Ministério da verdade em ação.
Do Estadão. Depois da notícia, republico meu artigo "Ministério da verdade".
PT questiona cartilha do MPF sobre o mensalão
07 de agosto de 2012 | 8h 45
Um grupo de advogados ligados ao PT vai pedir que o Ministério Público Federal (MPF) interrompa a divulgação de uma cartilha criada para explicar o processo do mensalão para crianças e adolescentes. A equipe formada por cerca de 200 pessoas vai entrar com uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público para pedir que o material seja retirado do site da instituição, o "Turminha do MPF".
Segundo o coordenador do setor jurídico do PT, o advogado Marco Aurélio de Carvalho, a procuradoria está gastando "tempo e dinheiro" para tentar convencer jovens de que o mensalão existiu, de fato. Ele alega que a distribuição do material tem cunho eleitoral. "O MPF está defendendo uma tese, o que não é seu papel. Ele tem papel institucional", argumentou Carvalho. A instituição, porém, defende que segue a proposta de reproduzir para o público jovem o julgamento, sem deixar de mencionar a defesa e oferecer a íntegra dos textos.
São Paulo, segunda-feira, 09 de janeiro de 2012![]() |
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MARCO ANTONIO VILLA
TENDÊNCIAS/DEBATES
Ministério da Verdade
O governo federal organizou um bloco que vai da direita conservadora aos sindicatos, mas a oposição, por temer o enfrentamento, fica reduzida
Estamos vivendo um tempo no qual os donos do poder exigem obediência absoluta.No Congresso, a oposição representa apenas 17,5% das cadeiras. O governo tem uma maioria digna da Arena. Em 1970, no auge do regime militar, o MDB, partido de oposição, chegou a examinar a proposta de autoextinção. Quatro anos depois, o mesmo MDB venceu a eleição para o Senado em 16 dos 22 Estados existentes (no Maranhão, o MDB nem lançou candidato). Ou seja, a esmagadora maioria de hoje pode não ser a de amanhã. Mas, para que isso aconteça, é necessário fazer algo básico, conhecido desde a antiga Grécia: política. É nesse terreno que travo o meu combate. Sei que as condições são adversas, mas isso não significa que eu tenha de aceitar o rolo compressor do poder. Não significa também que eu vá, pior ainda, ficar emparedado pelos adversários que agem como verdadeiros policiais do Ministério da Verdade. Faço essas ressalvas não para responder aos dois comentários agressivos, gratuitos e sem sentido do jornalista Janio de Freitas, publicados nesta Folha nos textos "Nada mais que o Impossível" (1º de janeiro) e "Meia Novidade" (3 de janeiro). Não tenho qualquer divergência ou convergência com o jornalista. Daí a minha estranheza pelos ataques perpetrados sem nenhuma razão (aparente, ao menos). A minha questão é com a forma como o governo federal montou uma política de poder para asfixiar os opositores. Ela é muito mais eficiente que as suas homólogas na Venezuela, no Equador ou, agora, na Argentina. Primeiro, o governo organizou um bloco que vai da direita mais conservadora aos apoiadores do MST. Dessa forma, aprova tudo o que quiser, com um custo político baixo. Garantindo uma maioria avassaladora no Congresso, teve as mãos livres para, no campo da economia, distribuir benesses ao grande capital e concessões aos setores corporativos. Calou também os movimentos sociais e sindicatos com generosas dotações orçamentárias, sem qualquer controle público. Mas tudo isso não basta. É necessário controlar a imprensa, único espaço onde o governo ainda encontra alguma forma de discordância. No primeiro governo Lula, especialmente em 2005, com a crise do mensalão, a imprensa teve um importante papel ao revelar as falcatruas -e foram muitas. No Brasil, os meios de comunicação têm uma importância muito maior do que em outras democracias ocidentais. Isso porque a nossa sociedade civil é extremamente frágil. A imprensa acaba assumindo um papel de enorme relevância. Calar essa voz é fechar o único meio que a sociedade encontra para manifestar a sua insatisfação, mesmo que ela seja inorgânica, com os poderosos. Já em 2006, quando constatou que poderia vencer a eleição, Lula passou a atacar a imprensa. E ganhou aliados rapidamente. Eram desde os jornalistas fracassados até os políticos corruptos -que apoiavam o governo e odiavam a imprensa, que tinha denunciado suas ações "pouco republicanas". Esse bloco deseja o poder absoluto. Daí a tentativa de eliminar os adversários, de triturar reputações, de ameaçar os opositores com a máquina estatal. É um processo com tinturas fascistas, que deixaria ruborizado Benito Mussolini, graças à eficiência repressiva, sem que se necessite de esquadrões para atacar sedes de partidos ou sindicatos. Nem é preciso impor uma ditadura: o sufrágio universal (sem política) deverá permitir a reprodução, por muitos anos, dessa forma de domínio. Os eventuais conflitos políticos são banais. Por temer o enfrentamento, a oposição no Brasil tenderá a ficar ainda mais reduzida e restrita às questões municipais e, no máximo, estaduais. MARCO ANTONIO VILLA, 55, é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). |
# por Anônimo - 7 de agosto de 2012 às 20:54
Villa,
Por sorte não é apenas a imprensa, e algumas cabeças éticas pensantes, que vão contra a tudo que agrida a forma republicana. Pequenas luzes começam a piscar no escuridão:
http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2012/08/07/justica-suspende-contrato-do-vlt-de-cuiaba-e-bloqueia-verba-federal-de-r-115-bi-para-a-obra.htm
Espero que tragam à luz este país.
# por Fernanda - 7 de agosto de 2012 às 23:38
A cartilha é apenas uma apresentação didática da "Ação Penal 470", que o MPF fez para crianças entenderem o caso e a atuação do MP. O pessoal do PT não tem neurônios, além de ver chifre em cabeça de cavalo - ou melhor, óbnvio que eles tem medo de tudo no mundo que não seja mentira a favor da gangue. O link da cartilha para crinaças é esse:
http://www.turminha.mpf.gov.br/honestidade/mensalao/turminha-fala-sobre-o-mensalao
# por Anônimo - 8 de agosto de 2012 às 08:23
O governo, qualquer governo, faz mal à imprensa. A imprensa, toda a imprensa, faz bem ao governo – principalmente quando critica. Governo não precisa do ‘sim’ da imprensa. Governo evolui com o ‘não’ da imprensa.
A proximidade da imprensa com o governo abafa, distorce o jornalismo. A distância entre governo e imprensa é conveniente para ambos, útil para a sociedade e saudável para a verdade. Jornalismo é tudo aquilo de que o governo não gosta. Tudo aquilo de que o governo gosta é propaganda. A imprensa, numa definição mais simples, deve ser o fiscal do poder e a voz do povo. Com o estrito cuidado para não inverter essa equação.
# por Anônimo - 8 de agosto de 2012 às 13:16
Mais um excelente artigo. Só um reparo, a imprensa no Brasil funciona sob concessão do Estado. Na hora que a petralhada sentir a possibilidade de perda do poder, podem esperar por atos mais explícitos contra a imprensa. Claro que com o beneplácito do Judiciário (o Legislativo já está "na mão"). Não descarto também que eles, na surdina, estejam ameaçando e jogando sujo com a imprensa.
# por maria angela - 8 de agosto de 2012 às 15:53
Prezado Villa
No jornal da segunda passada (06/08/12) o Sr. participou e posicionou de forma positiva frente aos comentários morno do advogado Airton, que fica encima do muro, com relação à existência do mensalão.
Parabéns Villa pela coragem de se posicionar em defesa do esclarecimento dos fatos que a população não tem informação ou entendimento. Assim, quando fala de forma franca sobre o processo do mensalão e da quadrilha descrita na denúncia do procurador da república!!
Precisamos de mais pessoas de coragem, para indignar-se com a corrupção que assola nosso país!!!
Grata pela sua valiosa capacidade e colaboração!!!
maria angela