Balanço do Governo Dilma: um ano para ser esquecido

Saiu hoje no Estadão. Aproveito para desejar a todos um Feliz Natal:

Um ano para ser esquecido
25 de dezembro de 2011 | 3h 03



Marco Antônio Villa - O Estado de S.Paulo
O governo Dilma Rousseff é absolutamente previsível. Não passa um mês sem uma crise no ministério. Dilma obteve um triste feito: é a administração que mais colecionou denúncias de corrupção no seu primeiro ano de gestão. Passou semanas e semanas escondendo os "malfeitos" dos seus ministros. Perdeu um tempo precioso tentado a todo custo sustentar no governo os acusados de corrupção. Nunca tomou a iniciativa de apurar um escândalo - e foram tantos. Muito menos de demitir imediatamente um ministro corrupto. Pelo contrário, defendeu o quanto pôde os acusados e só demitiu quando não era mais possível mantê-los nos cargos.

A história - até o momento - não deve reservar à presidente Dilma um bom lugar. É um governo anódino, sem identidade própria, que sempre anuncia que vai, finalmente, iniciar, para logo esquecer a promessa. Não há registro de nenhuma realização administrativa de monta. Desde d. Pedro I, é possível afirmar, sem medo de errar, que formou um dos piores ministérios da história. O leitor teria coragem de discutir algum assunto de energia com o ministro Lobão?

É um governo sem agenda. Administra o varejo. Vê o futuro do Brasil, no máximo, até o mês seguinte. Não consegue planejar nada, mesmo tendo um Ministério do Planejamento e uma Secretaria de Assuntos Estratégicos. Inexiste uma política industrial. Ignora que o agronegócio dá demostrações evidentes de que o modelo montado nos últimos 20 anos precisa ser remodelado. Proclama que a crise internacional não atingirá o Brasil. Em suma: é um governo sem ideias, irresponsável e que não pensa. Ou melhor, tem um só pensamento: manter-se, a qualquer custo, indefinidamente no poder.

Até agora, o crescimento econômico, mesmo com taxas muito inferiores às nossas possibilidades, deu ao governo apoio popular. Contudo, esse ciclo está terminando. Basta ver os péssimos resultados do último trimestre. Na inexistência de um projeto para o País, a solução foi a adoção de medidas pontuais que só devem agravar, no futuro, os problemas econômicos. Em outras palavras: o governo (entenda-se, as presidências Lula-Dilma) não soube aproveitar os ventos favoráveis da economia internacional e realizar as reformas e os investimentos necessários para uma nova etapa de crescimento.

Se a economia não vai bem, a política vai ainda pior. Excetuando o esforço solitário de alguns deputados e senadores - não mais que uma dúzia -, o governo age como se o Congresso fosse uma extensão do Palácio do Planalto. Aprova o que quer. Desde projetos de pouca relevância, até questões importantes, como a Desvinculação de Receitas da União (DRU). A maioria congressual age como no regime militar. A base governamental é uma versão moderna da Arena. Não é acidental que, hoje, a figura mais expressiva é o senador José Sarney, o mesmo que presidiu o partido do regime militar.

Nenhuma discussão relevante prospera no Parlamento. As grandes questões nacionais, a crise econômica internacional, o papel do Brasil no mundo. Nada. Silêncio absoluto no plenário e nas comissões. A desmoralização do Congresso chegou ao ponto de não podermos sequer confiar nas atas das suas reuniões. Daqui a meio século, um historiador, ao consultar a documentação sobre a sessão do último dia 6, lá não encontrará a altercação entre os senadores José Sarney e Demóstenes Torres. Tudo porque Sarney determinou, sem consultar nenhum dos seus pares, que a expressão "torpe" fosse retirada dos anais. Ou seja, alterou a ata como mudou o seu próprio nome, sem nenhum pudor. Desta forma, naquela Casa, até as atas são falsas.

Para demonstrar o alheamento do Congresso dos temas nacionais, basta recordar as recentes reportagens do Estadão sobre a paralisação das obras da transposição das águas do Rio São Francisco. O Nordeste tem 27 senadores e mais de uma centena de deputados federais. Nenhum deles, antes das reportagens, tinha denunciado o abandono e o desperdício de milhões de reais. Inclusive o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, que representa o Estado de Pernambuco. Guerra, presumo, deve estar preocupado com questões mais importantes. Quais?

Falando em oposição, vale destacar o PSDB. Governou o Brasil por oito anos vencendo por duas vezes a eleição presidencial no primeiro turno. Nas últimas três eleições chegou ao segundo turno. Hoje governa importantes Estados. Porém, o partido inexiste. Inexiste como partido, no sentido moderno. O PSDB é um agrupamento, quase um ajuntamento. Não se sabe o que pensa sobre absolutamente nada. Um ou outro líder emite uma opinião crítica - mas não é secundado pelos companheiros. Bem, chamar de companheiros é um tremendo exagero. Mas, deixando de lado a pequena política, o que interessa é que o partido passou o ano inteiro sem ter uma oposição firme, clara, propositiva sobre os rumos do Brasil. E não pode ser dito que o governo Dilma tenha obtido tal êxito, que não deixou espaço para a ação oposicionista. Muito pelo contrário. A paralisia do PSDB é de tal ordem que o Conselho Político - que deveria pautar o partido no debate nacional - simplesmente sumiu. Ninguém sabe onde está. Fez uma reunião e ponto final. Morreu. Alguém reclamou? A grande realização da direção nacional foi organizar um seminário sobre economia num hotel cinco estrelas do Rio de Janeiro, algo bem popular, diga-se. E de um dia. Afinal, discutir as alternativas para o nosso país deve ser algo muito cansativo.

Para o Brasil, 2011 é um ano para ser esquecido. Foi marcado pela irrelevância no debate dos grandes temas, pela desmoralização das instituições republicanas e por uma absoluta incapacidade governamental para gerir o presente, pensar e construir o futuro do País.

Historiador, é professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar)

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    # por O Mascate - 25 de dezembro de 2011 às 11:24

    Villa, ante de mais nada desejo a você e seus familiares em Feliz Natal.

    Agora, sobre seu artigo, só devo acrescentar que o Brasil perde mais uma geração para a inércia e para o populismo de um governo mambembe que a única coisa que sabe fazer e muito bem é roubar e deixar roubar.
    Esse é o preço que uma população de cretinos paga por ajudar a eleger um poste.
    As bolsas e as benesses que este odioso governo distribui em troca de votos, nunca irão ajudar o Brasil a se tornar uma nação de verdade. E pelo visto, o brasil não tem um povo, tem súditos que são escorchados diariamente por impostos abusivos onde EL REY não precisa dar satisfação alguma do onde usa esse dinheiro.
    E assim vai caminhando o Brasil dos futeboleiros torcedores ufano patriotas que são brasileiros com muito orgulho e com muito amor em dia de jogo da seleção.
    E mais uma geração vai ficando pelo caminho, semi alfabetizados, ignorantes ao extremo e acima de tudo, arrogantes por acreditarem que o Brasil é o país do futuro. Para mim do jeito que vai, o Brasil é um país sem futuro.

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    # por Ana Lúcia K. - 25 de dezembro de 2011 às 18:59

    Não há nada a acrescentar nessa sua brilhante análise sobre este governo. Valeu como um presente de Natal. Obrigada!

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    # por Anônimo - 25 de dezembro de 2011 às 19:02

    Essa paralisia se dá por uma série de fatores; crise mundial, falta de independência dos poderes, cultura da corrupção,....inércia da oposição. Fazer oposição não é chamar a imprensa e a bancada de aliados e dar jantar em restaurante de renome. Fazer oposição é ir pro campo, auditar os sistemas de atendimentos nas bases, especialmente em educação e saúde...Fazer os rastreamento dos repasses de recursos.

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    # por Anônimo - 25 de dezembro de 2011 às 21:27

    Marco - Havia perdido seu contato , devido um roubo do meu NB . Agora , voltei . Parabéns por esse artigo de hoje . Estou enviando para uma porrada de amigos . Continue firme e forte em 2012 e mais .

    Medeiros de São Lúís - MA

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    # por Jorge Mach - 25 de dezembro de 2011 às 22:46

    FELIZ NATAL ! Meu caro professor Villa.
    Muita saúde e paz para você e toda família.
    Que possamos contar sempre com sua sagacidade ao longo do novo ano que se aproxima na busca pela verdade desmascarando os poderes constituídos.

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    # por Fabricio - 26 de dezembro de 2011 às 02:41

    Não se pode cobrar de políticos corruptos tendo um passado e presente igual o da nossa presidenta, Assim o Brasil vai se afundando ate o retorno “do presidente Lula” ou alguém tem duvida?

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    # por Anônimo - 26 de dezembro de 2011 às 15:01

    Feliz Natal, Professor.
    Acompanho seu trabalho. Sempre que há um artigo seu, é uma alegria: na Folha, no Estadão, n´"O Globo", e gostei dos verbetes que produziu para a mais nova edição da revista "Veja". Continue prolífico em 2012, para o nosso bem, para o aprimoramento do senso crítico da brasilidade.

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    # por Anderson Soares - 26 de dezembro de 2011 às 23:26

    Prof. Villa:

    Excelente artigo. Parabéns pela coragem de ser uma das poucas vozes da academia a se levantar contra o apagão administrativo do governo e a covardia das oposições nesses últimos 9 anos de desgoverno lula-dilma.

    Anderson Soares

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    # por Joaquim - 27 de dezembro de 2011 às 17:11

    Folha de hoje informa: Mantega diz que pode levar 20 anos para Brasil ter padrão de vida europeu.

    CLARO, dr. Mantega. É evidente que sim.
    Digno de nota também é lembrar que a Bósnia e Herzegovina, Turquia, Albânia e a Moldávia são parte da Europa também. Até a Bulgária, donde vem os ancestrais da madame é parte do velho mundo...