Tigre de papel

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:



O PT NÃO gosta de ser atacado.

Na verdade, hostiliza quem o ataca. Tem enorme dificuldade de conviver com a crítica. Imagina ser o proprietário de um pensamento único, algo como o velho centralismo democrático leninista. Quem for contrário deve se calar. Seus dirigentes acabaram se acostumando com uma oposição pouco atuante. Que passou os últimos oito anos quase que em silêncio, temendo o debate, acreditando piamente nos índices de popularidade do presidente.

No início da campanha eleitoral o quadro se manteve inalterado. Lula foi desferindo na oposição golpes e mais golpes. Não encontrou respostas à altura. Dedicando-se plenamente à campanha -que é o que efetivamente gosta- fez política 24 horas por dia. Transformou o Palácio da Alvorada no comitê central da candidatura Dilma. Não temeu alguma reprimenda do TSE, pois sabe com quem está lidando. Abandonou a rotina administrativa e concentrou-se na campanha. Desferiu ataques aos adversários como se fosse um líder partidário e não um chefe
de Estado.

A oposição assistiu a tudo sem saber bem o que fazer. Temia enfrentar o rolo compressor do PT.

Quando, finalmente, resolveu partir para o embate, viu que o adversário era um tigre de papel. O eleitorado estava aguardando alguma reação. E o resultado de 3 de outubro não deixou dúvida: a maioria estava com a oposição, claro que em um universo dos mais diferentes matizes.

A derrota do primeiro turno transtornou os dirigentes do oficialismo. Consideravam a eleição ganha. Tinham até preparado a festa da vitória. Imputaram a culpa à oposição, que tinha denunciado escândalos, e mostrado as vacilações e contradições da candidata oficial. Era o mínimo que a oposição poderia fazer, mas para o PT foi considerado algo intolerável.

Agora chegamos à etapa final da campanha. Dilma jogou fora o figurino utilizado nos últimos meses. No debate da Band assumiu uma postura agressiva e que deve manter até o dia 31. A empáfia foi substituída pelas ameaças. O arsenal foi acrescido de armas já usadas em 2006, como a privatização. Sinal de desespero, pois o cenário é distinto e os personagens também. E deve fracassar.

Dilma está numa encruzilhada. A popularidade de Lula já foi transferida. Seus principais aliados regionais foram eleitos e dificilmente farão sua campanha com o mesmo empenho do primeiro turno. O PMDB não assimilou as derrotas do Rio Grande do Sul, da Bahia e, principalmente, de Minas Gerais. E, numa eleição solteira, o embate será de biografias.

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    # por Anônimo - 13 de outubro de 2010 às 08:52

    É fato: o PT não gosta de ser atacado, principalmente quando o adversário sabe atacar. E Serra tem se mostrado um grande estrategista. Soube aproveitar a polêmica em torno do aborto com um timing preciso. Pegou os petistas na veia, eles não têm como desmentir uma bandeira histórica do partido. Percebam que a campanha de Serra ainda nem usou as gravações da Dilma defendendo a legalização do aborto. Por enquanto, eles só abordam o assunto indiretamente, ressaltando o valor da vida e do nascimento. Estão guardando as gravações como a kriptonita final. O PT é os esquerdistas em geral são assim: sempre pressupõem a covardia dos adversários, na base do blefe.
    Fernando José - SP

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    # por Celinha Ribeiro - 13 de outubro de 2010 às 14:00

    Caro Villa, vc sintetizou como poucos esta fase da campanha eleitoral. Nunca acreditei que o jogo estaria perdido antes do apito final. É esperar pra ver se quem pensa como nós continuará acreditando na vitória e fazendo sua parte para informar os menos esclarecidos. Abraços.

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    # por Ana Lúcia K. - 13 de outubro de 2010 às 15:04

    Prezado Villa,
    O seu texto é preciso, exato, perfeito na exposição dos fatos do começo ao fim. Parabéns!
    Por aqui, já percebi que muita gente têm "mêdo" do Temer/pmdb e não gosta do Hélio Costa.
    Um grande abraço,Ana Lúcia.

    AGORA É SERRA - O PRESIDENTE DO BRASIL!

    FORA lulla! FORA dilma! FORA pt!

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    # por Anônimo - 13 de outubro de 2010 às 15:11

    Professor, sua análise foi perfeita quanto ao lulismo, mas discordo quanto ao fracasso da candidata petista. A transferência de votos é inegável; uma candidata sem nenhuma biografia no cenário político foi a mais votada no primeiro turno da corrida presidencial. A transferência foi tão bem sucedida que talvez até eu chegasse no segundo turno, caso candidato fosse. As eleições mostraram que o povo não quer saber quem o representa (digo dos votos em Dilma), mas sim de "comida na mesa". Enquanto o país continuar crescendo(mesmo que abaixo dos índices vizinhos)será difícil a legenda sair do poder. Esperemos uma crise internacional para testar sua força...
    O que eu ressalto nesta eleição é o sucesso da oposição nos governos estaduais. Mostra que ela não está morta como se imaginava e que o rolo compressor situacionista não foi capaz de quebrar as tradições regionais. Acredito que Dilma vence, mas o povo deu seu recado: o PT não é absoluto!Que a oposição entenda este recado e faça seu papel:seja oposição.

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    # por Paulo Briguet - 13 de outubro de 2010 às 16:38

    A pessoa em questão era relativamente desconhecida no país até o momento em que seu partido chegou ao poder. Para surpresa dos desavisados, foi escolhida para integrar a equipe ministerial, em um posto de grande importância. O responsável pela escolha foi o líder máximo, que conhecia as qualidades da pessoa.

    O passado da personagem era obscuro, mas incluía intensa atividade clandestina e uma lista de nomes falsos. Participara de assaltos (ou expropriações, como diziam os militantes) em nome da causa. Certas ações tinham caráter cinematográfico – e não faltaram mortes de inocentes. Viriam outras.

    Capturada pela polícia ditatorial, a pessoa em questão foi presa e passou um longo tempo cumprindo pena, em condições terríveis. A prisão e a resistência lhe conferiram certa notoriedade entre os meios revolucionários.

    Costumava ser amiga de seus amigos, mas horrivelmente cruel com os inimigos. Jamais esquecia uma ofensa. Cultivava rancores por vários anos, para dar o troco na hora certa. Nunca perdia uma oportunidade de vingança, ainda que precisasse esperar muito tempo.

    A exemplo de todos os companheiros revolucionários, não acreditava em Deus, mesmo tendo recebido uma formação cristã na infância. Direito à vida? Liberdade? Mercado? Oposição? Bobagens inventadas pelos inimigos do povo.

    Algum tempo depois que seu partido chegou ao poder, houve uma forte crise. O líder máximo conseguiu se safar. Mas o principal nome de sua equipe, tido como o mais implacável e habilidoso entre os companheiros, e apontado como provável sucessor do Chefe, não teve a mesma sorte. Quem o substituiu, para surpresa dos que acompanhavam de fora? A pessoa em questão.

    Especialista nos subterrâneos do Estado, a pessoa não hesitava em abandonar antigos aliados, e até mesmo o braço direito, se assim lhe fosse determinado pelas conveniências. Também se unia a antigos adversários, sem pudor.

    Soube bajular os superiores, quando necessário; mas era exímia em maltratar subordinados, com uma grosseria e violência inauditas até mesmo nos meios partidários. Para contrabalançar essa imagem agressiva, deixava-se fotografar com criancinhas. Até sorria aos fotógrafos.

    O nome da pessoa em questão era Josef Stálin.

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    # por Anônimo - 13 de outubro de 2010 às 18:49

    Por falar em Stalin vejam esse Video ; http://bit.ly/cDsRIU

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    # por Ana Estrela - 13 de outubro de 2010 às 22:42

    Marco Villa !!!

    Você tem se tornado um grande “mestre do cotidiano”, acompanhá-lo é ser desafiado a participar, a refletir, reagir e fazer valer o presente, o possível.
    Este texto de hoje, foi mais enfático, porém com a lucidez e força de todos neste ano eleitoral.
    Em relação a esta eleição, ainda sinto falta da oposição, do debate, das questões fundamentais sendo apresentadas e defendidas. Não concordo quando diz “que a oposição resolveu partir para o embate”, na verdade considero que foi surpreendida no embate. E ainda está tentando acertar sua posição, assumindo seu lugar na disputa. Agora o eleitor, este sim, mostrou-se “além das pesquisas”, tomou e assumiu seu lugar determinante. Este momento de fato é único para o futuro do Brasil...é a hora da verdade, do compromisso e da ousadia de ser mais... Desejo de coração que possamos aprender dia a dia a assumir nossa cidadania, em sua melhor e mais autentica expressão.

    Um abraço,

    Ana Estrela

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    # por Rolando - 15 de outubro de 2010 às 10:14

    Penso que o PMDB é o mais feliz com a ascensão de José Serra. Uma vez que o PT cresceu no Congresso, o PSDB para poder governar precisará irremediavelmente da turma do escambo político. O PMDB sabe que terá mais cartas na manga para negociar com Serra do que com Dilma.

    Outro fato que me preocupa é que o governo Lula, excetuando a última crise financeira global de 2008, pegou uma maré econômica muito boa. Hoje, no entanto, vemos o real sobrevalorizado. Está impossível manter essa taxa de câmbio, alguma medida será tomada. Penso que se Dilma fosse eleita, o próprio governo Lula a tomaria. Caso contrário, caberá a Serra. E não existe devaluação monetária sem ao menos fumaças de crise e desconfiança externa. Ou seja, o PT vai capitalizar essa possível crise acusando o PSDB de havê-la fabricado.

    Vejo que Lula está fazendo como FHC fez na época da reeleição de 98. Segurou o real sobrevalorizado o quanto pôde, para após a votação e festividades de fim de ano, soltá-lo como um bode na sala.

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    # por Anônimo - 15 de outubro de 2010 às 17:37

    Na realidade, agora, neste momento das eleições, os candidatos estão por si sós. A fase é de mostrar a que vieram. E nas comparações diretas, nos detalhes de cada ação é que estará a eleição definida. Como apontam, aliás, as tendências em várias regiões do País. Mesmo no NE, onde o presidente gaba-se de ter derrotado "inimigos", o candidato das oposições vem obtendo significativa intenção de votos. Ainda é uma eternidade até 31 de outubro. Contudo, percebe-se mais decisão nas oposições e rearticulações difusas do lado governista.