glória ocorrem quando o governo, numa votação importante, necessita do seu apoio. Aí destilam o amargor, reclamam do esquecimento.
Mero teatro mambembe. Sabem que não têm condições de participar do cotidiano da vida parlamentar. Não estão lá para isso. Querem fazer caixa. E só.
Dilma prefere governar com o PR e asseclas que buscar debate aberto com todas as forças parlamentares.
Considera mais fácil e menos trabalhoso adquirir apoio político que obtê-lo no enfrentamento democrático entre governo e oposição. Tal método, consagrado por seu antecessor, empobrece a política e desmoraliza a democracia.
A estratégia de manter uma base heterodoxa e politicamente invertebrada, formada por 15 partidos, acaba gerando, a todo instante, crises de governabilidade, diversamente do que afirmam os defensores deste presidencialismo de transação. O país fica paralisado (e horrorizado, com razão) com as denúncias, e o debate político da conjuntura e do futuro do Brasil desaparece de cena.
A recorrência desse comportamento tem prejudicado o crescimento da economia e o combate aos graves problemas sociais.
Uma base tão ampla e sustentada só pela partilha da máquina do Estado acaba produzindo ineficiência administrativa, corrupção e perda (por falta de planejamento e quadros burocráticos capazes) de excelentes oportunidades, como os momentos de bonança da economia internacional, de 2003 a 2008, durante o governo Lula.
As Presidências petistas optaram por suprimir o debate político, garantindo folgada maioria parlamentar. Sem nenhuma ousadia, instalaram um modelo caracterizado por taxas anêmicas de crescimento econômico (e até negativa, como em 2009), por base de perfil neocolonial (60% das exportações são do setor primário) e por um distributivismo de viés conservador.
Dessa forma, não causa estranheza a companhia do PR e de seus métodos administrativos pouco convencionais como sócio deste projeto antinacional.
MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
# por Joaquim - 23 de julho de 2011 às 09:44
Dilma do PT do mensalão e de outros milhares de escândalos lutando contra a corrupção? Quê? Acho mais fácil os Beatles voltarem com sua formação original do que isso acontecer de fato.
Sabe, é como colocar uma banana nanica suculenta na frente de um macaco faminto; daí é só virar as costas, mas provocar e ficar dizendo pro mesmo ''não, não coma!''. Ele vai se sentir tentado! Afinal, é uma banana tenra, irresistível.
Essa cansada senhora tá sendo provocada por um escalão do submundo, dos anais mais bizarros da política brasileira. Eles estão ''vencendo'', e ela tá perdidinha, ''coitada''. Não importa para a mesma se serão 193 milhões ou 5.000 que pagarão o preço, porque creio eu que ela não consegue enxergar isso com uma maior amplitude política, como faria Itamar, por exemplo.
Se ela fosse séria (pra fazer o que você tanto especula, Villa) ela não estaria no PT. Dali, quem era sério já picou a mula com louvor e fez isso publicamente ou não.
# por O Mascate - 23 de julho de 2011 às 10:01
Villa, perfeita a analise. Só que existe um problema.
O povão que brinca de votar e votra em quem seu mestre mandar, não lê jornais, e se ler não vai entender nada do que acontece nos meandros do poder.
O que a oposição precisa é fazer um Be-a-ba, tipo cartilha e mostrar para o Zé povinho o que está acontecendo, pois do povo mais humilde intelectual e socialmente que é justamente a base de votos dessa cambada, o que ouvimos é só comentários sobre futebol, BBB, novela ou fofoca da vida dos artistas.
O Brasil sem educação não vai desatolar nunca, e é justamente isso que a rataiada vermelha quer.
A Dilmarionete na verdade está jogando para a torcida, ela faz e desfaz, fica na mesma e a imprensa amestrada fica em volta do Sebento publicando todas as opiniões e ameaças que ele faz em suas andanças pelo Brasil.
Ou seja, a Dilmarionete não é nada e o Sebento ainda é quem manda. É só prestar atenção.
# por Dawran Numida - 23 de julho de 2011 às 14:34
Não mesmo, Professor Villa. O pessoal só fala, porém, não age da forma como diz. O estrago já foi feito e embora aparente estar sendo amainado, o escândalo marcou forte o governo. O PR, por exemplo, não vai deixar a base. E nenhum outro partido. O PR não teria para onde ir e nem o que fazer ou que propor. Não tem nada a fazer a não ser ficar onde está muito bem aquinhoado: no governo.
# por Anônimo - 23 de julho de 2011 às 16:39
Belo texto. Pra o leitor aplaudir de pé.
Parabéns, Villa.
# por Junior SBC - 23 de julho de 2011 às 23:12
Parabéns, Villa. Não há como ter esperanças em um país em que os supostos representantes do povo estão, na verdade, representando suas próprias vidas. O caso do Ministério dos Transportes, ratifica a forma como o governo do PT lida com os escândalos: afasta os envolvidos (após muita pressão da opinião pública), mas não altera o processo maléfico de partilha do poder.
# por Anônimo - 24 de julho de 2011 às 21:24
Fico feliz ao ver que o número de leitores desse blog aumenta a cada dia. Mesmo não tendo o patrocínio de grandes portais - que, na maioria das vezes, submetem o escritor à ideologia da empresa -, o blog está ficando cada vez mais conhecido.
Desejo-lhe saúde e força para continuar fazendo o belo trabalho que tens feito até aqui, professor.
Você é um orgulho nacional que motiva o brasileiro decepcionado a acreditar que ainda tem jeito para essa terra adormecida.
Um abraço
# por Anônimo - 25 de julho de 2011 às 16:40
As demissões estão acontecendo no Ministério dos transportes porque é a única coisa a ser feita pela presidente Dilma. Não há outra saída diante das provas cabais apresentadas pela imprensa. Até o ex-presidente Lula, embora mais habilidoso no trato da base aliada e na comunicação com o povo, talvez tomasse as mesmas atitudes. Ou a “faxina” acontece, ou o governo mais desacreditado fica e a oposição ganha força para desestabilizá-lo. O que não se pode deixar de perguntar é: Será que Dilma realmente não sabia da corrupção instalada no referido ministério? Lucia Hipólito em seu comentário pela manhã do dia 25/07 na rádio CBN faz a mesma reflexão, diz: “será que esse ministro [Sérgio Passos] que ela [a presidente Dilma] nomeou não sabia de nada? Ele está no ministério desde 1970, ele é funcionário de carreira (...) ele nunca viu nada? (...) A própria Dilma foi chefe da Casa Civil poderosíssima controlava o PAC, esses superfaturamentos todos estão acontecendo em obras do PAC, ela também nunca viu nada?” É plausível que os eleitores concluam que Dilma soubesse da corrupção instalada no Ministério dos Transportes, pois como “mãe do PAC” seria impossível não estranhar os aumentos de mais de R$ 700 milhões nos contratos das obras de transportes no segundo semestre de 2010, ou os abusos nos gastos de dinheiro público na pavimentação de pequenos trechos de rodovias. Dizer que Dilma não sabia de nada é o mesmo que dizer que o magnata da imprensa, dono do jornal “News of the World”, Rupert Murdoch, seu filho James, sua ex-colaboradora Rebekah Brooks não sabiam dos grampos a cerca de 4000 mil pessoas, operados desde o ano 2000, dentre os quais está o telefone da estudante britânica Milly Dowler, 13 anos, que foi assassinada em 2002. O certo é que há mais coisa a ser investigada e que outros ministérios precisam de maior acompanhamento da imprensa e da oposição, como o de Minas e Energia.
Rafael, Ananindeua-PA
# por Dawran Numida - 25 de julho de 2011 às 18:13
Olha, uma coisa que precisa ficar clara, é que a crise de corrupção em áreas do governo não está derrubando a imagem da presidente, naquilo que pode ser captado por pesquisas de popularidade e aceitação, de forma significativa. Pelo contrário, conforme já dito em comentários, estão transformando as falhas e inépcias em aspectos positivos, tais como: a presidente estaria realizando faxina, não age como o presidente anterior, depois do Palocci agiu mais rápido, vai percorrer o País para falar com o povo, inaugurações, programas como teleférico em favela do Rio etc. Caso os índices de ótimo;bom venham superiores aos anteriores, pronto. Logo logo, ela não precisará mais acenar com civilidade com as oposições, poderá colocar o que estão chamando de "governo técnico" etc. etc. Só que "governo técnico" não existe. Existem técnicos que são políticos, ponto. No caso da presidente, ela nem demonstra ser uma boa técnica e nem uma boa política. Assim, o serviço está sendo realizado por, provavelmente, técnicos em comunicação pessoal e institucional. Estão tentando moldar a imagem da presidente, utilizando a boa matéria-prima do combate à corrupção. Quem combate a corrupção sempre fica simpático, mesmo que não seja bem assim. Por enquanto, o combate à corrupção e as demissões podem ser entendidas como sendo favoráveis à imagem da presidente e as pesquisas poderão confirmar isso ou não. Mas, é provável que sim. Para fechar, é bom verificar que colunas de análise política e outras, nunca mais disseram que a presidente está no governo, em posição importante, desde 2003. Nem que ela conviveu desde 2003 no governo, com todos os que estão sendo agora acusados de corrupção. Mesmo assim, já há colunas dizendo ter ela "apoio da opinião pública" para as atitudes que, em tese, estaria tomando.
# por Alexandre neuwert - 25 de julho de 2011 às 22:26
Ela tem uma cara de inocente, indispensável para um candidato petista, mas é uma fraude tão grande quanto seu criador.
Dilma é uma fraude, diz o que deveria ser dito para agradar, mas não é o que gostaria de fazer. Afinal, no comunismo, não se pode retirar amigos da partilha dos bens do povo. Amigos estes , de infância, quando se reuniram em 2003 para o assalto ao Tesouro pagador.