Republicando "A farsa de Collor"

Já publiquei este post em janeiro. É um artigo que foi publicado na Folha de S. Paulo de 17 de março de 2007. Hoje, José Sarney, retirou o painel que contava a história do impeachment de Collor. Disse que este fato não deveria ter ocorrido. Lamentou. Sabemos que Sarney é um pústula mas, forçoso reconhecer, ele se supera.


Segue o artigo;

A farsa de Collor

MARCO ANTONIO VILLA
ESPECIAL PARA A FOLHA

NA ÚLTIMA quinta-feira, o Senado Federal protagonizou mais um triste espetáculo. O senador Fernando Collor foi à tribuna e discursou por mais de três horas. Foi aparteado diversas vezes, sempre com rasgados elogios. Chorou, assim como outros senadores choraram.
Se um estrangeiro estivesse assistindo à sessão e desconhecesse a história recente do Brasil, poderia imaginar que o senador alagoano teria sido vítima de um processo cruel, de uma injustiça sem tamanho. Ledo engano.
Collor foi impedido de continuar na Presidência da República não por algum artifício das elites, mas por ter ferido gravemente a ética republicana. Depois de uma CPI -e com um presidente, Benito Gama, que era do PFL, partido que apoiava o governo- foi pedido o impeachment por uma ampla gama de entidades da sociedade civil, lideradas pela OAB e pela ABI, sem esquecer a participação do movimento estudantil, que liderou inúmeras passeatas pelo Brasil. A Câmara dos Deputados aprovou o impeachment por 441 votos a favor e apenas 38 contra. No Senado, foram 76 favoráveis e cinco contra. De acordo com pesquisa do Datafolha, pouco antes do impedimento, 84% da população considerava o governo ruim ou péssimo.
Portanto, o resultado do processo não foi uma armadilha da elite contra o presidente dos "descamisados", mas produto de dois anos e meio de um governo desastroso e que já tinha anunciado seus "métodos de trabalho" quando, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial, em dezembro de 1989, levou ao horário eleitoral gratuito uma ex-namorada de Lula que o acusava de ter sugerido um aborto, depoimento que foi decisivo para a vitória de Collor.
Logo ao assumir congelou todos os ativos financeiros, infelicitando a vida de milhões de brasileiros e arruinando a vida de milhares de pequenos poupadores. Fez dois planos de estabilização econômica que fracassaram redondamente. A inflação em 1990 foi de 1.198%, no ano seguinte "caiu" para 481% e em 1992 chegou a 1.157% . O crescimento do PIB foi negativo em 1990 (4,3%), quase nulo no ano seguinte (0,3%) e voltou a ser negativo em 1992 (0,8%).
Se os resultados econômicos foram péssimos, pior ocorreu com a ética republicana. Desde a posse foram surgindo na imprensa diversas denúncias de corrupção. Com o passar dos meses, a figura sinistra de Paulo César Farias, ex-tesoureiro da campanha de Collor, se transformou em eminência parda de negócios nebulosos envolvendo empresas fornecedoras do governo federal. Em 1992, foi o próprio irmão do presidente, Pedro Collor, que denunciou um esquema de corrupção que supostamente envolvia PC Farias e Collor, motivo da abertura da CPI.
Vestir o figurino de republicano impoluto, buscar com os assessores citações de autores clássicos, comparar-se com outros presidentes (e com exemplos equivocados, como a "extradição" de Washington Luís), falar com voz embargada, tudo foi uma farsa. Como ensina o dicionário Houaiss: "uma ação ou representação que induz ao logro; mentira ardilosa, embuste".


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    # por Ed Carlos Ferreira - 31 de maio de 2011 às 15:25

    O Collor com os inúmeros e absurdos defeitos, consegue ter mais (na verdade o mais aqui é convenhamos bem relativo)que o Sarney, o Itamar que também não foi eleito diretamente para o cargo nem se fala.
    Ninguém vê o Sarney como um ex-presidente, tal é a repulsa que a população tem por ele, NO ENTANTO, ele é presidente do Senado!!!!!!!!!
    Marx se mora-se aqui não diria que a história acontece como tragédia e se repete como farsa, aqui é tudo tragédia mesmo.

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    # por Anônimo - 31 de maio de 2011 às 16:37

    Arrogância. Esse é o termo perfeito tanto para o governo como para seus apoiadores mais fiéis. Agora, desecantaram de vez e estão mexendo na história "na cara dura". Estão consolidando o que já estava sendo feito via apostilas, onde colocam o Brasil como surgido em 2003.