É essencial baratear eleições para brecar profissionalização

Escrevi este artigo que foi publicado, hoje, na Folha de S. Paulo:


As informações do TSE reforçam uma tendência do sistema político brasileiro. Ter como profissão ser político causa estranheza. Uma coisa é o homem público, aquele que acaba se dedicando às grandes questões nacionais e que, mesmo assim, exerce o seu ofício. Outra muito distinta é o indivíduo que abandona qualquer trabalho para se dedicar única e exclusivamente à política.

Durante a Primeira República boa parte dos políticos desenvolviam outras atividades. Eram fazendeiros, comerciantes, advogados ou médicos. A política era um complemento. Evidentemente defendiam seus interesses de classe. Contudo não abandonavam seus afazeres para se dedicar só à política.

O surgimento da democracia de massas, em 1945, mudou o panorama político. Democratizou-se o processo eleitoral e a escolha dos candidatos. A velha elite política foi substituída, na maioria das vezes, por profissionais liberais -basta ver a origem profissional dos presidentes.

Contudo a consolidação do processo eleitoral -e não necessariamente da democracia- foi transformando a política em profissão. De um lado, devido à necessidade de se dedicar exclusivamente ao mandato. Argumenta-se que é impossível exercer a profissão original e, ao mesmo tempo, fazer política.

Por outro lado, é possível imaginar que a dedicação à política acabe criando vícios antirrepublicanos. É sabido que o salário acaba, muitas vezes, não sendo suficiente para manter os gastos do parlamentar. Muito menos para que possa preparar-se para a próxima eleição.

Assim, fica aberto o caminho para práticas que conduzam à corrupção. A intermediação de uma verba pública, a liberação de um gasto orçamentário pode significar um "ganho" muito superior a um ano de recebimento dos proventos de um deputado.

É essencial baratear o custo de se eleger e a criação de um sistema eleitoral que permita a efetiva participação, como candidato, de um cidadão sinceramente republicano. Caso contrário, a cada eleição aumentará o número de profissionais da política.

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    # por Anônimo - 23 de julho de 2010 às 17:40

    Caro Villa,
    Não seria interessante debater também sobre a campanha ao governo do Estado e ao Senado Federal? São assuntos tão pertinentes quanto a corrida presidencial.

    Agradecido

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    # por Ed Carlos Ferreira - 23 de julho de 2010 às 19:02

    Villa sabemos que uma eleição para deputado federal ao menos em São Paulo custa pelo menos uns três milhões,como mudar esse sistema?
    Entendo que a maneira menos ruim seria lista fechada (com todos os problemas inerentes a mesma) e financiamento público, muito embora que os grandes grupos não deixariam de doar no caixa dois.
    A meu ver uma "solução" pouco comentada mas que pode surtir algum efeito é a legalização do lobby como atividade profissional.

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    # por Anônimo - 25 de julho de 2010 às 02:17

    Caro Marco Antonio Villa
    Com meu empirismo e entusiasmo, afirmo que algumas simples regras podem mudar para melhor uma sociedade. Demos ao Brasil algumas reformas e alteração do sistema representativo e tudo vai melhorando rapidamente. Basta, a exemplo do "Ficha Limpa" adotarmos o voto facultativo e distrital puro até para vereadores, fidelidade partidária (já existe), cláusula de barreiras (assassinada ao nascer), fim das reeleições para cargos executivos e nomeações, e que vereadores possam ser eleitos sem obrigação de filiação partidária, até que as cláusulas de barreiras surtam seus efeitos como ocorreu antes de sua revogação pelo supremo em 2006, e que foram tristemente revogadas por iniciativa de maus políticos detentores de projetos pessoais e culto a personalidade.
    Essas reformas nos farão trilhar os mesmos bons caminhos do Chile.
    Com meus respeitos ao ilustre Marco Antonio.
    Beto Monteiro