A incompetência virou elogio
Publiquei hoje n'O Globo.
A incompetência virou elogio - MARCO ANTONIO VILLA
O Globo - 27/03/12
O governo Dilma Rousseff lembra o petroleiro João Cândido. Foi inaugurado com festa, mas não pôde navegar. De longe, até que tem um bom aspecto. Mas não resiste ao teste. Se for lançado ao mar, afunda. Não há discurso, por mais empolgante que seja, que consiga impedir o naufrágio. A presidente apresenta um ar de uma política bem-intencionada, de uma tia severa e até parece acreditar no que diz. Imagina que seu governo vai bem, que as metas estão cumpridas, que formou uma boa equipe de auxiliares e que sua relação com a base de sustentação política é estritamente republicana. Contudo, os seus primeiros 15 meses de governo foram marcados por escândalos de corrupção, pela subserviência aos tradicionais oligarcas que controlam o Legislativo em Brasília e por uma irritante paralisia administrativa.
Inicialmente, a presidente vendeu a ideia que o Ministério não era dela, mas de Lula. E que era o preço que teria pagado por ser uma neófita na política nacional. Alguns chegaram até a acreditar que ela estaria se afastando do seu tutor político, o que demonstra como é amplo o campo do engodo no Brasil. Foi passando o tempo e nada mudou. Se ocorreram algumas mudanças no Ministério, nenhuma foi por sua iniciativa. Além do que, foi mantida a mesma lógica na designação dos novos ministros.
Confundindo cara feia com energia, a presidente continuou representando o papel de hábil executiva e que via a política com certo desprezo, como se os seus ideais de juventude não estivessem superados. Como sua base não é flor que se cheire, acabou até ganhando a simpatia popular. Contudo, não se afastou deste jardim, numa curiosa relação de amor e ódio. Manteve o método herdado do seu padrinho político, de transformar a ocupação do Estado em instrumento permanente de negociação política. E ainda diz, sem ficar ruborizada, que não é partidária do toma lá dá cá. Dá para acreditar?
O Ministério é notabilizado pela inoperância administrativa. Bom ministro é aquele que não aparece nos jornais com alguma acusação de corrupção. Para este governo, isto basta. Sem ser enfadonho, basta destacar dois casos. Aloizio Mercadante teve passagem pífia pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Se fosse demitido na reforma ministerial - aquela que a presidente anunciou no último trimestre do ano passado e até hoje não realizou -, poucos reclamariam, pois nada fez durante mais de um ano na função. Porém, como um bom exemplo do tempo em que vivemos, acabou promovido para o Ministério da Educação. Ou seja, a incapacidade foi premiada. O mesmo, parece, ocorrerá com Edison Lobão, que deve sair do Ministério de Minas e Energia para a presidência do Senado, com o beneplácito da presidente. O que fez de positivo no seu ministério?
Numa caricata representação de participação política, Dilma patrocinou uma reunião com o empresariado nacional para ouvir o já sabido. Todas as reclamações ou concordâncias já eram conhecidas antes do encontro. Então, para que a reunião? Para manter a aura da Presidência-espetáculo? Para garantir uma fugaz manchete no dia seguinte? Será que ela não sabe que não tem o poder de comunicação do seu tutor político e que tudo será esquecido rapidamente?
Uma das maiores obras da atualidade serve como referência para analisar como o governo trata a coisa pública. Desde quando foi anunciada a transposição de parte das águas do Rio São Francisco, inúmeras vozes sensatas se levantaram para demonstrar o absurdo da proposta. Nada demoveu o governo. Além do que estava próxima a eleição presidencial de 2010. Dilma ganhou de goleada na região por onde a obra passaria - em algumas cidades teve 92% dos votos. Passaria porque, apesar dos bilhões gastos, os canteiros estão abandonados e o pouco que foi realizado está sendo destruído pela falta de conservação. Enquanto isso, estados como a Bahia estão sofrendo com a maior seca dos últimos 30 anos. E, em vez de incentivar a agricultura seca, a formação de cooperativas, a construção de estradas vicinais e os projetos de conservação da água desenvolvidos por diversas entidades, a presidente optou por derramar bilhões de reais nos cofres das grandes empreiteiras.
A falta de uma boa equipe ministerial, a ausência de projetos e o descompromisso com o futuro do país são evidentes. O pouco - muito pouco - que funciona na máquina estatal é produto de mudanças que tiveram início no final do século XX. A ausência de novas iniciativas é patente. Sem condições de pensar o novo, resta ao governo maldizer os países que estão dando certo em vez de aprender as razões do êxito, reforçando um certo amargor nacional com o sucesso alheio. No passado a culpa era imputada aos Estados Unidos; hoje este papel está reservado à China.
Como em um conto de fadas, a presidente acredita que tudo terá um final feliz. Mas, até agora, o lobo mau está reinando absoluto na floresta. Basta observar os péssimos resultados econômicos do ano passado quando o Brasil foi o país que menos cresceu na América do Sul. E a comparação é com o Paraguai e o Equador e não com a Índia e a China.
Não é descabido imaginar que a presidente foi contaminada pelo "virus brasilienses". Esta "espécie", que prolifera com muita facilidade em Brasília, tem uma variante mais perigosa, o "petismus". A vacina é a democracia combinada com outra forma de governar, buscando a competência, os melhores quadros e alianças programáticas. Mas em um país marcado pela subserviência, a incompetência governamental se transformou em elogio.
# por Anônimo - 27 de março de 2012 às 14:38
Parabéns pelo texto professor.
Gostaria que o senhor me respondesse, como faz pra aguentar aquele "mala"no jornal da cultura que não deixa o senhor falar as verdades do nosso Brasil. Sobre a seca do nordeste e as obras do São Francisco, por exemplo.Será que ele pensa que todos brasileiros são idiotas?
# por Jhonatan Almada - 27 de março de 2012 às 14:49
Incisivo e ousado. Pessoalmente, eu esperava mais de Dilma. Vamos acompanhar se essa mudança no relacionamento com a base gere algo mais do que noticiários. Uma coisa fica claro, a competência marketeira de sua equipe de campanha. A experiência governamental observada em nada lembra a imagem construída nas eleições.
# por Anônimo - 27 de março de 2012 às 14:57
Tambem sou professor e tenho recomendado seus textos para meus colegas e alunos. Precisamos mobilizar as pessoas em uma corrente de cidadania, senão ficaremos apenas assistindo nossa gente cada vez mais ignorante e preocupada em consumir ser enganada.
O texto é de uma precisão incontestável, mas é necessario que seja publicado em algum jornal de grande circulação nacional, encaminhe-o para a folha ou estadao.
# por Anônimo - 27 de março de 2012 às 14:58
Muito Oportuno este texto. Parabens.
# por Anônimo - 27 de março de 2012 às 15:34
Ao anônimo - 14:57
Está no Globo de hoje, professor. Quando abro um jornal assim de grande circulação e encontro textos do Prof. Villa, fico feliz por saber que o alcance vai ser grande. Admiro muito a coragem dele, é de gente assim que o Brasil precisa.
Fernanda
# por Regina Brasilia - 27 de março de 2012 às 16:18
Nestepaiz demencial que se erigiu no lugar do Brasil, a incompetência também 'perdeu a modéstia'!!!
# por Dawran Numida - 27 de março de 2012 às 16:19
O petroleiro Almirante João Cândido na realidade era uma carcaça, apresentada com pompas, como exemplo da redenção da indústria naval brasileira, sucateada ainda durante os anos 70 e 80 e não nos anos 90.
Além de carcaça, teve de ser, depois da inauguração encostada para reparos, só que tais reparos só poderiam ser realizados no exterior.
A base aliada, já era conhecida da então ministra que foi, desde 2003, da Minas e Energia e depois na Casa Civil, onde tratava com todos como coordenadora do governo. Difícil crer em surpresas, sejam elas quais foram e se realmente existiram.
Assim, está-se assistindo o governo acuado pela própria base no Parlamento e a economia exibindo falta de diretriz e dando sinais insatisfatórios, com inflação acima do PIB e problemas na indústria e nas contas correntes internacionais.
E o mais incrível é ler e ouvir elogios para uma política sagaz e liderança inflexível e uma economia conduzida de forma estável e em crescimento.
Devem estar falando de outro planeta.
Pode até ser que não aconteça nada e fique esse banho maria até o fim. Mas os elogios ao governo estão por demais exagerados.
# por Anônimo - 27 de março de 2012 às 16:54
Não concordo com uma série de, quiçá todos os, pontos. Sem pormenores, o Brasil do dia 27 de março de 2012 não representa um avanço frente ao que era no "final do século XX"? Por mais quanto tempo negarão aos 10 últimos anos de políticas públicas o efeito sobre o atual estado brasileiro? Parece-me ingratidão.
# por Eustaquio Barbosa - 27 de março de 2012 às 16:59
Excelente texto, Professor. Vou seguir seu blog e convido-o a visitar e se quiser postar também em cosanostra5.blogspot.com
# por Anônimo - 27 de março de 2012 às 20:28
O PT já percebeu que pega mal falar de "controle social da mídia". Agora, o que reivindicam os petistas é a "democratização dos meios de comunicação". Claro, o termo "controle" tem uma desagradável conotação autoritária. É melhor defender a mesma ideia usando uma expressão mais simpática, sedutora. Afinal, não se pode ser contra a "democratização", seja lá do que for. Portanto, sai "controle", entra "democratização". Por exemplo, o presidente nacional do PT, Ruy Falcão, em entrevista à imprensa dias atrás, anunciou a realização, no âmbito dos debates sobre o marco regulatório da comunicação eletrônica, um seminário que deverá reunir em São Paulo "todas as entidades, organismos e parlamentares interessados na democratização dos meios de comunicação". Da comunicação eletrônica? Não, dos meios de comunicação.
O esperto floreio de linguagem apenas camufla a irreprimível vocação autoritária do PT, que na verdade não admite uma imprensa livre criticando seus programas e seu governo e por isso quer "democratizar" os veículos de comunicação.
# por Anônimo - 27 de março de 2012 às 20:51
Com essa política irresponsável, os governos do PT, além de nada investirem em infraestrutura, literalmente permitiram a deterioração de tudo o que já tínhamos construído.
# por Anônimo - 28 de março de 2012 às 09:47
Nenhuma reforma. Obras de infraestruturas paradas. Industria naval que não navega mas come verbas públicas. Estradas sem manutenção. Industrias sem condições de comcorrerem no mundo. Perigo de recessão com inflação.
Tai a herança petista.
# por Anônimo - 28 de março de 2012 às 18:23
Dilma cortou neste mês de fevereiro, 5,03 bilhões de reais de investimentos na área de
Educação e Saúde no Brasil só para emprestar "a fundo perdido"
1,37 bilhões de dólares para os Comunistas de CUBA, ou seja, 1,37 bilhões de dólares que saíram do meu bolso, do seu bolso, do bolso de cada um de nós. É por decisões como essas que o governo diz não tem dinheiro para pagar salários condignos aos policiais.
Que se danem os Médicos, os Hospitais, os Professores, os policiais, as Escolas,
os Aposentados, as crianças, enfim: O POVO. Bem, o Povo é apenas um detalhe; primeiro ela vai atender os Comunistas.
"O pior de tudo é que ainda existem pessoas que ainda não conseguem enxergar as intenções ideológicas da DILMA."
# por Rose - 29 de março de 2012 às 00:32
Qual petista não é só carcaça?
Todos se projetaram com um amplo trabalho de lideranças populares que apostaram em alguns personagens e criaram imagens que não resistem a um olhar mais profundo. Se lula (o pai da mediocridade) e Dilma ainda enganam a opinião pública é por total responsabilidade da midia que aceitou ser pautada pelo governo petista e ignora ou destrata os poucos opositores que ainda tem voz.
Gostaria de entender por qual motivo esse tipo de informação não pode chegar ao conhecimento do povão via TV. Intere$$e ou preconceito?
# por Anônimo - 29 de março de 2012 às 10:51
Prezado Professor Marco Antonio Villa
Hoje.29/03/2012,foi publicado na FSP mais uma asnice em gestação.
O Min.Pimental sugerindo que empresários brasileiros comprem uma montadora para que tenhamos um "veiculo verdadeiramente nacional".
Segundo a reportagem isto é um sonho dele,ou seja,mais um provável pesadelo nosso.
Em plena globalização,século XXI,onde é impossivel saber onde algo é produzido e montado,um Ministro de Estado,justamente o do"Desenvolvimento"apresenta esta"brilhante"idéia.
Tomara que este governo realmente não trabalhe pois assim farão menos besteiras.
Aforismo do dia:"Não existe nada mais perigoso do que incompetentes com iniciativa"
# por Anônimo - 29 de março de 2012 às 19:14
O mal da intelectualidade, destarte a acuidade em perceber erros, é não conseguir levar adiante uma ação pragmática de mudança.
Sai uma gritaria contra a mudança do Código Florestal, mas tenho a certeza que nenhum destes que gritam e assinam abaixo assinados, jamais plantou uma árvore, pegou em uma enxada sequer para plantar uma cebolinha....
Enquanto se condena a derrubada de uma árvore centenária, este pessoal esquece que um pé de Ipê gera milhares de sementes viáveis, que toda laranja traz sementes que vão pegar fácilmente em qualquer terreno baldio...
mas eles com certeza já tiveram uma semente de abacate em um copo na janela da cozinha...
Roberto KeppleR
# por j.a.mellow - 30 de março de 2012 às 22:14
Está seca já é a maior que há mais de 30 anos, e se isso acontecesse nos anos 50 ou 40 já teriamos o maior êxodo de todos os tempos, só não ocorrendo isso agora em função de três coisinhas simples: as politicas de transferencia de renda, a estabilidade economica depois do plano real e o pagamento das aposentadorias rurais.
Não digo isso como um elogio a esses fatores, mas apenas para me referir a outras duas coisas: que ao invés de tudo aquilo, o que deveria ter sido feito seria um processo de industrialização no Nordeste fixando o homem no seu local não como um indigente, mas como participante do processo economico e outro, a continuidade do processo nefasto com a Transposição, que nada mais é que um carro Pipa gigante eleitoreiro.
blogdojamellow.blogspot.com
# por Anônimo - 3 de abril de 2012 às 13:57
professor, obrigado por ter escrito esse texto, muito verdadeiro e direto ao ponto. A incapacidade, as mentiras, o falso contentamento desse governo me deixam enojado.
Ate quando o povo vai se contentar somente com o vale-coxinha eleitoreiro dado todo mes?
Nao dar educacao para o pais eh uma sabia jogada dos governos.