Posse e primeiros problemas.

Tinha deixado um aviso, no início de novembro, logo após o segundo turno, comunicando que a atualização do blog seria meio esparsa. É muito difícil todo dia escrever um texto. Desta forma, optei por republicar textos mais antigos, que saíram principalmente na "Folha" e no "Estadão" ao longo dos dois governos Lula. E quando publico um artigo novo, atualizo o blog.


Bem, tratando da posse. Vale a pena sistematizar alguns pontos:

1. o discurso foi fraco e repetitivo. Dilma confundiu a campanha, quando era simplesmente uma candidata, com o momento que é a presidente do Brasil;

2. a grande figura da posse - como era esperado - foi Lula. Todas as atenções estavam concentradas nele. Foi patético o momento que o ex-presidente desceu a rampa ao som do "Tema da vitória". Como se o Brasil não tivesse tanto hino (Nacional, da Bandeira, etc);

3. a ida de Sarney a São Bernardo acompanhando Lula foi uma demonstração do que já escrevi. Lula deu nova vida às oligarquias que estavam sendo defenestradas dos seus estados, como os Sarneys, lá no Maranhão. Nunca é demais lembrar que Jackson Lago derrotou Roseana em 2006 e dois anos depois foi derrubado do governo por um golpe patrocinado pelo TSE (e com o apoio de Lula;

4. não houve na história do Brasil um presidente que montou uma máquina tão eficaz de propaganda. Deixou "no chinelo" o DIP de Getúlio Vargas (instrumento do ditador durante o Estado Novo, 1937-1945) e que louvava diuturnamente o ditador (o seu dia de nascimento - 19 de abril - era feriado escolar), e a AERP (Assessoria Especial de Relações Públicas) do governo Médici (1969-1974). Franklin Martins distribuiu verbas para mais de 4 mil veículos de comunicação do interior (incluindo blogs). Transformou a verba publicitária do governo em instrumento de coação sobre estes veículos. Se for somado a compra de artistas e intelectuais, via empresas estatais (especialmente a Petrobras), bancos públicos e o MinC, teremos em ação uma enorme máquina publicitária. Mesmo assim, a sua candidata no primeiro turno não passou dos 46% dos votos válidos;

5. Dilma já começou o governo fraca, politicamente falando. Bastar ler a entrevista de Gilberto Carvalho, seu ministro, e publicada ontem. Ele disse que se a situação política ficar difícil, o PT pode chamar o Pelé (Lula), que está no banco de reservas. Duas ponderações: 1. ele está dizendo que Dilma não tem condições de administrar uma situação adversa; 2. disse que Lula continua no governo, o que é um absurdo. Ele não está no banco de reservas, não foi "convocado". O seu mandato já acabou.

6. voltando ao indefectível Sarney. Ao ir a SBC, deu às costas para Dilma. Disse, através deste gesto, que era, para ele, mais importante acompanhar o ex-presidente do que participar das festividades de posse de Dilma;

7. em tempo: Sarney era o presidente do PDS (partido do regime militar que sucedeu a ARENA) quando Figueiredo reprimiu as greves do ABC, chegando, inclusive, a destituir (e deter por 30 dias) Lula, que era o presidente do sindicato de SBC. Lula realmente não gosta de história.

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    # por Anônimo - 4 de janeiro de 2011 às 16:55

    Professor Villa, os tópicos abordados refletem muito bem o momento. E o momento aparenta sinais de fraqueza política da nova presidente. Em situações normais, uma entrevista como a dada pelo ex-chefe de gabinete e atual secretário-geral da presidente, teria megaton para detonar, no mínimo, pedidos de esclarecimentos. Afinal, há uma dualidade de poder? Há um ex-presidente que pode assumir de imediato em caso de problemas?
    Ora, a Constituição é bem definida:
    a) em caso de vacância da Presidência da República, sucede no cargo o vice-presidente;
    b) no caso de afastamento, também o vice é quem substitui interinamente o presidente;
    c) não havendo vice-presidente, ou não querendo ou não podendo este assumir o cargo de presidente da República, nele será investido o presidente da Câmara dos Deputados e, no impedimento deste, o presidente do Senado Federal;
    d) na circunstância deste último também estar impedido, a Presidência da República será exercida interinamente pelo presidente do Supremo Tribunal Federal.
    Assim, não há a figura de um ex-presidente ou qualquer outra pessoa vir a assumir a presidência, exceto as citadas na CF.
    Então, o secretário-geral cometeu uma fala que deveria ter de explicá-la ao Congresso. Pena que nem isso as oposições estejam dispostas a fazer.
    Em relação à presidente, ele, no mínimo, cometeu uma deselegância. Politicamente, deveria, então, ser chamado e imediatamente demitido.
    Isso em situações normais, onde o desrespeito seria notado e cobrado. Como estamos ainda num certo estupor de faz de conta, nada acontece, nada é cobrado, nada é grave e nada é simples.
    Então, cabe ficar atento. Pelo menos isso.
    Dawran Numida

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    # por barbarah.net - 5 de janeiro de 2011 às 01:17

    ...e contas pendentes somam 137 bilhões!!!

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    # por Ana Lúcia K. - 6 de janeiro de 2011 às 03:13

    Anônimo das 16:55,
    As regras para a vacância da presidência foram recentemente alteradas e o vice não assume mais, perdeu a chance.
    O problema é esta oposição que não dá as caras! Em poucos dias já aconteceram fatos que dão o que falar... e a oposição, nada!
    Quero ver o "crustáceo" esquecer os malfeitos do seu desgoverno e jogar a culpa no FHC. Pelos 137BI!!! elle deveria ter seus direitos políticos cassados para sempre. É um irresponsável.

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    # por Ana Lúcia K. - 6 de janeiro de 2011 às 03:19

    Prezado Villa,
    Para tristeza do ex, quem fez sucesso mesmo foi a "neta" do Temer. O ex para aparecer teve que se jogar em cima do povão e chorar bastante pq acabou! Custou MUITO, mas acabou!

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    # por Ed Carlos Ferreira da Costa - 9 de janeiro de 2011 às 12:18

    Sarney é um personagem complexo na sua tacanhez, mesquinharia.
    Bem certo estava o Mano Brown quando diz que por dinheiro, glória e fama tem mano que rebola e usa até batom.
    A posse foi uma chatice como é de praxe ser, o momento de vergonha alheia foi realmente o"hino da vitória" (deixa o finado Senna saber) e os "comentários dos analistas" dizendo que Dilma deu um discurso de estadista.
    No Brasil até cachorro sarnento é estadista, ave Maria, que sociedade mais bajuladora.