Sem esquecer da seca.
Em meio ao noticiário nacional e internacional, a seca que atinge o Nordeste é geralmente esquecida. Como já escrevi neste espaço, é a pior dos últimos 30 anos. Mostra o desinteresse do governo federal pelo semi-árido, justamente onde teve votação avassaladora em 2010 (teve município que Dilma recebeu, no segundo turno, 90% dos votos). O Ministro da Integração Nacional sumiu. As agências que atuam na região (como o DNOCS) estão aparelhadas e marcadas pela corrupção.E nada mais trágico quando coincide seca e eleição.
Segue reportagem de hoje da "Folha de S. Paulo":
Estiagem traz de volta 'coronéis da água' ao NE
Moradores relatam que só recebe água quem vota em político com carro-pipaObras que ajudariam no fornecimento, como a transposição do rio São Francisco e açudes, não foram concluídas
DO ENVIADO AO NORDESTE
A disseminação das cisternas no Nordeste ressuscitou nesta estiagem os carros-pipa, ícones da chamada indústria da seca, e com ele os chamados "coronéis da água".
Em várias cidades, moradores contam que a entrega de água obedece a critérios políticos: quem não vota no candidato que controla as pipas não recebe a água.
"Aqui tem uma política desgraçada que tem gente que até desvia [água]", relata Aldemir Coelho Neto, agricultor em Santa Cruz (PE).
O governo federal aluga 3.700 pipas para a região, controlados pelo Exército. São insuficientes. Quem pode, compra de particulares, que cobram entre R$ 120 e R$ 180.
"Aqui perto tem um canal. Custava nada trazer um cano até aqui", diz o caminhoneiro que pediu para não ser identificado. Ele recebe R$ 120 por corrida.
Cícero Félix, coordenador de uma ONG que trabalha com o conceito de convivência com o semiárido, afirma que "os novos e os velhos coronéis estão vendo a estiagem como uma forma de manter seus poderes com as distribuições assistencialistas."
As obras anunciadas contra a seca, como a transposição do rio São Francisco, não foram concluídas. Faltam também adutoras, açudes, estradas, ferrovias e silos para a armazenagem de grãos.
As cidades ainda não têm condições, sozinhas, de realizar as obras que dotariam os moradores de estrutura para enfrentar a estiagem.
De cada R$ 100 que passam nos cofres dos municípios, R$ 6 são de impostos e taxas próprias, em geral os recursos com que se consegue fazer obras.
Seca atinge eleitores de Dilma no Nordeste
Benefícios assistenciais do governo federal à região que mais deu votos a Dilma são insuficientes para atenuar criseSem a renda rural, área onde vive a maior parte das pessoas, comércio nas cidades diminui e aumenta problemasDIMMI AMORA
ENVIADO ESPECIAL AO NORDESTE
Maria Irene Alves Rodrigues, 44, gastou R$ 480 na última compra do mercado para alimentar sete pessoas que vivem com ela na zona rural de Araripina, sertão de Pernambuco, uma das 1.072 cidades em estado de emergência pela seca no Nordeste.
Como 73,5% dos eleitores desses municípios, Maria Irene votou na presidente Dilma Rousseff em 2010 e conta que, antes da estiagem destruir suas roças de milho, mandioca e feijão, vivia melhor: vendia parte da produção, gastava menos de R$ 350 no mercado e ainda comprava carne, goma para tapioca e mortadela.
Ela recebe R$ 134 do Bolsa Família e R$ 622 da aposentadoria rural do pai, Elvídio Rodrigues, 82. Nas cidades onde as chuvas são escassas desde outubro de 2011, pelo menos duas em cada três famílias recebem algum benefício assistencial do governo.
Esse dinheiro, cerca de R$ 1 bilhão por mês, não é suficiente para atenuar os efeitos da pior estiagem em décadas.
O resultado é uma profunda crise econômica, mas não como em outras ocasiões, quando a falta de chuvas gerava um flagelo social com mortalidade infantil, migração em massa e saques.
O clima na região é de apreensão, como a Folha constatou numa viagem de quase 2.000 quilômetros feita em julho por Pernambuco, Alagoas e Bahia, na qual visitou dez cidades afetadas pelo clima.
"Tempo de seca é tudo uma coisa só. Mexeu com seca, mexeu com sofrimento", relata o agricultor Expedito Raimundo da Silva, 47, que perdeu metade do faturamento com a venda de orgânicos em Ouricuri (PE).
Expedito e Maria Irene formam o bloco eleitoral que ajudou a garantir a vitória de Dilma. Nas cidades na seca, ela teve 5 milhões de votos a mais que seu adversário, José Serra. No restante do país, a diferença foi de 7 milhões.
A votação expressiva foi resultado dos programas federais e da geração de empregos durante a gestão Lula.
Também houve investimento em grandes obras e pequenos investimentos públicos em urbanização. Os projetos, contudo, não garantiram estrutura adequada.
"Não fosse essa cisterna, eu tava passando sede morando de frente pro rio", conta Francisco Ferreira da Silva, 56, que vive em Delmiro Gouveia (AL), cidade cortada pelo rio São Francisco.
A cisterna de Francisco é do programa Água Para Todos, de Dilma, reciclagem do Um Milhão de Cisternas, promessa do ex-presidente Lula.
Somando as duas gestões, o governo fez 450 mil delas, metade do prometido.
Mesmo com o baixo desempenho, são elas hoje a principal estrutura do sertanejo para enfrentar a seca.
Isso porque, além das construídas com recurso federal, prefeituras e governos estaduais, os próprios moradores ergueram as suas.
A água das cisternas, porém, não é suficiente para dar de beber aos animais, que, nessa região, são como poupanças das famílias.
Sem a renda rural, onde vive a maioria da população, o comércio míngua, levando a crise para a zona urbana.
O governo federal prometeu R$ 2 bilhões em investimentos para minimizar os efeitos da estiagem, mas a ajuda chega de forma irregular e a burocracia impede parte da população de acessá-la.
Nesse pacote, Maria Irene recebeu a sua cisterna do governo. "Este ano não voto de graça para ninguém."
Veja reportagem sobre a seca na reprise do programa "TV Folha"
folha.com/no1131985
# por Anônimo - 6 de agosto de 2012 às 15:46
Mas existem obras da seca que, hoje, passam dos 20 anos sem conclusão. E sem órgãos de controle que dêem qualquer posição a respeito.
Quem dera notícias como as abaixo fosse mais freqüentes na mídia:
http://www.dec.eb.mil.br/index.php/noticias/27-procuradora-militar-diz-que-obras-do-exercito-em-guarulhos-sao-exemplo
# por Anônimo - 6 de agosto de 2012 às 21:24
Bem, sejamos otimistas: os eleitores podem finalmente se tocar. Ah, mas tem a bolsa-seca...
# por Anônimo - 7 de agosto de 2012 às 22:12
" O Egito é um presente do Rio Nilo ", afirmou Heródoto quando esteve no Egito. E essa frase entrou para a história quando estudamos o Egito Antigo. Comparo a seca nordestina como um presente para os coroneis do nordeste. Há muito se fala sobre a seca, seus males, mas ela continua sendo a "vaca " para os políticos que não querem ver esse problema solucionado. Se um dia a seca for solucionada, a vaca vai morrer, e os coroneis perderão muito com isso.