Grupo lança manifesto pela democracia
Saiu hoje em O Estado de S. Paulo:
O ato público será realizado hoje, ao meio dia, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo.
Entre seus signatários estão o jurista Hélio Bicudo, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso, os cientistas políticos Leôncio Martins Rodrigues, José Arthur Gianotti, José Álvaro Moisés e Lourdes Sola,o poeta Ferreira Gullar, d. Paulo Evaristo Arns, os historiadores Marco Antonio Villa e Bóris Fausto, o embaixador Celso Lafer, os atores Carlos Vereza e Mauro Mendonça e a atriz Rosamaria Murtinho.
"Em uma democracia, nenhum dos poderes é soberano", diz o manifesto em sua abertura. Nos seus 14 parágrafos, ele aponta desvios e abusos do governo federal. "Hoje, no Brasil", diz o texto, "os inconformados com a democracia representativa se organizam para solapar o regime democrático." Mais adiante, considera "inconcebível" que "uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita".
"Ameaça concreta". O historiador Marco Antônio Villa, da Universidade Federal de São Carlos e um dos signatários do manifesto, decidiu aderir porque vê nos recentes atos do governo "uma ameaça concreta" à democracia no País. "É uma preocupação geral com o que está ocorrendo no País, e hoje (ontem) o Lula mais uma vez reforçou", disse, em referência às críticas do presidente à imprensa, feitas em viagem ao Tocantins. "O manifesto é uma síntese dessas preocupações." Caso um eventual governo Dilma consiga eleger três quintos do Congresso, advertiu, "eles conseguirão fazer mudanças constitucionais a seu bel-prazer. E se você tiver uma parte da legislatura formada por "Tiriricas", corremos sério risco. Nada melhor para um Executivo autoritário do que um Legislativo desmoralizado". Para Villa, "é preciso de um grito de alerta". Ele acredita que "há muitas pessoas que comungam dessa preocupação" e que o manifesto funcionará como forma de agregá-las. "Não se pode achar que ataques, ameaças e agressão fazem parte da política", diz.
O cientista político Leôncio Martins Rodrigues, que também subscreveu o documento, avalia que as ameaças à democracia têm origem na postura do presidente, opinião também manifestada por José Arthur Gianotti. "Lula não pode misturar as funções de homem de Estado e líder partidário. Ele também é meu presidente, independentemente do meu partido", afirma Gianotti.
A ÍNTEGRA DO "MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA"
"Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano.
Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.
Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.
É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.
É inaceitável que a militância partidária tenha convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.
É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.
É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.
É constrangedor que o Presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há ''depois do expediente'' para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no ''outro'' um adversário que deve ser vencido segundo regras da Democracia , mas um inimigo que tem de ser eliminado.
É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.
É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.
É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.
Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para rasgar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.
Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.
Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos."
# por barbarah.net - 22 de setembro de 2010 às 12:02
Uma luz no fim do túnel!
# por Ana Lúcia K. - 22 de setembro de 2010 às 13:48
Prezado Prof. Villa,
Com muito orgulho e satisfação, vejo que vc é um dos signatários deste "Manifesto em Defesa da Democracia".
A hora é esta! Não podemos permitir que o Brasil se torne "propriedade de um partido político" e muito menos que a nossa democracia e a nossa liberdade corram risco de retrocesso.
Eu tb quero assinar!
# por Carlos Caldas - 22 de setembro de 2010 às 22:22
Assinei coloquei como link permanente em meu blog.
Perdemos a luta por um Brasil decente, mas, acho que dá para ainda para segurar a democracia...
# por Anônimo - 23 de setembro de 2010 às 13:27
Embora esteja ocorrendo, já há algum tampo, na rede, acusações de ameaças de golpe, tais comentários irresponsáveis não têm nenhum fundamento. Ninguém está minimamente sugerindo golpe. Aliás, golpe para quê? E contra quem? O que está ocorrendo é um processo eleitoral. Vencerá quem obtiver a maioria do votos em um ou em dois turnos. Nas Democracias é assim. Como está havendo uma reação das oposições nas intenções de votos, tentam desqualificar eventual derrota da candidata do governo acusando as oposições. É importante não aceitar tais afirmações que visam, unicamente, confundir os cidadãos e desqualificar atitudes em defesa dos valores democráticos.
# por Anônimo - 23 de setembro de 2010 às 23:51
"Mas o que mais suscita reação, parece claro, não é o papel em si, que a lei nem cuidou de restringir: é que Lula o assume do alto de uma popularidade devastadora, que cai sobre os adversários. Nem por isso, no entanto, até agora sinalizadora de ameaças à democracia.
Por fim, um convite. O Clube Militar convida para um “painel”, às 15h de hoje em sua sede no Rio, com dois jornalistas de oposição a Lula e ao governo. Sobre nada menos do que “A democracia ameaçada: restrições à liberdade de expressão”. Tivemos longo aprendizado do interesse militar por ameaças à democracia e pelas restrições à liberdade de expressão. O título do “painel” não esclarece o sentido atual dado às expressões, mas tanto faz. Sua realização é sugestiva por si só.
" Jânio de Freitas na Folha de SP
# por Anônimo - 24 de setembro de 2010 às 11:23
#5 Anônimo - 23 de setembro de 2010. O que deve ser enaltecido é a capacidade da sociedade brasileira em repudiar e desestimular quaisquer ameaças às instituições democráticas. Desde 1985 o Brasil vive em paz, com eleições presidenciais livres desde 1989, alternância de poder tranquilas a despeito do impeachment em 1992. Economia estabilizada desde 1994. Ainda há grandes problemas a serem resolvidos, porém, estão quase todos mapeados. Depende, agora de estadistas darem cabo disso. E o Brasil não necessita de parasitas oportunistas e aventureiros surgidos do nada. O que deve ser repudiado, com veemência, é a paranóia: ver ameaças de golpes em todo o lugar. Pior paranóia é disseminar medos inexistentes. Extrema paranóia é tentar, de forma pouco sutil, convencer pessoas disso. O medo não assusta mais ninguém #5 Anônimo.
# por Anônimo - 25 de setembro de 2010 às 14:48
A esperança vence o Medo
# por Anônimo - 18 de janeiro de 2011 às 21:52
Hoje, janeiro de 2011, o PT ganhou as eleições, ainda não me refiz disso... Mas quero lutar, para não acontecer aquilo que Ana Lúcia K ( acima), " o Brasil se torne propriedade de um partido".
Pergunto o que está acontecendo, hoje, nessa luta, vindo desse grupo, com o Prof. Marco Antonio Villa, que admiro por seus textos corajosos e repletos de verdades que poucos conseguem enxergar! QUERO LUTAR! peço ao Villa que poste algo para informar sobre o que fazer.