Ministério da Verdade

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:

Estamos vivendo um tempo no qual os donos do poder exigem obediência absoluta.

No Congresso, a oposição representa apenas 17,5% das cadeiras. O governo tem uma maioria digna da Arena. Em 1970, no auge do regime militar, o MDB, partido de oposição, chegou a examinar a proposta de autoextinção. Quatro anos depois, o mesmo MDB venceu a eleição para o Senado em 16 dos 22 Estados existentes (no Maranhão, o MDB nem lançou candidato).

Ou seja, a esmagadora maioria de hoje pode não ser a de amanhã. Mas, para que isso aconteça, é necessário fazer algo básico, conhecido desde a antiga Grécia: política.

É nesse terreno que travo o meu combate. Sei que as condições são adversas, mas isso não significa que eu tenha de aceitar o rolo compressor do poder. Não significa também que eu vá, pior ainda, ficar emparedado pelos adversários que agem como verdadeiros policiais do Ministério da Verdade.

Faço essas ressalvas não para responder aos dois comentários agressivos, gratuitos e sem sentido do jornalista Janio de Freitas, publicados nesta Folha nos textos "Nada mais que o Impossível" (1º de janeiro) e "Meia Novidade" (3 de janeiro). Não tenho qualquer divergência ou convergência com o jornalista. Daí a minha estranheza pelos ataques perpetrados sem nenhuma razão (aparente, ao menos).

A minha questão é com a forma como o governo federal montou uma política de poder para asfixiar os opositores. Ela é muito mais eficiente que as suas homólogas na Venezuela, no Equador ou, agora, na Argentina.

Primeiro, o governo organizou um bloco que vai da direita mais conservadora aos apoiadores do MST. Dessa forma, aprova tudo o que quiser, com um custo político baixo. Garantindo uma maioria avassaladora no Congresso, teve as mãos livres para, no campo da economia, distribuir benesses ao grande capital e concessões aos setores corporativos. Calou também os movimentos sociais e sindicatos com generosas dotações orçamentárias, sem qualquer controle público.

Mas tudo isso não basta. É necessário controlar a imprensa, único espaço onde o governo ainda encontra alguma forma de discordância. No primeiro governo Lula, especialmente em 2005, com a crise do mensalão, a imprensa teve um importante papel ao revelar as falcatruas -e foram muitas.

No Brasil, os meios de comunicação têm uma importância muito maior do que em outras democracias ocidentais. Isso porque a nossa sociedade civil é extremamente frágil. A imprensa acaba assumindo um papel de enorme relevância.

Calar essa voz é fechar o único meio que a sociedade encontra para manifestar a sua insatisfação, mesmo que ela seja inorgânica, com os poderosos.

Já em 2006, quando constatou que poderia vencer a eleição, Lula passou a atacar a imprensa. E ganhou aliados rapidamente. Eram desde os jornalistas fracassados até os políticos corruptos -que apoiavam o governo e odiavam a imprensa, que tinha denunciado suas ações "pouco republicanas".

Esse bloco deseja o poder absoluto. Daí a tentativa de eliminar os adversários, de triturar reputações, de ameaçar os opositores com a máquina estatal.

É um processo com tinturas fascistas, que deixaria ruborizado Benito Mussolini, graças à eficiência repressiva, sem que se necessite de esquadrões para atacar sedes de partidos ou sindicatos. Nem é preciso impor uma ditadura: o sufrágio universal (sem política) deverá permitir a reprodução, por muitos anos, dessa forma de domínio.

Os eventuais conflitos políticos são banais. Por temer o enfrentamento, a oposição no Brasil tenderá a ficar ainda mais reduzida e restrita às questões municipais e, no máximo, estaduais.

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    # por Maristela Simonin - 9 de janeiro de 2012 às 14:15

    Parabéns por mais esse artigo, de extraordinária lucidez, professor.

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    # por Sergio - 9 de janeiro de 2012 às 15:46

    Falou tudo.Processo que deixaria Mussolini envergonhado.MAS deixa também brasileiros decentes desiludidos.Nunca tivemos um governo tão corrupto e uma oposição tão incompetente. Estamos mal na parada.Só nos resta uma parte da imprensa.Por enquanto.

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    # por Lucas - 9 de janeiro de 2012 às 17:09

    Prezado professor Villa,
    de férias em Genebra, não poderia me calar ante sua coluna. Publique se quiser.
    O "jornalista" em questão é outro que a exemplo de FHC está com 80 anos.
    Falando de estatística e probabilidades, nenhum dos dois emplacará 2014.
    Em horas como essas lembro sempre de um verso de Bob Dilan: " esqueçam os mortos/eles não levantam mais...'.
    Nós, que herdameros as dívidas da nação, é que devemos nos preocupar com o futuro.
    Aos mortos, que Deus lhes dê o descanso eterno.
    É isso.
    Forte abraço,Lucas

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    # por Anônimo - 9 de janeiro de 2012 às 17:31

    Excelentes colocações e lamentavelmente tristes verdades que vivemos hoje. Parabéns professor.

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    # por Anônimo - 9 de janeiro de 2012 às 18:29

    Caro Professor Villa, estou lendo a Historia da Russia da origem aos nossos dias, sera que estou louco ou vejo os princípios de Josef Stalin ? Sera que se acabaram os campos de concentração ou sera que foram eles adaptados para a era da informatica ? Será que PF tem algo em comum com a KGB
    Por favor, analise essas indagaçoes nos seus proximos ensaios.
    Por fim quanto às suas afirmações, so tenho a acrescentar que falta ao nosso povo coragem para despertar da ilusão onde vivem.

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    # por Anônimo - 9 de janeiro de 2012 às 18:33

    Exatamente isso. Só os ignorantes, os despreparados e os menos desavisados não enxergam esses fatos. Vivemos, de fato, numa indisfarçável ditadura política e econômica. Aliás, isso aqui na América do Sul não tem sido novidade nenhuma.

    Graças a Deus que ainda temos, entre nós, uma imprensa livre. Entretanto, até FHC a quis calar outrora. É preciso lucidez, inteligência e discernimento para entender o pessoal do PT. Quem não conhece esse "time" pensa que ele é o melhor para o Brasil. Ledo engano.

    O Brasil, na marcha que vai indo, muito em breve verá as consequências deste(des)governo PT. É só uma questão de tempo, nada mais.

    Parabéns, Professor Villa, o senhor, como sempre, se supera.

    Francisco das Chagas dos Reis Ferreira

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    # por Anônimo - 9 de janeiro de 2012 às 20:01

    Retificando meu comentario (18:33) acima, quando dise PF, queria dizer RF (Receita Federal), que parte do princípio de que todo cidadão é contrário ao regime e tem o dever de sustenta-lo, sob pena de ser processado e expropriado daquilo que legitimanente contruiu.

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    # por Anônimo - 9 de janeiro de 2012 às 20:12

    sou mais um que não conseguiu somente ler esse texto tão lúcido e que expõe nossa situação atual tão bem.

    Estamos órfãos de representantes da oposição. Desanima muito ver o Alckmin aliando-se ao Maluf. O Kassab indo para o governismo. O Serra que perdeu 2 eleições presidenciais e ainda quer tentar novamente. O Aécio apagado, os governadores da oposição calados.

    Nesse silêncio perturbador, quem é a voz mais sensata? FHC!

    Ele foi perseguido pelo procurado Francisco de Souza, que sumiu após o PT chegar ao poder. De tanto haver denúncias vazias, suscitou um controle do MP. Não concordei na época, mas até entendo agora os motvos.

    Será que a oposição não percebe que essa atitude só vai fazer o eleitor votar menos neles? Com essa oposição, o PT vai reinar mais que o Chavez mesmo.

    E me preocupa também a quantidade de juízes indicados ao STF pela dupla Dilma-Lulla. Se eles não condenarem os chefes (pena que o Lulla não está lá) do mensalão, vai ser decepção maior ainda e vai trazer questionamentos sobre a isenção deles em julgar quem os indicou .

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    # por Lucas Navarro - 9 de janeiro de 2012 às 20:23

    Caro Marco Antonio, li o seu artigo na Folha hoje, e os demais sobre o Terceiro Poder. Devo dizer, sobretudo, obrigado. Suas teses, apesar de as vezes serem muito, levianamente, criticadas, ilustram uma realidade que exerce nos jovens (talvez pela linguagem), uma força repúblicana fascinante! Mando esse recado pois ontem fui assistir a um espetáculo chamado A B(F)ilha Quebrada de Heinrich von Kleist que, de certa forma, ilustra os Supremos Tribunais que você chama, com sapiência, de ''ópera bufa''. A peça é de uma misen en scène sublime, traduzida pela própria Cia. que está na estrada comemorando os seus 21 anos e acumula prêmios aos molhos (incluindo a desse espetáculo que eu o indico).

    Bom, vale a pena conferir. Mostra que o Terceiro Poder é, o pior, e também o mais cômico, desde do tempo de Goethe (que aliás já montou a mesma peça).

    Adoraria ler uma crítica a respeito, já que o acompanho nos artigos e ás segundas-feiras no JC.

    Um abraço e boa tarde.




    De 07 de janeiro a 22 de janeiro de 2012

    Sábados às 21h e Domingos às 20h




    Espaço Parlapatões

    Teatro: 96 lugares

    Ingressos: R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia entrada)

    Classificação: 12 anos

    Duração: 90 minutos


    Endereço:

    Praça Franklin Roosevelt, 158

    Centro – São Paulo

    Informações: (11)3258-4449

    www.razoesinversas.com.br

    www.espacoparlapatoes.com.br

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    # por Anônimo - 9 de janeiro de 2012 às 21:38

    Aguardo por seu livro de História Geral, mestre Villa.
    Você é muito bom no que faz.

    Obrigado por mais um belo texto!

    Abraço!

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    # por Marília - 9 de janeiro de 2012 às 22:20

    Sou telespectadora do Jornal da Cultura e a sua presença é um dos motivos. Parabéns pelo trabalho.

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    # por Nilton Pascoal - 10 de janeiro de 2012 às 11:55

    Parabéns pelo artigo. E, por favor, não se cale. Já que oposição em termos político-partidários não existe, que, ao menos, tenhamos algumas vozes corajosas falando por nós.
    Obrigado

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    # por sidclei gondim - 10 de janeiro de 2012 às 16:20

    Como escreveu o Nilton Pascoal acima também desejo q o Sr não se cale. Afinal, democracia é isso! Lutar pelo direito do outro se manifestar mesmo q com ele não concorde em nada. Todavia, não posso deixar de criticar sua visão, no mínimo, invertida da história. NUNCA A DEMOCRACIA FOI TÃO VIVA NO BRASIL! A imprensa brasileira tem tanta liberdade q pode até criar fatos ao invés de apenas narrá-los!

    O q nos falta é a PLURALIDADE da imprensa, afinal, a tal imprensa livre atual está submetida às idiossincrasias de seus donos, não é?

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    # por Joaquim - 11 de janeiro de 2012 às 13:23

    Sidclei, ce é mineiro? Ou lunático?
    Com essas ideias aí sobre imprensa mais livre que já tivemos é bom pegar um ''bondim'' (pra rimar com seu sobrenome) e ir pra lua, Minas (onde eles falam ''bondim'' ao invés de ''bondinho'') sei lá eu. O trocadilho foi bom, vá? :)

    Mas agora é sério: como pode falar que o Villa tem uma visão invertida da história? Esse seu ''comentário'' me fez pensar no Villa dando uma aula sobre colonização espanhola na América Latina e falando ''... os astecas viviam em colmeias de abelha e se alimentavam de panquecas de carne de lhama. Gostavam de tomar banho de lua e de cantarolar Pavarotti.
    Os espanhóis chegaram montados em bombas atômicas e foram recebidos num desfile nacional de Mercedes Benz em Tenochtitlan''.

    Seus comentários vão além do bizarro. Até parece que você é petista, cara! Para tecer comentários como esse tem que ser meio louco...

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    # por Míriam Martinho - 11 de janeiro de 2012 às 14:43

    Caro Villa, sempre leio seus lúcidos artigos sobre o lamentável estado de coisas que vivemos no Brasil deste período lulopetista. Não raro os transcrevo em meu blog, como pode constatar aqui http://bit.ly/wXIf0H
    Passo para lhe dar todo o apoio pela coragem de ser oposicionista neste cenário, como bem disse, que nos lembra o fascismo. Não se deixe mesmo intimidar pela patrulha da lama. Muitos estão a seu lado. Abraço!

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    # por sidclei gondim - 11 de janeiro de 2012 às 18:29

    Joaquim,

    Se c lê com bastante cuidado o q vc escreveu, perceberá quem tá parecendo lunático aqui, kra!

    Entre os tucanos e os petistas fico com os últimos sim! Não sou lunático e percebo a abissal diferença q temos hj entre o Brasil de FMIHC e o Brasil atual!

    Qto à variedade da língua mineira: é linda! Assim como o "meu" dos paulistas, o naicer" dos cariocas etc.

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    # por Anônimo - 11 de janeiro de 2012 às 21:18

    Li há muito tempo os seguintes versos, não sei quem é o autor deles, mas se aplicam ao senhor, Professor:
    "Calar, não calo./ Esquecer, não esqueço./Se a verdade custa caro, pago o preço".
    Num país tão passivo, é alentador ter uma voz crítica qualificada com a sua.

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    # por lugudeno - 11 de janeiro de 2012 às 21:21

    Li os artigos do janiode freitas e achei escandaloso . Esse e o peoximo a criar um blog progressista e/ou ser contratado na Re cord..

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    # por Anderson Soares - 12 de janeiro de 2012 às 00:00

    Mais um ótimo artigo, porfessor. Pena que trate da realidade do país em que vivemos e não de uma biboca qualquer do terceiro mundo… ops……UMA BIBOCA QUALQUER DO TERCEIRO MUNDO…os petralhas nos reduziram a isso!.

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    # por Getulio - 13 de janeiro de 2012 às 09:26

    Professor Marco Antonio Villa
    Mais uma vez obrigado pelo alerta e a abertura do debate do perigo que nos cerca...
    Sou micro empresário e estou estarrecido com a manipulação da informação e propaganda enganosa do governo, estou desiludido com o Brasil e me arrependo enormemente em ter investido em um pais que só favorece os grandes grupos econômicos (Economia de Estado).
    Há tempos venho alertando minha lista de e-mail´s sobre o Mussolini dos Sertões e ninguém me levou a sério. Agora estamos vendo a concretização do plano de poder do ParTidão criado na ditadura e como bom aluno utiliza os mesmos métodos de intimidação, censura e... De forma camuflada e com ares democráticos.
    Não vou escrever tudo que penso, estou cansado e guardo forças para o momento certo, pois se depender de mim e dos demais brasileiros honestos e normais esse plano de poder vai se tornar caro e doloroso...

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    # por Renatopessanha - 14 de janeiro de 2012 às 03:38

    Professor:

    Minha formação em História não pode me deixar indiferente diante da enorme lucidez e coragem de seu artigo. Nada há mais de "egrégio", de " veneráveis tradições" e de "conduta ilibada" - há exceções? - como se escrevia antigamente. O judiciário perdeu toda sua aura de poder intocável. Agora os juízes estão desmascarados como os mais comuns - e reles - mortais. Tenho esperanças em historiadores com a visão que o sr. tem, ao lado de corregedoras como a Dra. Eliana Calmon. Continue a nos mandar lufadas de ar puro, por favor. Renato Pessanha

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    # por Anônimo - 14 de janeiro de 2012 às 18:23

    Sobre um comentário acima, versa sobre a Rússia stalisnita: bingo! Não parece mais haver dúvidas sobre a recaída stalinista desse pessoal. Quem acha exagero, por favor, leia Eu Escolhi a Liberdade de Viktos Kravchenko e diga se não há muita coisa semelhante ao que está ocorrendo neste país.

    Era preciso uma boa editora nacional republicar esta magistral obra deste valente imigrante russo que denunciou, já na década de 40, as falcatruas, as prisões ilegais, os gulags, e a insuportável sociedade soviética.

    Mais informações: http://pt.wikipedia.org/wiki/Victor_Kravchenko

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    # por marcos - 15 de janeiro de 2012 às 00:09

    Tá certo, mas LULA não utilizou nenhum artificio para ser reeleito e, agora, destruir a oposição; ela caiu sozinha, quando estava com a faca e o queijo nas mãos.

    E que não se acredite no que FHC disse! Na verdade, o PSDB mineiro estava totalmente enrolado com o seu mensalão e o restante do tucanato não sabia o que encontraria se encarasse os fatos.

    POr exemplo, quando Itamar ganhou de Azeredo, Marcos Valerio foi-se para Brasilia e lá ficou durante o 2º governo FHC. Fazendo o que?

    O PSDB amarelou, perdeu o rumo e o discurso e a oposição acabou.

    Aí ficou facil!

    MAM

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    # por marcos - 15 de janeiro de 2012 às 00:10

    Tá certo, mas LULA não utilizou nenhum artificio para ser reeleito e, agora, destruir a oposição; ela caiu sozinha, quando estava com a faca e o queijo nas mãos.

    E que não se acredite no que FHC disse! Na verdade, o PSDB mineiro estava totalmente enrolado com o seu mensalão e o restante do tucanato não sabia o que encontraria se encarasse os fatos.

    POr exemplo, quando Itamar ganhou de Azeredo, Marcos Valerio foi-se para Brasilia e lá ficou durante o 2º governo FHC. Fazendo o que?

    O PSDB amarelou, perdeu o rumo e o discurso e a oposição acabou.

    Aí ficou facil!

    MAM