Caminhos da oposição

Saiu hoje n'O Estado de S. Paulo:


Analistas veem País órfão de oposição

Uma das causas da falta de visibilidade dos partidos contrários ao governo seriam os dados positivos apresentados pela economia
São Paulo - Ministros são afastados por irregularidades, autoridades aceitam favores de empresários, bens públicos são usados para fins particulares, lideranças aliadas se atacam em público na briga por cargos ou verbas. A concentração de denúncias contra o primeiro escalão, nas últimas semanas, colocou a corrupção na ordem do dia – mas, para surpresa até do governo, a oposição não cresce nem aparece.

‘‘Os eleitores oposicionistas estão órfãos, o País está anestesiado. Vivemos uma anomia política, com uma sociedade civil invertebrada. A indignação contra a corrupção é pequena e, quando ocorre, tem prazo de validade curto’’, resume o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). ‘‘Mas quando temos uma oposição que depende do escândalo para aparecer, já temos um problema grave’’, completa outro estudioso dos partidos nacionais, Jairo Nicolau, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), no Rio.

A insatisfação dos eleitores, admitem acadêmicos e políticos, corre hoje por fora dos canais partidários e isso é mais do que explicável: aos poucos, os partidos estão deixando de ser o desaguadouro dessas causas. Se eles funcionassem, podia-se esperar mais valentia, ou pelo menos mais barulho, de um bloco que faturou 44 milhões de votos presidenciais em 2010, comanda nove Estados e controla 1.276 prefeituras no País.

Há uma Frente Suprapartidária Contra a Corrupção, formada no Senado, que vem se destacando pela enorme falta de impacto. ONGs e associações civis divulgam manifestos e reuniões pela internet, mas é pouco.

Uma explicação óbvia, para muitos, é que a economia vai bem. A crise política enfrentada pela presidente Dilma Rousseff conviveu, na semana passada, com dados sobre a queda do desemprego a taxas mínimas nas grandes cidades, aumentos reais para os trabalhadores, uma bem-sucedida e pioneira privatização de aeroporto, recorde de investimentos externos.

Erros do passado

Mas a economia não resolve tudo. Em momentos econômicos diversos, o País se rebelou nas CPIs contra Fernando Collor (1992), contra os Anões do Orçamento (1993) e na crise do mensalão (2005).

Muitos estudiosos preferem entender a fraqueza da oposição como resultado de seguidos erros cometidos ao longo do tempo. Celso Roma, da USP, vê uma combinação de equívocos do PSDB com estratégias inteligentes do PT – a começar pelo abandono do radicalismo de esquerda na Carta aos Brasileiros, em 2002, e pela ocupação das bandeiras tucanas a partir de 2003. ‘‘A oposição não tem discurso convincente perante o eleitorado, por seus próprios erros de conduta’’, diz. ‘‘Depois de perder apelo entre os eleitores, no final da era FHC, o programa do partido foi relegado a segundo plano por seus candidatos e filiados.’’

O sociólogo José Arlindo de Souza, da Universidade Federal da Paraíba, considera o grande entrave a falta de competência dos oposicionistas. ‘‘Os líderes dos dois principais partidos de oposição não têm estofo para incluir nas discussões mudanças substantivas no plano parlamentar e mobilizar a sociedade’’, avalia. ‘‘A oposição age de forma reativa, muito mais em função dos atropelos do governo. Não com um conjunto de propostas que se tornem símbolos na sociedade.’’

Limites

Como José Arlindo, Marco Villa cobra qualidade: é preciso ter bandeiras e isso exige discussão ideológica, mas o primarismo das lideranças impede que esse debate ocorra. ‘‘Qual o programa mínimo, político? E o econômico? Como criar e mobilizar bases partidárias?’’ Nas contas dele, ‘‘essa falta de combatividade vem desde 2003’’. ‘‘Estamos falando de quase nove anos sem oposição consistente.’’

Essa consistência, diz Jairo Nicolau, dependeria de um trabalho sério, que a oposição não fez. ‘‘Ela não criou alternativas de longo prazo, não delimitou seu terreno. Não formou quadros’’, considera. ‘‘O PSDB é um partido desconectado de bases sociais. Isso o obriga a esperar por um escândalo, um grande erro do governo, um súbito candidato talentoso, para se revigorar.’’

Hoje, no entanto, ‘‘os escândalos não são mais monopólios da oposição’’, segundo Nicolau. ‘‘Quem os comanda são a Polícia Federal, a CGU (Controladoria-Geral da União), o Ministério Público’’, afirma. Nem a fraqueza é só dela. ‘‘O debate eleitoral é uma pobreza. Um campeonato de quem promete construir mais hospitais e escolas.’’

Mas não se pode esquecer a História, adverte Nicolau. No governo FHC, o PT passou longo tempo com uma base parlamentar pequena e sem nada conseguir. Foram 17 anos até 2002. Em 2014, os tucanos vão completar 12 anos nessa situação.

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    # por Xupacabr@ / Hallcox Hall / Laudelino Lima - 28 de agosto de 2011 às 09:41

    Os especialistas estão surpresos? Mas que bocós ! O primeiro campo da oposição é o ideológico. Hoje, todos os partidos são de esquerda. Sequer temos algum de centro. O PSDB é o centro da esquerda. O PT é a esquerda da esquerda e o PSTU/PSOL são a extrema esquerda da esquerda. Nesse cenário, vê-se que não temos direita. Quando não há oposição ideológica, a política vira apenas luta por poder. Se está silencioso, é porque todos estão felizes e ninguém se incomoda com o que está acontecendo.

    Lênin chamava isso de "estratégia das tesouras" ! Pesquisem.

    O interessante é que se você definir o que é ser de direita, verá que 60-70% do país é conservador. A pergunta que fica é: Esses políticos hoje, representam quem?

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    # por Miguel Angel Vila - 28 de agosto de 2011 às 14:54

    Caro Villa,

    Estamos divulgando aos profissionais de imprensa que acompanham o processo do Mensalão, a nossa página "Mensaleiros na Cadeia" no facebook.
    Trabalhamos com os objetivos de concentrar notícias, informações e pessoas interessadas em acompanhá-lo alem de realizarmos algumas ações em forma de campnanha.
    Nossa primeira atividade foi a confecção de adesivos para automóveis com o logo da página, exigindo do STF o julgamento imediato dos mensaleiros. Diversas pessoas de mais de dez estados aderiram.
    Temos, também, exercido uma pressão direta sobre o STF em forma de envio de mensagens através do próprio site que a instituição mantem na web.
    Gostaríamos de convidá-lo a nos visitar e se unir a nós. Não queremos que um desastre maior aconteça ao nosso país. O silêncio, a possibilidade de prescrição, nos assustam. O Supremo não pode cair no crime cívico de deixar que isto aconteça.

    Miguel Angel Vila
    http://www.facebook.com/pages/Mensaleiros-na-Cadeia/241204522564230

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    # por Roberto P. Pedroso - 31 de agosto de 2011 às 09:57

    Fonte: Blogo do Alberto Goldman
    terça-feira, 30 de agosto de 2011
    Podiamos dormir sem essa
    A matéria abaixo saiu na imprensa de hoje:
    O senador Aécio Neves (PSDB-MG) defendeu nesta segunda-feira, 29, um “pacto de governabilidade” da oposição com o Executivo federal para aprofundar a “faxina” em órgãos públicos e aprovar grandes reformas necessárias ao País. Em evento separado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também afirmou que é possível uma “convergência”, mas sem “adesão” ao governo petista. Para o presidente nacional do PT, deputado federal Rui Falcão, porém, as propostas são apenas “retórica” porque a oposição à presidente Dilma Rousseff está “sem projeto, sem rumo”.
    FHC fala em convergência, sem adesão, o que é perfeitamente natural e corresponde ao que PSDB quer: a faxina que a presidente diz que não é prioridade e as reformas que a mesma sequer coloca em perspectiva.
    Aécio fala em “pacto de governabilidade”. Não sei o que quer dizer. Apoiamos uma limpeza no governo e pronto. Apoiamos medidas que impeçam a corrupção na administração pública e pronto. Não há necessidade de nenhum “pacto”, “acordo”, ou algo parecido.
    Logo depois o presidente nacional do PT diz que tudo é retórica. A resposta dele é um tapa na cara. Podiamos ir dormir sem essa.
    - Caro Sr Villa como entender o PSDB se nem eles conseguem se entender?
    - Porque de maneira geral os comentaristas políticos não falam sobre o assunto.
    - A maior oposição que existe no PSDB está entre eles mesmos.