A cara do cara

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:

O BRASIL É UM país estranho. O TSE fez várias propagandas explicando ao eleitor quais são as funções dos deputados, senadores, governadores e do presidente.

Contudo, ao relatar as principais atribuições do presidente, ocupou mais da metade do tempo dizendo que cabe a ele divulgar o país no exterior, viajar e buscar novos negócios. Curiosamente, nenhuma dessas funções fazem parte do artigo constitucional que regulamenta as atribuições presidenciais.

Ou seja, o TSE, que é presidido por um ministro do STF, desconhece qual o papel que deve ser exercido pelo presidente da República.

Mas, a bem da verdade, o desconhecimento é mais amplo. O próprio presidente Lula tem demonstrado nesta campanha eleitoral que não sabe os limites estipulados pelo artigo 84, logo ele que foi deputado constituinte (mas que, junto com a bancada do PT, votou contra a aprovação do texto constitucional).

Sem exagero, é possível afirmar que nunca na história presidencialista brasileira um presidente foi tão agressivo contra seus adversários. Faz ameaças, agride, acusa. É o verdadeiro Lula, é a cara do cara, sem maquiagem ou disfarce.

Quando um presidente não tem freios, como agora, é a democracia que corre risco. A omissão do Judiciário é perigosa. E vai criando, pela covardia, uma nefasta jurisprudência. Em certos casos, cabe ao STF uma ação para coibir a violação da Constituição.

Mas, dificilmente ocorrerá: o STF não tem uma história de defesa da cidadania frente ao despotismo do Estado. Pelo contrário, nos momentos mais difíceis do país, a Suprema Corte silenciou. Basta recordar a conivência com o Estado Novo ou com a ditadura militar.

A irritação presidencial com as críticas demonstra a dificuldade de conviver com a democracia. Lula sabe que no Brasil é predominante a cultura política autoritária. E que conta com o apoio popular, assim como a ditadura, durante o chamado milagre brasileiro, graças à situação econômica.

Em um país sem tradição democrática, um governo descompromissado com a defesa das liberdades, fica seduzido pelo poder absoluto. Para isso, necessita esmagar a oposição a qualquer preço. E conta com a adesão da maior parte da elite política, sedenta por saquear o Estado, tarefa facilitada pela supressão das liberdades.

Caminhamos para um impasse político. Com um Executivo que tudo pode, um Judiciário omisso e um Legislativo dócil, com ampla maioria governamental, que permitirá mudanças constitucionais ao bel prazer dos poderosos de momento.

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    # por Orlando Tambosi - 22 de setembro de 2010 às 11:51

    No ponto, uma vez mais.

    Chamo de novo no meu blog.

    Acho que são poucos, no Brasil, que percebem a gravidade do momento.

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    # por Ed Carlos Ferreira - 22 de setembro de 2010 às 17:14

    Bom, antes de mais nada fico muito feliz com o seu sucesso (pena que os "intelectuais" sejam vergonhosamente invejosos), é muito bom ver um professor ser tão requisitado e ter tanto espaço na mídia, principalmente no Brasil onde são uma raça em extinção.
    Amigo Villa é impressão minha ou a eleição da Dilma é o primeiro passo para uma venezuelização que já acontece , por exemplo, na Argentina?
    As ultimas declarações de Zé Dirceu me parecem claramente o ponta pé inicial desse processo.

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    # por Unknown - 22 de setembro de 2010 às 17:23

    Professor,

    Reproduzo o texto do jabour:

    "A única oposição que teremos é o da imprensa livre, que será o inimigo principal dos soviéticos ascendentes. O Brasil está evoluindo em marcha a ré! Só nos resta a praga: malditos sejais, ó mentirosos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que vossas línguas mentirosas se transformem em cobras peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços, e vos devorem a alma.Os soviéticos que sobem já avisaram que revistas e jornais são o inimigo deles. Por isso, si vis pacem, para bellum, colegas jornalistas. Se quisermos a paz, preparemonos para a guerra."

    Favor esclarecer-me se isso é crítica ou ódio? E se é assim que se preza a liberdade de imprensa ou se despreza o bem que se tem?

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    # por Maria do Espírito Santo - 22 de setembro de 2010 às 20:52

    A gravidade do momento se espelha na ausência de uma verdadeira tripartição dos poderes independentes e harmônicos e na soberania arrogante e usurpada do Poder Executivo que sobrepuja, de longe, a soberania do Estado cujo esteio é a Constituição Federal.

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    # por Anônimo - 23 de setembro de 2010 às 13:40

    Mas as pessoas são livres para expressar suas opiniões, #3 Tomzé. Sugere que a liberdade seja relativizada? Que alguns possam pensar e dizer alguma coisa e outros sequer pensar possam? No Brasil de hoje não há crime de opinião. Não há lei de censura. Não há bolinhas em imagens de filmes ou rabiscos em "x" sobre letras de músicas e matérias de jornais e revistas. Aliás, o bem que se tem é a liberdade. E ninguém a despreza. E que ninguém a ameace.

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    # por rodrigo veroneze - 23 de setembro de 2010 às 17:03

    Concordo plenamente com nosso professor Villa! nunca na história republicana de nosso país se roubou tanto!!! realmente...Collor não passa de um `pé de chinelo` em comparação aos atuais donos do poder...!!! Justamente aqueles que auto-vangloriavam-se como os guardiões da ética e da honestidade...! PT...quem te viu...quem te vê!!!

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    # por barbarah.net - 24 de setembro de 2010 às 16:11

    STF não consegue decidir sobre o Ficha Limpa(estadão)
    Pois é, tens razão!