44% estão na oposição

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:

A OPOSIÇÃO acreditou que criticar o governo levaria ao isolamento político. O resultado das urnas sinalizou o contrário: 44% do eleitorado disse não a Dilma. Ela era candidata desde 2008. Ninguém falou em prévias, nenhum líder fez muxoxo. Lula uniu não só o partido, como toda a base.

Articulou, ainda em 2009, as alianças regionais e centrou fogo para garantir um Congresso com ampla maioria, para que Dilma pudesse governar tranquilamente.

Afinal, nem de longe ela tem sua capacidade de articulação política.

E a oposição? Demorou para definir seu candidato. Quando finalmente chegou ao nome de Serra, o partido estava dividido, vítima da fogueira das vaidades. Ao buscar as alianças regionais, encontrou o terreno já ocupado. Não tinha aliados de peso no Norte e Centro-Oeste, e principalmente no Nordeste.

Neste cenário, ter chegado ao segundo turno foi uma vitória. No último mês deu mostras de combatividade, de disposição de enfrentar um governo que usou e abusou como nunca da máquina estatal. Como, agora, fazer oposição?

Não cabe aos governadores serem os principais atores desta luta -a União pode retaliar e isso, no Brasil, é considerado "normal".

É principalmente no Congresso Nacional que a oposição deve travar o debate. Lá estará, inicialmente, enfraquecida. Perdeu na última eleição, especialmente na Câmara, quadros importantes. Mesmo assim, pode organizar um "gabinete fantasma" e municiar seus parlamentares e militantes com informações e argumentos. Usar as Câmaras Municipais e as Assembleias estaduais como espaços para atacar o governo federal. E abastecer a imprensa -como sempre o PT fez- com denúncias e críticas.

Espaço para a oposição existe. O primeiro passo é assumir o seu papel. Deve elaborar um projeto alternativo para o Brasil. Sair da esfera dos ataques pessoais e politizar o debate, acabar com o personalismo e o regionalismo tacanho, formar quadros e mobilizar suas bases.

É uma tarefa imediata, não para ser realizada às vésperas da eleição presidencial de 2014.

O lulismo tem pilares de barro. É frágil. Não tem ideologia. Não passa de uma aliança conservadora das velhas oligarquias, de ocupantes de milhares de cargos de confiança, da máfia sindical e do grande capital parasitário. Como disse Monteiro Lobato, preso pelo Estado Novo e agora perseguido pelo lulismo: "Os nossos estadistas nos últimos tempos positivamente pensam com outros órgãos que não o cérebro -com o calcanhar, com o cotovelo, com certo penduricalhos, raramente com os miolos".

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    # por Anônimo - 3 de novembro de 2010 às 09:19

    Sr Marco Antonio Villa, vim a saber de sua existência através do blog do Reinaldo Azevedo, na revista Veja.Num país como o Brasil onde as forças morais progressistas parecem esmeraldas procuradas por bandeirante, é uma satisfação encontrar mais uma pedra noventa em meio à escória, tão abundante. Me permita divagar uns segundos para lhe apresentar a idéia que segue. " Diante do caos imoral/político que vigora no Brasil e que após mais essa eleição percebemos que tem tudo para piorar, as pessoas que não aceitam essa situação devem se manifestar o mais rápida e vigorosamente possível, dentro da lei e da ordem. A sugestão que dou é que alteremos a Constituição Brasileira para que, já a partir de 2012, o governo seja composto por várias entidades representativas da sociedade. Assim teríamos um governo formado pelos presidentes da república, do STF, do Congresso Nacional, da OAB e o comandante das Forças Armadas (que deverão ser autônomas) e um representante direto do povo. As decisões desse grupo teriam que ser unânimes e cada voto teria poder de veto sobre qualquer proposta apresentada por esse grupo. Aventureiros e inescrupulosos perderiam o interesse em governar o Brasil na situação que sugiro. Essa proposta ou outra que force a mudança da governança do Brasil, para melhor, poderá ser tutelada por alguma entidade que tenha capacidade técnica, gerencial e financeira para tal. A exemplo da Lei da Ficha Limpa, o povo poderá votar nessa proposta e, com um número suficiente de apoiadores, poderá alterar a Constituição. As pessoas que se acreditam idôneas não poderão deixar de apoiar esta proposta, ou outra melhor, para que provemos para nós mesmos que somos racionais, lógicos, que acreditamos numa sociedade justa, fraterna e feliz. Vamos em busca de, no mínimo, 10 milhões de apoiadores para essa proposta e vamos em busca desse sonho que tantos de nós queremos ver realizado no Brasil.

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    # por Anônimo - 3 de novembro de 2010 às 11:03

    Anônimo, não seria mais tranquilo e eficaz, pugnar pelo Parlamentarismo, com o voto distrital?
    Dawran Numida

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    # por Ana Lúcia K. - 3 de novembro de 2010 às 11:44

    Prezado Villa,
    SENSACIONAL! Vc é uma luz sempre! E me transmite uma grande esperança de que é possível pensar um futuro melhor. PARABÉNS!
    Por favor, NÃO acabe com este blog.
    Um grande abraço, Ana Lúcia K.

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    # por Vereador Rômulo Rippa - PSDB Porto Ferreira/SP - 3 de novembro de 2010 às 12:23

    Sou vereador pelo PSDB, em Porto Ferreira/SP, tenho 21 anos. Vim a sue blog, somente para elogiar o excelente artigo que tive prazer de ler hoje pela manhã na página A12 da Folha.
    Sou estudante do último ano de Administração Pública, na UNESP-Araraquara. Fui eleito com quase mil votos pela esperança que nossa sociedade tem que a política possa ser feita de maneira mais moral, ética, transparente e técnica.
    Na última semana o texto do Professor Marco Villa foi o que melhor fez uma análise conjuntural do momento em que nós da oposição passamos no país. Minha cidade é governada pelo PT, e passo aqui, os mesmos questionamentos e problemas da oposição nacional.
    Acredito que o estilo que devemos ter nos próximos quatro anos são os apontados pelo autor do texto. Meus parabéns pela excelente redação!
    romulorippa@yahoo.com.br

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    # por Anônimo - 3 de novembro de 2010 às 12:26

    Dawran Numida

    Dei uma sugestão e não fechei questão. Na realidade não acredito nos regimes políticos em moda. Acredito, continuo a acreditar, que o melhor regime político é aquele em que os homens, em sua maioria, idôneos, competentes e solidários, vivam, trabalhem e usufruam das maravilhas que a Natureza nos dá, em completa paz com seu próximo. Enquanto isso não acontece, seria racional e lógico e moral e ético, que nós, que acreditamos em sonhos e abominamos os pesadelos, não permitíssemos que bandoleiros nos governassem. Meu nome é Ogro.

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    # por Israel - 3 de novembro de 2010 às 15:31

    Olá prof.

    O Serra não fez oposição. Aliás, ele queria ser a tal continuação do lulismo - tão criticado pelos tucanos. O PSDB, novamente perdeu para si mesmo. Dilma será melhor que Lula.

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    # por Nilza - 3 de novembro de 2010 às 15:32

    Espero que as eleições americanas sirvam de exemplo à nossa anêmica oposição. Abçs.

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    # por barbarah.net - 3 de novembro de 2010 às 15:47

    Agora que as eleições foram para a terceira margem do rio, uma tosca e tardia, percepção sobre a campanha do PSDB. Programa eleitoral antiquado. Nos debates, Serra parecia acuado, pouca energia vital para convencer os eleitores desmotivados que era a melhor opção. Pesquisas nefastas! Falta de apoio dos aliados. No bizarro envolvimento da igreja, alguns padres simplórios, evangélicos espertalhões, e, o mais reles recurso: O ABORTO.
    Um desafio monumental!
    Muito estranho, a ausência do mais gabaritado político brasileiro. Sem o carisma de Fernando Henrique, não deu!
    Enfim...44% dos votos, 8 governadores... e uma oposição em estado de alerta.
    Não confio no PT. Nada pessoal.

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    # por rodrigo acetose - 3 de novembro de 2010 às 22:15

    Vamos fazer oposição na mesma medida que o PT fez com FHC. Será que se aprendeu depois de sermos pisados por 8 anos

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    # por Anônimo - 3 de novembro de 2010 às 23:32

    FAFerreira.
    O lulismo tem pilares de barro. É frágil.
    A matemática não engana 56% é mais que 44%, concorda.
    O cidadão que teve 44% em que pilares se solidificou? No Ratzinger, na opus dai na TPF, foi nessas ideologias?
    Essas sim, são alianças conservadoras.
    Aguentem mais 4 anos com o lulismo e em 2014 se necessário o metalúrgico volta.
    Para já juntem os cacos pela incapacidade de aglutinar os próprios tucanos.
    Minas estará sempre contra os tucanos paulistas, por não serem democráticos, impondo candidatos ultrapassados.