Procura-se a oposição
Publiquei hoje em O Globo:
É rotineiro dizer que a propaganda é a alma do negócio. Na política, ela é ainda mais importante. No Brasil, a presidência Lula foi aquela que melhor compreendeu a necessidade de transformar qualquer ato do governo em propaganda. E mais: através da Secretaria de Comunicação Social, pagando entre mil e três mil reais mensais, obteve de 4.200 veículos de comunicação, quase todos no interior do país, apoio irrestrito ao governo. A veiculação da propaganda oficial foi o pretexto para a transferência dos recursos. Para os grandes centros, o caminho foi o "apoio cultural" a centenas de artistas através do Ministério da Cultura e, principalmente, dos bancos e empresas estatais (especialmente a Petrobras). Juntamente com os milhares de assessores incrustados na máquina estatal, a estrutura partidária do PT e, secundariamente, com o apoio dos outros partidos da base no Congresso Nacional, foi construída uma máquina de propaganda nunca vista no Brasil.
No passado tivemos o Departamento de Imprensa e Propaganda, durante o Estado Novo (1937-1945), ou a Assessoria Especial de Relações Públicas, notabilizada durante o governo Médici (1969-1974). Mesmo assim, havia uma oposição, tolerada ou não. Mas a Secom superou amplamente seus antecessores. Foi tão eficaz que até convenceu os opositores, que ficaram surpreendidos quando, no primeiro turno, 54% dos eleitores votaram contra o governo na eleição presidencial. Ou seja, a oposição estava mais convencida dos êxitos do governo do que os eleitores.
A euforia construída artificialmente pela propaganda dá a entender que vivemos uma expansão econômica em ritmo chinês. Entretanto, na média dos últimos 8 anos, o Brasil cresceu aproximadamente 1/3 do que a China, bem menos do que no quinquênio juscelinista (1956-1961) e menos ainda do que no "milagre econômico" (1968-1973). Se houve uma melhor distribuição de renda e enorme expansão do crédito, os indicadores sociais continuam muito ruins, e isto é o que mais importa.
Habilmente - mas extremamente nocivo para o futuro do país -, o governo fez uma opção preferencial: deixou de lado o enfrentamento dos graves problemas nacionais (que nem sempre redunda imediatamente em votos) e escolheu o distributivismo primitivo, das migalhas, para os setores mais pobres, deixando para o grande capital lucros nunca obtidos na história. Eleitoralmente foi um sucesso. Elegeu Dilma, uma desconhecida para a maioria dos seus eleitores 3 anos atrás.
Contudo, esta política não poderá ter vida longa. É produto de uma conjuntura econômica internacional favorável, da eficiência do setor primário (mas que em alguns setores já atingiu seu limite) e do aprofundamento de um modelo exportador que está desindustrializando o país. Destas combinações - e do oportunismo eleitoral do distributivismo primitivo - os grandes prejudicados serão o país e os mais pobres - que continuarão pobres ad aeternum. Sem a rápida melhora dos indicadores sociais, a situação de pobreza não vai ser alterada simplesmente pelos programas assistenciais. Somente políticas públicas que efetivamente enfrentem os péssimos indicadores de saúde, educação, habitação e saneamento básico é que poderão retirar milhões de brasileiros da miséria. Para isso é necessário haver ousadia, esforço, competência administrativa e um plano estratégico para o país, tudo que em oito anos Lula não fez - e que dificilmente Dilma fará.
O novo governo já nasceu velho. Administra o varejo. Faz a pequena política. Reforça o conservadorismo. Tem uma fórmula nefasta para vencer eleições. Deseja manter tudo como está. O importante é o poder. É através dele que é possível atender às burocracias partidárias, sindicais e das empresas estatais. Além de estabelecer uma aliança com o grande capital parasitário, lucrativa para ambos.
A oposição assiste a tudo calada. Nem sequer protesta. Está mais preocupada com possíveis candidatos para 2014, mas esqueceu de fazer política em 2011. Ela tem um compromisso histórico com o país. Deve romper com a inércia e não ficar assustada com a propaganda oficial. Deixar de lado - ao menos neste momento - os projetos personalistas. Não faltam bons quadros políticos. Pode elaborar um programa mínimo. Tem todas as condições para acompanhar as atividades do governo, denunciar e propor alternativas. Com uma base governamental ampla e sedenta de cargos, não faltarão oportunidades para explorar as contradições. A eleição do presidente da Câmara pode ser uma primeira oportunidade para a oposição começar a fazer política.
# por barbarah.net - 12 de janeiro de 2011 às 02:08
Grande texto, Villa!!
Produzir arte é caro. E não há retôrno econômico. As bilheterias (teatro, cinema ou venda de livros, quadros, etc) não cobrem o custo das produções. Então...
# por Lucas - 12 de janeiro de 2011 às 08:45
Aécio NEVER!!!
# por barbarah.net - 12 de janeiro de 2011 às 14:49
Lucas, a idéia de que Aécio pode ser o próximo presidente do Brasil é um deleite.
# por Rodrigo - 12 de janeiro de 2011 às 16:29
Um post magnífico, Prof. Villa.
# por Anônimo - 12 de janeiro de 2011 às 16:48
A oposição está cuidando das enchentes e do cunhado em SP: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2011-01-01_2011-01-31.html#2011_01-11_16_14_28-10045644-0 (Dr. Villa vai censurar meu comentário?)
# por Unknown - 12 de janeiro de 2011 às 17:12
Olá Villa.
Essa notícia estava hoje no site da Globo:
http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/01/itamaraty-quer-mudar-regras-para-concessao-de-passaporte-diplomatico.html
Vamos ver se vai virar alguma coisa.
Abraços.
Vítor Massola.
# por Anônimo - 12 de janeiro de 2011 às 18:24
E tudo acabará em samba!!! http://blogs.estadao.com.br/jt-cidades/lula-desfilara-na-homenagem-a-sao-bernardo/
# por João Roberto Gullino - 12 de janeiro de 2011 às 20:16
A grande realidade é que Lula, tão esperto mas ignorante, acredita que entrará para a história como o maior presdiente do Brasil. Esquece-se ou ignora (o mais provável) que a figura de um político ou de qualquer cidadão de destaque somente será analisado ao longo da história pelos ditos historiadores ou pesquisadores. Portanto, dentro da podridão que tal elementos encontrarão sobre os "grandes" feitos e toda sua verborragia, aliado aos eternos bahuladores, o máximo que poderá acontecer com Lula será entrar para a "estória do folclore político" como nunca antes neste país.
João Roberto Gullino, Petrópolis;RJ
# por Lucas - 13 de janeiro de 2011 às 07:59
João Roberto (20:16), Lula e sua malta parecem ignorar a única certeza da vida: a MORTE!
Lula deixou a presidência com 65 anos completados. Se voltar em 2014, estará com praticamente 70 anos no iníçio do possível mandato.
E tem muita gente, principalmente da imprensa, que dão como favas contadas mais dois mandatos de Lula.
Falta combinar com o Criador...
# por barbarah.net - 13 de janeiro de 2011 às 16:06
Onde estão os geotécnicos?
# por Anônimo - 13 de janeiro de 2011 às 17:28
Prof. Villa,
Sugiro uma análise sobre a conjuntura econômica brasileira, no tocante à desigualdade social. Devido à propaganda oficialista, parece que há um consenso sobre distribuição de riqueza e diminuição da desigualdade social.
Será?
A parcela da sociedade brasileira mais rica detinha tantos percentuais do PIB em 2002. Quanto está esse percentual agora?
A parcela mais pobre tinha tanto. Como está esse percentual agora?
Também acho que vale uma reflexão sobre o novo conceito sobre classe média. O IBGE, na era Lula, inovou a classificação das classes sociais.
Porque não fazer uma análise sobre esse fato também?
# por Anônimo - 14 de janeiro de 2011 às 16:03
Sugiro que o site analise os 16 anos de poder dos tucanos em SP, seus acertos e seus erros ... ou eles não podem ser questionados?
# por danielsolda - 14 de janeiro de 2011 às 19:51
é, o Lula dá emprego pra muito pseudo-jornalista. Um texto sem referências, sem clareza, talvez por se esconder em inverdades. Ninguém conhecia a Dilma pois a maioria dos brasileiros viram as costas para a política, seja ela do seus locais ou nacionais. Dilma surgiu como ministra de Minas e Energia e depois foi para a Casa Civil prometendo desde cedo voar mais longe. E a economia do mundo nos últimos anos não foi favorável para países aliados aos EUA. Se o Lula não tivesse se alinhado a Pequim no início do seu mandato ´certamente teríamos sido afetados diretamente pela recessão americana.