Discutindo a república
Do blog de Míriam Leitão, respondendo, com outros colegas,a pergunta: De que a República brasileira precisa?
OPINIÃO
Do que a República brasileira precisa?
Entre erros e acertos, a República brasileira, que completa amanhã 122 anos, avança. Há muito do que se orgulhar, mas há outros fatos que nos embaraçam quando olhamos essa senhora centenária que, perto de outras repúblicas, é até jovem. E do que ela mais precisa?
Cientistas políticos, professores e economistas responderam à pergunta feita pelo blog. Entre outras coisas, eles pedem mais ética, igualdade, valores democráticos, ou seja, mais república. Os comentários podem ser lidos abaixo.
E qual é a sua opinião?
Marco Antonio Villa, historiador, professor da Universidade Federal de São Carlos:
Continuo aguardando a proclamação da República. Em 1889, ela foi somente anunciada. Não há República sem valores republicanos sendo colocados em prática, diariamente, pelos gestores públicos.
A ética virou mercadoria escassa, escassíssima. A demanda cidadã excedeu em larga escala a oferta desta "mercadoria" pelos gestores da "res publica". Como no reino do absurdo, comemoramos um feriado de algo que não houve.
Isabel Lustosa, cientista política, historiadora:
O que a República Brasileira mais precisa é que suas classes mais abastadas criem um sentido de pertencimento ao povo brasileiro, uma consciência de que seu destino está definitivamente ligado ao dele. De que quanto melhor for a vida de todos, melhor será para a imagem do país e para a delas mesmas.
De que sejam capazes de abrir mão de parte de sua riqueza destinando-as a projetos sociais, educacionais e culturais que beneficiem as crianças, os jovens e os velhos carentes.
Maria Celina d’Araújo, cientista política da PUC-Rio:
Precisa do sentido de igualdade, de equidade, de princípio de justiça, de uma justiça acessível e eficiente. De mais controle na administração pública e mais transparência.
De uma reforma fiscal para que os impostos se tornem menos regressivos. De educação de qualidade para todos e valorização dos professores. Não precisa de mais leis; mas cumprir as muitas que já temos.
Claudio Salvador Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp:
Estabelecer, de fato, a República, com a universalização de direitos.
José Pastore, professor da Faculdade de Economia da USP:
O que mais falta no Brasil são instituições de boa qualidade. Com raras exceções (Lei da Responsabilidade Fiscal), as nossas instituições, no intuito de proteger, criam fortes desigualdades.
Exemplos: Dos 100 milhões de brasileiros que trabalham, a CLT protege apenas a metade. A outra metade é desprotegida. No seguro desemprego, os 20% mais pobres recebem apenas 3% dos seus recursos. O restante é apropriado pelos não pobres.
Na Previdência Social, os 20% mais pobres ficam com apenas 7% do que o País gasta com aposentadorias e pensões. O restante vai para os não pobres.Tudo isso é garantido por leis de má qualidade.
Mais um exemplo gritante: É a lei que proíbe cobrar dos alunos que cursam universidades públicas (vejam o caso da USP), sabendo-se que os estudantes de classe média alta pagam escolas secundárias e cursinhos caríssimos para usufruir da gratuidade naquelas universidades.
Em suma, para sermos uma república verdadeiramente democrática, precisamos melhorar muito a qualidade de nossas instituições com mais justiça e menos populismo.
Antônio Buainain, professor do Instituto de Economia da Unicamp e atualmente professor visitante na Universidade de Alcalá, Espanha:
O Brasil precisa de uma República republicana, na qual as instituições do Estado sejam fundalmentente guiadas pela lógica da "res publica" e as pessoas se comportem como cidadãos.
# por Anônimo - 15 de novembro de 2011 às 23:58
Ninguém aí definiu o regime vivido no Brasil hoje: OLIGARQUIA ou ,de maneira mais detalhista, a PLUTOCRACIA. Desviam-se os interesses públicos e gerais para os dos particulares endinheirados. E não, não se trata somente de crise moral ou dos políticos, e sim um problema sistêmico. Antes de políticos alçarem seus cargos, há aqueles particulares que os financiam nas campanhas, por isso, devido ao peso econômico, os políticos são, antes de tudo, representates dos interesses particulares de seus financiadores (e por consequência, dos aliados destes) e só depois representates da massa que votou neles.
Vê-se, assim, que o problema é de soberania popular, solapada pelo poder econômico, e de verdadeira aplicação dos princípios republicanos, desviados igualmente pelo poder econômico e seus interesses que guiam a ação do Estado, já que possuem maior peso que os interesses públicos.
Lucas Secanechia Pereira