"Num país sério, seria um escândalo"
Esta entrevista foi publicada hoje em "O Globo":
O GLOBO: O senhor acha que houve uso da máquina?
MARCO ANTONIO VILLA: Estatal? Sem dúvida. Como nunca. Nunca na História deste país, como disse certa pessoa, a máquina estatal foi tão utilizada. Inclusive abandonando a agenda de trabalho. Nas últimas sextas-feiras, ele (o presidente Lula) abandonou a agenda e as funções administrativas. Colocou-se em campanha de uma forma... Uma coisa é apoiar um candidato. É legítimo. Outra coisa é pôr a máquina estatal, ministérios, secretários, os 25 mil cargos de nomeação direta ou indireta a serviço da candidata oficial. Até as universidades públicas. Há dias, o reitor da UFRJ deu declaração favorável (a Dilma). Não é um país sério, é um país de Macunaímas. Se fosse um país sério, seria um escândalo. Não é por que a lei é omissa que você vai ter uma atuação política que fira a ética.
Mas nunca usaram a máquina antes?
VILLA: Desta forma, não. Mas não inauguraram o uso da máquina. Ele existe desde 1945. Mas nessas proporções, com o presidente fazendo discurso e dizendo que quer exterminar o adversário, eu nunca vi. O presidente se preocupa com a eleição de um adversário no Amazonas, no Piauí, no Ceará. Você transforma a grande política em questão pessoal. Não é por não gostar de um senador que vou dedicar parte de minha agenda a derrotá-lo, como no caso de Arthur Virgílio (PSDB-AM) ou Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Foi o presidente quem derrotou esses senadores?
VILLA: Ele fez um esforço. No Ceará, foi claro. A questão que se coloca é um presidente sair pelo país fazendo campanha, usar a máquina dessa maneira. Ele prometeu fazer campanha depois do expediente e não cumpriu. O deslocamento (de Lula), quem paga?
O presidente deveria ter se licenciado?
VILLA: Essa é uma questão que Covas (Mario, governador de SP, morto em 2001) colocou na eleição de 1998. Temos de rever a lei. Sou favorável à reeleição. O eleitor, se gostou, tem o direito de reeleger. Mas a lei precisa ser aperfeiçoada. É injusta. Você pode ser candidato no cargo e seu adversário não pode. No caso da Presidência, se o adversário é um governador, precisa se desincompatibilizar. A lei precisa de aperfeiçoamento urgente.
Por que não a alteram?
VILLA: Porque depende do Congresso e há temas que não entram em pauta. Mas o Executivo, se quiser, faz. O Executivo aprova o que quer. Dilma, por exemplo, se for eleita, terá mais de três quintos da Câmara e do Senado. Portanto, tem quórum para aprovar o que quiser.
E isso o assusta?
VILLA: Claro. Eu vivi durante o regime militar, fui indiciado na Lei de Segurança Nacional, sei que não é muito agradável.
O senhor comparou esta eleição ao futebol de várzea?
VILLA: Tivemos um debate político rasteiro, decepcionante.
Os boatos contribuíram?
VILLA: Acho que não. De um lado, houve receio de se politizar as eleições. Há a ideia de se criar gerentes. Isso vem dos anos 1950. Adhemar de Barros batia nessa tecla: São Paulo precisa de gerente. O que falta é discutir política. Discute-se gerência quando o país é muito atrasado.
O uso da máquina colaborou com essa despolitização?
VILLA: Sim. Porque você coage os eleitores, impõe aos governadores apoiar a chapa oficial. Nós pensávamos que, com a urbanização do país, com a industrialização, os oligarcas seriam página virada. Ledo engano, doce ilusão. Nunca os oligarcas foram tão fortes como hoje. Identificase a política em alguns estados pelo nome de pessoas. Jader Barbalho, no Pará, Fernando Collor e Renan Calheiros, em Alagoas. A família Sarney, com dois representantes no Congresso, e um no Executivo estadual.
O senhor acha ainda pode haver uma virada na eleição?
VILLA: Tudo é possível. É como no futebol: só termina quando o juiz apita.
Em que José Serra errou?
VILLA: Ser candidato da oposição é muito difícil no Brasil.
Sim, mas isso não é erro.
VILLA: Houve um problema para estabelecer o arco de alianças. E houve muitos erros: o primeiro foi que (Serra) demorou para sair candidato. Dois: o partido não estava unido em torno da candidatura. Três: ao demorar muito, não conseguiu fazer alianças amplas nos estados.
A escolha do vice foi um problema?
VILLA: Sim. Demorou muito a sair a candidatura, porque você cria uma agenda negativa em torno do que é positivo. Esses fatores criaram um problema para estruturar o programa.
E Dilma, em que ela errou?
VILLA: Primeiro ela tem de levantar os braços para o céu por ter sido candidata. Ela é a candidata do bolso do colete do presidente, porque ele é candidato em 2014. Para ele, foi ótima a crise do mensalão, porque fez com que se livrasse dos rivais na direção do PT. Ele virou dono inconteste do partido. Ninguém mais se põe a ele. (Lula) estabeleceu as alianças que quis, e impôs pela goela abaixo do partido, sem ter oposição, a candidata Dilma. É o proprietário do PT, só falta registrar no cartório.
O uso da máquina terá peso em eventual vitória de Dilma?
VILLA: O uso da máquina é fundamental para uma vitória da Dilma. Agora, precisa ver como será a presidente Dilma. É um ponto de interrogação. O PMDB terá parcela considerável no governo, muito maior que hoje.
O governo de São Paulo também usou a máquina?
VILLA: Acho que depois do que eu vi na esfera federal... Falar que teve uso da máquina em São Paulo, acho que nem o Mercadante (candidato do PT ao governo) disse. Eventualmente pode ter tido uso em discursos.
# por Anônimo - 31 de outubro de 2010 às 17:28
Muito bem analisado,professor Villa. O que me intriga é que tudo o que eu leio são acusações sobre os crimes do cabo eleitoral-presidente Lula e seu partido - parece que somente a mim chegam essas informações!?!
Como chegarão essas análises a quem mais precisa?
# por Ed Carlos Ferreira - 31 de outubro de 2010 às 18:28
Caro Villa;
No geral concordo contigo, porém temos que admitir que Marina não tinha um palanque que prestasse, tempo de tv era exíguo e um candidato a vice que nem político é, no entanto, conseguiu 20% dos votos.
O "problema" são os 83% de popularidade do Lula e a desavergonhada campanha feita para Dilma, ai é que esta o cerne da coisa.
# por Anônimo - 31 de outubro de 2010 às 19:25
Ana Lúcia K
Só uma coisa a dizer : é DILMA !!!!!!
O Povo mostrou o que era melhor para o Brasil !
Apesar dos fascistas brasileiros , o povo venceu !
E vamos com Dilma para um Brasil melhor !
Chora PIG , Villa , e Ana Lúcia K .
# por Heitor Marson - 31 de outubro de 2010 às 20:33
A ética foi, claramente, deixada em segundo plano pelos brasileiros!
O retorno da equipe mensaleira foi ignorada pelos eleitores!
A manobra messiânica de bolsas-migalhas e a criação do "paizinho" do Nordeste tomou conta da ideologia do povo(este, que por muitos pensadores, tem que ser domado, pois não tem capacidade de pensar!).
E surpreende estados como São Paulo e Minas Gerais, o primeiro onde mostrou-se uma divisão de opiniões; e o segundo, que elege um governador e um senador tucano, mas elege a Guerrilheira como Presidente!
4 anos nebulosos e incertos pela frente! Onde tudo será esquematizado para o retorno religioso do novo santo brasileiro: o Santo dos pobres, oprimidos. O Santo que protege o Brasil dos burgueses e do Diabo Americano.
# por Anônimo - 31 de outubro de 2010 às 22:23
Democracia é pra países com maturidade política! Não é o caso do Brasil!
# por Anônimo - 31 de outubro de 2010 às 23:19
No post do dia 28/10/2010 , a batalha das pesquisas , o senhor disse que duvidava que a diferença seria de 12 pontos .
Pois essa foi exatamente a diferença !
E independente das convicções políticas é inegável a importância de eleger uma mulher como presidente do Brasil .
Agora , é esperar um bom governo , e que continue com as boas coisas feitas por Lula , e que tente corrigir os erros .
Abraços .
# por barbarah.net - 31 de outubro de 2010 às 23:36
"Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro."
Carl Gustav Jung
# por Ana Lúcia K. - 1 de novembro de 2010 às 00:28
Ao anônimo das 19:25,
HOJE, MUITO MAIS DO QUE ANTES, SOU E SEREI SEMPRE OPOSIÇÃO A ESTE GOVERNINHO FRAUDULENTO, DE MENTIRAS GLORIOSAS, DE CORRUPÇÃO DESLAVADA, DE FALTA DE VERGONHA NA CARA! GOVERNO DE UMA FACÇÃO CRIMINOSA, QUE NÃO RESPEITA AS LEIS, SEM ÉTICA E FORMADO POR UMA GANGUE DE CORRUptOS!
Os números mostraram claramente que a sua candidata foi eleita por aqueles que dependem dos programas assistencialistas, e nem sabem o que é democracia porque lhes falta instrução, como tb por aqueles que "toparam tudo por dinheiro!"
AS MINHAS CONVICÇÕES, A MINHA IDEOLOGIA, OS MEUS PRINCÍPIOS NÃO ESTÃO À VENDA! SOU UMA CIDADÃ QUE RESPEITA A DEMOCRACIA, QUE RESPEITO O MEU PAÍS E QUE RESPEITA,INCLUSIVE, O SEU DIREITO DE TER O GOVERNO QUE VOCÊ MERECE!
FORA dilma!!! FORA lulla!!! FORA pt!!!
# por Anônimo - 1 de novembro de 2010 às 01:42
Prezado Marco Antonio Villa
Sobre sua entrevista, publicada no Globo de 31/10/2010, observa-se que o tópico referente ao uso da máquina em campanha tem sido geralmente comentado com análise sob o enfoque do ponto de vista eleitoral.
A Lei eleitoral (Lei 9504/97) prevê punição apenas com multas.
Se for usada apenas esta lei, isso continuará fazendo com que os infratores usem o deboche para se referirem às penalidades (multas) e mantenham os mesmos procedimentos.
O uso do Palácio da Alvorada, por Lula, para reunião, em 5/10/2010, com governadores e parlamentares eleitos da base aliada, para tratarem da campanha de Dilma, foi um ato que caracterizou também uma situação de improbidade administrativa, aspecto que tem sido deixado de lado nas mais diversas análises.
Se se fosse aplicar a lei que trata especificamente desse tipo de uso da máquina pública, o caso (e vários outros) poderia ser enquadrado nos arts. 10, inciso II, e 11, inciso I, da Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8429/92), cujas penalidades, dentre outras, a serem aplicadas a todos os envolvidos, são: perda da função pública e suspensão dos direitos políticos.
Ou seja, se for considerado efetivamente o aspecto da improbidade administrativa, para punir todos os envolvidos, isso faria com que eles perdessem seus mandatos (perda da função pública e suspensão dos direitos políticos).
Com a aplicação efetiva dessa lei, aqueles sorrisos, esboçados nas fotos, pelos participantes da citada reunião no Palácio Alvorada, iriam se transformar em choro pelas perdas de seus mandatos e pela suspensão de seus direitos políticos.
Por outro lado, não vejo uma atuação efetiva por parte do Ministério Público Federal, que deveria ser realmente o fiscal da lei. O procurador-geral da República tem uma atitude de contemplação passiva diante dos fatos largamente divulgados em todos os veículos de comunicação de casos de afrontas diretas à lei, como foi o caso do uso do Palácio da Alvorada. Ele não age, não atua de forma ativa.
O PPS chegou a anunciar que tinha feito uma representação denunciado aquele caso, mas parece que se baseou apenas no aspecto eleitoral, em vez de tratar como improbidade administrativa, cujas penalidades são muito mais rigorosas.
É por isso que a tendência é que os casos se multipliquem, pela impunidade.
# por Anônimo - 1 de novembro de 2010 às 12:03
...E que se divida o pão.Temer parecia faminto.
A presidente foi escolhida de maneira democrática. Mesmo com o uso da máquina pública, com os escândalos de corrupção no governo atual, o povo decidiu pela continuidade. Política não é guerra! Que situação e oposição trabalhem para um país melhor.Agora se Dilma merece ou não a presidência ou se é ou não a melhor candidata já é uma outra história.
Querida Ana Lúcia K., me desculpe, mas o seu comentário foi lamentável. Tanto o seu voto como o dos eleitores beneficiados por programas sociais, aos quais você se referiu com desprezo, tem o mesmo "peso na balança". Também não seja hipócrita: tanto PT como PSDB têm/tiveram casos de corrupção em sua gestão, não foram perfeitos. Você está generalizando política numa visão simplista de mocinhos e bandidos, bom ou mal, algo que não condiz com a realidade. O país não foi feito para você! Respeite a vontade da maioria, mesmo que não seja a nossa!Pense por si própria e não por um partido.
Desculpe professor Villa. Sinto ter que utilizar seu blog para fazer críticas que não sejam referentes ao seu post, mas desrespeitar o povo e a sua vontade é tão absurdo quanto infantil.
Abraços
# por Ana Lúcia K. - 1 de novembro de 2010 às 15:52
Prezado Villa,
Me desculpe, mas tenho que responder ao anônimo das 12:03 já que fui citada nominalmente.Agradeço sua compreensão.Ana Lúcia
Ao anônimo das 12:03,
Vc reconhece plenamente que esse é um governo de CORRUptOS e é exatamente este ponto o que mais condeno neste governo pelos prejuízos, pelos maus exemplos que impõem ao povo brasileiro. E o meu comentário é que é lamentável por condenar isso? O meu comentário lamenta, sim!, o fato de que ella foi eleita pelo Brasil que vota alicerçado e fomentado pelos programas assistencialistas. É um fato comprovado, basta ver o mapa! Se fosse o contrário, eu estaria incorrendo em um grave erro de avaliação. Quem dera que esta eleição fosse confirmada pelos Estados que representam 60% do PIB! Aí, até eu gostaria de me referir ao Presidente com todo o respeito que a maior autoridade do país deve merecer. Não foi o que aconteceu! Em momento algum afirmei ser contra os tais programas mas condeno veementemente o seu uso abusivo como forma de manutenção e de domínio de poder. Condeno todas as mentiras que levam as pessoas carêntes a acreditar que, num passe de mágica, o SUS vai se transformar em um "Sírio e Libanês", por exemplo. Sei que a corrupção é como um vírus oportunista à espreita para desencadear uma grave doença. E este governo está contaminado! Também nunca afirmei que o PSDB não teve ou não têm problemas por este motivo. O problema está no número avassalador de escândalos perpetrados por este desgoverno.
"Nuncantesnaísstóriadessepaíz", o lulla teve, nestes 8 anos, todas as condições objetivas e até morais(80%) para se tornar um grande presidente. PODERIA ter combatido todos os mensalões e mensalinhos, escândalos, falcatruas e "taxas de sucesso". PODERIA ter expulsado de seu governo todos os que nos afrontaram e ainda nos afrontam com essa vergonha. Ou vc passivamente abonou todos eles? Entretanto, "não viu", "não sabia", NÃO fez nada! Deixou-se levar pelas "facilidades" do poder, deixou-se levar pela soberba, pelo modo mai$ fácil de governar e de se manter no poder. Gostou muito dos bajuladores, da aplauso gratuito, do seu endeusamento de barro. O resultado das eleições mostrou que quarenta e três milhões de brasileiros não aprovam o lulla vendido pelo marketing, pela propaganda paga aos milhões à mídia e aos seus aliados. Se antes, inconformado, elle achava que só 3/4% lhe faziam oposição, hoje são 43% que estarão, como eu, atentos a todo tipo de intimidação e de violência contra as liberdades e princípios democráticos.
Para concluir, me causou estranheza a sua afirmação de que "o país não foi feito para você"...por que? Você concorda com toda esta corrupção reinante? Se é este o seu país, de fato, moramos em mundos completamente diversos! Respeito a decisão da maioria, mesmo que contrariada. No meu comentário anterior deixei bem claro isso - respeito inclusive "o seu direito de ter o governo que vc merece!" Não é o que eu mereço!
NÃO sou filiada a nenhum partido político. Penso, falo, discuto e escrevo
as minhas convicções. Sonho com o dia em o "homem vai estar além do homem"(Nietzsche).
# por Anônimo - 3 de novembro de 2010 às 19:41
Anônimo parece não ter notado que 80 milhões de brasileiros disseram não a Dilma, enquanto apenas 55 milhões disseram sim a ela. Dilma foi eleita porque apenas 43 milhões votaram em Serra.
Quase 80 milhões de brasileiros farão oposição ao governos Dilma.