Onde está a direita?
A última eleição presidencial que teve um candidato de direita foi em 1989 (Fernando Collor). Desde então (evidentemente estou me referindo aos principais, não a um Eneas da vida), só concorrentes de centro ou de centro-esquerda. Ou seja, não tivemos mais candidatos nem de direita, nem de esquerda (em 1989 a candidatura Lula, através da Frente Brasil Popular - basta ler o programa - era de esquerda). Mas neste post a conversa é sobre a direita.
Em 94 e 98 tivemos FHC e Lula (as duas eleições foram resolvidas no primeiro turno), em 2002 Lula, Serra, Ciro e Garotinho, nenhum podendo ser considerado de direita. Idem em 2006. O pesquisador vive de perguntas. Uma delas é: por que a direita, desde 1989, não consegue emplacar um candidato com viabilidade eleitoral?
Se perguntamos, também devemos especular respostas (faz parte da profissão):
1. O impeachment do Collor foi tão traumático, que, desde então, as lideranças mais à direita não conseguiram construir um capital político para poder chegar em condições de disputar a presidência; ou
2. As presidências FHC e Lula fecharam o espaço para a direita com a política de alianças que sustentaram seus governos; ou
3. A direita optou por pegar carona em chapas de centro-esquerda, escolhendo ser sócia menor do governo ao invés de amargar 4 (ou 8) anos na oposição; ou ainda
4. A direita não tem mais um discurso próprio. É identificada com o passado, especialmente com o regime militar.
# por Claudio - 27 de abril de 2010 às 04:30
Prezado Marco Villa, estou acompanhando o seu blog com grande interesse.
O que/quem era/é direita? Em período de hiper-inflação, numa eleição polarizada por um sindicalista barbudo apoiado por uma colcha de retalhos socialista-comunista-marxista-trotskista-etc, era fácil apropriar-se do rótulo conservador-direitista. Fácil e eficaz.
Collor de fato vendeu a sua imagem como a de um candidato "de direita". Conseguiu atrair para o seu redor, nos momentos iniciais, nomes do calibre de José Guilherme Merquior e Roberto Campos. Mas naquele instante, para onde mais eles poderiam ir?
Que legenda mesmo estava por trás de sua candidatura? Enxergamos ali alguma sólida e longeva tradição política "de direita"? Como podemos realmente entender o então obscuro personagem que projetou-se no cenário nacional vindo de um estado paupérrimo com a máscara de "caçador de marajás"?
Em 1989, que figuras públicas representariam a suposta longa tradição brasileira de cunho direitista? Maluf? ACM? Eu, que vivi a época como adolescente, me recordo de vários ícones políticos ideologicamente associados à esquerda, como Brizola, Prestes, Arraes, mas sou incapaz de lembrar de sequer um nome ideologicamente associado à direita.
Assim como Merquior e Campos, hoje também encontramos alguns teóricos campeões do liberalismo econômico e do conservadorismo político. Mas quem ecoava ou ecoa esses princípios no cenário político?
Finalmente, lembremos que Collor logo rasgou o discurso de posse quando pariu a política intervencionista mais radical de nossa história; e lembremos também dos convenientes aliados de hoje em dia.
Acredito que a opção mais correta seja a número 2. De modo geral, o nosso escambo eleitoral vale o quanto pesa e a ideologia, quando muito, entra em cena como peça de "marquetingue".
# por Daniel - 27 de abril de 2010 às 10:10
Seria interessante, Villa, aproveitar a questão e comentar o que seria esquerda e direita hoje em dia. Não acha que o fundamental está na forma como cada tendência política enxerga o papel do Estado na vida das sociedades?
# por André Costa - 27 de abril de 2010 às 12:05
Uma resposta: porque a esquerda ganhou a guerra cultural nos últimos 30 anos de maneira que a direita não consegue se expressar fora dos esquemas mentais formulados pela esquerda. Mesmo os valores da população sendo majoritariamente de direita, os políticos não conseguem formular um discurso que atinja este público.
# por Anônimo - 27 de abril de 2010 às 14:01
André Costa, o senhor acertou na môsca! Além do que no Brasil a Direita exerceu a hegemonia do poder durante muito tempo, mas não fez escola, não formou pensamento e por isso é escanteada até pelos subintelectuais de esquerda que dominam as universidades brasileiras, uma escória
# por Ed Carlos Ferreira da Costa - 28 de abril de 2010 às 14:16
Excelente o comentário do André Costa, ser de direita, ou por não concordarem com suas opiniões te tacharem como tal tem o mesmo estigma no meio acadêmico que o estigma de ser leproso na antiguidade.
Temas como: pena de morte, mudança na maioridade penal e leis mais rigidas são esquecidos pelo PFL, pois preferem temas mais hypes ou ins como sustentabilidade e ecologia que ,aliás, creio serem a mesma coisa, nada contra os temas, mas obviamente não dão voto para a direita.
O problema a meu ver é a visão obtusa de quem apesar de intencionar comandar a nação não consegue sequer enchegar os anseios do povo.
# por Cristiano Rodrigues - 29 de abril de 2010 às 00:38
O problema é que não existe uma direita liberal clássica no Brasil como há nos EUA, na Iglaterra ou na própria Alemanha. Nossos valores são mercantis e patrimonialista. O "capitalismo tardio" é de Estado e não de pessoas. Não há estimulo para a livre iniciativa no país. Os impostos de hoje, mais sofisticados do que na colônia ou no império, nada mais são do que a subtração de grande parte da riqueza dos indivíduos para a manutenção de uma máquina estatal engessada e arraigada no que há de mais atrasado. Os políticos que se servem desse estado, incluindo Collor, Sarney, Renans, etc, nada mais estão fazendo do que defender seus interesses mercantis patriomoniais e de mando regional. FHC percebeu isso e os "comprou" para avançar, mas deu azar (crises, etc). Lula os "comprou" para não atrapalhar os interesses do Partido e da camarilha sindical, e está dando sorte, pois nunca antes nesse país e no mundo, vivemos um período de expansão do capital como entre 2002-2008. Mas como disse, não avançamos, mas sim fizemos com que os novos donos do poder tornassem sócios dos antigos. É a velha máxima familiar brasileira: "ponha água no feijão", pois vem mais gente pra jantar, no nosso caso, jantar nossa riqueza... já dá uma tese de mestrado...