Onde está a oposição?

Publiquei hoje na Folha de S. Paulo:


A OPOSIÇÃO perdeu a batalha ideológica. E não é de hoje. Quando Lula assumiu o governo, rapidamente construiu um discurso negador do passado -sua especialidade. Com uma diferença: agora estava na Presidência e com muito mais poder para impor a sua versão da história.
Lançando a pecha de que teria encontrado uma herança maldita, não recebeu uma resposta eficaz e convincente dos oposicionistas. Estes estavam assustados e desestimulados. Ser oposição é tudo o que não queriam ser.

Como disse Nícia, na comédia "A Mandrágora", de Maquiavel: "Para os que não têm poder, não existe nem mesmo um cachorro que lhes ladre na cara".

Sem combatividade, estavam prontos para aderir ao governo. Só não o fizeram porque surgiram escândalos envolvendo altas autoridades governamentais, devido às divergências regionais e por uma razão simples: não foram cooptados para fazer parte do governo.

Se os militares golpistas latino-americanos não resistiam a um "cañonazo" de milhares de dólares, os políticos brasileiros não resistem ao "Diário Oficial" e suas nomeações. Apesar da derrota de 2006, a oposição manteve o comportamento light. Nada de críticas. Era necessário pensar na governabilidade. O tempo foi passando e a eleição foi se aproximando.

A cada omissão, mais o discurso oficial se transformava em verdade absoluta, sobre o passado e o presente. Excetuando a batalha contra a prorrogação da CPMF, quando a oposição foi oposição e venceu, nos últimos quatro anos a eficiência governista foi exemplar.

A oposição poderia ter criticado o rumo da economia, a segurança pública, os milhões de analfabetos ou a péssima situação da saúde.

Mas silenciou. Abdicou do combate. Acreditou que o relativo crescimento da economia blindava o governo de críticas. Ledo engano.

No quinquênio juscelinista, o país cresceu a taxas superiores às atuais, realizou grandes obras (o que não ocorre agora) e JK não elegeu o sucessor. Por quê? Porque a oposição fez o seu papel, como em qualquer democracia que se preze. Com a proximidade das eleições, a oposição ficou sem saber o que fazer. Esqueceu uma lição básica (e óbvia): é preciso fazer política. Ao menos enquanto há tempo. A recusa ao debate pode abrir caminho para o autoritarismo.

Afinal, o filho de um oligarca calou o "Estadão", proibindo noticiar suas negociatas; enquanto um partido ocupou ao seu bel prazer as páginas de "Veja". E tudo com a chancela da "justiça". Deste jeito logo começaremos a achar que o México, sob domínio do PRI, era uma democracia.

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    # por Anônimo - 11 de agosto de 2010 às 15:01

    "JK não elegeu o sucessor" e deu no que deu (o golpe anos depois). É essa a oposição que queremos?

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    # por Anônimo - 11 de agosto de 2010 às 17:54

    pode comentar?

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    # por Anônimo - 11 de agosto de 2010 às 19:08

    Professor Villa, interessante e bom o puxão de orelhas. O ideal seria mesmo vara de marmelo. Mas seria demais. Ou de menos, pois, deveria descer vergando em oposição e situação. Ao menos, enquanto fosse possível distinguí-los. Contudo, há oposições. Oposições não filiadas, não militantes. Mas uma enorme quantidade de apoiadores de teses oposicionistas. Atrevo a dizer que são os mesmos que ficaram órfãos em 2002 e 2006. Mas estão ativos, cobrando, comentando, dando chacoalhões. Uma coisa, porém, é certa: o anestesiamento não funcionou. Pode ter acometido alguns, mas não todos. A vara de marmelo e o puxão de orelhas podem ser reforçados com rabo de tatu, urtiga, chá de losna, purgantes. Se bem que, em alguns casos, seria mais adequado colocar no canto, de castigo, sem TV, sem leite com chocolate e bolachas. Mas de uma coisa podem ter certeza: até o último voto. Veremos em 03 de outubro.

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    # por José María Souza Costa - 12 de agosto de 2010 às 10:53

    A oposiçao Brasileira é assim:
    Um dia, depois das eleições que reelegeu o Presidente Lula, o Senador Artur Vigilio(PSDB-AM), por não ter sido atendido em sua vaidade pessoal, ou ter a sua vaidade pessoal ferida, disse para todo o Brasil, que daria uma surra no Presidente Lula. Dias depois, o mesmo Senador(Oposicionista)pegou uma carona no Aerolula( avião presidencial) de Campo Grande-Ms, até Brasília. De lá pra cá, calou-se, amordaçou-se. Fernando Henrique Cardoso,elegeu-se, a primeira coisa que fez, foi beijar a mão do Antonio Carlos Magalhães(BA).
    Oposição ? Que oposição? Falar de que se o DNA, do mensalão é mineiro, do PSDB e atende pelo nome de Eduardo Azeredo? Alguém esqueceu? Não eu. Que aprendi a prestar atenção nas coisas desde muito cedo. O DEM, está atolado até a tampa, mesmo assim empurrrou goela abaixo do Sera o nome do Indio da Costa, para agradar a familia Maia do Rio de Janeiro,está atolado com a CPI da merenda escolar carioca. Quem ousa acusar quem?
    Um abraço, professor.

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    # por Anônimo - 12 de agosto de 2010 às 20:21

    Já foi dado em comentário que existem oposições. Se há quem acredite que está tudo já ganho, as eleições e a posse pelo governo, é só seguir o conselho que davam lá no interior: "enfie a viola no saco vá se embora". Estão afirmando vitória há mais de dois ou três anos. E nada está definido. Portanto: há oposições, sim.

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    # por barbarah.net - 13 de agosto de 2010 às 20:49

    Pobre Nícia!Tão esperto e tão enganado...

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    # por Gislaine Maria - 15 de agosto de 2010 às 20:29

    Olá professor Villa. Concordo em gênero, número e grau. Infelizmente o PT no poder deixou o Brasil órfão de oposição. Tivesse o mensalão ocorrido com papéis invertidos e o desfecho seria outro. Isso para ficarmos apenas num dos maiores escândalos produzidos pelo atual governo e seus aliados. PSDB e afins não sabem (ou não querem) exercer o papel que lhes cabe desde 2003. Os números que apontam a candidata oficial tão bem nas pesquisas são muito mais resultado da omissão de seus adversários do que propriamente de suas qualidades. Gislaine Maria Sampaio Morandin