Corrupção
Este artigo foi publicado na Folha de S. Paulo em 20 de dezembro de 2004. Sete anos depois, nada mudou.
Ainda a corrupção
MARCO ANTONIO VILLA
Recentemente, políticos de relevo da base governista no Congresso Nacional bradaram aos quatro ventos que os valores republicanos estavam ameaçados. Tudo por causa de umas operações da Polícia Federal de combate à corrupção nos órgãos públicos. Valores que, para muitos políticos brasileiros, sempre tiveram um sentido monetário, não moral. Afinal, a nossa República não se destacou pelo respeito à coisa pública; basta recordar os inúmeros casos de corrupção ocorridos já nos primeiros anos do novo regime.
Em mais de um século de República, por estranho que pareça, o valor que acabou se consagrando foi a corrupção. Esta ficou de tal forma ligada ao Estado que virou sinônimo de fazer política, de esperteza e até slogan político. Não faltam exemplos municipais, estaduais ou federais de políticos que se destacaram não pela defesa dos interesses populares, mas pela habilidade de desviar recursos públicos, amealhar grande fortuna e continuar a gozar de respeito político (público seria exagero). São procurados pela imprensa para dissertar sobre a conjuntura política, adquirem respeitabilidade política, são considerados importantes até para a governabilidade, como se não tivessem as mãos manchadas de dinheiro roubado do erário.
Vez ou outra são chamados para depor nos inquéritos que investigam desvio de recursos públicos -geralmente próximo às eleições. Nesses momentos transformam-se em verdadeiros astros, cercados de microfones, câmeras e seguranças. Caminham triunfalmente, como se todo aquele espetáculo fosse algo absolutamente natural. E, para escárnio da Justiça, fazem até o sinal imortalizado por Winston Churchill, o "V" de vitória.
Em mais de um século de República, por estranho que pareça, o valor que acabou se consagrando foi a corrupção |
O mais grave é que as provas são apresentadas, é oferecida a denúncia, porém ou o processo não se instala, ou o corrupto é considerado inocente. Isso depois de um amplo noticiário, que durante meses expôs detalhadamente as falcatruas, e da ação corajosa do Ministério Público.
Como não ocorre a condenação e muito menos o confisco dos bens, a sinalização é clara: o crime compensa, só não compensa para os pobres. Estes não têm um exército de advogados regiamente pagos -e pagos com parte dos recursos desviados do erário. Já o cidadão, ah, este balança a cabeça e passa a aceitar como uma fatalidade esse procedimento.
Outros preferem imputar a morosidade e o comportamento da Justiça ao regime democrático. E os mais intelectualizados vão à procura das origens da impunidade -e a explicação é sempre monocausal: é a herança ibérica.
Apesar do impeachment de um presidente, de senadores, deputados e vereadores terem sido obrigados a renunciar aos seus mandatos ou terem sido cassados pelos seus pares, de governadores e prefeitos perderem mandatos, nenhum dos acusados de corrupção teve seus bens confiscados. E estamos falando dos Poderes Executivo e Legislativo, nos quais a vigilância popular e da imprensa é maior.
E no Poder Judiciário? Neste nada ou quase nada ocorreu. Juízes acusados de corrupção, quando perdem os cargos, são regiamente aposentados. Bens confiscados? Nisso ninguém fala.
Vamos ficar eternamente esperando o Judiciário prender algum dos célebres corruptos? Aguardar o confisco dos bens? O Poder Judiciário nunca vai, por vontade própria, desencadear uma Operação Mãos Limpas no Brasil, tal qual a que ocorreu na Itália na década passada.
O flagelo da corrupção só vai ser abatido através da mobilização da sociedade civil. Como? Propostas, certamente, não faltarão. Pode ser criada uma campanha permanente, pela imprensa, denunciando os atos de corrupção, apresentando didaticamente o que poderia ser feito com o dinheiro desviado (por exemplo: hospitais, escolas, saneamento básico).
Da mesma forma que o político corrupto inferniza a vida do cidadão de bem, que respeita as leis, paga os impostos e participa da vida da sua comunidade, seria louvável se a vida do corrupto também se transformasse em um inferno. De que forma?
Como a Constituição garante o direito de manifestação, por que não se reunir durante dias em frente à casa de um corrupto? Por que não acompanhá-lo nos caros restaurantes que freqüenta e lá protestar? Por que não ir ao aeroporto quando ele vai viajar com a família -com o dinheiro desviado dos cofres públicos- e lá denunciar aos outros passageiros com quem eles vão voar? Por que não lembrar aos advogados dos corruptos que seus honorários são pagos com dinheiro sujo? É ético esse recebimento? É possível um advogado, depois de receber um pagamento milionário, ainda falar em ética na política?
Muitos acharão essas considerações mera provocação. E estão certos: é uma provocação, sim. Uma provocação para defender a democracia, desmoralizada a cada dia, quando um corrupto não é preso, quando aparece usufruindo dos bens roubados e vivendo como nababo, viajando para o exterior e gastando fortunas. É esse o exemplo de cidadão que a República que dar aos jovens?
Ah, o que diriam Silva Jardim, Saldanha Marinho, Euclides da Cunha e tantos outros...
# por Anônimo - 18 de julho de 2011 às 09:20
O grande problema é esse...é que nada muda...
# por Anônimo - 18 de julho de 2011 às 10:16
Moro em Ananindeua - Pará e o conheci atraves do programa Painel da GNT, no qual debatiam sobre " a falta de indignação do povo brasileiro"! Tu estais cobertissimo de todas as razões possiveis!Eu como pessoa do povo, JA ACORDO INDIGNADA porque assisto todos os jornais que consigo, e fico completamente perplexa diante da total falta de escrúpulos de nossas "otoridades"! Aqui no Pará temos o caso da ALEPA onde se roubava mais de 1 milhao todos os meses, e a educação e saude e infra estrutura Óhhhhh! Mas a culpa é nossa, totalmente nossa! Votamos mal. Assim como os paulistanos que reelegeram o famosissimo Paulo Maluf, nós aqui reelegemos o Jader Barbalho "aquele que dispensa aprsentação", com a justificativa de que ele rouba mas faz! Faz o que? Pergunta pro imbecil que votou nele, o que ele fez? Ele com certeza NÃO SABERA RESPONDER!Ignorancia é a mola mestra da corrupção! O Judiciario pro sua vez, deve seguir aquilo que esses politicos safados ditam como leis. Mas a "interpretação é de cada JUIZ"portanto se quisesssem eles nao permitiriam que os fichas sujas tomassem posse! Tu tens razão quando dizes que nós do povo nao temos pra quem recorrer porque nao acreditamos mais em nada nem em ninguem. Mas fique certo que TEM MUITO BRASILEIRO ENGASGADO COM TANTA SUJEIRA E EU SOU UMA DELAS. TU FALAS MUITO BEM, DE FORMA CLARA E FACIL DE ENTENDER, ao contrario dos outros debatedores que falavam em china e sei la o que fuginco totalmente do assunto. Tu precisas voltar a falar no assunto. Obrigada por ter me dado essa oportunidade! Um abraço Karla Maues (karla-maues@bo..com.br)
# por Celso Machado - 18 de julho de 2011 às 10:31
Parabens pelo show de ontem, seus colegas se viram encurralados e começaram a divagar, è assim mesmo, as vezes quase me sinto um maluco falando sozinho...
Ab, continue gritando
# por Leandro Ferreira de Carvalho - 18 de julho de 2011 às 10:42
Prezado Marco Villa,
Assisti ontem (dom, 17/07) o Globo News Painel por duas vezes. Concordo com sua visão mais "prática" sobre a corrupção na questão da causa, efeito e da não punição escancarada.
Venho fazendo meu trabalho como cidadão de meu pequeno município, Eng. Paulo de Frontin-RJ, e gostaria de seu contato. Conheça meu blog:
http://fiscalizabrasil.blogspot.com
Abraços,
Leandro Carvalho
leandrofcarvalho@hotmail.com
# por Anônimo - 18 de julho de 2011 às 12:58
Por que os juízes recebem salários tão altos, trabalham somente 4 horas por dia, e possuem 2 meses de férias? Ora, para não irem atrás de políticos.
# por Joaquim - 19 de julho de 2011 às 00:07
Villa, imagina se aqui ''pega'' o que foi trazido à tona por alguns italianos: deputado e senador ganhando por hora trabalhada. Ia ter bomba (literalmente) explodindo no planalto, ia ter suicídio coletivo no melhor estilo Jonestown. E mani pulite aqui? Só nos nossos sonhos mais loucos!
# por Sandro Coletti - 19 de julho de 2011 às 08:54
Ontem vi você em uma sabatina, muito bom... Mas o que me fez procurar seu blog não foi seu bom desempenho, foi justamente o assunto corrupção onde você cometeu um grave erro. Você acha mesmo que o culpado por essa situação imbecil são os políticos? Ouvi você defender a honra do povo brasileiro como se ele fosse isento de culpa, afirmando que o brasileiro NÃO É CORRUPTO! Ahh vá! (A culpa é da maioria dos brasileiros eleitores sim, por serem corruptos).
Os brasileiros precisarão de muito mais educação e troca de pelo menos mais uma geração viciada para tentar ser considerada não corrupta.
A nossa democracia é um exemplo de perfeição. Cada monstro eleito nos 3 poderes são representantes fieis da maioria da população. Se o povo tem maioria corrupta, seus representantes serão corruptos.
Você é formador de opinião, logo aproveite sua ótima posição para dar chance a verdade, apontando os verdadeiros culpados por essa quimera. Vai ganhar alguns inimigos, mas quem liga? A não ser que você tenha vocação a político (daí pode apagar esse comentário e ir pro inferno!).
Att.
Sandro
# por Anônimo - 19 de julho de 2011 às 09:42
Viva a democracia!
# por Joaquim - 19 de julho de 2011 às 11:55
Caro Sandro, venho em ''defesa'' do Villa.
Sabemos todos que os pouco republicanos, como bem pontua o ilmo mestre, são meramente indivíduos icônicos que receberam ''alcunhas ilustrativas''.
Eu concordo muito na questão (muito bem pontuada) que não somos 193 milhões de Macunaímas; somos e estamos estafados com nossas vidas diárias e ainda temos que encarar esse peso alucinante que, obviamente, nos sufoca. Precisamos de união, nas urnas e fora delas, e é importante ter um ícone de tamanha consideração como é o Villa.
Para tentar ilustrar um presente que queremos ver diferente, parafraseio o grande poeta urbano Rui Mifune:
''Daqui a gente vai levando
que nem um frango no espeto
empalados, sim, mas se virando sempre''
# por barbarah.net - 19 de julho de 2011 às 11:57
Às vezes o Pondé, calado, é um poeta. Propor a idéia de uma sociedade permissiva é um absurdo!
# por barbarah.net - 19 de julho de 2011 às 14:24
CORRUPÇÂO É CRIME!!!
# por barbarah.net - 19 de julho de 2011 às 15:18
Villa,não consigo postar meus indignados comentários. Algum problema técnico com o blog?
Sandro, uma sugestão para um ato público: CORRUPÇÃO É CRIME!
# por Anônimo - 20 de julho de 2011 às 11:02
Caro Villa, parabéns por sua atuação no Painel da GloboNews. Concordo plenamente com você: o brasileiro "aceita" a corrupção porque não tem esperanças de que o poder judiciário desempenhe o seu papel e faça justiça. Quantos casos já foram julgados? Quantos foram punidos? Se os poderes executivo e legislativo estão tomados, caberia ao judiciário impor a ordem pelos meios legais. Não é o que acontece. Somos todos Francenildos. Tirar essa questão do foco com divagações é não querer ver o problema que está aí, comprometendo a verdadeira democracia.
# por Dawran Numida - 20 de julho de 2011 às 14:32
É uma situação difícil. Porém, não dá para aceitar que "o brasileiro aceita a corrupção". A indignação existe, contudo, não há manifestações de rua. Afirmar que pela ausência delas, existiria aceitação da corrupção e conformismo com outras formas de burla, seria, no mínimo, inconveniente. O que fazer? Não é uma pergunta com respostas fáceis. Durante as últimas eleições, mais de 40 milhões de eleitores tentaram um novo caminho, tentaram mudar o rumo das coisas. Pelo voto. Não é pouco.
# por Dawran Numida - 20 de julho de 2011 às 15:25
Além do que, por algum motivo e por muito tempo, pode-se estar tentando apenas olhar para e por aqueles que são a favor do que está acontecendo e não para quem está inconformando. O foco direciona a ação, não é?
# por Alexandre Neuwert - 20 de julho de 2011 às 20:23
Eu estou louco para participar de manifestações, bem da espécie que o grande Villa sugere.
Mas falta apoio, falta jovens dispostos a participar. Ano passado aconteceu em minha cidade uma reunião do Mercosul. Uma ótima oportunidade de confeccionar cartazes com alguma perguntas indigestas ao Doutor Lula, evidentemente em português primitivo, tal como o recomendado pelo MEC (que muito provavelmente foi preconizado pelo próprio Doutor Lula).
# por Dawran Numida - 22 de julho de 2011 às 14:19
Alexandre Neuwert, pode ser que elas ocorram, como pode ser que não ocorram. O importante é não esquecer que há muita indignação. E de alguma forma ela será demonstrada. Não dá para precisar o tempo e nem qual será o fator desencadeador, a forma etc. Mas, é uma situação insustentável por tanto tempo como possam estar imaginando. É bom repetir: olhar mais para os conformados pode atrapalhar a visão.
# por Anônimo - 25 de julho de 2011 às 01:29
Parabéns Villa pela participação no "Globo News Painel" e pelo texto “Ainda a corrupção” aqui exposto. Ideias muito boas, corajosas e claras emergem de suas intervenções. O artigo de Juan Arias, correspondente do jornal espanhol “El país” no Brasil, foi o grande motivador dos recentes debates que procuram responder o conjunto de questões que a tempo recebem atenção dos abnegados opinadores de plantão, sobretudo quando novos escândalos de corrupção são noticiados, existentes e operados dentro do próprio governo. Questões como: Por que os brasileiros não reagem contra a corrupção e a falta de ética praticada pelos seus políticos? Ou por que os trabalhadores e estudantes não vão às ruas protestarem contra a corrupção? Ou será que os brasileiros não sabem ou não se importam com a política praticada no país? E até... Será que o brasileiro, portador da tal “herança ibérica” – anunciada por Sérgio Buarque, Raymundo Faoro, e todos os outros autores conhecidos como “clássicos” ou “grandes interpretes”, o Professor Villa teve até que tratar do tema no “Painel” – é mesmo, por natureza, pouco participativo, pouco associativo e corrupto? No programa Roda Viva (TV cultura), de 6 de Setembro de 2010, o entrevistado, Professor Demétrio Magnoli, indagado sobre a pouca importância dada pela população a mais um escândalo, surgido na última campanha presidencial, que ficou conhecido como “vazamento dos sigilos fiscais”, propõe dois pontos fundamentais em sua resposta, o primeiro: “Existe um certo cansaço dos cidadãos com aquilo que eles vêem como um ‘pizza’ atrás de outra ‘pizza’, então eles viram o caso do ‘mensalão’ e consideraram que terminou em ‘pizza’, (...) viram o caso do caseiro Francenildo Costa terminar em ‘pizza’ que foi cozida no STF, então existe um certo ‘amortecimento’ das pessoas.” Nesse sentido, a IMPUNIDADE dos criminosos e a ineficácia do poder judiciário atuam na desmobilização da sociedade e, como apontou Villa, nutrem a sensação de que “o crime compensa” e a impunidade é uma “fatalidade” inescapável em casos de denúncias de corrupção. Prosseguindo na resposta de Magnoli, diz o segundo ponto: “Grande parte do eleitorado vive naquilo que eu chamaria esfera da necessidade e faz com que determinados temas institucionais relativos à democracia, extremamente importantes, gravíssimos, pareçam temas exotéricos quando você tem que terminar o mês com àquela [pouca] grana, acho isso compreensível (...) parte da fotografia do Brasil.” Estamos rodeados destes cidadãos que vivem mergulhados no cotidiano a buscar o “pão de cada dia” e possuem pouco tempo para acompanhar as questões políticas de interesse nacional, a maioria nem toma conhecimento dos casos de corrupção política praticada no país e ainda há muitos que realmente não se interessam por política, ou porque não entendem ou porque acham o assunto “chato” e desinteressante. Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, em seu blog, também contribui com o debate. Em artigo de 13/07/2011, também provocado pelo artigo do jornalista espanhol Juan Arias, defende que a sociedade brasileira não sai às ruas contra a corrupção pelo fato do povo ter sido “privatizado pelo PT”. Cita o MST, a UNE, a CUT – que segundo Azevedo são “sócios muito bem remunerados dessa corrupção” – a imprensa e a OAB, como entidades, que antes atuavam na fiscalização do governo e na mobilização da sociedade civil contra a corrupção e os desmandos, e hoje não cumprem este papel, pois foram compradas pelo PT. Ou seja, a passividade, o amortecimento, a acomodação, o anestesiamento – e todos os outros adjetivos amplamente utilizados – social decorre, além da impunidade e da esfera da necessidade, também pela captura de entidades da sociedade civil - que historicamente lideram os movimentos sociais de amplo alcance, como o das "Diretas" citada no "Painel" - pelo Estado, com o fim de esvaziar a combatividade da oposição. [Rafael, Ananideua-PA (rafael.lobat@hotmail.com)]
# por Anônimo - 25 de julho de 2011 às 04:07
Claro. Um povo indignado como o nosso jamáis votaria no "Tiririca"
# por Anônimo - 30 de outubro de 2011 às 22:25
Em entrevista ao blog de Wender Carbonari - http://jornalderole.wordpress.com - o Engenheiro Civil Paulo Figueiredo nos conta sobre sua ação social contra o acordo entre os ex-prefeitos Laerte Tetila e Humberto Teixeira que arquivou processo que apurava o desvio dos cofres públicos de mais de 10 milhões de reais em cima da obra iniciada em 1996 (Projeto CAM). Link da entrevista: http://jornalderole.wordpress.com/2011/10/19/engenheiro-civil-realiza-protesto-contra-a-corrupcao-no-centro-de-dourados/
Você precisa conhecer esta história que se passa em nossa cidade (Dourados/MS) e assim juntarmos a nossa indignação!!! Estas imagens já estão sendo veiculadas do outro lado do mundo (site japonês).
Abraços
Paulo Figueiredo
Veja vídeo no Youtube:
http://youtu.be/998tK-gqJ7g
Vídeo japonês:
http://www.sosododo.com/video/video/998tK-gqJ7g/Onde-está-a-democracia.html