A escolha de Dilma (II)
A minha estranheza com a escolha de Dilma ainda não foi resolvida. Ela era absolutamente inexpressiva no panorama nacional (daí menção que fiz ao DHBB da FGV/CPDOC) e mesmo no espaço estadual, do Rio Grande do Sul, era uma figura de segunda linha. Ficou conhecida na esfera nacional somente em 2003, quando foi nomeada para dirigir o Ministério das Minas e Energia. Mesmo assim, este primeiro ministério Lula não foi nenhuma Brastemp (muitos ministros saíram do ministério sem deixar saudades, como Benedita da Silva e Emília Fernandes). Na crise do mensalão, Dilma acabou sendo favorecida com a queda do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Assumiu, mas continuou meio nas sombras. Foi após a reeleição de Lula que em certo momento (é ainda preciso definir bem quando e as razões), Dilma acabou sendo sacramentada por Lula como sua sucessora.
Não concordo com os que dizem que as principais lideranças do PT foram abatidas pela crise do mensalão e aí acabou sobrando a Dilma. Ela nunca foi liderança no PT nacional e nem na seção gaúcha. Lula poderia ter esacolhido outro candidato. Mesmo no RS tinha Tarso Genro, que chegou a sonhar com a investidura do chefe. Em certo momento imaginei que Patrus Ananias poderia ser "o cara". Ministro do Desenvolvimento Social, viabilizou os programas assistenciais (especialmente o Bolsa Família), foi prefeito (bem avaliado) de Belo Horizonte e tinha história no partido. Mas os dois (especialmente Patrus) poderiam, caso eleitos, fugirem do controle de Lula. Dilma, não. Eleita, deverá seguir os ditames do "mestre", que espera voltar em 2014, como uma espécie de Getúlio Vargas, em 1950, e ser reeleito em 2018. Ou seja, Dilma é um instrumento para o retorno de Lula à presidência. Patrus ou outro qualquer, não se sujeitará a simplesmente esquentar a cadeira presidencial.
Contudo, vale a lembrança: temos diversos casos na política brasileira da criatura se rebelar contra o criador, como, em São Paulo, quando Fleury, eleito governador, se afastou do seu padrinho político, Orestes Quércia.
# por André Costa - 24 de abril de 2010 às 19:11
Penso exatamente assim: Dilma se enquadra no projeto pessoal do megalomaníaco presidente. O lado bom disso é que a derrota pode implodir o partido.
# por Vitor de Angelo - 25 de abril de 2010 às 22:10
Villa,
Queria apenas somar mais um ponto nessa análise sobre a escolha de Dilma. Num partido importante como o PT, a disputa interna por qualquer cargo é acirrada. Ainda mais para a Presidência. Quando os primeiros da fila se "queimaram", o lógico é que o candidato saísse do pelotão intermediário, não do final da fila. E até mesmo ali restariam outros nomes "históricos" (Benedita da Silva, por exemplo). O fato é que a saída de Dirceu e Palocci foi também, em certo sentido, a saída do PT como protagonista da sucessão. Lula se sobrepôs ao partido. E então, ao invés de escolha partidária, houve uma unção, como você deixa claro.