O grande vencedor
Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:
A QUATRO dias da eleição, independentemente do resultado, o grande vencedor não foi candidato a nada. Ele conseguiu transformar uma desconhecida, sem voo político próprio, sem história no PT, em uma candidata competitiva. Os escândalos do primeiro governo, paradoxalmente, foram fundamentais para fortalecer seu poder sobre o partido. Livrou-se dos rivais. E o PT tem um só dono: Lula.
Foi gradualmente isolando os fundadores do partido. Antigos políticos do pré-64, egressos da luta armada e novas lideranças surgidas na resistência democrática, hoje giram em torno dele. Nada fazem sem a sua anuência. Aguardam que a "estrela de Belém" aponte o caminho. É o velho caudilhismo latinoamericano, messiânico e tosco.
Lula marcou sua vida sindical pela despolitização. Foi o que atraiu a atenção dos ideólogos do regime militar, como Golbery do Couto e Silva, que o recebeu várias vezes. Era uma espécie de muro de contenção contra os comunistas e o populismo representado por Brizola, os únicos adversários considerados pela ditadura.
O presidente sempre desprezou a discussão política, de princípios, de programas. Política foi, para ele, algo enfadonho, sem interesse, um debate sobre o nada. Quando obteve o domínio absoluto do PT, após a crise do mensalão, finalmente pode fazer o que sempre desejou, sem ter de prestar contas às instâncias partidárias. Além do que, tinha nas mãos o "Diário Oficial", que, no Brasil, funciona como um poderoso argumento.
Surfou no segundo mandato sem ter qualquer oposição. A confortável maioria no Congresso impediu CPIs e somente perdeu, no Senado, a votação da CPMF. De resto, fez o que bem quis. Deu rédea solta aos oligarcas, entregou fatias do governo e das empresas estatais para que saciassem a sua fome. E estabeleceu sólida aliança com o grande capital especulativo, a nova burguesia lulista, burguesia do capital alheio, dos fundos de pensão e do BNDES.
A aliança conservadora que passou a sustentar o governo é a garantia para o seu projeto continuista. Projeto pessoal. O partido pouco importa. Desde 2008, quando impôs a "mãe do PAC" como candidata, começou a planejar a sua campanha de 2014. Assim como Luís Bonaparte, "produz uma verdadeira anarquia em nome da ordem, ao mesmo tempo que despoja de seu halo toda a máquina do Estado, profana-a e torna-a ao mesmo tempo desprezível e ridícula". E se Getúlio voltou nos braços do povo, em 1950; Lula deseja regressar ao poder, daqui a quatro anos, nos braços dos velhos oligarcas e do capital financeiro.
# por Fátima - 27 de outubro de 2010 às 08:48
Conclusão: Mais de 100 anos de República e tudo continua igual.
O populismo mais reles faz sucesso em pleno sec. XXI.
Esse apego do povo a determinadas personalidades públicas é explicado com mais clareza pela teoria histórica ou é um caso de psicanálise mesmo?
# por Rolando - 27 de outubro de 2010 às 09:44
Caro Professor,
com Dilma presidente, desconfio que possa haver uma guerra fraticidade dentro do PT. Lula seguirá sendo o articulador por trás de Dilma, tal qual um Putin? Por acaso a cúpula do PT não tentará tomar as rédeas do governo? José Dirceu já afirmou que a eleição de Dilma será mais importante para o partido do que o fora a de Lula.
E o PMDB? Se o governo for impopular, até quando esse partido fisiológico dará sustentação para a governabilidade petista?
Ainda é difícil prever. Mas eu creio que a cúpula do PT tentará descartar Lula o quanto antes. Assim como ele fez à época do mensalão e que deu certo. Dilma não leva jeito de ser tão súdita assim dele. Porém, ela também não tem força política, não é lider e tampouco traquejo para lidar com cargo tão complexo em que se exige muita negociação.
Além de tempos sombrios, eu antevejo um caos político e, quiçá, institucional. Talvez seja a chance de Aécio Neves, uma espécie de Lula tucano, focando apenas em seu projeto pessoal e querendo ser maior que o partido.
# por barbarah.net - 27 de outubro de 2010 às 10:18
Texto de conhecimento, lucidez e estilo. Dói. Em todos os sentidos. Penso em Graciliano Ramos. Penso no Brasil. Penso em você.
# por Tiago Buckowsky Xavier - 27 de outubro de 2010 às 10:24
Bela análise que fez sobre a atuação do presidente nestas eleições ! Lula sabe usar sua popularidade como poucos !
# por Colocando na balança - 27 de outubro de 2010 às 10:45
Um texto rancoroso e tendencioso. Simplista, grosseiro. Inaceitável que venha de um um professor doutor em História.
# por Anônimo - 27 de outubro de 2010 às 10:57
Mário de Andrade conhecia a alma do brasileiro!
Somos um anjuntamento de macunaímas, nem mesmo uma nação
chegamos a ser. É uma lastima.
# por lugudeno - 27 de outubro de 2010 às 11:09
"Estamos no meio do caminho na estrada entre um regime totalitário e a democracia e liberdade. A batalha continua. Ainda há muita gente em nossa sociedade que teme a democracia e preferiria um regime totalitário."
Palavras de Gorbachev sobre o Rússia de hoje, onde um ex-presidente faz tudo para se manter no poder.
Semelhanças?
# por barbarah.net - 27 de outubro de 2010 às 11:25
Fátima
Cada classe social tem sua patologia.
Marcel Proust
# por Anônimo - 27 de outubro de 2010 às 12:58
Quem não é de cultura ou de "mancômetro" sabe que com todas as benesses e "bota aqui a sua mão$$$$" o país vai continuar nas mãos do Lula, Ptistas, Dirceu e PMDB. Muitos acreditaram no "bonzinho Lula", e os enxames de crimes se avolumaram e continuarão, alicerçados agora pelas "Cartilhas" discricionárias na manutenção do poder a todo custo. Falar, escrever ou blogar já está nos seus primeiros engatinhamentos. Lamentável como somos acoverdados, vendáveis, entregamos mente e corpo aos mundanos e nos sufocamos como cobaias. Pobre Brasil!
# por Anônimo - 27 de outubro de 2010 às 14:45
É caso de voto, Fátima. E há chances reais de desarticular pelo voto a continuidade desse modelo esquisito de governar e tentar perpetuar-se. Não vamos ter um povo novo a cada eleição. Teremos de resolver, agora, com o mesmo povo e com o mesmo e antigo antídoto: o voto. Quanto mais, melhor. Seja em Minas, seja em São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Bahia e todos em todos os Estados da Federação. Eles ´que deitem no divã depois da derrota.
# por fátima - 27 de outubro de 2010 às 16:20
Respondendo ao anônimo.
Nem povo novo, nem políticos novos e, pior, idéias velhas.
O que me perturba é justamente a continuidade da mediocridade.
# por Anônimo - 27 de outubro de 2010 às 17:17
Bom, o professor conseguiu o principal: chamar a atenção para um fenômeno político que, pelas origens do partido e dos seus fundadores, dever-se-ia manter uma "pureza" ideológica ou programática sem concessões alguma e para nenhum outro adversário (principalmente os que mais espoliaram este país...)! Citou um provável consenso militar que ratificou Lula como mais inofensivo que os camaradas do partidão, inclusive compara Dilma a Napoleão, no que tange à chegada meteórica, sem "lastro político".
A única coisa que concordo com o professor: a esquerda mais ilustre e brilhante, a intelectualizada e marxista de fato, realmente Não particpou integralmente da formação e do processo de formação do PT. Esta assepsia de origem está hoje refletida, como ele assim crê, num presidente sem consistência ideológica marxista real(de raiz!)... Ora, subestima demais não apenas TODOS os demais brasileiros, eleitores e simpatizantes deste partido, como TODOS os cidadãos que indireta, anonimamente e NÃO sem pouca luta "carregaram" nas costas, este presidente até onde se encontra: inclusive, uma grande parcela de professores universitários, de história e sociologia, infelizmente, como assim pensa o autor, são todos uma maioria cega, obtusa, burguesa, fanática e burra?!
# por Unknown - 27 de outubro de 2010 às 17:29
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/
# por barbarah.net - 27 de outubro de 2010 às 19:32
Serra fala em empate técnico.
# por Anônimo - 28 de outubro de 2010 às 10:52
Queria saber do professor Villa qual a sensação de assinar um manifesto de "artistas e intelectuais" pró-Serra, junto a outros expoentes da área, como Rick & Renner, Paulinho Vilhena, Sandy...
# por Anônimo - 28 de outubro de 2010 às 14:07
#11 por fátima - 27 de outubro de 2010 16:20. Fátima, essa sensação que você cita acontece a cada grande evento nacional, como são as eleições. Mas é um sentimento que deve ser, permita-me, exorcizado. Caso contrário, veremos coisas como o que o comentarista #15 por Anônimo - 28 de outubro de 2010 10:52 escreve. Pura censura e absolutamente parcial. Só valem apoios, quaisquer apoios, para a candidata governista. Caso ele pretenda ameaçar ou provocar medo, está totalmente enganado. O único medo que ele causa é quando ele se olha no espelho.
# por Ismaju - 28 de outubro de 2010 às 15:58
Anônimo 15: Pergunte a dona Dilma que teve a assinatura da Leci Brandão e outras "bêncçãos" do cenário artístico nacional.
# por Anônimo - 28 de outubro de 2010 às 18:56
E também do
chico buarque , leonardo boff , marilena chaui , oscar niemeyer , e tantos outros .
# por Anônimo - 28 de outubro de 2010 às 20:08
#18 por Anônimo - 28 de outubro de 2010 18:56. E todos aplaudiram freneticamente e em pé, a nova luz a eles imposta, quando ela discursou acusando as oposições de quererem entregar o pré-sal e a Petrobras. Só esqueceu da luz do Sol e dos reflexos da Lua. Mas caso ela lembrasse, seria aplaudida mais freneticamente ainda. E querem que Tiririca faça teste de escrita e leitura.