Gritos presidenciais não ocultam fracassos.



São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2012Opinião
Opinião


MARCO ANTONIO VILLA

TENDÊNCIAS/DEBATES
Gritos presidenciais não ocultam fracassos
A oposição viu em Dilma uma estadista que até romperia com Lula. Era fantasia. Lá está ela, demitindo ministro para ajeitar eleição, economia pífia ao fundo
O sonho acabou. Sonho ingênuo, registre-se. Durante quase dois anos, a oposição -quase toda ela- tentou transformar Dilma Rousseff em uma estadista, como se vivêssemos em uma república. Ela seria mais "institucional" que Lula. Desejava ter autonomia e se afastar do PT. E até poderia, no limite, romper politicamente com seu criador.
Mas os fatos, sempre os fatos, atrapalharam a fantasia construída pela oposição -e não por Dilma, a bem da verdade.
Nunca na história republicana um sucessor conversou tanto com seu antecessor. E foram muito mais que conversas. A presidente não se encontrou com Lula para simplesmente ouvir sugestões. Não, foi receber ordens, que a boa educação chamou de conselhos.
Para dar um ar "republicano", a maioria das reuniões não ocorreu em Brasília. Foi em São Paulo ou em São Bernardo do Campo que a presidente recebeu as determinações do seu criador. Os últimos acontecimentos, estreitamente vinculados à campanha municipal, reforçaram essa anomalia criada pelo PT, a dupla presidência.
Dilma transformou seu governo em instrumento político-eleitoral. Cada ato está relacionado diretamente à pequena política. Nos últimos meses, a eleição municipal acabou pautado suas ações.
Demitiu ministro para ajeitar a eleição em São Paulo. Em rede nacional de rádio e televisão, aproveitou o Dia da Independência para fazer propaganda eleitoral e atacar a oposição. Um telespectador desavisado poderia achar que estava assistindo um programa eleitoral da campanha de 2010. Mas não, quem estava na TV era a presidente do Brasil.
É o velho problema: o PT não consegue separar Estado, governo e partido. Tudo, absolutamente tudo, tem de seguir a lógica partidária. As instituições não passam de mera correia de transmissão do partido.
Dilma chegou a responder em nota oficial a um simples artigo de jornal que a elogiava, tecendo amenas considerações críticas ao seu antecessor. Como uma criatura disciplinada, retrucou, defendendo e exaltando seu criador.
O governo é ruim. O crescimento é pífio, a qualidade da gestão dos ministros é sofrível. Os programas "estruturantes" estão atrasados. O modelo econômico se esgotou.
Edita pacotes e mais pacotes a cada quinzena, sinal que não tem um consistente programa. E o que faz a presidente? Cercada de auxiliares subservientes e incapazes, de Lobões, Idelis e Cardozos, grita. Como se os gritos ocultassem os fracassos.
O Brasil que ainda cresce é aquele sem relação direta com as ações governamentais. É graças a essa eficiência empresarial que não estamos em uma situação ainda pior. Mas também isso tem limite.
O crescimento brasileiro do último trimestre, comparativamente com os dos outros países dos Brics (Rússia, Índia e China) ou do Mist (México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia), é decepcionante. E o governo não sabe o que fazer.
Acredita que elevar ou baixar a taxa de juros ou suspender momentaneamente alguns impostos tem algum significado duradouro. Sem originalidade, muito menos ousadia, não consegue pensar no novo. Somente manteve, com um ou outro aperfeiçoamento, o que foi organizado no final do século passado.
E a oposição? Sussurra algumas críticas, quase pedindo desculpas.
Ela tem no escândalo do mensalão um excelente instrumento eleitoral para desgastar o governo, mas pouco faz. Não quer fazer política. Optou por esperar que algo sobrenatural aconteça, que o governo se desmanche sem ser combatido. Ao renunciar à política, abdica do Brasil.
MARCO ANTONIO VILLA, 55, é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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    # por Anônimo - 21 de setembro de 2012 às 08:18

    Excelente texto! Esqueceu de mencionar que em 2014 irá cair do céu o "conciliador" Aécio Neves, que irá trazer a "paz" a política (que política? E cadê o conflito?). Nunca vi um senador tão calado. Nunca vi um autodeclarado candidato a presidência tão ausente. Ele é a representação viva da "oposição" no Brasil.

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    # por Joaquim - 21 de setembro de 2012 às 11:00

    Baita paulada matinal, Villa. Estou mesmo é atordoado depois de ler a '' anomalia criada pelo PT, a dupla presidência. ''
    Já que amanhã é sábado mesmo eu reitero veementemente: UM VIVA À BANANIA!

    VIVA!

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    # por Helen Potter - 21 de setembro de 2012 às 11:21

    Excelente artigo.

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    # por Anônimo - 21 de setembro de 2012 às 12:15

    Villa, sempre achei que Dilma não fazia nada sem as "bênçãos" do criador. O Chefe do Mensalão ainda nos (des)governa. E ainda tem a cara de pau em voltar em 2014. Só pode não bater bem da cabeça.

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    # por ubirajara araujo - 21 de setembro de 2012 às 12:44

    Villa, dificil acreditar que um estadista, não consiga ler um texto, não consiga fazer uma pontuação correta e faça incompreensivel o que mal lê.
    Sera que um estadista precisa ter tudo previamente preparado para emitir uma opinião a respeito da nação que dirige ?

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    # por Anônimo - 21 de setembro de 2012 às 13:03

    A Dilma que conhecemos é uma ficção criada por cabeleireiros, marqueteiros e muita maquiagem. É apenas uma imagem que agrada à massa da população. O País está acéfalo, sem controle, sem crescimento, entregue ao crime e à dominação do homem pelo homem. Surrupia-se quantias monstruosas de dinheiro dos contribuintes, distribui-se aos funcionários públicos e aos menos desprovidos de recursos sob a bandeira da "assistência social" (leia-se: compra de votos) e a coisa só piora, dia a dia. Resta saber até quando o Brasil que ainda trabalha e produz vai suportar tudo isso.

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    # por Anônimo - 21 de setembro de 2012 às 13:39

    Ótimo texto, como sempre! Fala duas verdades incontestáveis: vivemos sob o domínio do Lula e não temos oposição. A Dilma não existe e a Dilma estadista, menos ainda! Aliás, está ainda por nascer um estadista brasileiro, não? Tem gente que acha que FHC seja um, e eu digo sempre que um estadista jamais deixaria o país nas mãos de um ser como Lula, se tivesse a oportunidade (tão clara e justificada como tínhamos!) de defenestra-lo do poder. O PT é o que é e a nossa oposição é um bando de covardes, que também se escondem embaixo da barra das camisas habaneras que o Lulla adora ganhar de seus amigos a cada vez que um deles volta de Cuba. Mais sobrenatural do que o que vivemos, impossível! O natural seria haver política.
    Valéria Rodrigues

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    # por Carlos U Pozzobon - 21 de setembro de 2012 às 14:35

    A crise se avizinha e não temos dúvida de sua natureza. O que resta saber é até onde o governo vai ser bem sucedido em esconder da sociedade o enorme descalabro que produziu em 10 anos de gestão. http://comentarioscontidos.blogspot.com.br/2012/08/a-crise-que-vira.html

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    # por Anônimo - 21 de setembro de 2012 às 16:19

    Mostrou como poucas a mais pura verdade...
    Excelente texto.

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    # por Zinha - 21 de setembro de 2012 às 16:58

    Já dei meu "pitaco" lá no blog do Augusto Nunes, mas sempre há um pitaco a mais qdo se trata das "patralhadas" do PT! rsrs
    Outro ponto importantíssimo que vc cita, é justamente este:

    "É o velho problema: o PT não consegue separar Estado, governo e partido. Tudo, absolutamente tudo, tem de seguir a lógica partidária. As instituições não passam de mera correia de transmissão do partido."
    Esta é a síntese da existência do PT!
    Abçs,

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    # por Anônimo - 21 de setembro de 2012 às 20:17

    Ótimo tevto, como sempre. Infelizmente a Dilma (digo, Lula) é a nossa presidente. Devemos isto à oposição que, durante a campanha eleitoral jamais defendeu o legado que Fernando Henrique deixou.

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    # por Ana Lúcia K. - 22 de setembro de 2012 às 03:29

    Prezado Villa,

    Impecável! Como sempre, vc acertou em tudo!
    Só espero ver concretizada aquela sua frase lapidar: "Só o pt pode acabar com o pt". Por tudo o que estamos presenciando o começo do fim está na ordem do dia.
    Salve! Salve!
    Abçs,