Adriano, a Geni da vez.

A rescisão do contrato do jogador Adriano possibilita refletir um pouco sobre o Brasil. Evidentemente que é um fato restrito, do mundo do futebol, mas pode servir exemplarmente para definir uma forma de comportamento rotineira no Brasil.   Como é sabido, o jogador (como tantos outros) tem uma origem pobre. Nasceu e cresceu na Vila Cruzeiro, região, até recentemente, dominada pelo tráfico de drogas (foi lá que foi assassinado o jornalista Tim Lopes). Nas inúmeras crises que envolveram Adriano e seus clubes (Inter de Milão, Roma, Flamengo ou Corinthians - jogou também no Parma e São Paulo), ele sempre voltou para lá, como se fosse uma espécie de refúgio frente ao mundo que o rejeita. De um lado é saudável que ele não renegue suas origens (como tantos outros fizeram), por outro, o retorno representa uma enorme dificuldade de relacionar com o mundo do "andar de cima".
Adriano não é pop, muito pelo contrário. Representa o outro lado do futebol, o fracasso. Caso não tenha um tratamento adequado (é evidente que tem graves problemas emocionais), vai acabar na marginalidade, perdendo tudo o que adquiriu com os milhões recebidos nos clubes pelos quais passou. E ele caminha celeremente para o ocaso. A cada fracasso - e nada indica que isto não vá ocorrer - , a sua doença vai se agravar.
Na sociedade do êxito e do sucesso, não há lugar para "fracassados". E Adriano é um deles. Vai ser atacado e ridicularizado. É o "momento Geni". E o mais triste é que ele não passa de um meninão, de um adolescente, sem regras e achando que não há limites, que pode fazer de tudo. Alguém já viu ele cometer algum ato de violência? Não há. Nem na vida pessoal, nem nas chamadas quatro linhas. Envolveu-se em confusões com mulheres, é verdade. Mas algumas delas o acusaram de violência? Nenhuma. Na última confusão, uma delas tentou tirar uma casquinha, ganhar algum dinheiro a mais, dizendo que ele tinha atirado acidentalmente na sua mão, o que não era verdade, como ficou provado (e a própria acusadora teve de negar).
Mas a crueldade das pessoas aumenta quando encontra um indefeso. Quem não quer chutar cachorro morto? Agora, alguém criticou o ex-presidente do Corinthians pela contratação de Adriano? Ele não sabia do histórico do jogador? E Ronaldo, que intermediou - através da sua empresa - a vinda do jogador, não merece crítica?  Fez todo o trabalho gratuitamente? .
Logo Adriano vai estar sozinho, com pouco dinheiro e sem ninguém. Melhor dizendo, vai restar seus amigos de infância, lá da Vila Cruzeiro.  

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    # por Reinaldo Bedim - 13 de março de 2012 às 11:10

    Acho que é um sintoma sim. Um sintoma de como nossa sociedade tem dificuldade de atribuir o ônus das escolhas individuais nos ombros de quem as tomou. O raciocínio exposto é o mesmo de alguns comentarias: “é preciso tratar do homem”. Eu acredito que quem deve procurar tratamento é o Adriano, se ele quiser. A vida é dele. Ele escolheu todos os caminhos que traçou. Nunca ouvi falar que ele tenha praticado violência, também nunca ouvi que ele foi obrigado a fazer qualquer coisa.
    Ele não é indefeso, é uma pessoa qualquer que GOSTA da vida fora dos gramados, cercado de mulheres e bebidas. Quem pode culpá-lo? A verdade é que qualquer carreira exige sacrifícios pessoais, exige disciplina. O indivíduo tem que arcar com o peso das escolhas. Bebida, mulheres e baladas não são uma doença. Câncer é uma doença, as outras são opções legítimas, mas que produzem ônus que devem ser imputados sobre o Adriano. Não sobre a sociedade, não sobre o clube, não sobre o dinheiro, não sobre o governo, não sobre a vida. Somente sobre o Adriano, que é quem escolheu estar onde está.

    Reinaldo

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    # por Anônimo - 13 de março de 2012 às 11:23

    Adriano possui uma doença séria que em nosso país não pode ser considerada doença, pois os propagadores dela mandam no país chamada ALCOOLISMO, quando culturalmente essa doença for inserida em nossa sociedade poderemos um dia tratá-la.Possuo um caso na família que é tratado com descaso como em nossa cultura.
    Parabéns professor estamos sempre junto contigo na rede cultura as segundas.Ass Edgard

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    # por Lucas - 13 de março de 2012 às 14:09

    Como são-paulino que sou, só me resta dizer sobre o artigo:
    Brilhante, professor Villa. Brilhante!!!

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    # por JV - 13 de março de 2012 às 14:34

    Não foi o Adriano que mandou traficantes amarrarem a mulher numa árvore?

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    # por Anônimo - 13 de março de 2012 às 15:15

    Concordo com o anonimo 2. Alcolismo é a causa da desgraça de milhões de brasileiros. Também é a base e o caminho para drogas como cocaína e crake. Sem alcool não existe drogados.
    Concordo também que é uma doença e que deve ser tratada como tal.
    Mas como dizia meu avô: até meu cavalo sabia que ele ia ser um fiasco e que o ronaldo arrumou um micão para o corinthias.

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    # por Apenas uma garota latino americana... - 14 de março de 2012 às 11:29

    Olá Villa, achei seu texto muito interessante!
    Como torcedora do Flamengo,psicóloga, aspirante a psicanalista penso que talvez, o jogador Adriano possa se encontrar lá mesmo,no Rio.Entre os seus amigos, família, etc.
    Enquanto o alcoolismo ainda for considerado "pouca vergonha", resta pouco para nós profissionais da saúde fazermos.Mas tentamos, a luta se dá no dia a dia.
    Qual será mesmo a próxima Geni?Até quando o marketing, e a tv, principalmente uma emissora específica vão liderar nosso país?
    Te vejo na segunda-feira na cultura,
    Abraços,