Dilma e a política externa

Hoje no "Zero Hora":


Dilma na ONU – A nova face externa

Por Fábio Schaffner

Primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da ONU, amanhã, em Nova York, a presidente Dilma Rousseff debuta no principal fórum de nações do planeta com uma postura mais discreta e pragmática na condução da política externa – em contraste com o estilo despojado do ex-presidente Lula.
A cautela de Dilma se sobrepõe até mesmo ao respeito aos direitos humanos, anunciado como eixo central da diplomacia brasileira.
Ela tem evitado manifestações contundentes do Itamaraty. Embora tenha exaltado a “onda saudável de democracia” nos países árabes e no norte da África e antecipado um voto favorável ao ingresso da Palestina nas Nações Unidas, o Planalto mantém distância da discussão sobre as revoltas no mundo árabe. O Brasil se absteve na votação do Conselho de Segurança da ONU que autorizou os ataques ao regime de Muamar Kadafi. A mesma postura é adotada com relação às violentas repressões conduzidas pelo governo da Síria.
– Dilma é muito mais sóbria com relação aos assuntos internacionais, mas ela não tornou os direitos humanos um critério predominante – pontua o diplomata Rubens Ricupero.
Em contrapartida, a diplomacia brasileira se afastou de ditadores como Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, e voltou a se aproximar dos Estados Unidos. Ex-embaixador em Washington, o chanceler Antonio Patriota admitiu que vê com desconfiança o programa nuclear iraniano, uma atitude jamais adotada no governo Lula. Esse distanciamento de crises internacionais tem pautado o Itamaraty. Para a professora Maria Helena Santos, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais da UnB, a conduta da diplomacia reflete a personalidade retraída de Dilma, sobretudo nos palcos internacionais:
– Lula se considerava o grande líder do Terceiro Mundo. Dilma é mais comedida.
De acordo com Maria Helena, Dilma desperta a curiosidade dos líderes mundiais pela dedicação à gestão da economia interna e ao combate à corrupção, tônica da reportagem que a colocou na capa da revista americana Newsweek. Lula atraía as atenções pela capacidade de interlocução e pela intensa agenda internacional. Até a ida a Nova York, Dilma fez seis viagens internacionais, permanecendo 16 dias no Exterior. No mesmo período, Lula visitou 12 países, ficando 40 dias fora.
Apesar da diferença de estilos, os especialistas não enxergam grandes mudanças no fio condutor da política externa brasileira. O prestígio aos países emergentes, a aproximação com a África e os laços estreitos com a América Latina continuam sendo prioridade do Itamaraty. Tanto que, até agora, Dilma só esteve em um único país europeu (Portugal), ainda não retribuiu a visita oficial do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (com quem se encontra hoje, por conta dos compromissos na ONU) e fez à China sua mais extensa viagem. A adoção de uma política externa semelhante, contudo, não resulta em uma repercussão similar a que Lula obtinha no Exterior.
– O Brasil perdeu espaço, mas por causa da oratória. Dilma se caracteriza pelo silêncio. Lula fala tanto que, mesmo fora do poder, vai fazer campanha pela Cristina Kirchner na Argentina, algo nunca visto – diz o historiador Marco Antonio Villa.


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    # por Dawran Numida - 22 de setembro de 2011 às 16:45

    O discurso foi genérico. Ficou mais na cata de temas para gerar comunicação positiva do que avançou em assuntos importantes de política internacional. Ao mencionar que os emergentes podem ajudar no combate à crise mundial, ficou faltando com o quê, como e quem. O quem, é a China. O Brasil não tem recursos suficientes para ajudar em nada. Os países do Brics, têm história, língua, cultura, economia etc. totalmente diversas. A China, pelo menos, têm fronteira com a Índia e com a Rússia. Brasil e África do Sul, estão longe física, culturalmente e economicamente, entre si e dos demais. São apenas mercados promissores. Por isso foram designados Brics. Dai a chegarem numa ação conjunta, vai uma enorme distância. O Brasil pode ter chamado a atenção por ser um mercado e não por qualquer outro motivo. Não mediou nada de importante nos últimos oito anos e alguns meses. Não fez avançar nenhum processo novo para qualquer uma das regiões conflituosas do mundo. Assim, difícil ver em que pode ser o destaque alardeado.

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    # por Anônimo - 24 de setembro de 2011 às 10:31

    Dawran disse bem, o Brasil não tem nada de espetacular a mostrar e a fazer. Lula e Dilma acham que podem salvar o mundo porque NÓS temos alguma coisa a mais de 300 bi de dólares em reservas....

    Como bem disse Agusto Nunes, o Brasil está na "alta roda" vestindo um fraque cujos fundilhos estão rasgados.