Grave seca na Bahia

A Bahia está passando pela mais grave seca dos últimos 30 anos. Quando falo em Bahia estou dizendo que a seca - obviamente - atinge o semi-árido regional. Além da tragédia já conhecida, a combinação de seca e eleição é tenebrosa.

Em 2010 já tinha escrito um artigo para O Globo tratando do abandono do Nordeste. Vale a republicação:


O Nordeste saiu de moda

MARCO ANTONIO VILLA

O GLOBO - 09/11/10



Muitos temas ficaram fora da agenda eleitoral deste ano. A discussão sobre o semiárido nordestino certamente foi um deles. Temos o semiárido mais populoso do mundo. A maior parte dos seus habitantes vive próximo da miséria. Seus municípios sobrevivem de duas fontes: a aposentadoria rural e o Bolsa Família, que injetam recursos que são fundamentais para movimentar o comércio.

Não há economia local. A produção de alimentos mal dá para a subsistência.

Os rendimentos de agricultura e pecuária são desprezíveis. Nos oito anos da Presidência Lula nada foi feito na região. E não faltaram instrumentos como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas ou a Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste.

O Nordeste saiu de moda. E faz tempo. No pré-64 era tema constante em qualquer roda política. Ligas Camponesas, reforma agrária, Sudene eram temas recorrentes. No cinema, música, teatro e literatura, lá estava o Nordeste seco e suas mazelas.

Durante o regime militar a região continuou em pauta. Várias medidas foram adotadas, como os incentivos fiscais. Com a redemocratização, a região foi caindo no esquecimento. E nos últimos tempos desapareceu do debate político nacional. Nem os velhos setores da esquerda falam do sertão. Até o MST centrou suas ações longe de lá.

A Amazônia acabou ocupando o espaço que foi durante décadas do Nordeste. Saiu do noticiário o latifúndio improdutivo e entrou o meio ambiente.

Basta acompanhar as discussões do Congresso Nacional. Vários temas polêmicos envolvem a Amazônia; já o Nordeste ficou esquecido, como se tivessem sido resolvidos, ou, ao menos, encaminhadas as soluções, os seus problemas seculares.

E seus representantes? As velhas oligarquias continuam firmes e fortes.

E ainda ficaram mais poderosas nos últimos 8 anos. Os órgãos e as agências estatais que atuam na região foram entregues aos oligarcas.

São excelentes cabides de empregos e de bons negócios. Fortaleceram ainda mais seus interesses de classe.

Por outro lado, os sertanejos estão abandonados e cada vez mais dependentes dos oligarcas e de seus instrumentos de dominação, especialmente o Bolsa Família. A maioria das cidades do semiárido tem mais de 60% dos seus habitantes recebendo o benefício.

Mal conseguem se alimentar e não têm nenhuma perspectiva de futuro.

Canudos, no Nordeste da Bahia, é um bom exemplo. É conhecida devido à guerra de 1896-1897 e ao maior clássico brasileiro, "Os sertões", de Euclides da Cunha. Hoje, o município tem pouco mais de 15 mil habitantes, dos quais 2.461 famílias são beneficiárias do programa. Ainda cerca de 500 estão cadastradas e aguardam a sua vez: são um excelente instrumento eleitoral com promessas de que irão fazer parte da lista de pagamentos do programa. As famílias já beneficiadas ficam à mercê do dirigente local: permanecem recebendo o benefício se apoiarem o oligarca local. E como cada família sertaneja, em média, não tem menos que cinco pessoas, hoje representam cerca de 12 mil pessoas, cerca de 80% da população.


No município não há nenhum trator, porém tem 473 motos. A dependência dos recursos da União ou do governo estadual é absoluta. Basta ver que o imposto territorial rural recolhe aos cofres municipais pouco menos de 5 mil reais; já do Fundo de Participação dos Municípios recebem 8 milhões. Dos 15 mil habitantes, pouco mais de 600 são assalariados, e o PIB per capita é de 2.700 reais.

Em 2006, no segundo turno da eleição presidencial, Lula obteve 5.768 votos, e Alckmin, 1.621, isto de um total de 7.389 votos válidos. Quatro anos depois, em um universo um pouco maior, de 7.481 votos válidos, Dilma saltou para 6.454, e Serra recebeu apenas 1.027, isto sendo um político muito mais conhecido na cidade, pela atuação no Ministério da Saúde, do que Alckmin. Se nas esferas municipal e estadual mantiveramse os políticos tradicionais, na eleição presidencial o fortalecimento do domínio petista é inconteste.

E o quadro de Canudos repete-se em centenas de municípios do semiárido.

Foi forjada uma sólida aliança entre o petismo federal e as oligarquias, transformando a população da região em celeiro de votos para os candidatos governamentais. Se nos últimos anos os indicadores sociais tiveram leve melhora, a sociedade local continua petrificada. Os mandões locais continuam tão poderosos como antes. O potencial de revolta foi domado pelos programas assistencialistas.

É como se a roda da história não se movesse. E, para piorar o quadro, o Brasil virou as costas para o Nordeste.

MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (SP).

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    # por Anônimo - 17 de abril de 2012 às 20:06

    Somos a VERGONHA do planeta! O RS está indo para o mesmo caminho. Nada é bom aqui, nada funciona e nada é respeitado neste Brasil governado por analfabetos corruptos e ``comunistas´´.. tudo está podre.
    Os mais pobres e ignorantes são esquecidos, não lhes são dados instrumentos para crescer, somente esmolas.
    A Senadora ANA AMÉLIA LEMOS está apoiando a Manoela do PCdoB para a prefeitura de Porto Alegre, uma déspota que aumentou seu próprio salário, votou para a volta da CPMF. A família é de magistrados e de muitas posses .. mas ela gosta do poder e é vaidosa. Bonita? Nem lábios tem.. mas ganhará votos os de mau gosto que idolatram a gordinha sem lábios. ANA AMÉLIA mais uma que se vende.
    Se Las Vegas existe num deserto árido, pq o nosso Nordeste não progride? Copa só trouxe prejuízo por todos os países onde já passou, Olimpíadas também. A Grécia quebrou em função das Olimpíadas, o Canadá levou 30 anos para pagar a conta, o país que recebe é quem tem que absorver todos os investimentos.. NÓS vamos pagar a conta por 30 anos.. ao invés de cuidar do povo sofrido preferem abocanhar e nos roubar até sangrar.
    Não temos para onde fugir.. povo que apanha sem parar destes políticos de quinta que temos por aqui.

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    # por Anônimo - 18 de abril de 2012 às 14:44

    Brasil de pura vergonha...

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    # por Anônimo - 19 de abril de 2012 às 20:28

    brasil, sooocorro
    a Bahia implora sua ajuda
    Jeremoabo esta em estado de decadencia

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    # por Anônimo - 21 de abril de 2012 às 18:38

    Pois é,
    206 municípios em situação de emergência
    Com pior seca dos últimos 30 anos, Bahia limita consumo de água
    (Carlos Madeira-UOL)
    Sinceramente, não consigo pensar em outra coisa.Parece que meu coração vai explodir de aflição!!
    Wanda Stefânia