A transposição do São Francisco
Tudo o que já foi revelado sobre os custos abusivos da transposição das águas do rio São Francisco é ainda pouco. A obra - parte dela já abandonada - tem claro objetivo eleitoral. Basta consultar dados de cidades no sertão por onde a obra deveria passar e os resultados eleitorais da eleição presidencial de 2010. Fiz em vários artigos, quando a obra ainda não passava de uma ideia, críticas sobre o objetivo, custo e a manipulação política. No meu livro "Vida e morte no sertão. História das secas no Nordeste nos séculos XIX e XX" comento como esta ideia surgiu ainda no século XIX. Segue a matéria publicada hoje do Estadão:
Custo da transposição do São Francisco aumenta 71% e vai superar R$ 8 bilhões
Obras começaram de forma açodada, o que explicaria revisões constantes no orçamento
22 de março de 2012 | 22h 30
Marta Salomon, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Vencido o prazo original em que a transposição do Rio São Francisco deveria estar pronta e funcionando no semiárido nordestino, a obra registrou aumento de R$ 3,4 bilhões - ou 71% - em seus custos em relação à previsão inicial, segundo a mais recente estimativa feita pelo Ministério da Integração Nacional. Desde o início do governo Dilma Rousseff, o custo total da obra pulou de R$ 4,8 bilhões para R$ 8,2 bilhões. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva previa inaugurar a obra em 2010.
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Wilson Pedrosa/AE - 30/11/2011
Vários trechos da obra da transposição estão com obras paralisadas ou abandonadas
Isso significa que, se a transposição fosse uma aplicação financeira, teria rendido 65% acima da inflação do período. Para essa comparação, o Estado usou a variação de preços medida pelo IPCA, índice usado no regime de metas de inflação do governo. A alta foi de 8,2% entre dezembro de 2010 e março de 2012.
A construção de cerca de 600 quilômetros de canais de concreto que desviarão parte das águas do rio ainda deve consumir mais 45 meses. O preço aumentou com a renegociação dos contratos originais e o lançamento programado de mais de R$ 2,6 bilhões em novas licitações.
Iniciada em 2007 como a mais cara a ser paga com dinheiro dos tributos entre os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a obra da transposição do São Francisco está parada em três trechos: em Salgueiro (PE), Verdejante (PE) e São José das Piranhas (PB). Os contratos originais referentes a esses trechos serão rompidos e haverá nova licitação. Também serão licitados trechos de obras “remanescentes” ao longo de quase toda a extensão do projeto.
Há dois outros trechos em reforma, pois placas de concreto que haviam sido colocadas racharam, registraram fissuras, ou se deslocaram, supostamente por falhas na drenagem de canais que não suportaram chuvas fortes.
Todos os demais trechos tocados pela iniciativa privada tiveram os preços aumentados em até 25%, limite fixado pela lei de licitações.
Novos editais. Só neste mês, o Ministério da Integração Nacional lança quatro novos editais para a licitação de R$ 2 bilhões em obras. Até junho, outros dois editais serão lançados, ao custo estimado em R$ 645 milhões. O total é superior ao previsto pelo ministro Fernando Bezerra Coelho menos de três meses atrás, quando revelou ao Estadoque a obra custaria R$ 1,2 bilhão extra.
Responsável pela obra, o Ministério da Integração atribuiu o aumento do custo da obra a adaptações no empreendimento, em decorrência do detalhamento dos projetos. As obras começaram de forma apressada, sem os respectivos projetos executivos. Além disso, segundo o ministério, “a forte demanda” sobre a construção civil e a construção pesada pressionou os custos.
No mesmo período em que o preço da transposição aumentou 71%, os custos da construção civil no Brasil cresceram 6,9%. No Nordeste, local da obra, os custos cresceram 7,2%.
O Ministério do Planejamento, que coordena o PAC, autorizou o aumento do custo da obra. “Os aditivos são explicados pelo avanço dos projetos executivos, que têm identificado, com maior grau de precisão, as intervenções necessárias para a completude (sic) do projeto de interligação (sic) do São Francisco”, informou em nota a assessoria da ministra Miriam Belchior.
O início das obras, em 2007, sem o projeto executivo, não seria um caso único entre os projetos do PAC, continua a nota, que classifica o projeto como “estratégico, desafiador e fundamental” para 390 cidades dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.
O Ministério da Integração evita criticar abertamente o início das obras sem um projeto detalhado porque isso aconteceu sob a gestão do então ministro Ciro Gomes, correligionário no PSB do atual ministro Fernando Bezerra e padrinho do novo secretário de recursos hídricos da pasta, Francisco Teixeira, principal executivo da transposição. No início das obras, Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, era citada como a “mãe” do PAC.
Segundo o Ministério da Integração, é responsabilidade das empreiteiras já contratadas recuperar cerca de 900 metros de canais de concreto danificados antes mesmo de entrarem em uso. “Essas falhas serão refeitas, sem custo adicional para os cofres públicos”, reiterou a pasta, referindo-se a trechos deteriorados dos canais, revelados pelo Estado, no final do ano passado.
No início deste ano, outros 240 metros do canal foram danificados no Ceará por causa das “fortes chuvas” em Mauriti. O ministério contabiliza que 150 quilômetros foram concretados até o momento.
# por O Mascate - 23 de março de 2012 às 16:02
Villa, e o Sebento elegeu a Dentuça com inaugurações de trechos ainda inacabados dessa obra. As obras pararam, muito do que foi feito já se perdeu e precisará de reparos ou de reconstrução, os custos explodem e ninguém é responsabilizado.
N]ao existe seriedade no Brasil. Se isto fosse um país sério, tanto o Sebento quanto toda a camarilha vermelha que está no poder seriem responsabilizados civil e criminalmente, alguns seriam presos e outros perderiam bens e mandatos...Mas isso só acontece em lugares sérios onde a democracia é consolidada e a população tem EDUACAÇÃO. Aqui na pocilga o povão tá preocupado com os atrasos nas obras para a Copa.
E vamo que vamo, pois a história um dia irá julgar.
# por Anônimo - 24 de março de 2012 às 17:32
Sem falar que lá pra cima - até mesmo no semiárido nordestino - tem muita água subterrânea que pode ser usada, ou melhor, deveria ser usada. Em vez dessa transposição absurda do Rio São Francisco, seria muito mais barato, eficiente e serviria a muito mais gente, perfurar poços, mesmo nos aquíferos mais profundos (para obter água já pura). Mas por aqui, vale tudo, não há limites para o absurdo quando o fim é o desvio de dinheiro público.
Fernanda
# por Dawran Numida - 27 de março de 2012 às 16:33
Onde estão os defensores do Rio S. Francisco que foram protestar no Senado, durante as audiências públicas, contra a transposição?