Recordando mais uma do Ribamar Costa (vulgo José Sarney)

Só para relembrar. Isto foi em junho de 2009, quando ele estava numa situação política extremamente difícil, devido ás revelações sobre os atos secretos. Como estamos no Brasil, nada aconteceu. E pior: tudo foi esquecido.


Entrevista - Marco Antonio Villa
Folha de S. Paulo - 28/06/2009

SARNEY NÃO DEVERÁ RENUNCIAR, DIZ HISTORIADOR

Marco Antonio Villa, da UFSCar, avalia que presidente do Senado só deixa o cargo se isso ajudar Roseana


FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL


Marco Antonio Villa, professor de história da Universidade Federal de São Carlos, escreveu em outubro de 2005 o artigo "A crise política e o coronelismo", na Folha. O texto gerou polêmica por conta das críticas a José Sarney (um dos filhos do senador enviou carta ao jornal respondendo ao historiador). Quatro anos depois, Villa diz que nada mudou em sua análise. Pelo contrário, a situação piorou: "É a pior crise na história do Senado republicano". Para o professor, a tendência é de que Sarney se mantenha no cargo, pois tem o apoio da maioria dos senadores. Villa diz que o presidente da Casa só deixará a cadeira se calcular que isso beneficiará as pretensões da família no Maranhão.


FOLHA - Em 2005, o sr. escreveu um artigo que gerou polêmica pelas duras criticas a Sarney. Quatro anos depois, o que mudou na sua análise?
MARCO ANTONIO VILLA - Infelizmente nada. José Sarney mantém hoje relações até mais extensas com o governo federal. O poder local, provincial, que ele tem, deve-se às relações estreitas com o governo federal. Só é um cacique tão poderoso porque controla as nomeações federais para o Maranhão, os recursos orçamentários. É um intermediário -na minha opinião perverso- entre o governo federal e o Maranhão. Sarney é o maior, o mais antigo dos oligarcas e o de maior êxito.

FOLHA - O que essa atual crise do Senado tem de peculiar?
VILLA - É a maior crise do Senado republicano. O início de tudo foi a eleição da Mesa Diretora, mas ninguém imaginava que iria alcançar tamanhas proporções. Pela primeira vez ficou claro que o Senado era dirigido por funcionários que transformaram crimes em algo cotidiano, como se fossem atos normais. É algo muito grave.

FOLHA - Que consequências práticas a atual crise pode trazer?
VILLA - O Ministério Público terá que atuar, porque foram cometidos crimes gravíssimos. Esse é um dos pontos centrais da grave crise ética que vivemos. Não é possível ter mais de 600 atos sigilosos e a Justiça não fazer nada. Os escândalos envolvendo Renan Calheiros em 2007 são coisas de criança se comparados aos deste ano.

FOLHA - Renan renunciou à presidência. Sarney pode renunciar?
VILLA - A maioria do Senado não é contrária ao Sarney e tudo indica que não deva mudar de opinião porque tem práticas pouco republicanas e não acredita que a ação do Sarney seja algo negativo para a Casa. Ao contrário, acha isso natural. Os senadores (inclusive aqueles que se destacam pelo discurso da ética) foram coniventes com esses atos secretos. A grande maioria foi beneficiada. Isso explica a dificuldade do próprio Senado ter condição de se reformar. Agora, se as revelações continuarem, pode ser que o caminho seja a renúncia.

FOLHA - Por quê?
VILLA - Sarney raciocina pensando nos interesses da sua família. Creio que o grande temor de renunciar à presidência do Senado é o de perder influência no governo federal e isso prejudicar os interesses da família. É esse raciocínio que ele vai utilizar para decidir se renuncia ou não. A saída só ocorrerá se ele perceber que a avalanche de denúncias chegou a tal ponto que coloca em risco o domínio da família no Maranhão e a eleição de Roseana ao governo estadual em 2010. Ele é um bom chefe de família, basta ver o número de familiares que empregou no Senado. Muitos senadores jogam com o esquecimento. Sarney bem que poderá dizer ao Renan: "Eu sou você amanhã". Renan usou a estratégia de se retirar dos holofotes e se deu bem. Antonio Carlos Magalhães renunciou ao mandato e voltou eleito senador.

FOLHA - O que o sr. achou da declaração de Sarney de que sofre ataques porque apoia Lula?
VILLA - É uma estratégia porque ele precisa se manter próximo do presidente. O oligarca só tem poder na província porque tem forte poder central. Romper o poder coronelístico por dentro, na própria província, é tarefa quase impossível. Por isso torço para que o próximo presidente consiga destruir a fonte do poder dos oligarcas: as relações privilegiadas que o clã mantém com a União.
A questão central é que, hoje, Lula e Sarney são unha e carne, faces da mesma moeda. Por incrível que pareça, eles não se distinguem, o que é estranho pelas histórias tão distintas. A crise ética no Brasil chegou a tal ponto que não há mais distinção entre o Lula e o Sarney.

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    # por Anônimo - 2 de dezembro de 2011 às 15:28

    Não acho que Lula e Sarney seja unha e carne, embora seja uma aliança que ofende o bom senso, de pura conveniência política, apósto que lula adoraria fazer seu governo livre de figuras reacionárias como Sarney. E FHC não teve que engolir o atual DEMO? Lembram-se do vazamento da conversa entre Obana e Sarcozy sobre o Benjamin Netanyahu, chamaram-no de mentirozo e Obama lamentou-se que tem que falar com ele todos os dias. No jogo político é assim. Infelizmente alianças estapafúrdeas como Lula e Sarney, PSDB e DEM e tantas outras com contrastes, ideologias e histórias completamente distintas fazem parte de um cenário político caótico. só uma reforma política profunda começaria a mudar tal situação

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    # por Anônimo - 2 de dezembro de 2011 às 17:45

    Acompanho o jornal da cultura e as análises do senhor me levou a visitar este blog, Ès um duro crítico das mazelas cometidos no período lula/dilma, na maioria das vezes com pertinência e baseados nos fatos, mas aprofundando o conteúdo deste blog, não encontrei uma única linha relatando os graves feitos cometidos nos oito anos de FHC, tão pouco as inúmeras denuncias graves de corrupção que são dadas como sem importância sobre a administração pública em São Paulo com incrível miopia do ministério público, só para ilústrar basta lembrar que o senhor lembrou o fato do filho do Lula ter passaporte diplomático, é evidente que é um abuso, mas menos grave do que ser testa de ferro da Disney, assunto este que não ganhou uma linha sequer. Tambem notei a omissão sobre a atuaçâo de Sarney no governo tucano. estas observações me levam a crêr, infelizmente, que se trata de um blog movido por simpátia partidária.

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    # por Carlos Gama - 4 de dezembro de 2011 às 13:00

    No campo da política - da má política - a nossa única salvação é a morte...Deles.