Eleição no Brasil é um vazio de idéias
Este artigo foi publicado na "Folha de S. Paulo" em 23 de agosto de 2006. E já criticava a pobreza ideológica nas eleições e a dificuldade da oposição na elaboração e apresentação de um projeto de governo:PELA PRIMEIRA vez na história deste país (como gosta de dizer Lula), teremos a quinta eleição consecutiva para presidente da República. Na "República populista", tivemos só quatro -e não dá para considerar nenhuma das 11 eleições da República Velha. É um marco que deveria ser comemorado. Porém vivemos um clima diverso, bem diverso.
Muitos eleitores se sentem órfãos da sucessão, insatisfeitos com os quatro principais candidatos. Consideram que, somados, o "presidenciável" Luís Geraldo Helena Buarque não daria um bom candidato.Até hoje, nenhum dos candidatos apresentou seu programa de governo -e estamos a menos de 40 dias da eleição. O Brasil é um país estranho: as alianças políticas são estabelecidas e as pesquisas eleitorais são realizadas sem que os partidos ou os eleitores saibam o que pensam os candidatos. E todos acham isso absolutamente natural. O que foi apresentado são idéias vagas sobre alguns temas -e apenas porque os candidatos são provocados por perguntas de jornalistas.Lula só falou generalidades. Dá um tom familiar à campanha. Em visita ao DNIT -célebre pelas denúncias de Roberto Jefferson-, disse que tapou os buracos das estradas por exigência de dona Marisa.Geraldo Alckmin disserta sobre o nada. Apresenta-se como presidente-gerente (slogan utilizado por Adhemar de Barros na eleição de 1955). Na ausência de um programa consistente, outro dia desenterrou a proposta da adoção do parlamentarismo, que já foi derrotada em dois plebiscitos (1963 e 1993).Heloísa Helena reforça o estilo "falta vontade política para mudar o país" (e um pouco de cara feia e palavras duras), e Cristovam Buarque sugere que as Forças Armadas eduquem 2 milhões de jovens.O vazio de lideranças e de idéias é tão grande que já começam a aparecer candidatos para 2010. Fala-se em Aécio Neves, mas ninguém, até hoje, sabe o que ele pensa sobre os principais problemas brasileiros. Será que é justamente por isso que é considerado um bom candidato? O conservadorismo e a irresponsabilidade marcam a pior campanha desde 1989. Ficamos uma semana discutindo a Assembléia Constituinte proposta por Lula. Por quê? Difícil responder. O próprio autor já esqueceu da proposta.
No campo econômico, os dois principais candidatos pouco ou nada diferem. Tanto um como o outro são apoiados por forças conservadoras: não há nenhum divisor de águas entre projetos nacionais distintos, simplesmente porque nenhum dos dois nem sequer apresentou um programa básico de governo.Os candidatos repetem idéias de outras campanhas, banalizam a escolha e desmoralizam o processo eleitoral. O sentimento de enfado amplia-se: o eleitorado demonstra sua insatisfação de várias formas.Uma delas é o crescimento dos defensores do voto nulo como forma de protesto contra "tudo o que está aí".Levantam questões relevantes que devem ser respondidas, e não proibidas, como propugnam alguns. Entre elas, por que escolher candidatos que, no essencial, defendem as mesmas idéias? Para que serve o Parlamento se a maioria dos membros acaba se envolvendo em atividades anti-éticas e não é punida por seus pares?Não se sabe o que fazer. Fala-se em reforma política. Mas os partidos estão tão desmoralizados quanto os políticos. Ora se identifica na reeleição a razão principal dos males. Mas ela não é o problema. O que falta é uma legislação que discipline e puna os crimes contra o erário, além de um Judiciário eficaz e rápido nas decisões.Deve ser recordado o caso daquele governador que, para eleger o seu sucessor, disse que, se fosse preciso, "quebraria" o banco estadual. Como um homem de palavra, elegeu seu sucessor e levou o banco estadual à falência. Não havia reeleição. Mesmo assim, ocorreu um claro abuso da máquina pública.Vivemos a crise política mais grave desde 1930. Aquela foi superada com ousadia, e dela nasceu o Brasil moderno. Se a elite política de hoje liderasse o país naquele momento, provavelmente Júlio Prestes teria tomado posse, o Brasil continuaria sendo um país essencialmente agrícola e a questão social continuaria como caso de polícia.
Em "O Ateneu", numa sessão do grêmio, dr. Cláudio, orador principal, representou o país como "um charco de 20 províncias estagnadas na modorra paludosa da mais desgraçada indiferença". É o quadro atual. O desafio é romper com essa indiferença, e nada melhor para isso do que um processo eleitoral no qual os candidatos apresentem e debatam programas de governo.
# por Anônimo - 12 de novembro de 2010 às 08:57
Parece-me que a fertilidade de idéias só ocorre no terreno das falcatruas.
# por Anônimo - 12 de novembro de 2010 às 11:36
Pior que os petistas são os jornalistas que trabalham pro PT para acusá-lo professor Villa. Tem um tal de Paulo Nogueira, que trabalha na revista Época, que vive a comentar suas análises, professor, sempre de forma negativa e jocosa. O nome do blog é "Diário do Centro do Mundo", escrito lá em Londres, aonde reside o jornalista. Parece que os longos braços da revolução petista cooptaram até neguinho que mora longe! Seja por dinheiro, seja por ideologia e coorporativismo, a imprensa brasileira atingiu o fundo do esgoto no governo Lula. Mas um dia isso, passa, vamos continuar no bom combate, professor. Um abraço!
Fernando José - SP
# por barbarah.net - 12 de novembro de 2010 às 19:18
PN é um medíocre súdito da rainha. Pura inveja.
Leia Ivan Lessa.