O estrategista tupiniquim.


Saiu hoje na Folha de S. Paulo.


TENDÊNCIAS/DEBATES

O estrategista tupiniquim

MARCO ANTONIO VILLA


Caso o ministro Moreira Franco não esteja satisfeito com suas atribuições, deveria então ter a dignidade de pedir demissão do posto que ocupa


Quando foi avisado por um correligionário que seria o responsável pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Moreira Franco respondeu: "Quer tirar sarro da minha cara?". Foi sincero.
Ele nunca se interessou por planejamento estratégico, despreza o trabalho de reflexão sobre o futuro do Brasil e desconhece como outros países emergentes tratam a questão. Para o ministro, o que importa é que a SAE tem um orçamento pífio e não pode servir para abrigar seus aliados com cargos rentáveis.
Dentro da lógica do PMDB, do é dando que se recebe, a secretaria é uma espécie de "engana trouxa".
Tomou posse a 4 de janeiro, porém seu primeiro compromisso na SAE ocorreu somente 24 dias depois. No dia 26, seu primeiro dia de trabalho, foi ao Ipea às 10h e oito horas depois recebeu um deputado do seu partido. E só.
No dia posterior, uma quinta-feira, rumou para o Rio de Janeiro e só regressou na segunda-feira seguinte: é o que se chama de fim de semana prolongado em pleno mês de janeiro. Mas como absenteísmo é uma marca do ministro, no dia 31 só teve um registro na agenda: às 17h, "despachos internos".
Resumindo: em janeiro, ele esteve na SAE apenas dois dias. Em fevereiro, permaneceu em Brasília cerca de metade do mês.
Contudo, sua agenda -estafante para seu padrão de trabalho- ficou restrita a oito dias com somente "despachos internos", mas só pela manhã e começando às 10h.
Nos outros dias, recebeu parlamentares do PMDB e teve tempo, inclusive, para se encontrar com o ex-deputado Genebaldo Correa, um dos tristemente célebres anões do Orçamento. Há um registro até de uma audiência para um vereador de Engenho Paulo de Frontim, município do interior fluminense de apenas 13 mil habitantes.
Mas em dois meses de "trabalho" não realizou nenhuma reunião, mesmo que inicial, para analisar as questões estratégicas do Brasil, tarefa central da sua pasta.
Como um bom folião, resolveu antecipar o Carnaval. Despachou até as 15h do dia 1º de março. Depois rumou para o Rio de Janeiro.
Reapareceu no emprego no dia 10, certamente exausto, mas com apenas dois compromissos na agenda.
Horas depois, voou novamente para a antiga capital federal.
A ausência de atividades afeitas à pasta é evidente. Basta citar o dia 17 de março. Só há um registro: às 17h, compareceu à posse do presidente da Federação Brasileira de Bancos. O padrão de preencher a agenda com atividades absolutamente distantes da finalidade da SAE é uma constante.
No dia 10 de março anotou que, às 10h, fez os tais "despachos internos" e, às 21h, compareceu ao jantar comemorativo dos 45 anos do PMDB. Seria crível imaginar que, após três meses na SAE, Moreira Franco fosse finalmente assumir o seu posto. Doce ilusão.
No mês de abril, na maioria dos dias -isso quando esteve em Brasília-, registrou somente uma atividade na agenda. Em quatro meses, não foi recebido sequer uma vez pela presidente. Mas não perdeu a oportunidade de viajar para Roma e assistir à cerimônia de beatificação de João Paulo 2º (é uma atividade afeita à SAE?).
Caso o ministro não esteja satisfeito com suas atribuições, deveria ter a dignidade de pedir demissão.
Afinal, é muito importante para o país pensar e desenhar o planejamento estratégico para as próximas décadas, como faz a China (será que o ministro chinês, de uma pasta correspondente à SAE, tem a mesma agenda de Moreira Franco?). Mas, como estamos no Brasil, a ociosidade de Moreira Franco foi premiada: vai presidir o Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social). Mas para que serve o Conselhão?

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    # por Fábio - 23 de maio de 2011 às 12:53

    Estou usando esse canal pois você não divulga seu e-mail para contato.

    Semanas atrás você disse no Jornal da Cultura que os eletrodomésticos estavam baratos e que muitas vezes não valiam a pena mandá-los ao conserto - compensava mesmo é comprar um novo.

    Os eletrodomésticos não estão baratos! Muito pelo contrário. Quem é pobre sofre muito para comprar um bem para sua casa. O que ocorre é que os eletrodomésticos de hoje em dia são de péssima qualidade. Feitos para durar pouco tempo!

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    # por Anônimo - 23 de maio de 2011 às 13:25

    Muito boa a análise. A primeira pergunta seria: por que tanto ministério e secretarias com status de ministérios? Haveria tanta prioridade assim? Ou na falta de prioridades, são geradas necessidades, para nada ser resolvido? O ministro para assuntos estratégicos, deveria ter recusado o convite para assumir. Afinal, pensar no futuro de um país pobre, emergente e dependente deve dar muita dor de cabeça.
    Dawran Numida

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    # por Anônimo - 23 de maio de 2011 às 16:52

    O Ministro Moreira Franco tem uma saude sensivel e um organismo delicado. Ninguem deveria exigir tanto de alguem assim. Uma aposentadoria precoce com benesses seria o indicado. O problema tem sido o dito ministro considerar o ministerio casa de repouso. Vai para casa Moreira!

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    # por Ana Lúcia K. - 23 de maio de 2011 às 17:40

    "A vaidade mata" - e ele não é o único caso; a presidente tb é mais um exemplo desta falta de bom senso, de amor próprio. Para esse tipo de gente o que conta em primeiro lugar é a grana alta que recebem para não fazer nada e ter o "título" de ministro, presidente, conselheiro disto e daquilo. O absenteísmo é outra marca deles, basta rever a era lula, que em dois mandatos faltou mais de 1 ano, só viajando e falando besteiras.
    O pior de tudo é que NINGUÉM cobra nada, não há fiscalização nem para este tipo de comportamento nem para casos gravíssimos como o do Paloffi . Pobre Brasil! Nem daqui a 500 anos...

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    # por Ed Carlos Ferreira - 24 de maio de 2011 às 18:06

    Você conseguiu me deixar envergonhado pelo Moreira Franco, rsrsrsrs, tripudiou e sapateou sobre esse grande bastião da política nacional.
    Os cariocas amam ele, especialmente os do CV, o povo de Niterói em 2004 (se não me engano foi em 2004, não sei ao certo) teve provas do tremendo patife que ele é.