Apareceu a oposição
Mesmo assim foi o melhor debate da eleição. Os ataques de parte a parte são absolutamente naturais. Eleição precisa ter situação e oposição. É uma obviedade, porém, no Brasil, dado o domínio exercido pelo PT e especialmente pelo presidente Lula, criticar o governo foi considerado algo temerário, perigoso. Temerário devido à popularidade de Lula, que foi superestimada pelos institutos de pesquisa. Se é exequível supor que o presidente é popular, é inimaginável que somente 4% da população achem ruim ou sofrível o governo.
Perigoso pois a crítica foi considerada um comportamento inadequado e que desagradaria ao eleitor. Ledo engano, como vimos após a abertura das urnas.
Com a finalização da disputa para os governos estaduais, nos maiores colégios eleitorais, a eleição presidencial acabou ficando solteira, independentemente das divergências regionais.
E isto é bom, pois valoriza os programas dos presidenciáveis e permitirá uma escolha mais ponderada por parte dos eleitores. Presidente não será somente mais uma escolha na cédula eletrônica: é a única na maioria dos estados.
Dessa forma o pleito acabou adquirindo autonomia e permitindo um reposicionamento dos eleitores. Isto pode favorecer o candidato José Serra, pois diminui o rolo compressor imposto pelo governo federal nos estados mais dependentes da União. Além disso, dificilmente o PMDB de Minas Gerais, Bahia ou Rio Grande do Sul vai fazer uma campanha entusiástica em defesa de Dilma Rousseff. As marcas e as mágoas da derrota são recentes e a neutralidade pode ser uma resposta.
Afinal, no cotidiano da pequena política, o que conta mesmo são as divergências regionais.
Foi necessário um recado explícito dos eleitores - afinal, a maioria dos votos, na eleição presidencial, foi para a oposição - para que ficasse claro que há um considerável espaço para o crescimento de uma candidatura oposicionista. Uma coisa é a avaliação do presidente, outra é a candidatura Dilma. Não há uma relação de absoluta transferência de votos de Lula para a sua candidata.
E seria um caso raríssimo na política mundial: um presidente, mesmo que bem avaliado, eleger uma quase desconhecida no cenário nacional, com a maioria absoluta dos votos, em um só turno.
O discurso lulista foi tão eficaz que pareceu uma surpresa o resultado da eleição do último dia 3. Tudo dava a entender que haveria somente um ato formal, meramente homologatório, do que já se sabia: Dilma seria a presidente do Brasil com uma votação consagradora. Muitos analistas - basta reler os jornais da última semana anterior à eleição - não só apontavam a fácil vitória de Dilma como já discutiam a composição do Ministério.
Agora estamos em um novo momento.
A eleição está indefinida. Somente o receio da derrota pode explicar a virulência de Dilma, no último debate, e a guerra estabelecida na internet. A empáfia foi substituída pela ameaça. E nos próximos 19 dias a campanha vai aumentar a temperatura como nunca na história deste país.
Tudo indica que Lula - que abandonou as funções presidenciais no último mês - percorrerá os principais colégios eleitorais do país, até às vésperas da eleição, intimidando, amedrontando a oposição e desenhando um cenário catastrófico para o país, caso Serra vença. Em cada discurso vai preparar as "deixas" para Dilma. Ele fará o trabalho considerado sujo e ela será encarregada de dar os arremates. Tudo o que não deveria fazer um chefe de Estado. Mas faz muito tempo que ele abandonou suas funções constitucionais para ser simplesmente o maior dirigente da campanha de Dilma.
Uma pergunta que fica é se o encanto do povo brasileiro com Lula está dando os primeiros sinais de esgotamento.
Sem ir para outros terrenos, na política o encantamento também tem prazo de validade.
# por Anônimo - 12 de outubro de 2010 às 12:58
Sempre fui critica de Lula, nunca me pareceu que seria um bom presidente, assim como não foi. Entretanto, é inegável sua ascendencia sobre a sociedade e a midia. Mas creio que muita coisa mudou com a passagem para o 2 turno. Lula deixou de ser o todo poderoso, pois se o fosse teria ganho no primeiro turno, pois segundo ele mesmo Dilma é Lula, e Lula é Dilma. A desmistificação de Lula abriu espaço para uma critica ao seu governo engasgada por muito tempo. Corrupção, aparelhamento, incompetencia administraiva, saúde, educação segurança, etc... Eu diria que Lula como cabo eleitoral esta muito longe de ser garantia de vitória.
# por Anônimo - 12 de outubro de 2010 às 13:03
Como sempre lúcido e no ponto!
# por Telma Costa - 12 de outubro de 2010 às 13:14
Gostei da sua Villa. Arborizada, lúcida. Virei checa-la sempre, se me permite. Obrigada por compartilhar.
# por Anônimo - 12 de outubro de 2010 às 13:25
Nota 10.
# por Daniel de Mendonça - 12 de outubro de 2010 às 13:35
Caro colega, achei o seu artigo muito realista. Uma análise brilhante. Tomei a liberdade de publicá-lo no meu blog Política como Vocação. O endereço do mesmo é http://politicacomovocacao.blogspot.com/
Parabéns.
Abraços, Daniel de Mendonça (UFPel).
# por Ed Carlos Ferreira da Costa - 12 de outubro de 2010 às 16:36
Pois é, a vida é engraçada até ontem Lula era Deus, hoje já começasse a questiona-lo, se amanhã perde a eleição (convenhamos é ele que a disputa)muitos dos que hoje o idolatram lhe virarão as costas imediatamente.
Enquanto isso Serra que era desprezado pelos grandes do partido a exceção de Alckmin, magicamente se transformará em estadista, quero só ver quem vai ser o primeiro empresário a lhe tascar o título de estadista, aposto que será alguém que deve bilhões para o BNDES assim como o Eugênio Staub fez com o Lula.
Gostei do Serra no debate, claramente melhor que Dilma, sem contar que a propaganda na tv esta infinitamente melhor, antes a propaganda do Serra era quase que igual a do Alckmin, profundamente regionalizada e formal, agora noto um tom mais "brasileiro" na campanha.
Infelizmente a nota triste é em relação a questão do aborto, duvido que alguém aposta-se que esse seria um tema central na campanha e acabou virando, enquanto países muitíssimo mais católicos como Portugal resolveram esse problema o Brasil com essa campanha vai se atrasar uns quinze anos na questão.
# por Ana Estrela - 12 de outubro de 2010 às 17:49
Marco Villa !!!
Concordo estamos em novo momento da “campanha presidencial”, talvez sem “zerar” os cronômetros e com candidatos já “conhecidos”. Porém o momento dos demais “participantes”, propostas, compromissos, aliados, debates entre situação e oposição, real expressão de cada um neste pleito e para o eleitor, em especial, sim o momento mudou, realmente é tudo novo, com novas possibilidades.
Gostei muito de seu texto de hoje, os esclarecimentos, idéias, relatos dos fatos nos fazem refletir, fica alerta e desafia-nos a uma participação séria, efetiva e consciente. Você continua sendo um grande e responsável “professor” na prática realidade de todos nós. Muito agradecida.
# por Ana Lúcia K. - 12 de outubro de 2010 às 19:16
Prezado Villa,
Você acertou no alvo! A blindagem dos 80% de popularidade do lulla impediu que a oposição tivesse a coragem de dar voz aos 4%, que na realidade são muito mais! Foram pouquíssimos os que ousaram divergir e criticar essa unânimidade toda. Estas circunstâncias levaram o lulla e o pt a cair na armadilha dos institutos de pesquisa que "falaram" para elles aquilo que queriam ouvir - vitória! Os institutos, movido$ por muita esperteza, inflaram as expectativas para que a candidata ganhasse no 1ºturno e assumisse o cargo com muita autoridade (23%acima do Serra) perante o povo e os políticos. Ferraram-se!!!
Agora os ventos começam a mudar e tomar a direção certa. Vamos em frente! Vou continuar fazendo campanha até o fim.
AGORA É SERRA!!! SERRA PRESIDENTE DO BRASIL!!!
CHEGA DE CORRUPÇÃO! FORA lulla! FORA dilma! FORA pt!
# por barbarah.net - 12 de outubro de 2010 às 19:46
É impossível sinceridade absoluta em debates orientados por marqueteiros e pesquisas. Sem receio de errar, penso que a eleição está praticamente definida. Quem votou na oposição não votará no PT. Poucos mudarão de idéia. O PT sofreu um duro golpe e está atordoado.
Indo para um campo aprazível, os encantamentos infinitos existem. A vida não teria sentido sem eles.
Villa, um forte abraço, em um momento tão complicado.