Saiu hoje na Folha


TENDÊNCIAS/DEBATES

Governo Dilma não tem vida própria

MARCO ANTONIO VILLA


Não é crível imaginar que seja possível viver do prestígio do presidente anterior; a sorte de Dilma é que a oposição no país não gosta do batente

O Brasil é um país fantástico. Os julgamentos políticos duram algumas semanas, se tanto.
Em dezembro, o PMDB era visto como um anteparo diante do autoritarismo do novo governo do PT.
Dois meses depois, o mesmo partido virou o símbolo maior da corrupção. O mesmo se aplica à presidente Dilma Rousseff. Era considerada uma mera marionete de Lula. Cumpria a missão de segurar por quatro anos o lugar que deveria ser novamente de Lula.
Contudo, nas últimas semanas, foi incensada por políticos e jornalistas. O "poste" ganhou vida. Passou a representar a responsabilidade administrativa, a seriedade no trato da coisa pública e até um certo devotamento à cultura, pois seria uma apreciadora de cinema, de música e de literatura.
Numa hábil manobra, o governo conseguiu minar a oposição sem necessitar dos quinta-colunas, que durante anos fizeram de tudo para desestimular o debate político, usando velhíssimos argumentos regionalistas.
Bastou a presidente fazer alguns acenos -como reafirmar (e é preciso?) a defesa da liberdade de imprensa- para que uma verdadeira onda fosse criada realçando as diferenças entre ela e seu antecessor.
Numa curiosa dialética, seriam opostos mesmo fazendo parte do mesmo partido e tendo as mesmas ideias. A insistência para insuflar a criatura contra seu criador é patética. A oposição está jogando fora 44 milhões de votos ao procurar se aproximar da presidente.
É sabida a falta de combatividade de amplos setores oposicionistas, mas o que está acontecendo nas últimas semanas é mais um desastre anunciado. Dilma continuará fiel a Lula e a oposição vai ficar desmoralizada.
Lula e Dilma são apenas faces de uma mesma moeda. Representam os mesmos interesses partidários e empresariais. No máximo podem ter (e têm) estilos distintos.
Seria inimaginável Lula dar uma longa explicação com o auxílio de um "power point". E no mínimo estranho Dilma passear em um palco relatando casos pitorescos da sua vida. A manobra governamental visa somente dar fôlego a Dilma.
Evitar que tenha de se confrontar com a oposição neste momento de recolhimento de Lula. Nada pior para ela do que fazer um discurso de improviso justificando algum erro do governo. Ou responder a perguntas incômodas de jornalistas.
Iria meter os pés pelas mãos, como ocorreu durante a campanha presidencial. Mas não: foi tratada como uma chefe de Estado exemplar. Isso apesar do apagão, do agravamento da superlotação dos aeroportos, da inoperância diante dos efeitos dos desastres naturais, da inflação, do corte fabuloso de R$ 50 bilhões (revelando enorme incompetência na elaboração do Orçamento) e de um ministério pífio, cinzento, sem cara, fraco e incapaz.
O governo Dilma não tem vida própria. É uma extensão do anterior, mero continuísmo. Não se deu conta de que a manutenção da mesma política econômica e social não será suficiente para enfrentar os desafios desta década.
Não é crível imaginar que seja possível simplesmente viver do prestígio do presidente anterior.
Popularidade tem prazo de validade. E não é transferível para todo um governo, diferentemente de uma campanha eleitoral.
A sorte de Dilma é que a oposição não gosta do batente. Deixa para o dia seguinte a oposição que tem de ser feita hoje. Troca os 44 milhões de votos por um simples prato de lentilhas. Tem medo do poder, do enfrentamento, é adesista. Quando dá sinal de vida, confunde contundência com deselegância. Dessa forma, Dilma encontra um fértil campo para a colheita política.

MARCO ANTONIO VILLA, historiador, é professor do departamento de ciências sociais da Universidade Federal de São Carlos e autor, entre outros livros, de "Breve História do Estado de São Paulo" (Imprensa Oficial).



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    # por Anônimo - 4 de março de 2011 às 11:07

    O PT vai bater o recorde do PRI mexicano de permanência no poder. Quando a fadiga de material romper a sequência de governos petistas, o Brasil finalmente será o país subdesenvolvido que os esquerdistas tanto amam.
    Fernando José - SP

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    # por barbarah.net - 4 de março de 2011 às 12:49

    Seu artigo está no blog Coturno Noturno.
    Força!

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    # por Roberto - 4 de março de 2011 às 13:56

    Anônimo, o sr Marco Antonio Vila é um corturneiro de marca. Na rua, se passaar um soldado por mais simples que seja merecerá continencia desse sr.Portanto o que ele pensa não se encaixa em ambientes democraticos. Enquanto "Seu Lobo não vem"(a volta dos militares ao poder) ele vai se encaixando aonde der e, para um tipo de pensamento igual o dele, só o PSDB com José Bolinha de papel e tudo!!! Agora, quanto a seu comentario, quero lembrar que seu partido e o do ssr Marco, estára chegando no final da era Alckimim a 20 anos de poder em são Paulo...portaqnto falar do PT sobre permanencia no poder, volto a dizer é um comentario exdruxulo...E for falar no governador de São Paulo,por que a midia desapareceu com o cunhado dele que meteu a mão na merenda escolar? me respondam senhores peéssedebistas...Afeeeee!

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    # por barbarah.net - 4 de março de 2011 às 16:38

    Políticos e fraldas devem ser trocados com frequência pelo mesmo motivo.

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    # por Unknown - 5 de março de 2011 às 10:49

    Olá Villa.
    Acho que a oposição descobriu aquela frase "aos amigos tudo, aos inimigos nada".
    A oposição ganha mais ficando inerte do que agindo.

    Abraços.
    Vítor Massola.

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    # por Anônimo - 5 de março de 2011 às 16:02

    Infelizmente, tal ideia, de ser um "subdesenvolvido poderoso", hoje, talvez, atinja um leque variado do que poder-se ia denominar de tendências. Talvez uma coisa que possa denominar tal aspecto seja a conhecida palavra quimera, que é dicionarizada como: "Mit. Ser mitológico geralmente representado com um corpo híbrido entre leão, cabra e serpente ou dragão". A palavra tem, também, o sentido de "fabulação", palavra que tem o significado, também, de "inventar sucessos fabulosos".
    Dawran Numida

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    # por barbarah.net - 5 de março de 2011 às 20:02

    O PT, quem diria, acabou na LG!

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    # por Anônimo - 8 de março de 2011 às 22:55

    Prof. Villa: sei que o senhor é um grande defensor do PSDB. Fala para o Governador e Secretários ( que por sinal já receberam reajustes salariais ) que nós , professores, não. Estamos só "há vários anos " sem reajustes. O Terceiro Estado não aguenta mais. Abraço.

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    # por Ana Lúcia K. - 10 de março de 2011 às 14:46

    Villa,
    Quem dera muitos fossem iguais a VOCÊ! PARABÉNS!
    Um abraço,